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Full text of "Testamento Velho : traduzido em portuguez segundo a Vulgata latina, illustrado de prefações, notas, elições variantes"

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TESTAMENTO  VELHO,  '^^ 

TRADlJZIDO    EM    P  O        UG^UE  Z  ^  1913 

S  E  G  U  N  D  Ò,dt., 
A  VULGATA  LA  _ 
ILLUSTRADO   DE  PERFAÇÕES, 
NOTAS, 
E  LIÇÕES  VARIANTES. 

ANTONIOÍ"  'pereira 

DE  FIGUEIREDO. 
TOM.  VI. 

QUE  CONTÉM  O  III.  E  IV.  LIVRO  DOS  REIS. 

Segunda  Imprefsao  revi  fia ,  e  retocada  pelo  mefm9 
Jiithor, 


LISBOA 
NA  REGIA  OFFICINA  TYPOGRAnCA. 

M.DCC.  XCVI. 

Com  licença  do  Defemhargo  do  Péi^o, 
e  Privilegio  Real, 

Vende-fe  na  loja  da  Viuva  Bertrand  e  Filhos  ,  Merca- 
Aore%  de  Livros  |  juAto  á  Igreja  dçfi  J^^ityces  a«  Xiradtf 


Taxio  eflc  Livro  na  quantia  de  quatrocentos 
e  oitcma  reis.  Lisboa  20.  de  Abril  de  1796, 

Com  fm  Âulrícas, 


lU 

índice 

DOS 

C  A  P  I  T  U  L  O  S, 

Que  fe  contém  neftes  dous  LivroSé 

IIL  LIVRO  DOS  REIS. 

CAR  I.  Ahifag  ef colhi  da  para  aquen- 
tar a  David  na  fua  vtlhice.  Ado- 
nias fórma  feu  partido  para  fer  accla- 
mado  Rei,  Mas  Sa/amão  lhe  he  prefe- 
rido por  diligencias  de  fua  mãi  Berfa* 
bí\  Salamào  perdoa  a  Adonias,  Pag.  i. 
CAP.  lí.  Últimos  confelhcs  de  David  a 
Salamão  :  fua  morte,  Adonias  ,  Joab  , 
e  Semei  mortos  por  ordem  de  Salamão^, 
Abiathar  deflerrado  pelo  mefmo.  p.  ij, 
CAP.  III.  Salaynão  Je  defpofa  com  a  filha 
de  Faraó,  Pede  a  De  os  f abe  dor  ia.  De  os 
lha  dá  fobre  as  riquezas  ,  e  a  gloria. 
Juízo  que  elle  fez  entre  duas  mulhe^ 
res.  p.  24. 

CAP.  IV.  Principaes  Minijiros  de  Sala- 
filão.  Extensão  dos  feus  dominios*  Pa3 
durante  o  feu  Reinado*  Sabedoria  dejie 
Príncipe,  p.  32* 

CAP.  V.  Alliança  entre  Hirão  ,  e  Sala^ 


IV 


Índice 


mão,  Hirã  o  lhe  manda  as  madeiras  nê" 
ceJJTarias  para  a  conjirucção  do  Templo, 
Salamão  ej colhe  d*  entre  os  filhos  d^  If-^ 
rael  os  que  havião  de  trabalhar  nejie 
edifício,  p.  39. 

CAP.  VI.  Epota^  e  Dejcripção  do  Templo 
de  Salamão,  p.  44. 

CAP.  VII.  Defcripção  do  Palacio  de  Sa^ 
lamão,  Diverjas  obras  para  o  Tem* 
pio,  p.  5-4. 

CAP.  VíII.  Dedicação  do  Templo.  Oração 
de  Salamão  a  De  os.  Numero  das  viãi' 
mas  iynmolaàas  nefta  folemnidade,  p,  67. 
CAP.  IX.  Apparece  o  Senhor  fegunda  vez 
a  Salamão.  EJie  Principe  dá  vinte  Ci» 
dades  ao  Rei  de  Tyro,  Edifica  outras 
de  7Í0V0  ,  e  fujeita  vários  Povos,  Man^ 
da  huma  frota  ao  paiz  d^  Offir,  p.  83. 
CAP.  X.  A  Rainha  de  Sabá  vem  bufcar 
Salamão,  Sabedoria  ,  e  riquezas  defie 
Príncipe,  Defcripção  do  throno  ^  que  eU 
le  mandou  fazer,  p.  91. 

CAP.  XI.  Salamão  fe  deixa  arraflar  do 
amor  das  mulheres.  Elias  o  fazem  ca-» 
hir  na  idolatria,  Adverfarios  que  Deos 
lhe  fu feita,  O  Profeta  Abias  promette 
a  Jeroboão  o  reino  das  dezTribus,  Mor* 
te  de  Salamão,  Roboão  lhe  fuccede,  p.  99. 
CAP.  XII.  Roboão  dá  lugar  d  feparação 

das 


DOS  Capítulos. 


das  dez  Tribus ,  que  elegem  a  Jeroboão 
por  Jeu  Rei,  Roboão  Je  prepara  para 
fazer  guerra  a  Jeroboão.  O  Profeta  Se^ 
meias  lho  prohihe.  Culto  ímpio  dos  Be- 
zerros  ouro  ejlabelecido  por  Jero- 
boão.  p.  112. 

CAP.  XIII.  Hum  Profeta  prediz  diante 
dè  Jeroboão  o  merecimento  de  Jojias  ^ 
e  a  dejiruição  dos  Altos,  FJic  mefmo 
Profeta  he  morto  por  hum  leão  ,  por  ter 
dejobedecido  ao  mandamento  de  De  os.  Je^ 
roboão  perfifte  na  fua  impiedade,  p.  1 20. 

CAP.  XIV.  Envia  Jeroboão  fua  mulher  a 
confultar  o  Profeta  Ah  ias  fobre  a  doen- 
ça  de  feu  filho.  Morte  de  Jeroboão,  Sue- 
cede-lhe  Nadab,  Sefac  Rei  do  Egypto 
defpoja  o  Templo  de  Jeru falem.  Morre 
Roboão ;  fuccede-lhe  Abião.        p.  i  30. 

CAP.  XV.  Abião  imita  a  impiedade  de 
Roboão.  Morre  :  e  Aja  feu  filho  lhe  fuc- 
cede.  Efe  imita  a  piedade  de  David. 
Succedè'lhe  feu  filho  Jofaffat.  Nadab 
Rei  d^  Ifrael  he  morto  por  Baafa  ,  que 
reina  em  feu  lugar.  p.  137. 

CAP.  XVI.  Jehu  prediz  aBadfa  aruina 
da  fua  familia.  Morte  de  Badfa.  Sue- 
cede-lhe  Ela.  Zambri  mata  a  FJa ,  t  fe 
faz  Rei  ^'  Ifrael.  Amri  he  eleito  Rei 
pelo  Povo*  Zambri  Jè  queima  no  Jeu  pa* 


VI 


Índice 


lacto.  Morte  d^Amri.  Succede4he  Acah. 
EJie  cafa  com  Jezabel,  p.  146. 

CAP.  XVIL  Elias  declara  a  Ac  ah  ,  que 
não  choveria  até  que  Deos  o  não  decla^ 
rajfe  pela  fua  boca,  Efie  Profeta  Jujien^ 
tado  pelos  corvos.  Vai  a  Sarepta  a  ca^ 
fa  d^  huma  viuva  ,  a  quem  elle  multi- 
plica o  azeite^  e  a  farinha.  O  filho  dejla 
viuva  morre»  Elias  o  refu feita,  p.  155', 

CAP.  XVHI.  Manda  o  Senhor  a  Elias, 
que  fe  apprefente  diante  Acab,  Elias 
perfuade  a  Abdias  que  vd  annunciar  a 
Ac  ah  a  fua  vinda.  Entre  vifta  d''  Ac  ah  , 
e  d"^  Elias,  Elias  faz  defcer  o  fogo  Jo- 
hre  o  feu  facrificio  ,  e  mata  os  falfos 
Profetas  de  BaaL  Promette  chuva  ,  e 
ella  cahe,  p.  icp, 

CAP.  XIX.  Jezabel  quer  matar  a  Elias^ 
O  Profeta  fe  retira  ao  mo'nte  Pior  eh. 
O  Senhor  lhe  manda  que  vã  ungir  a  Pla- 
^ael  Rei  da  Syria ,  e  a  fehu  Rei  dUf 
rael.  Elifeo  recebe  o  ejpirito  de  Profe» 
cia  ^  e  fe  aggrega  a  Elias.         p.  169, 

CAP.  XX.  Cerco  de  Samaria  por  Bena^ 
dad.  Derrota  do  feu  exercito.  Outra 
derrota  do  exercito  dos  Syros,  Ac  ah  faz 
alliança  com  Benadad,  Pie  por  iffo  re^ 
prehendido  por  hum  Profeta,      p.  174, 

CAP.  XXi,  ilahqth  reçuja  vender  a  fua 


DOS  Capítulos. 


VII 


vinha  a  Acab.  Jezabel  faz  condemnar 
Naboth  a  Jer  apedrejado,  Elias  faz  ter- 
viveis  ameaças  a  Acab,  EJie  Principe 
fe  humilha  ,  e  defvia  de  fima  de  fi  os 
males  de  que  ejlava  ameaçado,  p.  184. 
CAP.  XXIL  Acab  ^  e  Jofajfat  je  Ugão  con- 
tra os  Syros,  Os  faljòs  Profetas  d'Acab 
predizem  a  viBoria.  Miqucas  lhe  pre^ 
diz  a  fua  morte,  Acah  morre.  Orozias 
lhe  fuccede.  Morre  também  Jofafat  ^  e 
fuc cede- lhe  Jorão,  p.  191. 

IV.  LIVRO  DOS  REIS. 

CAP.  I.  Moab  J acode  o  Jugo  d^Ifrael. 
Ocozias  manda  confultar  a  Belze- 
bií  fobre  a  fua  doença.  Elias  lixe  pre^ 
diz  que  morrerá.  Efie  Principe  manda 
gente  ,  que  lhe  prenda  Elias.  Morte  d^ 
Ocozias.  Succede-lhe  forão.  p.  20:^. 
CAP.  II.  Arrebatamento  ^'  Elias.  EJie 
Profeta  promette  a  Elifeo  ,  que  lhe  com^ 
municard  o  feu  efpirito  ,  e  lhe  deixa  a 
fua  capa.  Elifeo  fcpara  as  nguas  do 
Jordão  ,  e  torna  fddias  as  aguas  de  Je- 
ricó. Quarenta  e  dous  memnos  são  de- 
vorados  por  dous  Ur/os  por  terem  feito 
zombaria  defte  Profeta,  p.  2  to. 

CAP,  III.  O  Rei  de  Moab  recufa  pagar  o 

tri' 


vin 


Índice 


tributo  ao  Rei  d'  IfraeL  Marcha  ejle 
Principe  contra  elle  com  o  Rei  de  Ju^ 
da  ^  e  o  Rei  d''  Edom,  Elifeo  livra  o  feu 
exercito  de  morrer  de  Jede,  Os  Moahi- 
tas  são  vencidos,  p.  218. 

CAP.  IV.  Elifeo  multiplica  o  azeite  d^hu-* 
ma  pobre  viuva.  Alcança  de  Deos  hum 
filho  a  huma  Sunamites  :  refujcita-lhe 
efie  menino.  Adoça  a  amargura  d"^  algu- 
mas hervas,  f  arta  a  cem  pejfoas  com 
alguns  pães,  p.  224. 

^CAP.  V,  Naaman  he  curado  de  lepra  por 
Elifeo,  Giezi  he  ferido  do  mefmo  mal  por 
ter  recebido prefent es  de  Naaman,  p.  235'. 

CAP.  VI.  Elifeo  faz  vir  affirna  d""  agua  o 
ferro  hum  machado,  D ef cobre  ao  Rei 
Ifrael  a  embofcada  ,  que  lhe  queria 
armar  o  Rei  de  Syria,  Efle  manda  fol- 
dados  ,  que  prendão  o  Profeta,  O  Rei 
de  Syria  cérca  a  Samaria ,  e  caufa  nel- 
la  huma  f orne  horrorofa,  p.  245'. 

CAP.  VÍI.  Elíjeo  prediz  huma  grande 
abundância  de  viveres  em  Samaria,  Os 

-  Syros  fogem  ,  e  deixão  todos  os  feus  pro- 
vimentos. Hum  Ojficial  do  Rei  ,  que  não 
tinha  crido  na  pre dicção  dJ"  Elifeo  ,  he 
morto  ,  pízado  ,  e  abafado  d  porta  da 
Cidade:  p.  25:4. 

CAP,  VI  11.  A  Sunamites  torna  a  vir  pa-^ 

ra 


DOS  Capítulos.  tx 

ra^Ifrael  depois  dos  fete  annos  da  fome, 
Elifeo  vai  a  Damafco ,  e  prediz  a  mor- 
te de  Benadad ,  e  o  reinado  ã'  Hazael, 
Jorão  filho  de  Jofaffat  reina  em  Juda. 
Revolta  dos  Idumeos.  Morte  de  Jorão, 
Succede4he  Oco-zias.  p.  2 5" 9. 

CAP.  IX.  Jehu  he  ungido  em  Rei  d'  If 
rael ,  e  recebe  ordem  d^  extinguir  a  ca- 
fa  d^Acab.  Mata  a  Jorão.  Ó  cozi  as  he 
morto  pelos  feus,  Jezabel  he  precipita- 
da da  Jua  j  anel  la.  p.  267. 

CAP.  X.  Jehu  faz  morrer  os  filhos  d* 
Acah  ,  e  os  irmãos  d'^Ocozias.  Extin» 
gue  os  falfos  Profetas  de  Baal  ^  defiroe 
o  feu  Templo  ,  e  queima  a  Jua  efiatua. 
Hazael  alcança  grandes  vantagens  fo- 
bre  IfraeL  Morte  de  fehu.  Sue  cede- lhe 
Joaccdz.  p.  lyf. 

CAP,  XI.  Athalia  faz  matar  toda  a  def- 
cendencia  real  ^  e  ufurpa  a  coroa.  Joas 
efcapa  defta  matança  ,  e  he  depois  ac-^ 
clamado  Rei,  Athalia  he  entregue  d 
morte.  p.  284. 

CAP.  XI í.  Joás  manda  reparar  o  Tem- 
plo. Hazael  vem  fitiar  feruf alem.  Mor- 
te de  Jods,  Sue  cede- lhe  Amália  s.  p.  290. 

CAP.  XIII.  Joaccdz  Rei  dHJrael  he  op- 
primido  pelo  Rei  de  Syria,  Morre.  Sue- 
cede-lhe  Jods.  Elifeo  prediz  a  Jods  ^ 

que 


X 


Índice 


que  elle  derrotará  tres  vezes  o  Rei 
de  Syria,  Morte  d"*  Elijeo,  Hum  morto 
lançado  na  fua  fepultura  refujcita  lo- 
go, p.  296, 

CAP.  XÍV.  Amaftás  manda  matar  os  ma^ 
t adores  de  feu  pai.  Bate  os  Idumeos. 
He  vencido  por  Jods  Ret  d^Jjrael.  Mor-' 
te  de  Jods.  Succede-lhe  Jeroboão.  Ama^ 
fias  he  morto  pelos  feus.  Azarias  reina 
depois  de  lie.  Morte  de  Jeroboão.  Em 
feu  lugar  reina  Zacarias.  p.  302. 

CAP.  XV.  Azarias  Rei  de  Juda  he  fe- 
rido de  lepra.  Governa  Joathão  em  feu 
lugar.  Zacarias  Rei  ^'  Ifrael  he  morto 

•  por  Selluyn  ,  que  reina  depois  de  lie.  Ma- 
nahem  fuccede  a  Se  Hum  ,  e  tem  por  f 
cejfor  a  Faceia  ,  e  depois  delle  a  Facée, 
Theglathfalafar  tranfporta  para  a  AJfy- 
ria  huma  grande  parte  dos  Ifraelitas. 
Levanta-fe  Ofée  contra  Facée  ,  e  occu^ 
pa  o  que  lhe  havia  ficado  em  Ifrael.  Em 
Juda  morto  Joathao  lhe  fuccede  feu  fi^ 
lho  Accdz.  p.  310. 

CAP.  XVÍ.  Accdz  fe  entrega  ao  culto  dos 
Ídolos.  He  cercado  em  Jeru falem  por  Ra- 
fin-t  e  por  Facée,  Chama  em  feu  foccorro 
a  Theglathfalafar.  Manda  levantar  em 
Jeru filem  hum  Altar  como  o  de  Damaf 
CO,  Morre,  Succede4he  Ezequias,  p.  319» 

CAP- 


DOS  Capítulos. 


XI 


CAP.  XVíí.  Cereo  de  Samaria  por  S alma- 
nafar,  rh  tomada  a  Cidade  ,  e  os  Ifrae^ 
litas  tranfportados  d  Afjyria.  Colónias 
mandadas  para  Samaria  em  lugar  dos 
Ifraelitas.  p.  325". 

CAP.  XVI  íl.  Ezequias  rejlitue  o  culto  do 
Senhor  d  fu a  pureza,  Sennaquerib  je  che^ 
ga  a  Jeru falem,  Difcurjos  ímpios  ,  e 
ameaçadores  de  Ráb faces  Official  de  Sen^ 
naquerib.  p.  337. 

CAP.  XIX.  Ezequias  manda  confultar  a 
1  faias,  Efie  Profeta  o  co-nfola,  Senna- 
querib  marcha  contra  a  Ethiopia  ,  e  blas- 
fema novamente  contra  o  Senhor,  Eze^ 
quias  faz  oração  ao  Senhor,  Ifaias  pre* 
diz  a  desfeita  de  Senna  querib,  O  ji^ijo 
do  Senhor  extermina  o  exercito  deflc  Prin- 
cipe,  p.  346. 

CAP.  XX.  Doença  d^ Ezequias,  Retrogra- 
dação do  Sol.  F.mbaixada  do  Rei  de  Ba-- 
bylonia,  Ezequias  he  reprehendido  por 
ter  moftrado  os  feus  thefouros  a  ejles 
ejirangeiros.  Morte  d^  Ezequias.  Succe- 
cle-lhe  M anafes,  p.  3  5' 6. 

CAP.XXÍ.  Impiedade  de  Mandjfes.  Ameaças 
do  Senhor  contra  Jerujalem,  Amon  fuc ce- 
de a  Mandjfes ,  e  Jofias  a  Amon,  p.  363. 

CAP.  XXII.  Piedade  de  Jofias,  Acha-fe 
no  Templo  o  Livro  da  hei,  Jofias  ate- 

mo» 


xn    Índice  dos  Capítulos. 

morizado  com  a  fua  leitura  confulta 
Profetiza  Holda.  p.  369. 

CAP.  XXIII.  Joíias  tendo  ajuntado  todo 
o  Povo  ,  renova  a  alUanca  com  o  Senhor. 
Dejiroe  as  relíquias  da  idolatria ,  e  or- 
dena a  celebração  da  P  afio  a.  He  morto 
fleuma  batalha,  Succede-lhe  Joaccdz  ,  e 
a  Joaccdz  fiiccede  Joaquim.       p.  374. 

CAP.  XXíV.  "Joaquim  hefujeitado  ao  Rei 
de  Bahylonia,  Morre,  Succede-o  outro 
Joaquim,  Nabucodonofor  fitia  a  Jeru* 
falem.  Os  principaes  habitantes  dtfta 
Cidade  são  transportados  a  Bahylonia, 
Sedecias  he  pojio  em  lugar  de  Joa- 
quim, p.  384. 

CAP.  XXV.  Ultimo fitio  de  Jerufalem  por 
Nahucodonojor,  Sedecias  he  tomado  ,  e 
levado  a  Eabylonia.  Nabucodonofir  põe 
fogo  d  Cidade  ,  e  tranfporta  delia  os  ha- 
bitantes, Godolias  he  confiituido  Gover- 
nador dopaiz,  O  Povo  foge  para  o  Egy^ 
pto,  Joaquim  he  favorecido  d^  Evilme^ 
rodach,  p.  389, 


PRE- 


xm 

PREFAÇÃO 

AOS 

DOUS  ÚLTIMOS  LIVROS 

DOS 

K  E  I  S. 

O Primeiro,  e  o  Segundo  Livro  dos 
Reis  ,  os  Hebreos  os  intitulão, 
Primeiro^  e  Segtmdo  de  Samuel',  o 
terceiro,  e  o  quarto,  intitulão-nos  ,  Pri- 
meiro ,  e  Segundo  dos  Melaqtiins ,  ifto  he , 
dos  Reis.  Mas  ifto  he  do  tempo  de  São 
Jeronymo  para  cá :  porque  antes ,  como 
fe  colhe  d'  Origenes  ^  dous  não  fazião 
fenão  hum  ,  e  todos  quatro  não  fazião 
fenao  dous. 

Quem  foíTe  o  Author  do  terceiro, 
e  quarto  ,  nao  fe  íabe.  Como  em  Ifaias , 
e  em  Jeremias  fe  achão  alguns  Gapitu- 
los  ,  que  também  fe  Icm  no  quarto  Livro 
dos  Reis  (Ifai.  XXXVII.  e  XXXVIIL 
comparado  com  os  Capitulos  XIX.  e 
XX.  do  quarto  dos  Reis  :  e  Jeremias 
LII.  I.  comparado  com  o  quarto  dos 
Reis ,  XXIV.  i8.-  e  XXV.  i. )  cmdárão 


XIV  Prefação.  • 

alguns  que  as  Profecias  ,  e  a  Hiftoria 
onde  ellas  fe  referem  ,  erão  obra  d' 
huma  ineíma  mão,  e  d' hum  fó  Author. 

Porém  os  mais  hábeis,  e  judiciofos 
Críticos  eftão  hoje  de  parecer  ,  que  o 
que  fe  lê  nos  Capitulos  XXXVlí.  e 
XXXVIIL  de  Ifaias  ,  da  Hiftoria  de 
Ezequias;  c  no  Capitulo  LII.  de  Jere- 
mias, da  tomada,  e  ruina  dejeruíalem 
pelos  Caldeos  ,  tudo  foi  alli  inferido 
por  outra  mão  ,  e  extrahido  do  quarto 
Livro  dos  Reis.  Sem  que  obfte  o  que 
fe  diz  no  fegundo  dos  Paralipomenos , 
XXXII.  32.  o  7'ejio  das  acções  d!"  Eze- 
quias ,  e  das  fuas  mifericordias  ejid  efcrito 
na  visão  do  Profefa  Ifaias  filho  d^  Amós ,  e 
no  Livro  dos  Reis  de  Juda  ,  e  d^  IfraeL 
Porque  nós  não  negamos  que  Ifaias  não 
efcreveíTe  algumas  Memorias  pertencen- 
tes ao  Reinado  d' Ezequias:  mas  dize- 
mos que  eflas  Memorias  não  chegarão 
a  nós  ,  como  também  não  chegarão  os 
Annaes  dos  Reis  de  Juda ,  e  d'IfraeL 

A  fentença  pois  mais  commum  ,  e 
mais  bem  fundada  he  a  que  faz  Efdras 
compilador  deftes  dous  últimos  Livros  , 

já 


Prefação.  XV 

já  depois  do  cativeiro  de  Babylonia. 

Não  que  todos  os  períodos  y  e  claufu- 
las  deites  Livros  fe  polsao  attribuir  a 
Eídras :  pois  que  algumas  fe  encontrão 
em  ambos  elles,  que  por  fi  fó  fe  eftão 
dando  a  conhecer  efcriras  ,  por  quem 
vivia  antes  do  dito  cativeiro  (como  o 
que  fe  lê  no  Livro  111.  Capitulo  VIIL 
verfo  8.  de  ptrfeverar  ainda  a  Arca  no 
Templo:  e  no  Livro  III.  Capitulo XIL 
verfo  19.  de  perfeverar  ainda  a  fepara- 
ção  das  dez  Tribus  ,  conftituindo  outro 
Reino:)  mas  fim  que  Efdras  ^  que  nas 
coufas  anteriores  ao  feu  tempo  fe  gover- 
nava pelas  Memorias  authenticas,  que 
exiftião  nos  Cartórios  públicos  ,  quiz 
em  prova  da  fua  fidelidade  ,  e  finceri- 
dade  confervar  na  fua  Compilação  as 
mefmas  palavras ,  por  que  fe  tinhão  ex- 
plicado os  Eicritores  definas  mefmas  Me- 
morias ,  ajuntando  de  feu  fomente  aquil- 
lo ,  que  era  do  feu  tempo.  Como  o  que 
elle  efcrcve  do  anno  trinta  e  fete  da 
tranfmigração  de  Joaquim  para  Babylo- 
nia 5  que  era  o  anno  quarenta  e  finco 
do  cativeiro,  (iv.  Reg.  xxy.  27.)  E  o 

que 


xví  Prefação. 

que  elle  diz  noutro  lugar  ,  que  as  dez 
Tribus  do  Reino  de  Samaria  eftavao 
ãinda  em  feu  tempo  no  paiz  dos  AíTy- 
rios  5  para  onde  tinhao  fido  tranfporta- 
das  por  caufa  dos  feus  crimes ,  em  con- 
íequencia  das  predicçoes  dos  Profetas, 
(iv.  Reg.xvii.  23.) 


REIS. 


v^i?^     !>^^SS^ ''-^  ^  ^ 


REIS. 


LIVRO  TERCEIRO, 

CHAMADO  EM  HEBRAICO 
PRIMEIRO  LIVRO 

MEL  A^^Q^^U  I  N  S. 


CAPITULO  I. 

Ahifãg  e [colhida  para  aquentar  a  'David  na 
Jua  velhice^  Adonias  forma  Jeu  partido 
para  fér  a  c  clama  do  Rei,  Alas  Sa  Ia  ma  o 
lhe  he  preferido  por  diligencias  de  Jua 
mãi  Berfabé,  Salamão  perdoa  a  Adonias. 

Rei  David  tinha  envelhe-Anno 
eido,  (^)  e  achava-fe  nu-^^^i^^* 
ma  idade  mui  avançada;  e^j^^^g 
por  mais  que  o  cobrião  de  de  J.C, 
roupa,  {b)  não  aquecia.  ^015. 
Tom.  VI.  A  Dif- 

( /j )  E  acha^>a'fi  nmna  idade ,  ^c.  Pelo  que  fc 
áilTc  ,  11.  Rcg.  V.  4.  c  ,  que  D^vid  começara  a  rei- 
nar aos  trinu  annos ,  e  reinava  ao  todo  quarenn  , 
fc  colhe*  ,  que  a  efte  tempo  tinha  David  entrado 
nos  letcnta  ,  ou  cftava  perto  dclics.  Pe;<eira. 

(i»)  Nio  aqum4.  Por  falta  dc  calor  n;<tuf4Í.  O 


í 


1  R.  E  I  S. 

2  Diff.Tão-lhe  pois  (c)  os  feus  cria* 
dos  :  Bufquemos  para  o  Rei  noíTo  Se- 
nhor huma  rapariga  virgem ,  que  lhe  af- 
lifta,  que  o  aquente ,  e  que  dormindo  a 
feu  lado  remedee  o  grande  frio  do  Rei 
noíTo  Senhor. 

3  Bufcárão  pois  em  todas  as  terras 
d'Ifrael  huma  rapariga  que  foíle  fermo- 
fa  :  e  tendo  achado  a  Abifag  (d)  de 
Sunam ,  a  trouxerão  ao  Rei. 

4  Era  ella  huma  rapariga  d' extre- 
mada belleza,  e  dormia  com  o  Rei,  e 
o  fervia :  (e)  mas  o  Rei  a  deixou  fem- 
pre  virgem. 

Por 

ue  não  era  muito  num  Príncipe  ,  que  ainda  que 
huma  conftituição  rebuftiíKma  ,  tinha  paflado  a 
maior  parte  da  fua  vida  entre  períeguiçóes ,  fobrc- 
faltos  ,  cuidados,  e  guerras.  Pereira. 

(c)  05  feus  criados.  Por  eftcs  entende  aqui  Jo- 
fé  Hebreo  os  Médicos  da  Camara.  Pereira. 

(íi)  De  Sunam.  Era  huma  Cidade  daTribu  d' 
lílacar.  ]of.  xix.  i8.  E  daqui  ficarão  advertidos  os 
meus  Leitores  que  Sunamitis  não  he  nome  próprio 
deita  mulher  ,  mas  próprio  da  fua  pátria,  Perei- 

KA. 

(e)  Mas  o  Rei  a  deixou  fempre  virgem.  Grande 
prova  da  virtude,  e  continência  de  David!  princi- 
painiente  para  com  os  que  fentem,  que  Abifag  era 
câfada  com  elk^  como  com  «S.  jeronymo^  c  oa- 


Lrv.  Ili.    Cap.  I.  3 

y  Por  efte  tempo  Adonias  filho  d' 
Haggith  fe  elevava  ,  dizendo :  Eu  ferei 
o  que  reine.  E  mandou  fazer  para  li 
coches  ,  c  tomou  gente  de  cavallo,  e 
iincoenta  homens^  que  foíFem  correndo 
adiante  delle. 

6  (f)  E  nunca  fcu  pai  o  reprehen- 
deo,  nem  diíTe:  Porque  fazes  ifto  ?  E 
elle  era  também  gentil  ,  e  o  fegundo 
gcnito  depois  d'Abfalao. 

7  E  tinha  inteiligencia  com  Joab 
filho  de  Sarvia  ,  e  com  o  Sacerdote  Abia- 
thar,  que  ambos  fuftentavão  o  fcu  par- 
tido. 

8  Mas  nem  o  Sacerdote  Sadoc ,  nem 
Banaias  filho  de  Jojada,  nem  o  Profeta 
Nathan  ,  nem  Semei  ,  e  Rei  ,  nem  o 
grolTo  do  exercito  de  David,  erão  por 
Adonias. 

9  Adonias  pois  (g)  tendo  immola- 

A  li  do 

tros  Padres  fentem  Lyra  ,  Caetano  ,  Mcnoquio, 
Tirino,  e  outros  muiro?;.  Pereira. 

(/)  E  nunca f eu  pai  orepi  ehcmko.  Com  ifto  pa- 
rece noiar  a  Efcritura  a  David  de  demaziadamente 
froxo ,  e  negligente:  do  que  largamente  trata  aqui 
P  Abuienfe.  Pereira. 

C^)  ^endo  immolado  carneiros ,  <ú>*c.  Immtar 


4  R  E  I  Si 

do  carneiros,  novilhos,  e  toda  a  forte 
de  viítimas  gordas  ao  pé  da  Pedra  de 
Zoeleth  y  que  eftá  junto  da  Fonte  de 
Rogel  ,  convidou  a  todos  feus  irmãos 
filhos  do  Rei  ,  e  a  todos  os  de  Juda^ 
que  eftavâo  em  ferviço  do  Rei. 

10  Mas  não  condi  vou  nem  ao  Pro- 
feta Nathan ,  nem  a  Banaias ,  nem  a  al- 
gum dos  mais  valentes  ,  nem  a  Salamão 
feu  irmão. 

11  Então  diíTe  Nathan  a  Berfabé 
mãi  de  Salamão :  Tu  não  ouvifte ,  que 
Adonias  filho  d'Haggith  fe  tem  feito 
Rei  ,  fem  que  noíFo  Senhor  David  o 
faiba? 

1 2  Agora  pois  vem ,  e  toma  o  meu 
confelho ,  e  falva  a  tua  vida ,  e  a  de  teu 
filho  Salamão. 

1 3  Vai ,  e  entra  ao  Rei  David  ,  e 
dize-lhe :  Não  he  aflim,  óRei  meu  Se- 
nhor ,  que  tu  jurafte  á  tua  efcrava ,  di- 
zendo :  Salamão  teu  filho  reinará  depois 

de 

por  degoUar  y  ou  matar,  como  adiante  noverfo  2^. 
Porque  contra  o  que  cuidava  Menoquio  ,  não  fc 
falia  aqui  dc  verdadeiro  facriíício,  que  Adonias  fi- 
zclTc  a  Deos  ,  mas  d'  hum  banquete  que  nada  ti» 
nha  de  fagrado,  Malvenda. 


Liv.  III.    Cap.  L  5- 

de  mim,  e  elle  ferá  o  que  feaíTente  no 
meu  throno  ?  Porque  reina  logo  Adonias  ? 

14  E  quando  tu  ainda  cíliveres  fal- 
lando^  com  o  Rei ,  fobrevirei  eu  depois 
de  ti ,  e  acabarei  as  tuas  razões. 

15*  Entrou  pois  Berfabé  ao  Rei  no 
feu  quarto:  eoRei  era  já  muito  velho, 
e  Abifag  de  Sutiam  o  fervia. 

16  Inclinou-fe  Berfabé  profunda- 
mente, (h)  adorou  o  Rei.  E  o  Rei 
lhe  diíTe :  Que  he  o  que  queres  ? 

1 7  Ella  refpondeo  ,  dizendo ;  Meu 
Senhor,  tu  jurafte  átuaefcrava  pelo  Se- 
nhor teu  Deos,  e  me  diíTefte  :  Salamão 
teu  filho  reinará  depois  de  mim ,  e  elle 
ferá  o  que  fe  aíTcnte  no  meu  throno. 

18  E  agora  eis-ahi  temos  a  Ado- 
nias  feito  Rei ,  fem  tu,  ó  Rei  meu  Se- 
nhor, o  fabcres. 

19  Elle  immuloubois,  etoda  a  for- 
te de  gordas  viftimas  ,  c  hum  grande 
numero  de  carneiros:  e  convidou  a  to- 
dos 

(/O  É  adorou  o  Rei.  O  termo  adorar  neftc,  c 
noutros  lugares  femelhantcs,  náo  denoca  corra  cou- 
fa  mais  do  que  o  ado  exterior  de  inclinação ,  ^ç* 
nuácxào  ,  ou  proftraçáo,  com  c]uc  o  vaíTalIo  pro- 
teftava  o  ícu  profundo  rcfpeico  ao  Rei.  Peheira. 


6  Reis. 

dos  os  filhos  do  Rei  ,  e  ao  Sacerdote 
Abiathar,  e  a  Joab  General  do  exerci- 
to :  mas  não  convidou  a  Salamão  teu 
fervo. 

20  Entretanto  todo  o  Ifrael  eftá  com 
os  olhos  em  ti  ^  ó  Rei  meu  Senhor ,  cf- 
perando  que  tu  lhe  declares  ,  ó  Rei  meu 
Senhor  ,  quem  he  o  que  deve  aíTentar- 
fe  no  teu  throno. 

21  Porque  tanto  que  o  Rei  meu  Se- 
nhor dormir  com  feus  pais ,  eu  ,  e  meu 
filho  (/)  feremos  os  peccantes. 

22  Eftando  ella  ainda  fallando  com 
o  Rei  5  eis-que  chegou  o  Profeta  Na- 
than. 

23  E  avisarão  ao  Rei  ,  dizendo: 
Eis-aqui  eftá  o  Profeta  Nathan.  E  Na- 
than  entrado  que  foi  á  prefença  do  Rei 
o  adorou,  proftrando-fe  em  terra,  e  lhe 

diíTe : 

24  O' Rei  meu  Senhor  ,  acafo  dif- 
fefte  tu:  Adonias  reine  depois  de  mim, 

e 

( i )  Sermos  os  peecantes,  Ifto  he ,  os  que  como 
réos  dcLcfa  Mageftade  padeçamos  os  últimos  fup- 
plicios.  E  fobentende-fe  ,  fe  tu  em  tua  vida  náo 
declarares  teu  fucceílor  a  ^alamáo.  Feksí^vA* 


Liv.  IIL    Cap.  I.        7  - 
e  elle  fe  ja  o  que  fe  aíTente  no  meu  thro- 
no? 

25  Porque  elle  defceo  hoje,  immo- 
lou  bois,  e  viftimas  gordas  ,  e  grande 
quantidade  de  carneiros  :  convidou  a  to- 
dos os  filhos  do  Rei  ,  e  aos  Generaes 
do  exercito,  e  ao  Sacerdote  Abiathar, 
os  quaes  comerão ,  e  beberão  com  elle  , 
dizendo :  Viva  o  Rei  Adonias. 

26  Mas  não  me  convidou  a  mim 
que  fou  fervo  teu  ,  nem  ao  Sacerdote 
Sadoc  ,  nem  a  Banaias  filho  de  Jojada , 
nem  a  teu  fervo  Salamão. 

27  Acafo  fahio  efta  ordem  da  par- 
te do  Rei  meu  Senhor ,  fem  que  tu  me 
declaraífes  a  mim  ,  que  fou  teu  fervo, 
quem  era  aquelle,  que  devia  depois  do 
Rei  meu  Senhor  aflentar-fe  fobre  o  feu 
throno  ? 

28  E  o  Rei  David  refpondeo,  di- 
zendo: Chamai-mecá  aBerfabc.  Eten- 
do-fe  ella  aprefentado  ao  Rei ,  e  citan- 
do em  pé  diante  delle, 

29  jurou  o  Rei,  e  lhe  diíTe :  Viva 
o  Senhor,  que  livrou  a  minha  alma  de 
todo  o  género  de  perigos: 


8 


Reis. 


30  que  aílim  como  eu  te  jurei  pelo 
Senhor  Deos  d'lfrael  5  dizendo-te  :  Sala- 
mão  teu  filho  fera  quem  reine  depois  de 
mim  ,  e  elle  ferá  o  que  em  meu  lugar 
fe  aíTcnre  no  meu  throno :  aíTim  o  cum- 
prirei hoje. 

31  E  Berfabé  proftrando-fe  com  o 
rofto  em  terra  ,  adorou  o  Rei  ,  e  lhe 
diííc:  Viva  David  meu  Senhor  para  to- 
do fempre. 

3z  DiíTe  mais  o  Rei  David:  Cha- 
mai-me  cá  ao  Sacerdote  Sadoc,  ao  Pro- 
feta Nathan,  e  aBanaias  filho  de  Joja- 
da.  E  tendo  elles  entrado  á  prefença  do 
Rei, 

3  3  eftc  lhes  diíTe  :  Tomai  comvof- 
co  os  fervos  de  voflb  amo;  (k)  e  fazei 
montar  na  minha  mula  a  meu  filho  Sa- 
lamáo,  (/)  e  levai-o  a  Gihon. 

E 

Ck)  ^  f^zei  montar  na  minha  mula ,  <^e.  Ifto 
hc ,  na  mula  de  que  eu  fò  ufo ,  ou  como  hoje  fc 
diz,  na  mula  da  Pcnba.  Pereira, 

(/)  E  levai  o  a  Gehon,  Era  huma  Fonte  ,  oii 
Regato  ,  que  banhava  a  Cidade  de  Jcrufalem  ,  e 
corria  fronteira  á  outra  Fonte  de  Rogel ,  onde  Ado- 
nias fc  tinha  feito  acclamar.  ii.Paralip.  xxxiu^O» 


Liv.  III.  Cai>.  I.  9 
34  E  o  Sacerdote  Sadoc  com  o  Pro- 
feta Nathan  o  unjão  alli  em  Rei  d'lf- 
rael.  E  vós  fareis  foar  a  trombeta  ,  e 
direis  em  alra  voz  :  Viva  o  Rei  Sala- 
mão. 

3)  Depois  voltareis  em  feu  fegui- 
mento  ,  e  elle  virá  aíTentar-fe  fobre  o 
meu  thronoj  e  reinará  em  meu  lugar:  e 
eu  lhe  ordenarei  que  governe  a  Ifrael , 
€  a  Juda. 

36  ErefpondeoBanaias  filho  dejo- 
jada  y  dizendo  :  Amen :  Aílim  o  confir- 
me o  Senhor  Deos  do  Rei  meu  amo. 

37  Bem  como  o  Senhor  foi  com  o 
Rei  meu  Senhor  ,  aíIim  feja  elle  com 
Salamáo  ,  e  eleve  o  feu  throno  ainda 
mais  5  do  que  o  throno  do  Rei  David 
meu  amo. 

38  Então  dcfccrão  o  Sacerdote  Sa- 
doc, o  Profeta  Nathan,  eBanaias  filho 
de  Jojada,  com  osCeretheos,  e  osFe- 
letheos,  e  fizerao  montar  a  Salamáo  na 
mula  do  Rei  David,  e  o  levarão  a  Gi- 
hon. 

^39  E  o  Sacerdote  Sadoc  tomou  do 
Tabernáculo  o  vaio  do  oleo  y  e  ungio  a 

Sa- 


TO  Rei  s. 

Salamão :  e  tocarão  a  trombeta ,  e  difle 
todo  o  Povo :  Viva  o  Rei  Salamão. 

40  E  fubio  toda  a  multidão  apôs 
clle  5  e  o  Povo  cantando  ao  fom  de  flau- 
tas,  e  moftrando  grande  regozijo,  e  a 
terra  retinio  com  as  fuas  acclamaçóes. 

41  Ouvio  Adonias  ,  e  ouvirão  to- 
dos os  que  elle  tinha  convidado  efte  ef- 
trondo ,  a  tempo  que  o  banquete  eftava 
já  acabado.  EJoab  como  ouviíTe  foar  a 
trombeta  ,  diíTe  :  Que  quer  dizer  efte 
ruido  de  Cidade  alvoroçada? 

42  Ainda  elle  eftava  com  a  palavra 
na  boca  ,  eis-que  chega  Jonathas  filho 
do  Sacerdote  Abiathar  ,  ao  qual  diíTe 
Adonias :  Entra ,  porque  tu  es  hum  va- 
lente homem ,  c  nos  trazes  algumas  boas 
novas. 

43  E  refpondeo  Jonathas  a  Ado- 
nai: Não  por  certo:  porque  o  Rei  David 
noíTo  Senhor  conftituio  Rei  a  Salamão. 

44  E  enviou  com  elle  ao  Sacerdote 
Sadoc,  ao  Profeta  Nathan  ,  a  Banaias 
filho  de  Jojada ,  aos  Geretheos  ,  e  aos 
Feletheos  :  e  elles  o  fizerão  montar  na 
mula  do  Rei. 


L  I  V.   III.      C  A  P.   I.  II 

45*  E  o  Sacerdote  Sadoc  com  o  Pro- 
feta Nathan  o  ungirão  em  Gihon  ^  don- 
de elles  voltarão  com  os  alaridos  dogof- 
to  que  atroáríso  a  Cidade:  efte  he  o  ef- 
trondo  que  vós  ouviftes. 

46  Pelo  que  Salamão  eílá  já  aíTen- 
tado  no  throno  do  Reino. 

47  E  os  fervos  do  Rei  entrarão  a 
dar  o  parabém  ao  Rei  David  noíTo  Se- 
nhor ,  dizendo  :  Deos  faça  o  nome  de  Sa- 
lamão ainda  mais  illuftre  do  que  o  teu,  e 
elle  eleve  o  feu  throno  fobre  o  teu  throno. 
E  oRei(;;2)  fez  adoração  no  feu  leito, 

48  e  diífe  :  Bemdito  feja  o  Senhor 
Deos  d'irrael ,  que  me  fez  ver  hoje  com 
os  meus  próprios  olhos  ao  que  fealfcnta 
fobre  o  meu  throno. 

49  Aquclles  pois,  a  quem  Adonias 
tinha  convidado ,  todos  cheios  de  medo 
fe  levantarão ,  e  cada  hum  foi  para  fua 
parte. 

50  Adonias  porém  temendo  a  Sala- 
mão, fe  levantou,  (w)  e  fe  foi  abraçar 
com  o  corno  do  Altar. 

En- 

(m)  Tez  adora(^ao,  Emende-fe  a  Deos,  dando- 
Ihe  39  s;raçHS.  Pekeira. 
(«)  jE  fe  foi  abrai^ar  com  o  çorno  do  Altar.  Ef- 


l^  Reis. 

5-1  Então  vierão  dizer  a  Salamão: 
Eis-ahi  Adonias  5  que  por  temer  ao  Rei 
Salamão  ,  ellá  agarrado  ao  corno  do  Al- 
tar, e  diz:  O  Rei  Salamão  me  jure  ho- 
je j  que  elle  não  fará  morrer  íeu  fervo 
á  efpada. 

5-2  E  Salamão  refpondeo  :  Se  elle 
fe  houver  como  homem  de  bem  ,  não 
cahirá  em  terra  nem  hum  fó  cabello  da 
fua  cabeça  :  (0)  mas  fe  fe  achar  nelle 
maldade ,  morrerá. 

53  (p)  Mandou  pois  o  Rei  Sala- 
mão 

pcrando  que  o  lugar  fanto  lhe  ferviíTc  dafylo ,  pa- 
ra o  náo  matarem.  Boa  prova  da  immunidade  dos 
Templos  entre  os  Hebreos.  Pereika. 

(o)  Mandou  pois,.,  que  ofojfem  tirar  do  Al- 
tar.  Aqui  manda  Salamão  tirar  do  Altar  a  Ado- 
nias 5  depois  de  lhe  ter  perdoado ,  e  de  lhe  ter  pro- 
mettido  impunidade.  No  Capitulo  feguinte,  verfo 
29.  e  ^i.  manda  o  mefrao  Salamáo  matar  no  Al- 
tar ajoab,  viftoque  requerido  que  fahiíTe  do  Tem- 
plo ,  o  náo  quiz  fazer.  Logo  na  mio  do  Rei  ella- 
va  guardar  ,  ou  quebrar  a  immunidade  dos  Tem- 
plos ,  conforme  erâo  as  circumftancias  do  crim«, 
ou  do  réo.  Pereira. 

(p)  Mas  fe  fe  achar  nelle  vtaldade ,  <^c.  He  co- 
mo íe  diíTera:  Mas  fe  me  conftar,  que  elle  toma 
a  afpirar  ao  Reino  ,  pagaHo-ha  com  a  vida.  Psr 

KEIRA. 


Liv.  III.   Cap.  L  13 
inão  ,  que  o  foíTem  tirar  do  Altar  :  e 
Adonias  tendo  entrado  á  prefença  do 
R«i  Salamão,  o  adorou,  eSalamão  lhe 
dilFe :  Vai  para  tua  cafa. 

CAPITULO  II. 

Últimos  confelhos  de  David  a  Salamão  \ 
Jua  morte,  Adonias  ,  Joab  ,  e  Semei 
mortos  por  ordem  de  Salamão»  Abiathar 
dejlerrado  feio  mejmo. 

I  XT^Stando  próximo  o  dia  da  mor-Anno 
JLte  de  David  ,  deo  elle  eítes^^^  ^• 
mandamentos  a  Salamão  feu  filho  ,  di-^^j^'^ 
zendo-lhe.  Chr. 

2  Eis-me  aqui  perto  do  termo  5  pa-1014. 
ra  onde  cammha  toda  a  terra ,  arma-te 

de  valor ,  e  porta-te  como  homem. 

3  Obferva  tudo  o  que  o  Senhor  teu 
Deos  te  mandou:  anda  pelos feus  cami- 
nhos :  guarda  a^  fuas  ceremonias  ,  os 
feus  preceitos  ,  as  fuas  ordenações  ,  e 
as  fuas  leis  ,  conforme  eílá  efcrito  na 
Lei  de  Moyíes,  para  que  entendas  tu- 
do o  que  fizeres^  e  para  onde  quer  que 
tc  voltares. 

Pa- 


14  R  È  í  s. 

4  Para  que  o  Senhor  confirme  as 
íuas  palavras,  que  elle  fallou  de  mim, 
dizendo :  Se  os  teus  filhos  vigiarem  fo- 
bre  os  feus  caminhos ,  e  andarem  dian- 
te de  mim  em  verdade ,  de  todo  o  feu 
coração  ,  e  de  toda  a  íua  alma  ,  terás 
tu  fempre  algum  dos  teus  dcfcendcn- 
tes  5  que  efteja  aíTentado  no  throno  d' 
Ifrael. 

5"  Tu  fabes  também  ^  (a)  como  me 
tratou  Joab  filho  deSarvia,  e  o  que  el- 
le fez  aos  dous  Generaes  do  exercito 
d' Ifrael  ,  a  Abner  filho  de  Ner  ,  e  a 
Amafa  filho  de  Jether  ,  os  quaes  elle 
matou  5  tendo  derramado  o  feu  fangue 
em  tempo  de  paz  ,  como  fe  foíTc  na 
guerra ,  e  tendo  tinto  com  elle  o  boldrié 
que  trazia  fobre  feus  rins ,  e  os  fapatos 
que  tinha  nos  pés. 

6  Farás  pois  conforme  a  tua  fabe- 
doria,  enãopermittirás  queasfuas  cans 
o  levem  em  paz  á  fepultura. 

Mof- 

(^)  Como  me  tratou  Jcab ,  é^c,  O  qual  depois 
de  matar  a  Abfaláo  contra  a  ordem  cxpreiTa  que 
eu  tinha  dado  ,  de  que  fe  lhe  confervaííe  a  vida  , 
teve  ,0  atrevimento  de  me  fallar  com  huma  info- 


Liv.  in.   Ca?.  IL 

7  Moftrarás  outrofim  o  teu  agrade- 
cimento aos  filhos  de  Berzellai  de  Ga- 
laad  y  c  elles  comeráõ  á  tua  meza  ,  por- 
que me  fahírão  ao  encontro  ,  quando 
eu  fugia  de  diante  d'Abfalão  teu  ir- 
mão. 

8  Tens  também  comtigo  a  Semei 
filho  de  Gera  ,  filho  de  Jemini  de  Ba- 
hurim ,  que  me  maldifle  com  huma  pef- 
fima  maldição  ,  quando  eu  hia  para  o 
arraial.  Mas  porque  elle  veio  encontrar- 
fe  comigo  ,  paíTando  eu  o  Jordão  ,  eu 
lhe  jurei  pelo  Senhor  ,  dizendo  :  Não 
te  matarei  a  efpada. 

9  (b)  Não  deixes  fem  caftigo  o  feu 

cri- 

lencia  intolerável  :  e  demais  a  mais  favorecco  a 
Adonias  na  empreza  d'  invadir  o  reino.  Saci. 

Çb)  Não  deixes  fem  caftigo ^  eb^c  Sem  ficar  per- 
juro ,  cncommenda  David  a  Salamáo ,  que  dê  gei- 
lo  ,  a  cjue  Semei  pague  com  a  vida  a  infolencia. 
Porque  o  que  David  tinha  jurado  a  Semei ,  não  foi 
que  nunca  o  faria  matar  j  mas  precifamente ,  que 
o  nto  mataria  em  fua  vida.  Também  náo  pódc 
David  fer  notado  de  vingativo  ,  pelo  que  encom- 
inendou  a  Salamáo  acerca  de  Semei.  Porque  co- 
mo particular  ,  elle  tinha  perdoado  de  todo  o  feu 
coração  a  Semei ,  e  foíFrido  com  cfpirito  dc  peni- 
tencia a  maldição  :  m»8  como  Rei  devia  procurjit 


i6  Reis. 

crime.  Homem  entendido  es  pára  fabc- 
res ,  como  te  has  de  haver  com  elle :  e 
levarás  as  fuas  cans  á  fepultura  com  mor- 
te violenta. 

10  Adormeceo  pois  David  com  feus 
pais,  (c)  efoi  fepultado  na  Cidade  de 
David. 

11  E  o  tempo  que  David  reinou  Ib* 
bre  Ifrael  ,  forâo  quarenta  annos.  Elle 
reinou  íete  annos  em  Hebron,  e  trinta 
e  tres  em  Jcrufalem. 

12  Ao  mefmo  tempo  Salamao  to- 
mou poíTe  do  Reino  de  David  leu  pai, 
(d)  e  o  feu  Reino  fe  fortificou  fobre 
maneira. 

13  Então  entrou  Adonias  filho  d' 
Haggit  aver  a  Berfabé ,  mãi  de  Salamao. 

^  Ber- 

cvíraf  para  o  futuro  com  o  caftigo  d1ium  táo  ma<3 
vaíTalIo  as  rebcldias  dos  outros.  Pereira. 

(  f  )  E  foi  fepultado  na.  Cidade  de  David.  Na- 
quella  parte  dc  Jerufalem ,  que  David  tinha  toma- 
do aos  Jebufcos  chamada  então  a  Fortaleza  dc 
Sião,  c  depois  a  Cidade  de  David.  11.  Reg.  v.  7. 
Pereira. 

(^)  E  o  feu  Reino  Je  fortificou  poder ofamettte; 
Por  caufa  de  que  todo  o  povo  acecitou  a  fua  elei- 
ção ,  c  lhe  fez  juramento  dc  fidelidade.  ^Ieno* 


Liv.  III.    Cap.  II.  17 

Berfabé  lhe  diíTe  :  He  por  ventura  de 
paz  a  tua  entrada.^  Elie  lhe reípondeo : 
De  paz  he. 

14  E  ajuntou  :  Tenho  huma  pala- 
vra que  te  dizer.  Dize-a  ,  refpoiídeo  Ber- 
fabé. 

Tu  ilibes  ,  diíTe  Adonias  ,  que 
o  Reino  era  meu  ,  e  que  todo  o  Ifrael 
me  tinha  efcolhido  com  preferencia  pa- 
ra feu  Rei ;  mas  o  Remo  foi  transferi- 
do, e  paíTou  para  meu  irmão,  porque  o 
Senhor  o  deftinou  para  clle. 

I  6  Agora  pois  huma  fó  coufa  te  pe- 
ço 5  nao  me  faças  paíTar  pela  vergonha 
de  ma  recufares.  DilTe  Berfabé  :  Ex- 
plica-te. 

17  Continuou  Adonias  :  Como  o 
Rei  Salamão  nao  pode  negar-te  nada, 
peço-te  que  lhe  digas  ,  que  me  dê  a 
Abifag  de  Sunám  por  mulher. 

18  Berfabé  lhe  refpondeo  :  Eílá 
bem  5  eu  fallarei  por  ti  ao  Rei. 

19  Veio  pois  Berfabé  ter  com  o  Rei 
Salamão  ,  para  lhe  fallar  por  Adonias. 
E  o  Rei  fe  levantou  a  vir  rccebella,  e 
a  faudou  com  huma  profunda  reveren- 

Tom.  YL  B  cia. 


i8  Reis. 

cia ,  e  fe  aíTentou  no  feu  throno  ;  e  poz- 
fe  hum  throno  para  a  mai  do  Rei  ,  a 
qual  íe  aíTcntou  á  fua  mão  direita. 

20  E  diíTc  Berfabé  a  Sahimão  :  Eu 
não  tenho  fenão  huma  pequena  coufa 
que  te  pedir:  não  me  envergonhes  com 
a  repulfa.  E  o  Rei  lhe  diíTe  :  Dize ,  mi- 
nha mãi,  que  he  o  que  pedes:  porque 
não  fera  jufto  deixar- te  ir  defcontente. 

21  Diffe  Berfabé  :  De-le  Abifag 
de  Sunám  por  mulher  a  Adonias  teu  ir- 
mão. 

22  E  refpondeo  o  Rei  Salamao  a 
fua  mãi,  e  lhe  diffe  :  Porque  pedes  tu 
Abifag  de  Sunám  para  Adonias  ?  Pede 
logo  também  para  elle  o  Reino  :  por- 
que elle  he  meu  irmão  mais  velho  ,  e 
tem  por  li  ao  Sacerdote  Abiathar  ,  e  a 
Joab  filho  de  Sarvia. 

23  {e)  Jurou  pois  o  Rei  Salamao 
pelo  Senhor  ,  e  diíTe  :  Deos  me  trate 
com  todo  o  feu  rigor  ,  fenão  he  verda- 

de, 

( ^ )  pois  O  Rei  Salamao  ,  ó^c.  Salamáo 

perfuadiofe ,  que  a  petição  d'Adon!as  hia  encami- 
nhada a  abrir- fe  com  o  cafamenro  d'Abifa2  huma 
porta  para  fubir  ao  throno.  Pereira. 


Lrv.  III.    Cap.  IL  19 

dc  ,  que  Adonias  por  eik  palavra  fal- 
loa  contra  a  fua  própria  vida. 

24  E  agora  juro  pc!o  Senhor  que 
me  fegurou  ,  e  que  me  collocou  no  thro- 
nj  de  David  meu  pai  ,  e  que  eftabeic- 
cco  a  miniia  caía  como  tinha  dito  :  ju- 
ro,  digo,  que  Adonias  ferá  hoje  mor- 
to. 

25-  E  m.andou  o  Rei  Salamão  com 
efta  ordem  a  Banaias  filho  de  Jojada , 
o  qual  o  feno ,  e  matou. 

26  Díiro  também  o  Rei  ao  Sacer- 
dote Abiathar:  (/)  Vai  para  Anathoth  , 
para  o  teu  campo  ,  que  na  verdade  es 
digno  de  morte;  mas  eu  te  não  matarei 
hoje  ,  attendendo  a  que  levafte  a  Arca 
do  Senhor  Deos  diante  de  meu  pai  Da- 
vid ,  e  r.companhafte  a  meu  pai  em  to- 
dos os  trabalhos ,  que  padeceo. 

27  Defterrou  pois  Salamao  a  Abia- 
thar ,  para  nao  exercitar  mais  as  fun- 
ções de  Sacerdote  do  Senhor  ,  e  para 

B  ii  fe 

(/)  y.ti  j^ira  Anmhoth.  Cidade  Sacerdotal  na 
Tnbn  dc  Benjamim.  E  nore-fc  por  eftc  ,  e  pelo 
fcguinrc  verio  o  grande  Pvodcr  que  Salamao  exer- 
cita contra  o  Pontífice  Abiathar,  hu:na  vez  que  o 
achou  réo  dc  Lda  Magcftade.  Pereira, 


Reis. 


fe  cumprir  a  palavra  que  o  Senhor  ti- 
nha proferido  em  Silo  ,  acerca  da  cafa 
d' Heli. 

28  (^)  E  chegou  eíla  noticia  a 
Joab  5  o  qual  tinha  feguido  o  partido 
d' Adonias  5  e  não  o  de  Salamao:  fugio 
pois  Joab  para  o  Tabernáculo  do  Se- 
nhor, e  pcgou-fe  ao  corno  do  Altar. 

29  E  vierão  dizer  ao  Rei  Salamao, 
que  Joab  tinha  fugido  para  o  Taberná- 
culo do  Senhor,  e  eílava  ao  pé  do  Al- 
tar. E  Salamao  mandou  a  Banaias  filho 
de  Jojada  ,  e  lhe  diíTe  :  Vai ,  e  mata-o. 

30  Foi  Banaias  ao  Tabernáculo  do 
Senhor,  e  diíle  a  Joab:  O  Rei  manda, 
que  faias  daqui.  EJoab  lhe  refpondeo: 
Não  fahirei ,  mas  morrerei  neíle  lugar. 

Deo 

(^)  E  chegou  efla  noticia  a  Joah,  Ifto  hc  ,  a 
noticia  de  ter  íido  morto  Adonias  ,  e  deíterrado 
Abiathar :  para  o  qual  fentido  fc  perceber ,  concordáo 
todos  os  meus  Interpretes ,  que  aquelie  qucd  Joab 
da  Vulgata  fc  deve  conftruir  por  qui.  He  lambem 
d' advertir,  que  neíte  verfo  em  lugar  de  éf^poftSa* 
lomonem  (que  he  a  Lição  dos  Setenta ,  e  de  S.  je- 
ronymo )  traz  o  Hcbreo  ó-*  pojl  Mfolonem,  Mas 
já  obfervou  Francifco  Lucas ,  que  cada  huma  def- 
las  Lições  tomada  per  fi,  he  verificável  peia  Hif-, 
toria*  Fe^eika. 


LiV.  III.      CaP.  II.  21 

Deo  Banaias  parte  difto  ao  Rei ,  e  lhe 
diíTe  :  Eis-aqui  a  relpofta  que  me  deo 
Joab. 

31  E  o  Rei  lhe  diffe :  Faze ,  como 
elle  re  diíTe  :  mata-o  ,  e  fcpulta-o  :  e 
com  ilto  tolherás  •  que  nem  eu ,  nem  a 
cafa  de  meu  pai  fiquemos  encarregados 
no  fangue  innocente  ,  que  Joab  derra- 
mou. 

32  E  o  Senhor  fará  que  o  ílingue 
delle  recaia  fobre  a  fua  cabeça,  porque 
aíTafíincu  a  dous  homens  jufios ,  que  erao 
melhores  do  que  elle  ,  e  que  elle  ma- 
tou á  efpada  ,  fem  que  meu  pai  David 
o  foubefle  :  quaes  foráo  Abner  filho  de 
Ner,  General  do  Exercito  d'Ifrael,  c 
Amafa  filho  dejether.  General  do  exer- 
cito de  Juda. 

33  E  o  feu  Tangue  recahirá  para 
fempre  fobrc  a  cabeça  de  Joab ,  e  fobre 
a  fua  pofteridade.  Mas  a  David  ,  e  á 
fua  defcendencia ,  á  fua  cafa,  e  ao  fcu 
throno  dê  o  Senhor  paz  para  fempre. 

34  Parrio  pois  Banaias  filho  de  Jo- 
jada  ;  e  arrcm  et  tendo  a  Joab  ,  o  matou  : 
e  elle  foi  fepukado  em  fua  cafa  no  dc- 
ferto.  En- 


2tx  Rei  s. 

35*  Então  cm  lugar  de  Joab  tonftl- 
tuk)  o  Rei  a  Banaias  filho  de  Jojada 
por  General  do  exercito:  e  em  lugar  d' 
Abiathar  poz  por  Sacerdote  (/^)  a  Sa- 
doc. 

36  Mandou  o  Rei  também  chamar 
a  Semei ,  e  lhe  diíTe  :  Faze  para  ti  caía 
em  Jerufalem  ,  e  deixa-te  eílar  ahi  ,  e 
não  laias  andando  d'  huma  parte  para  a 
outra. 

37  Mas  tem  entendido  ,  que  em 
qualquer  dia  que  daqui  fahires  ,  (i)  e 
que  paíTares  a  torrente  de  Cedron ,  nel- 
Ic  mefrao  feras  morto  ,  e  o  teu  fangue 
recahirá  fobre  a  tua  cabeça. 

38  E  diífe  Semei  ao  Rei  :  Jufta  or- 
dem he  ella  :  como  o  dilíc  o  Rei  meu 
Senhor  y  aíEm  o  executará  o  leu  fervo. 

Mo- 

(/;')  Jl  Sadoc,  Que  já  o  tinha  fido  em  tempo 
dc  David.  (  II.  Reg.  víii,  17. )  Pereira. 

{í)  E  cjue  pãjfãres  a  torrente  de  Cedron,  Para  ir 
de  Jcrufaicm  a  Gcth ,  como  foi  Semei  pelo  verío 
40 ,  náo  era  neccíTario  paíTar  a  torrente  de  Cedron : 
porciue  a  torrente  ficava  ao  Oriente  da  C\òzát  ,  c 
Geth  ficava  aoOccidentc.  Mas  para  ir  aB.ahurim, 
onde  Semei  tinha  os  leus  campos  ,  era  iílo  neccf" 
fíirio.  Me  NO  (2  u  10. 


Liv.  III.    Cap.  11.  25 

Morou  pois  Semei  em  Jcrufalem  largo 
tempo. 

39  Mas  paíTados  trcs  annos^  acon- 
teceo  oue  os  efcravos  ce  Semei  fum- 
rão  para  Aquis  filho  de  Mar. ca  Rei  dc 
Geth:  e  vierão  dizer  a  Semei  ,  que  os 
feus  efcravos  tinhao  ido  para  Geth. 

40  Levantou  fe  pois  Semei  ,  e  fi- 
lhou o  feu  jumento  ,  e  foi  ter  com  Aquis 
a  Geth  em  buíca  dos  feus  efcravos  ,  e 
tornou-os  a  trazer  de  Geth. 

41  E  deo-íe  avifo  a  Salamao  ,  que 
Semei  tinha  ido  de  Jerufalem  a  Geth, 
e  voltado  de  Geth  para  Jerufalem. 

42  E  mandando-o  chamar,  lhe  dif- 
fe :  Não  te  conjurei  cu  pelo  Senhor ,  e 
te  avifei  ant^s ,  dizendo)  :  Tem  enten- 
dido, que  em  qualquer  dia  que  fahires 
a  huma,  ou  outra  parte  morrerás  Etu 
me  refpondefte  :  Jufta  ordem  he  eíla, 
que  acabo  de  ouvir. 

43  Porque  nao  guardafte  tu  logo  o 
juramento ,  que  fizelte  ao  Senhor  ,  e  a 
ordem  que  eu  te  tinha  dado? 

44  E  o  Rei  dilTe  a  Semei  :  Tu  fa- 
bes  todo  o  mal ,  que  a  tua  confciencia 

te 


^4  Reis. 
te  accufa  teres  feiro  a  David  meu  pai: 
o  Senhor  fez  recahir  a  tua  inalicia  fo- 
bre  a  tua  cabeça. 

45  E  o  Rei  Salamão  fera  abençoa- 
do, e  o  throno  de  David  ferá  para  fem- 
pre  eftavel  diante  do  Senhor. 

46  Deo  pois  o  Rei  ordem  aBanaias 
filho  de  Jojada ,  o  qual  tendo  fahido  a 
executal-Ia,  ferio  aSemei,  e  o  matou. 

CAPITULO  III. 

Salamão  fe  defpofa  com  a  filha  de  Faraó* 
Pede  a  Deos  fabedoria,  Deos  lha  dá  fo- 
ire  as  riquezas  ^  e  a  gloria.  Juizo  que 
elle  fez  entre  duas  mulheres, 

hnwh    ^  ^  I  ^Endo-feaflim  confirmado  o  Rei- 
ant.  dc        JL  no  na  mão  de  Salamão ,  efte  fe 
Chr.   aparentou  com  Faraó  Rei  do  Égypto, 
(a)  porque  cafou  com  huma  fua  filha, 

a 

(/í)  Porqae  cafou  ^  ^c.  Sendo  Faraó  hum  Rei 
Gentio ,  parece  que  náo  tomaria  Salamáo  por  mu- 
lher a  fua  filha  ,  f e  a  náo  vilTe  determinada  a  abra- 
çar o  culto  do  verdadeiro  Deos,  profeíTando  a  Re- 
ligião dos  Hcbreos  :  no  qual  cafo  permittia  a  Lei 
caiar  com  mulheres  cftrangeiras.  (Deut.  xxi.  10. 
IX,  12.)  Pofque  ao  depois  tomou  Salamáo  muitas. 


Liv.  IIL    Cap.  III.  25- 

a  qual  levou  para  a  cidade  de  David, 
até  que  acabaffe  de  edificar  a  lua  cafa, 
e  a  caía  do  Senhor,  e  o  muro  que  fe  fa- 
zia á  roda  de  Jerufalem. 

2  Entretanto  o  Povo  (h)  immolava 
fobrc  os  Altos :  porque  até  aquelle  dia 
fe  não  tinha  edificado  Templo  ao  No- 
me do  Senhor. 

3  Mas  Salamão  amava  o  Senhor,  e 
fe  conduzia  fegundo  os  preceitos  de 
David  feu  pai,  (c)  excepto  que  facrifi- 
cava ,  e  queimava  incenfo  nos  Altos. 

Foi 

que  não  eráo  defta  clafTe  ,  por  iíTo  o  reprchcnc?e  a 
Efcr-tura  adiante,  Capiíulo  XI.  vcrro  i.  e  2.  Pe- 

JREIKA. 

(b)  Immolava  [obre  os  Altos.  Em  Altares  fcm 
dúvida  confagrados  ao  verdadeiro  Deos  ,  quacs  eráo 
os  cm  que  o  Povo,  e  o  mefmo  Samuel  tinháo  fa- 
crificado  cm  Carithiarim  cm  Galgala  ,  em  Masfaíh  , 
em  Ramatha  ,  e  noutras  partes,  como  fc  dilíc,  1. 
Reg.  vn.  Pereira. 

(f)  Ex:epto  íjue  f verificava ,  e  queimava  iticer.fo 
710S  Altos.  Coftume  que  a  Efcrirura  parece  ter  da- 
do por  licito  cm  quanto  náo  houve  Templo  ,  não 
íó  aqui  no  verfo  2.  ,  mas  também  ,  i.  Reg.  ix.  e  12. 
c  X.  8.  Por  iíTo  no  juizo  de  Mariana,  e  d' outros 
Modernos  a  excepção  aqui  náo  he  taxctiva  do 
que  fazia  Salamáo  j  mas  fórncnte  íignificativa  do 
ícu  diveríg  modo  de  proceder.  Todavia  ou ir os  com 


/ 


lá  R  E  I  5. 

4  Foi  Salamao  pois  a  Gabaon  para 
lá  facrificar:  porque efte  era  (d)  ornais 
confideravel  entre  todos  os  Altos:  e  of- 
fereceo  mil  hoftias  em  holocauíto  fobre 
o  Altar  que  havia  em  Gabaoii. 

5  Então  appareceo  o  Sénlior  a  Sa- 
lamao em  fonhos  de  noite,  e  lhe  diíTe: 
Pede-me  o  que  queres  que  eu  te  dê. 

6  ESalamão  lhe  refpondeo:  Tu  ufaf- 
te  de  grande  miícricordia  com  meu  pai 
David  ,  teu  fervo  ,  fegundo  foi  a  verda- 
de ,  e  juftiça  com  que  elle  andou  na  tua 
prefença  ,  e  fegundo  a  reftidão  de  co- 
ração com  que  elle  viveo  diante  de  teus 
olhos.  Tu  lhe  guardaíte  a  tua  grande 
mifericordia  5  c  tu  lhe  défte  hum  filho, 
que  fcaíTenraíTe  fobre  o  leu  throno,  co- 
mo hoje  o  eílá. 

Ago- 

Manoel  de  Sá  querem  que  a  excepção  fcja  aqui  re- 
prehcnfiva  ,  lenáo  decoufa  gravemente  peccamino- 
fa  (que  ifto  rodos  vem  que  náo  pôde  citar  com 
aquelle  Dilexit  atitem  Salomon  Domtnum)  ao  me- 
nos d'  hum  modo  de  obrar  menos  perf-eico ,  c  me- 
nos agradável  a  Oeos.  Pekeira. 

(J)  O  mais  confideraveL  Ifto  hc ,  o  de  maior 
religião,  por  caufa  de  exiftir  ainda  nelle  o  Taber- 
náculo ,  e  o  Altar  dos  holocauftos ,  que  fizera  Moy- 
fés,  (  I.  Par.  XXI.  19.  )  Pereira. 


Liv.  III.    Cap.  III.  27 

7  Agora  pois  ,  ó  Senhor  Deos ,  tu 
me  fizeíle  reinar  a  mim  teu  fervo  em 
lugar  de  David  meu  pai  :  mas  eu  fou 
(e)  hum  menino  pequenino  ,  que  não 
lei  por  onde  hei  de  lahir,  nem  por  on- 
de hei  de  entrar: 

8  e  o  teu  fervo  fe  acha  no  meio  d' 
hum  Povo,  que  tu  efcolhefte,  que  nao 
jíode  contar-fe,  nem  reduzir-fe  a  nume- 
ro pela  {lu  muIridaD. 

9  Tu  pois  darás  a  teu  fervo  hum 
coração  dí)cil,  para  poder  julgar  o  teu 
Povo  5  edifcernir  entre  o  bem,  e  o  mal. 
Porque  quem  poderá  julgar  a  efte  Po- 
vo 5  a  cfte  teu  Povo  tão  vafto  ? 

10  Agradou  pois  ao  Senhor  cfta 
oração  de  Salamáo,  viíto  ter  lido  tal  o 
feu  aífumpto. 

11  E  o  Senhor  difle  a  Salamao: 
Pois  que  efta  foi  a  petição  que  me  fi- 
zefte ,  e  nao  pedifte  para  ti  nem  muitos 
dias  ,  nem  riquezas  ,  nem  a  morte  de 
teus  inimigos  :  mas  o  que  me  pedifte 

foi 


(e)  Hum  mnino  pequenino.  Conforme  S.  Jero- 
nyiTiO  n.^o  paliava  Salamâo  a  eíte  tempo  dc  doze 
annos.  Pekeira» 


28 


R.  5  I  s. 


foi  a  fabedoria  ,  para  difcernires  o  que 
he  jufto : 

12  fabe  que  já  te  fiz  o  que  me  pe- 
difte ,  e  te  dei  hum  covàçio  (/)  tão  cheio 
de  fabedoria  5  e  de  intelligencia  ,  (g) 
que  nenhum  antes  de  ti  te  foi  femelhaii- 
te,  nem  fe  levantará  tal  depois  de  ti. 

13  Mas  demais  a  mais  eu  te  dei 
também  o  que  tu  me  não  pedifte  :  a  fa- 
ber  5  riquezas  ,  e  gloria  era  tal  gráo, 
que  não  fe  achará  hum  femelhantc  a  ti 
entre  os  Reis  dos  feculos  paíTados. 

14  Se  tu  porém  andares  nos  meus 
caminhos  ^  e  guardares  os  meus  precei- 
tos,  e  os  meus  mandamentos,  como  teu 
pai  os  guardou  ,  cu  te  darei  também 
huma  vida  larga. 

15-    Então  defpertouSalamão,  e  en- 

ten- 

(/)  Tao  cheio  âe  fahedoria  ,  e  de  intelligencia  ^ 
tb'C.  Efta  fabcdoria ,  conforme  notáo  os  Interpre- 
tes, confiftia  principalmente  num  profundo  conhe- 
cimento de  todos  os  deveres  da  vida  politica  ,  e 
civil ,  no  de  todos  os  fegredos  da  natureza ,  e  no 
de  todas  as  Sciencias,  e  Artes  ,  tanto  Liberaes  ,  co- 
mo Fabriz.  Saci. 

(j^)  Qjf^  nenhum  antes  de  ti,  &c.  Entende- fe, 
ttenhuin  dos  Reis  d'  Ifrael  :  como  explicáo  Lyra , 
Caetano,  Vatablo,  e  Manoel  de  Sá  :  e  ifto  para 


Liv.  IIL    Cap.  IIL  29 

tendeo  qual  era  o  fonho :  e  tendo  vin- 
do a  Jerufalem ,  fe  poz  diante  da  Arca 
do  concerto  do  Senhor  ,  oíFereceo  ho- 
locauftos,  e  viítimas  pacificas^  e  deo  a 
todos  os  fcus  criados  hum  grande  ban- 
quete. 

16  Nefta  occafiâo  vierao  ter  com  o 
Rei  (h)  duas  mulheres  proftitutas  ,  e 
fe  puzerão  diante  delle, 

17  hunia  das  quaes  lhe  diíTe  :  Pe- 
ço-te,  meu  Senhor,  que  me  faças  jufti- 
ça  :  eu,  e  efta  mulher  habitávamos  nu- 
ma meíma  cafa ,  eeu  pari  namefma  ca- 
mará em  que  ella  eftava. 

18  E  tres  dias  depois  de  eu  ter  pa- 
rido, pario  ella  também:  e  nós  eftava- 
roos  juntas  :  e  não  havia  na  cafa  outra 
alguma  peíToa ,  fenao  nós  ambas. 

1 9  E  huma  noite  morreo  o  filho  def- 
ta  mulher,  porque  cila  dormindo  o  af- 
fopou,  cahindo-lhe  em  lima. 

^  E 

nos  não  vermos  precifados  a  rcconíicccr  a  Salamão 
por  mais  fabio ,  até  do  que  fora  Adáo.  Pereira. 

(/?)  Duas  mulheres  projiitutas.  O  que  a  Vulgata 
aqui,  e  cm  Joíué,  n.  i.  feguindo  os  Setenta  ver- 
te projiitutas  pretendem  alguns  que  no  Hebreo  íl- 
gniíiquc  fimplcsmcnte  eJiaUjadeiras,  Pereira. 


jo  Rei  s. 

20  E  levantando-fe  no  mais  profun- 
do  filencio  da  noite  ,  a  tempo  que  eu 
tua  efcrava  dormia,  me  tirou  do  lado  a 
meu  filho  ,  e  o  poz  junto  a  fi  :  e  poz 
junto  a  mim  a  fcu  filho  ,  que  eílava 
morto. 

21  E  tendo-me  eu  levantado  pela 
ipanhã  para  dar  de  mamar  a  meu  filho, 
pareceo-me  que  elle  eftava  morto  :  e 
olhando  para  elle  com  mais  attcnçao  já 
dia  claro,  achei  que  elle  não  era  o  meu, 
que  eu  tinha  gerado. 

22  E  a  outra  mulher  refpondeo  :  Nao 
he  affim  como  tu  dizes  :  mas  o  teu  fi- 
lho morreo ,  e  o  meu  he  o  que  eftá  vi- 
vo. A  primeira  pelo  contrario  replica- 
va:  Mentes  :  porque  o  meu  filho  he  o 
que  eftá  vivo,  e  o  teu  o  que  morreo.  E 
dcfte  modo  contendiao  diante  do  Rei, 

23  Então  diíTe  o  Rei:  Efta  diz:  O 
meu  filho  eftá  vivo  ;  e  o  teu  eftá  mor- 
to. E  a  outra  refponde:  Nao  :  Mas  o 
teu  filho  he  o  que  morreo  ,  e  o  meu  o 
que  eftá  vivo. 

24  E  continuou  o  Rei :  Trazei-me 
cá  huma  efpada.  E  como  fofle  trazida 

hu- 


Liv.  III.    Cap.  III.  31 

huma  efpada  diante  do  Rei ,  profeguio 
elle: 

25-  (i)  Dividi  em  duas  partes  o  in- 
fante queeliá  vivo,  edai  ametade  a  hu- 
ma,  e  ametade  a  outra. 

26  Então  a  mulher,  cujo  filho  efta- 
va  vivo,  diíTe  para  o  Rei;  (porque  as 
fuas  entranhas  fe  lhe  commovêrao  de 
ternura  por  fcu  filho)  Senhor,  peço-te 
que  lhe  dês  o  infante  vivo  ,  e  nao  o 
mates.  A  outra  pelo  contrario  dizia  : 
Não  feja  nem  para  mim,  nem  para  ti, 
mas  divida-fe. 

27  Rcfpondeo  o  Rei ,  e  dilTe  :  Dai 
a  efta  o  infante  vivo  ,  e  não  fe  mate : 
porque  elta  he  a  que  he  fua  mai. 

28  Tendo  pois  ouvido  todo  o  If- 
rael,  de  que  modo  o  Rei  havia  fenten- 
ciado  efte  negocio,  tcmêrao-no  ,  e  re- 
fpeitárão-no  ,  vendo  que  eftava  nellc  a 
fabedoria  de  Deos  para  fazer  juftiça. 

CA- 

(/)  Dividi  m  duas  partes  o  infante,  <ò'C.  Efta 
ordem ,  diz  Santo  Ambrofio ,  náo  podia  fer  fcnáo 
fingida  ,  porque  feria  huma  acçáo  contra  a  juftiça 
fazer  matar  hum  innocenie  para  deícobiir  hum  íe- 
grcdo.  Pereira. 


3^ 


Reis. 


CAPITULO  IV. 

Principaes  Minijlros  de  Salamao,  Exten" 
são  dos  feus  domínios.  Paz  durante  a 
Jeu  Reinado,  Sabedoria  dejie  Principe. 

I  /^R3  o  Rei  Salamáo  reinava  fo- 
bre  todo  o  Ifrael. 

2  E  eftes  erao  os  principaes  Mi- 
niílros  que  tinha:  Azarias  (^a)  filho  do 
Pontifice  Sadoc , 

3  Elihoref  5  e  Ahia  filhos  de  Sifa, 
erão  Secretários  d'Eftado.  Jofafat  filho 
d'Ahiub  era  {b)  Chanceller  Mor. 

4  Banaias  filho  de  Jojada  era  Ge- 

ne- 

(  ^  )  Filho  do  Pontífice  Sadoc.  Filho  por  neto  , 
em  frafe  Hebraica  já  noutras  partes  oblervada  por 
nós.  Porque  como  fe  diz ,  i.  Parai.  vi.  8.  e  9. ,  Sa- 
doc gérou  a  Aquimaas :  Aquimaas  gerou  a  Azarias. 
Além  difto  como  náo  fe  referindo  o  nome  fcribãe 
também  para  Azarias ,  ficava  efte  fem  i'c  lhe  decla- 
rar o  emprego  :  adverte  com  razáo  Menoquio  ,  que 
Azarias  fe  deve  ajuntar  com  Eiihoref,  eAhia,  pa- 
ra de  todos  tres  fe  entender ,  que  foráo  Secretários 
d' Eftado.  Pereira. 

{b)  Chanceller  Mor.  Outros  por  a  commentmis 
entendem  Chronifta  Mór,  Pereira, 


Lrv.  III.    Cap.  IV.  33 

ncral  do  exercito,  (r)  Sadoc,  e  Abia- 
thar  erão  Pontiííces. 

5*  Azarias  filho  de  Nathan  tinha  a 
intendência  fobreos  que  aíliftião  dc  con- 
tínuo ao  Rei :  Zahud  Sacerdote  ,  filho 
de  Nathan,  era  Privado  do  Rei. 

6  Ahizar  era  Mordomo  Mor  :  c 
Adonirão  filho  de  Abda  ,  Superinten- 
dente Geral  dos  Tributos. 

7  ESalamao  tinha  eftabelecido  do- 
ze Governadores  fobre  todo  o  Ifrael  y 
que  tinhao  a  fcu  cargo  prover  a  mcza 
do  Rei,  e  de  toda  a  fua  cafa  :  porque 
cada  hum  feu  mez  no  anno  fubníiniílra- 
va  o  neccfllirio. 

8  E  eftes  sao  os  feus  nomes.  Be- 
nhur  no  monte  d'  Efraim. 

9  Bendecar  em  Macces,  Salcbira, 
Bcthfames  Elon,  c  Bethanan. 

Tom.  VI.  G  Be- 

(f)  Sadoc ^  e  AbUtbar.  Eftc  fcgundo  logo  c!cj 
do  principio  do  Reinado  dc  Salamáo  tinha  fido  por 
ellc  depoílo  do  Pontificado ,  edcftcruJo  para  Ana- 
thot,  III.  Reg.  if.  26.  c  27.  Chama-fc  comtudo  ain« 
da  Summo  Sacerdote ,  porque  o  tinha  fido  em  tcni- 
po  dc  David  :  ou  talvez  porcjuc  depois  dc  dcpolto 
foi  adniiiildo  por  Salamáo  a  fazer  ;tl^umas  ínnyócs 
Ponciãcâcs.  Pek&iea. 


34  R  £  I  s. 

10  Benhefed  em  Aruboth :  e  ao nief* 
nio  pertencia  Socco  ,  e  toda  a  terra  d* 
Efer. 

11  Benabinadab,  que  tinha  na  fua 
repartição  todo  o  paiz  de  Nefathdor, 
cafudo  com  Tafeth  filha  de  Salamão. 

12  Bana  filho  d'Ahilud  era  Gover- 
nador de  Thanac,  de  Mageddo,  e  de 
todo  o  paiz  de  Bethfan  ,  que  he  vizi- 
nho da  Sarthana  debaixo  de  Jezrael, 
defde  Bethfan  até  Abelmehula ,  defron- 
te de  Jecmaan. 

13  Bengaber  em  Ramoth  Galaad: 
e  efte  tinha  as  Aldeãs  de  Jair  filho  de 
ManaíTes  ,  que  são  em  Galaad.  Eíte 
melmo  governava  em  todo  o  paiz  d'Ar- 
gob  5  que  he  em  BaAin ,  feflenta  Cida- 
des grandes,  e muradas,  quetinhão  fe- 
chaduras de  bronze. 

14  Abinadab  filho  d'Addo  era  Go- 
vernador em  Mannim. 

15-  Aquimaas  em  Neftali  :  e  efte 
também  tmha  por  mulher  sl  Bafemath 
filha  de  Salamão. 

16  Baana  filho  d'HuíI  em  Afer  ,  e 
em  Baloth. 


Liv.  IIL    Cap.  ly.  3? 

17  Jofafat  filho  de  Farue  em  IlTa- 
car.  '  - 

18  Semei  filho  d'E]a  em  Benjamiin. 

19  Gaber  filho  d' Uri  na  Província 
de  Galaad  ,  no  paiz  d'Sehon  t\ei  dos 
Amorrheos  5  e  d'Og  Rei  de  Bafan,  lo- 
bre  quanto  havia  neíla  terra. 

20  Juda  ,  e  Ifrae!  erao  pela  fiia  mul- 
tidão hum  Povo  innum.eravel  ,  como  a 
arêa  domar:  e  elles  vivião  na  abundân- 
cia 5  e  na  alegria. 

21  E  tinha  Salamâo  d<^aixo  do  feu 
domínio  todos  os  Reinos  (^d)  dcs  do 
rio  do  paíz  dosFiliftheos  até  á  frontei- 
ra doEgvpto.  E  clles  lhe  offerecião  prc- 
fentes  ,  e  lhe  eftí verão  íuj eitos  por  to» 
dos  os  dias  da  fua  vida. 

C  ii  Os 

(íf)  Des  do  rio  do  paíz  dos  Fill^lheos ,  ò-c.  Nef- 
te  mcfmo  pado  diz  a  Vuii^aia  aí!im  ,11.  Parai.  tx. 
i6. ,  a  jiiiminc  Euphrare ,  ufque  ad  tenam  PIAiiflbi' 
norum  :  des  do  rio  Euiriiies  are  o  pa^z  dos  Filif- 
theoj.  Em  ambos  os  q-mcs  lugares  querem  rruitos 
com  Mariana  ,  que  fria  eílc  o  verdadeiro  fentido  : 
Dcs  do  Eufc?.tes  antonoTjafticamcnte  cliamado  o 
rio,  e  des  do  pniz  dos  Fililthcos  até  á  fromcíra  do. 
tsyptc:  c  \Í\o  para  que  o  paiz  dos  Filiftheos  nao 
pareça  excluído  dos  dominioj  de  jaunúo  >  iwaS 
fim  incluído  nellcs.  Pekkira.  .-..".-..  j 


3^  Rei  s. 

2  2  Os  viveres  para  a  meza  de  Sa* 
lamâo  erão  cada  dia  (e)  trinta  coros  de 
flor  de  farinha ,  e  feíTenta  de  farinha  or- 
dinária : 

23  dez  bois  gordos,  vinte  bois  dos 
que  andavão  a  paliar  ,  cem  carneiros , 
além  das  carnes  de  caça,  veados,  cor- 
ças ,  bois  montezes  ,  e  toda  a  caíta  d* 
aves  cevadas. 

24  Porque  el!e  dominava  fobre  to- 
do o  paiz  ,  que  eftava  da  banda  de  cá 
do  rio ,  defde  Thapfa  até  Gaza  :  e  to- 
dos os  Reis  deílas  Províncias  lhe  erao 
íujeitos  :  e  de  toda  a  parte  tinha  paz 
com  todos  os  vizinhos. 

2^  Todo  o  homem  de  Juda  ,  c  d* 
Ifrael  viveo  na  fua  terra  fem  temor  al- 
gum ,  cada  qual  debaixo  da  fua  parrei- 
ra ,  e  debaixo  da  fua  figueira  ,  des  dc 

Dan 

f  (  e )  Trinta  coros ,  ò^c,  O  coro  era  huma  medi* 
da  dos  Hcbreos ,  que  ,  fecundo  Santo  Ifitloro  no 
Livro  XVI.  das  Origens,  Cap.  XXVI. ,  num.  24. , 
levava  trinta  modios ,  cada  modio  quarenta  c  qua- 
tro libras ,  cada  libra  doze  onças.  O  que  reduzido 
ás  vazilhas  ,  e  pezos  d'  hoje  diz  Saci ,  que  hum  có«» 
ro  de  géneros  feccos  continha  oitocentas  libras  Ro- 
manas: humcóro  de  géneros  liqu idos  continha  quaíi 
duzentas  e  oitcjitã  canadas.  Pek&ua. 


Liv.  IIL    Cap.  IV,  37 

Dan  até  Beríabée ,  por  todo  o  tempo  que 
Salamão  reinou. 

26  E  tinha  Salamao  quarenta  mil 
mangedouras  dc  cavallos  que  puxavão 
por  carroças  ,  c  doze  mil  cavallos  de 
montar. 

27  E  a  todos  fuftentavão  os  fobre- 
ditos  Officiaes  do  Rei  ,  os  quaes  tam- 
bém nos  tempos  competentes  provião 
com  fummo  cuidado  tudo  o  que  era  ne- 
ccflario  para  a  meza  do  Rei  Salamão. 

28  Levavão  também  paraolitio  em 
que  eftava  o  Rei  cevada ,  e  palha  para 
os  cavallos^  e  beftas  de  carga,  confor- 
me a  ordem  que  tinhao  recebido. 

29  Demais  deoDeos  a  Salamão  hu- 
ma  fabedoria ,  e  prudência  fobremanei- 
ra  grande  ,  e  huma  capacidade  d'efpi- 
rito  5  como  a  arca  que  ha  na  praia  do 
mar. 

30  E  a  fabedoria  de  Salamão  exce- 
dia a  fabedoria  de  todos  os  Orientaes, 
c  de  todos  os  Egypcios. 

31  Elfe  era  mais  fabio  do  que  tra- 
dos os  homens;  mais  fabio  (f)  do  que 

Ethan 

(/)  ^0  quç  Etim  Ezrahita.  Pelo  nome ,  e  pa- 


38  Reis. 

Ethan  Ezrahita  ,  do  que  Heman ,  c  Cal- 
co, e  Dorda,  íiihos  de  Mahoi :  e  a  fua 
nomeada  íe  eftendia  por  todas  as  na- 
ções vizinhas. 

32  Propoz  também  Salamão  (g  )  tres 
mil  parábolas ,  e  forâo  os  feus  cânticos 
(h)  mil  e  finco. 

33  Outrofi  tratou  de  todas  as  ar- 
vores, des  do  cedro  que  ha  no  Líbano, 
até  o  hyfopo  que  fahe  da  parede :  e  tra- 
tou 

triâ  parece  a  alguns  fcr  efte  hum  mefmo  ,  com  o 
que,  I.  Parai.  11.  e6,,  fe  diz  filho  de  Zara,  e  com 
o  que  no  S  Jterio  íc  dá  por  Author  do  Salmo 
i.xxxvi\t.  Afijericordjas  Domim,  E  náo  falta  quem 
diga  5  que  todos  os  quatro  aqui  nomeados  Ethan  , 
Emaan  ,  Calcol ,  c  Dorda  crão  todos  irmãos  ,  fi» 
lhos  do  mefniO  pai  ,  náo  tl  íbnte  dar  a  Efcritura 
nos  Paralipomenos  nomes  diverfos  ao  pai  ,  c  aos 
dous  últimos.  Pereira. 

Çg)  Tres  mil  parábolas.  Ifto  he ,  fentcnças  ef- 
curas  ,  ou  Provérbios.  Manoel  de  Sa. 

Mil  e  finco.  Pelo  que  a  Vulgata  aqui  diz 
com  o  Hcbreo ,  inille  é^•  quinque ,  mil  e  íinco ,  po- 
Zctío  os  Setenta  quinque  miiiia ,  fmco  mil.  E  aflim 
veítem  aqui  Saci  ,  e  dc  Carrieres  ;  e  o  que  mais 
he  ,  Santes  Pagnino  ,  e  Caíliodoro  de  Ia  Reina  , 
«[uc  fizcrao  cambem  as  fuas  Versões  fobre  o  Hc- 
breo :  c  iílo  porque  em  lugur  de  mille  quinque 
querem  que  fclêa  invcrfamemc,  c  fcm  conjunção  ^ 


Liv.  III.    Cap.  IV.  39 

tou  igualmente  dos  animaes  da  terra, 
das  aves,  dos  reptiz,  e  dos  peixes. 

34  E  de  todos  os  paizes  vinha  gente 
a  ouvir  a  fabedoria  deSalamao:  etod  js 
os  Reis  da  terra  mandavao  a  Salamao 
feus  meíTageiros ,  para  ferem  inílruidos 
pela  fua  fabedoria. 

CAPITULO  V. 

Alliança  entre  Hirão  ,  e  Salama  o.  Rirão 
lhe  manda  as  madeiras  necejjdrias  para 
a  confirucção  do  Templo.  Salama  o  ejbo-" 
lhe  entre  os  filhos  d"Ifrael  os  que  ha- 
vião  de  trabalhar  nejle  edtficio, 

I  TJT  Iião  Rei  deTyro  tambcm  en-  Anno 
X  X  viou  feus  fervos  a  Salan.ao ,  do  M. 
depois  queouvio  queelle  tinha  fido un- ^í^^-- 
gido  Rei  em  lugar  de  fcu  pai :  porque  j"^ 
Hiráo  femprc  fora  amigo  de  David.  lo/z. 

2  E  Salamao  mandou  dizer  a  Hi- 
rão: 

3  Tu  fabes  qual  foi  o  dcfejo  de  Da- 
vid ,  e  que  lhe  náo  foi  poíFivel  cdiííc..r 
huma  cafa  ao  Nome  do  Senhor  fcu  Ocos , 
cm  razão  das  guerras  que  eftava  neccí- 

fi- 


4^  Pv  E  I  S. 

fitado  a  fuftcntar  dc  todas  as  partes  ,  em 
quanto  o  Senhor  lhe  não  mctteffe  de- 
baixo dos  pés  os  fcus  inimigos. 

4  Porém  agora  o  Senhor  meu  Deos 
mc  concedco  dcícanço  por  toda  a  par- 
te ;  e  não  ha  contrario  ,  nem  máo  en- 
contro algum. 

y  Pelo  que  trago  no  fentido  edifi- 
car hum  Templo  ao  Nome  do  Senhor 
meu  Dcos  ,  conforme  o  que  o  Senhor 
ordenou  a  David  meu  pai,  quando  lhe 
diíTe:  Teu  filho,  que  eu  farei  aíTentar  em 
teu  lugar  fobrc  o  teu  throno  ,  efte  ferá 
o  que  edifique  hum  Templo  ao  meu 
Nome. 

6  Dá  ordem  pois  a  teus  fervos ,  que 
me  cortem  cedros  doLihano:  c  os  meus 
fervos  eftarão  com  os  teus  ,  e  eu  darei 
a  teus  fervos  qualquer  paga  que  tu  me 
peças:  porque  tu  fabes  que  no  meu  Po- 
vo não  ha  ninguém  que  faiba  cortar  ma- 
deira como  os  Sidonios. 

7  Hirão  como  ouviífe  as  palavras 
de  Salamão,  alegrou-fe  em  extremo,  e 
diíTe  :  Bemdito  feja  hoje  o  Senhor  , 
que  deo  a  David  hum  iílho  fapientiífi- 


Liv.  IIL    Cat.  V.  41 

mo,  para  governar  hum  tão  grande  Po- 
vo. 

8  E  mandou  dizer  a  Salamao  :  Eu 
ouvi  tudo  o  que  memandafte  dizer:  eu 
executarei  tudo  o  que  defejas  acercadas 
madeiras  de  cedro,  e  de  faia. 

9  Os  meus  fervos  aslevaráo  do  Lí- 
bano até  o  mar:  e  eu  as  farei  embarcar 
em  canoas  até  o  lugar  que  tu  me  deíi- 
gnares,  no  qual  as  farei  abordar,  e  tu 
terás  cuidado  de  mandar  quem  as  rece- 
ba. E  dar-me-has  por  iíTo  tudo  o  que 
for  ncceíTario  (a)  para  a  fullentação  dc 
minha  cafa. 

10  Deo  pois  Hirâo  a  Salamão  dc 
madeiras  de  cedro,  e  de  faia  tudo  quan- 
to clle  defejava. 

11  E  Salamão  dava  a  Hirão  para 
fuftento  de  fua  cafa  vinte  mil  coros  de 
trigo  ,  (è)  c  vinte  coros  de  puriíTimo 
azeite.  Eftes  erão  os  provimentos,  que 
Salamão  dava  a  Hirão  todos  os  annos. 

Deo 

(a)  Para  fuJlema^So  de  minha  cafa.  Segundo  a 
commum  intciligcncia  dos  Interpretes ,  o  que  aqui 
pedia  Hiráo  náo  era  que  Salamáo  lhe  fiiftcntaíTc  a 
fua  própria  meza  ,  mas  fim  que  correíTe  por  fua 
conca  a  defpcza  que  no  comer  ,  e  beber  íizeííem 


O 


4^  Rei  s. 

12  Deo  o  Senhor  também  a  fabc- 
doria  aSalamao  conforme  lho  tinha  pro- 
mettido.  E  havia  paz  entre  Hirão  ,  c 
Sahmíío,  e  ambos  lízerão  alhança  hum 
com  outro. 

13  E  efcolheo  o  Rei  Salamão  obrei- 

ros 

os  ofHciacs  que  elíe  HIrão  mandaíTc  trabalhar  no 
Líbano.  Menoqaio  c  Saci.  Pereira, 

(^h)  E  vinte  coros  de  purijjimo  azeite,  Táo  pe- 
quena quantia  d'  azeite  parece  que  náo  tem  propor- 
ção com  tamanha  de  trigo.  Os  Setenta  repetindo 
m:llia  do  período  antecedente ,  dizem  aqui :  eb-  vi- 
ginti  millia  batbos  olei  :  e  vinte  mil  bathos  d' azei- 
te. Por  tanto  ncftc  lugar  traduz  aílim  o  Padre  dc 
Carrieres:  vin^t  millc  medres  d'  huille  tres  pure, 
E  ufar  de  Carrieres  do  nome  geral  mcfures  ,  foi 
porque  quando  a  Vulgata  aqui  nos  Reis  fe  explica 
por  cotos^  e  os  Setenta  por  bdfhos a  mefma  Vul- 
gata nos  Pjralipomenos  5  Livro  II.  Cap.  II. ,  fal- 
lando  do  mcfmo ,  fe  explica  por  fatos ;  fendo  que 
entre  eftcs  tres  géneros  de  medidas  ha  huma  gran- 
de diíferença  de  mais  para  menos  ,  como  fe  pódc 
ver  do  já  aííima  citado  lugar  dc  Santo  líidoro ,  Li- 
vro XVI.  das  Origens,  Cap.  XXVI. ,  Num.  16.  c 
17.  e  24.  Ainda  que  porém  pelos  Texros  ha  pou- 
co allegados  fe  náo  polia  decidir ,  qual  foíTe  a  qua- 
lidade da  medida  do  trigo ,  e  do  azeite ,  que  Sala- 
mso  dava  a  Hiráo :  fempre  com  tudo  da  versão  Gre- 
ga cos  Reis  ,  e  da  Vulgata  Latina  dos  Paralípo- 
nienos  fe  conclue  ,  que  de  ambos  os  géneros  era 
a  quantidade  dc  vinte  mil,  Perbira. 


Liv.  III.  Cap.  y.  43 

ros  em  todo  o  Ifrael  :  e  a  ordem  que 
intimou  foi  que  foíTem  trinta  mil  homens. 

14  E  elle  os  mandava  ao  Libano 
por  íeu  turno,  dez  mil  cada  mez  ,  de 
ícrte  que  ficavão  dous  mezes  em  fuas 
cafas:  e  Adonias  tinha  a  intendência  de 
toda  efta  gente. 

15-  E  teve  Salamão  fetenta  mil  que 
acarretavão  o  que  havia  que  trazer  :  e 
oirenra  mil,  que  cortavão  as  pedras  no 
monte, 

16  afora  os  Sobreftantcs  dc  cada 
obra,  (c)  que  erao  em  numero  de  ires 
mil  c  trezentos  ,  que  davão  as  ordens 
ao  Povo,  e  aos  que  trabalhavao. 

17  E  o  Rei  lhes  mandou  que  tiraf- 
fem  pedras  grandes  ,  pedras  de  preço 
para  os  alicerfes  do  Templo ,  e  que  as 
quadraíTcm. 

18  E  lavrárao-nas  os  canteiros  de 
Salamão,  e  os  canteiros  deHirão:  (^) 

os 

(  c )  Que  erâo  em  numero  de  tres  mil  e  trezentos. 
O  Segundo  dos  Paralipomenos  11.  18.  póe  tres  mil 
c  fciscentos :  porque  talvez  aos  tres  mil  e  trezentos 
piendiáo  outros  trezentos.  Pereira. 

{(i)  Os  dç Gitlos  porém ,  &c.  Os  modernos  tem 


44  Rei 

os  de  Giblos  porém  apparelhárâo  as  ma- 
deiras ,  e  as  pedras  para  fe  edificar  a 
cafa. 


para  íi ,  qucQiblos  hc  a  mcfma  que  Biblos  na  Fe- 
nícia. PftKStRA. 


CAPITULO  VI. 

Época  ^  e  Defcripção  do  Templo  de  Sa- 
lama o. 

I  Tj^  Oi  aíiirn  pois ,  (^)  que  aos  qua- 
A    troccntos  e  oitenta  annos  da  fa- 
hida  dos  filhos  d'Ifrael  do  Egypto,  no 

quar- 

(/i)  Que  aos  quatrocentos  e  oitenta  annos  ,  ^'C, 
Nefta  Época  concordão  com  a  Vulgata  Latina  to- 
dos os  Exemplares  Hebraicos  ,  Caldaicos  ,  Syria- 
cos ,  Arábicos  ,  e  Gregos  :  excepto  que  algumai 
Edições  dos  Setenta  ,  á  faber:  a  Aldina  de  íjíH.  , 
c  a  Romana  de  1587.  em  lugar  de  quatrocentos  e 
citenta  trazem  quatrocentos  e  quarenta.  Por  donde 
geralmente  he  rejeitada  de  Amigos  e  Modernos  a 
opinião  de  Severo  Sulpicio  ,  que  no  Livro  L  da 
fua  Hiftoria  Sacra  ,  Num.  7.  atttibuio  a  erro  dos 
Copiftas  o  efe  rever  quatrocentos  e  oitenta  ,  onde , 
fcgundo  os  fcus  cálculos ,  fe  devia  ler  aos  quinhen^ 
tos  €  oitenta  e  oito  annos.  O  fundamento  díe  Seve- 
ro Sulpicio  para  accrefcentar  fobrc  o  numero  da 
Vulgata  mais  cento  c  oito  annos  cra  parccer-lhc. 


Liv.  III.    Caf.  VI.  4? 

quarto  anno  do  Reinado  dc  Salamão, 
no  mez  deZio,  {b)  que  he  o  fegundo 
mez,  fe  eomeçou  a  edificar  a  cafa  para 
o  Senhor. 

2  A  cafa  porém  que  Salamão  edifi- 
cou em  honra  do  Senhor,  tinha  feíTenta 
covados  de  comprido,  e  vinte  covados 
de  largo,  c  trinta  covados  de  alto. 

3  E  havia  hum  Pórtico  diante  do 
Templo  de  vinte  covados  dc  compri- 
do ,  conforme  a  medida  da  largura  do 
Templo:  e  tinha  dez  covados  de  largo 
ante  a  face  do  Templo. 

E 

que  dos  annos  que  a  Efcritura  no  Livro  dos  Juizci 
aíligna  a  cada  Juizado  refultava  nccclTariameme  hu- 
ma  fomma  total  ,  que  cxcedeffe  em  cento  c  oito 
annos  á  que  trazia  a  Vulgata.  Porem  fobre  como 
fe  pôde  conciliar  a  Época  dos  quatrocentos  c  oi- 
tenta annos  com  os  que  a  Efcritura  dá  de  duração 
a  cada  Juiz  ;  ( que  he  o  em  que  efta  toda  a  diíH- 
culdadc  entre  os  Chronologos)  vejáo  os  Leitores 
a  DiíTertaçáo  do  Abbadc  Vences ,  que  nas  ultimas 
Edições  da  Bíblia  do  Padre  de  Carrieres  anda  an- 
lepofta  ao  Livro  dos  Juizes  com  efte  Titulo , /o^r^ 
4  Terceira^  Idad^  do  Mundo.  Pereira. 

(^)  Que  he  ofegando  mez,  O  fegundo  anno  fan- 
to ,  que  coincidia  com  o  noíío  Abril :  c  náo  o  fe- 
gundo do  anno  civil,  que  corrcfpondia  aoQOÍIo  Sc* 
lembro.  F&RsiKA.  .  . 


4^  Rei  s. 

4  E  fez  no  Templo  (c)  janellas  obli^ 
quas. 

5  E  edificou  fobre  a  parede  do  Tem- 
plo diverfos  andares  ao  redor  (d)  nas 
paredes  da  cafa  pelo  contorno  do  Tem- 
plo y  e  do  Oráculo :  e  fez  vários  quar- 
tos {e)  i  roda. 

6  O  andar  debaixo  (f)  tinha  finco 
covados  de  largo,  o  andar  do  meio  leis 
covados  de  largo,  o  terceiro  andar  fete 
covados  de  largo.  E  poz  vigas  ao  redor 
da  cafa  pela  parte  de  fora  ,  para  que 

não 

(f)  Janellas  obliquas,  Ifto  he,  largas  por  den- 
tro ,  e  cíheitas  por  fóra.  Os  Setenta  dizem  janellas 
çom  gelo  fias.  Pereira. 

(d)  Nas  paredes  da  cafa.  Depois  de  dizer  no 
fingular  fobre  a  parede  (o  que  Manoel  de  Sá  conx 
Caliiodoro  de  la  Reina  expõem  ao  pé  da  parede  ) 
accrcfcenta  agora  ms  paredes  da  cafa  i  porque  de 
cada  lado  eráo  duas  as  paredes  que  cingiáo  o  Tem- 
plo. Pereira. 

C  f  )  Vários  quartos.  Para  ufo  dos  Sacerdotes ,  e 
guarda  dos  Tagrados  paramentos.  Em  lugar  de  quar- 
tos põem  outros  aqui  parapeitos.  Pereira. 

(j  )  Tinha  finco  covados  de  largo.  Onde  as  parc^ 
des  eráo  mais  groíTas  ,  ahi  tinha  o  fobrado  menos 
largura  ;  aonde  íe  eftrcitaváo  mais  as  paredes ,  ahi 
era  mais  largo  o  fobrado.  Efta  he  a  razão  ,  por 
que  o  andar  debaixo  tinha  finco  covados  ,  o  dd 
meio  íeis,  o  terceiro  fete.  Perefra. 


Cap.  III.    Liv.  VI.  47 

não  (^)  eílribaflem  nas  paredes  do  Tem- 
plo. 

7  E  quando  a  cafa  fc  edificava  fa- 
zião-na  (h)  de  pedras  lavradas  ^  e  per- 
feitas: (i)  c  não  feouviomartéllo,  nem 
machado  ,  nem  inftrumento  algum  dc 
ferro,  em  quanto  ella  fe  edificava. 

8  A  porta  do  lado  do  meio  efl-ava 
na  parte  direita  da  cafa  :  e  fubião  por 
hum  caracol  ao  andar  do  meio ,  e  deite 
ao  terceiro. 

9  E  edificou  a  cafa  ,  e  a  acabou : 
cobrio  também  a  cafa  de  pranchóes  dc 
cedro. 

10  E  fez  por  fima  de  toda  a  cafa 
(k)  hum  madeiramento  de  finco  cova- 

dos 

(^)  Para  que  tiaoeflribajfem  nas  paredes  do  Tem» 
pio.  Quer  dizer ,  que  para  as  paredes  náo  ficarem 
esburacadas  ,  náo  cftribaváo  as  pontas  das  vigas  nos 
váo$  das  paredes ,  mas  fim  nos  hombros  que  as  pa» 
redes  deitaváo  para  fóra.  Perk  ra. 

{h)  De  pedras  lavradas  ,  e  perfeitas.  Que  tra« 
ziáo  de  todo  preparadas  ,  c  ajuílaJas  da  pedreira. 
Pereira. 

( I )  E  não  fe  ouvia  martéllo ,  ^f.  Grande  do- 
cumento do  filencio ,  quietação ,  e  refpeito  que  fc 
deve  guardar  nas  Igrejas  do  Senhor.  Pereira. 

( ^)  Hum  madeiramento ,        Por  eltc  entendo 


48  Reis. 

dos  d' altura,  e  cobrio  acafa  de  madei- 
ra dc  cedro. 

I  I  Então  fallou  o  Senhor  a  Sala- 
mão,  e  lhe  diíTe : 

12  (/)  Efta  cafa  que  tu  edificas,  fc 
tu  andares  nos^  meus  preceitos  ,  e  exe- 
cutares as  minhas  ordenanças  ,  e  guar- 
dares todos  os  meus  mandamentos ,  ca- 
minhando por  elles  ,  eu  verificarei  na 
tua  peflba  as  palavras  que  dilTe  a  Da- 
vid teu  pai , 

1 5  e  habitarei  no  meio  dos  filhos 
d'irrael,  e  não  defampararei  o  meu  Po- 
vo d*Ifrael. 

1 4  Salamâo  pois  edificou  a  cafa ,  e 
a  acabou. 

E 

cu  ( não  fei  fc  mc  engano )  o  tcélo  do  Templo 
feito  a  modo  dc  abobada  ,  que  fobrefahia  finco  co- 
vados  á  altura  das  paredes.  Outros  mais  divcifa- 
mentc  traduzem  aflim  todo  o  vcrfo :  E  fez  habita-' 
jocí  por  toda  a  cafa  de  fnico  covados  d'  altura  ,  c 
cobrio  d  cafa  de  madeiras  de  cedro »^  Pereira. 
.  (/)  Ejta  cafa  que  tu  edificas^  <b^c.  Para  o  fcn- 
tido  deíla  primeira  parte  náo  ficar  fufpcnfo ,  c  im« 
perfeito ,  he  neceííario  fupprir  dc  fóra  aiguma  clau- 
iula ,  como  por  exemplo  efta  que  apontáo  Saci,  c 
de  Carricrcs :  Eu  vi  com  prazer  elta  cafa ,  que  t\i 
cdííiMfie.  PfiR£fRA. 


Liv.  III.    Cap.  VI.  49 

1  j  E  guarnecco  as  paredes  da  cafa 
pelo  interior  de  taboas  de  cedro  des  do 
pavimento  da  cafa  até  o  mais  alto  das 
paredes,  e  até  os  pranchões  :  elle  as  vef- 
tio  por  dentro  dc  madeira  de  cedro  ,  e 
cobrio  o  pavimento  da  cafa  de  taboas 
de  faia. 

16  Fez  também  huma  divisão  de 
madeiras  de  cedro  d'altura  de  vinte  co- 
vados  no  fundo  do  Templo ,  des  do  pa- 
vimento até  o  mais  alto  ;  e  deftinou  o 
lugar  do  fundo  do  Oráculo  para  Santo 
dos  Santos. 

17  O  Templo  porém  des  da  porta 
do  Oráculo  tinha  quarenta  covados. 

18  E  toda  a  cafa  pelo  interior  ef- 
tava  forrada  de  cedro,  {m)  tendo  fuas 
entalhaduras  ,  e  junturas  feitas  com  gran- 
de arte,  e  feus  entalhes  de  relevo.  Tu- 
do ellava  coberto  de  taboas  de  cedro, 
c  não  fe  defcobria  coufa  alguma  de  pe- 
dra na  parede. 

Tom.  VI.  D  Fez 

(wj)  Tendo  fuas  entalhaduras  ^  é'C.  O  Hebrco 
declara  cm  que  coníiftiáo  clbs  galanterias  da  arte, 
dizendo  ,  entalhaduras  de  cabaças  jilvcjlres  ,  e  de 
hotoes  de  flores.  Aílim  o  traduzio  Caíiiodoro  de  U 
Reina.  í^ersiKa. 


Rei  s. 

19  Fez  aíTim  mefmo  o  Oráculo  no 
meio  do  Templo  na  parte  mais  interior , 
para  pôr  nelle  a  Arca  do  concerto  do 
Senhor. 

20  O  Oráculo  porém  tinha  vinte  co* 
vados  de  comprido  ,  vinte  covados  de 
largo,  e  vinte  covados  de  alto:  e  elle 
o  cobrio  ,  e  veftio  de  purillimo  ouro : 
(n)  e  também  o  Altar  o  cobrio  de  ce- 
dro. 

21  Cobrio  outrofi  de  puriílíma  ou- 
ro a  parte  do  Templo,  que  ficava  dian- 
te do  Oráculo ,  e  pregou  as  chapas  com 
pregos  d' ouro. 

22  E  não  havia  nada  no  Templo, 
que  nao  foffe  coberto  d' ouro.  Cobrio 
também  d' ouro  todo  o  Altar,  que  efta- 
va  diante  do  Oráculo. 

E 

(n)  E  também  o  Altdr  o  cobrio  de  cedro,  A  Vul- 
gata dizendo ,  jed  f^*  Altare  vefiivít  cedro ,  parece 
dar  a  entender ,  que  o  de  que  Salamáo  cobrio  eftc 
Altar  5  foi  fó  de  cedro.  Mas  pelo  Hebreo  fe  colhe , 
que  fobre  o  cedro  de  que  era  feito  ,  era  efte  Altar 
também  dourado.  E  eftc  Altar  deve-fe  diftinguit 
dooutro,  de  que  fcfaz  mençáo  noverfo  22.  Por- 
que o  Altar  do  verfo  20.  era  o  fobre  que  poufava 
a  Arca :  o  Altar^porém  do  verfo  22.  era  o  dos  per« 
fumes.  Galmst.  ^  - 


Lrv.  IIL    Cap.  VI. 

13  E  poz  no  Oráculo  dous  Queru- 
bins de  páo  d' oliveira,  que  tinhão  dez 
covados  d' altura. 

24  Huma  das  azas  d' hum  Queru- 
bim tinha  íinco  covados ,  e  a  outra  tam- 
bém finco  covados:  aflim  elle  tinha  dez 
covados  des  da  extremidade  d'huma  das 
azas  até  á  extremidade  da  outra. 

25  O  fegundo  QLicrubim  tinha  tam- 
bém dez  covados  com  as  mefmas  di- 
mensões:  e  a  obra  d' ambos  era  a  mef- 
ma : 

26  ifto  he  j  que  o  primeiro  Queru- 
bim tinha  dez  covados  d'alcura,  e  o  fe- 
gundo  da  mefma  forte  dez. 

27  E  cile  poz  os  Querubins  no  meio 
do  Templo  interior,  li  os  Querubins 
tinhão  as  fuas  azas  eílendidas.  E  huma 
das  azas  do  primeiro  Qiierubim  tocava 
hiinvà  das  paredes ,  e  a  aza  do  fegundo 
Querubim  tocava  na  outra  parede:  e  as 
fegundas  azas  vinhão ajuntar-fe  nomeio 
do  Templo. 

28  Cobrio  também  d' ouro  os  Que- 
rubins. 

iQ    E  ornou  todas  as  paredes  do 
D  u  Tem- 


^2  Reis. 

Templo  cm  roda  de  molduras  ,  e  rele- 
vos j  onde  fc  vião  Querubins  ,  e  pal- 
mas ,  e  diverfas  figuras ,  que  pareciao  fal- 
tar,  e  fahir  da  parede. 

30  Cobrio  da  mefma  forte  d' ouro 
o  pavimento  do  Templo  (o)  por  den- 
tro, e  por  fora. 

31  E  fez  á  entrada  do  Oráculo  hu- 
mas  pequenas  portas  de  páo  d' olivei- 
ra,  e  os  feus  pofles  de  finco  efquinas. 

32  Fez  eftas  duas  portas  de  páo  d* 
oliveira  :  e  entalhou  nellas  figuras  de 
Querubins,  e  palmas,  e relevos  mui  fa- 
hidos  fora  ;  e  cobrio  d'  ouro  aflím  os 
Querubins  ,  como  as  palmas  ,  e  o  de- 
mais. 

33  E  poz  á  entrada  do  Templo  os 
poftes  de  páo  de  madeira  quadrangula- 
res ; 

34  e  duas  portas  de  páo  de  faía^ 
huma  d'hum  lado,  outra  d^outro:  e am- 
bas as  portas  erao  de  duas  folhas,  e  fc 
abrirão,  tendo-fe  huma  á outra. 

E 

( o )  Por  dentro  ,  e  por  fora,  Ifto  he  ,  o  pa- 
vimento exterior  do  Santa,  e  o  interior  dg Samua-j 

fio,  CaLM£T. 


Liv.  III.    Cap.  VL  sz 

35'  E  entalhou  Querubins  ,  e  pal- 
mas 5  e  relevos  mui  lacados  fora :  e  co- 
brio  tudo  de  chapas  d' ouro  ,  ajuftado 
tudo  á  régua ,  e  á  efquadria. 

36  Edificou  também  o  átrio  interior 
de  tres  ordens  de  pedras  polidas ,  e  d' 
huma  ordem  de  páos  de  cedro. 

37  Lançarão- fe  os  fundamentos  da 
cafa  do  Senhor  {p  )  no  quarto  anno  no 
mez  de  Zio. 

38  E  no  anno  undécimo  no  mez  de 
Bui  5  que  he  o  oitavo  mez,  foi  ella  in- 
teiramente acabada  ,  aOTim  em  todas  as 
partes  ,  como  em  tudo  o  que  nella  ha- 
via de  fervir.  ESalamão  a  edificou  (2) 
em  fete  annos. 


CA- 

(p)  No  quarto  anno.  Do  Reinado  de  Salamão, 
como  Te  diífe  no  principio  do  Capitulo.  Pereira. 

(^)  Em  fete  atinas.  Com  mais  fcis  mezcs,  que 
por  poucos  omitce  a  Eícriiura  fcgundo  o  feu  cof- 
tume.  Pereira. 


54  Rei  s. 


CAPITULO  VIL 

Defcripção  do  Palacio  de  Salama  o,  Di* 
verfas  obras  para  o  Templo, 

doM  ^  Tj^DificouSalamâo  o  feu  Palacio  , 
^'^QQ*  JD^  e  o  acabou  dentro  do  efpaço 
ant.  de  de  treze  annos. 

J.  Chr.  2  Edificou  também  (^)  a  cafa  cha^ 
mada  do  Bofque  do  Libano,  que  tinha 
cem  covados  de  comprido ,  e  fincoenta 
covados  de  largo  ,  e  trinta  covados  d' 
alto  5  e  havia  nella  quatro  galerias  en- 
tre humas  columnas  de  cedro  :  porque 
paraeftas  columnas  tinha  elle  mandado 
cortar  deftes  páos. 

3  E  forrou  de  madeira  de  cedro  to- 
do o  tefto  ,  que  fe  tinha  em  quarenta 
c  finco  columnas.  E  cada  ordem  tinha 
quinze  columnas , 

4  que  eftavâo  poílas  humas  defron- 
te das  outras, 

e 

(^a)  A  cafa  do  Bofque  do  Líbano,  Chamada  af- 
fim  ou  por  caufa  da  prodigiofa  quantidade  dc  ce- 
dros ,  que  fe  trouxeráo  do  Libano  para  a  fua  fábri- 
ca ;  ou  porque  nella  havia  fcus  borques  ,  e  fom-: 
bras,  como  no  Libano.  Psreira. 


Liv.  III.   Càp.  vil 

5'  e  f e  olhavão  reciprocamente  pof- 
tas  em  igual  diftancia.  E  fobre  as  co- 
lumnas  havia  humas  vigas  quadradas  em 
tudo  iguaes. 

6  E  fez  hum  Pórtico  de  columnas, 
que  tinha  fincoenta  covados  de  compri- 
do, e  trinta  de  largo:  e  outro  Pórtico 
defronte  do  maior  com  columnas  ^  e 
com  arquitraves  fobre  as  columnas. 

7  Fez  também  o  Pórtico  do  thro- 
no  5  onde  eftava  o  tribunal  :  e  forrou-o 
de  madeiras  de  cedro  des  do  pavimen- 
to até  o  alto. 

8  E  no  meio  do  Pórtico  havia  hu- 
ma  cafinha  5  (b)  onde  elle  fc  aíTentava 
para  dar  audiência  ,  feita  pelo  mefmo 
eftilo.  Fez  Salamão  outrofi  para  a  fi- 
lha de  P^araó  ,  com  a  qual  fe  casara, 
hum  Palacio  da  mefma  arquiteftura ,  que 
eíle  Pórtico. 

To- 

C^)  Onde  elle  fe  ajfemava  para  dar  aodiencia, 
D  acjui  fe  vê ,  que  o  lugar  do  throno ,  cm  que  Sa- 
lamáo  dava  audicncia  ,  era  fechado  por  íima  ,  e 
pelos  lados  ,  fazendo  hunia  efpcce  de  nicho  ,  ou 
guarita:  e  iílo  fem  dúvida  para  mais  fcgurança  da 
peíToa  do  Rei  ,  que  metiido  nefte  throno  eftava 
mais  livre  de  traições.  Pefeira. 


^6  Reis. 

9  Todos  eftes  edifícios  des  dos  fun- 
damentos até  o  limo  das  paredes  5  e  por 
fora  até  o  Átrio  maior  ,  erao  conftrui- 
dos  de  finas  pedras  ,  que  d' ambas  as 
bandas 5  tanto  interior,  como  exterior, 
tinhão  fido  ferradas  d'huma  mefma  for- 
ma,  e  d'huma  mefma  medida. 

10  Os  fundamentos  também  eráo 
de  pedras  finas  muito  grandes  ,  humas 
de  dez  covados,  outras  d' oito. 

11  E  dalli  para  fima  havia  pedras 
belliílimas  cortadas  a  igual  medida  ,  co- 
bertas também  de  cedro. 

12  O  Átrio  maior  era  redondo  ,  e 
tinha  tres  ordens  de  pedras  cortadas ,  e 
huma  ordem  de  traves  de  cedro,  poli- 
das :  o  que  também  fe  obíervava  no 
Átrio  interior  da  cafa  do  Senhor,  e  no 
Pórtico  do  Templo. 

13  Fez  também  o  Kei  Salamão  vir 
de  Tyro  a  Hirão , 

14  que  era  filho  d'huma  mulher  viu- 
va (í")  da  Tribu  de  Nefthali  ,  e  cujo 

pai 

(f)  Tribu  de  Neft/iVt.  Nos  Paralipomcnos , 
Livro  II.,  Cap.  II.,  verfo  14.  fc  diz  que  era  das 
Filhas  de  Dan ;  o  que  commummente  íe  interpre- 


Liv.  líl.    Cap.  vil  5-7 

pai  era  de  Tyro.  Elie  trabalhava  em 
bronze  5  e  eftava  cheio  de  íabedoria  ,  d' 
inrelligencia  5  e  de  fciencia  ,  para  fazer 
todo  o  género  d' obras  de  bronze.  Hi- 
rao  pois  tendo  vindo  para  o  Rei  Sala- 
mao  5  fez  todas  as  obras  que  elle  lhe 
ordenou. 

15'  Fez  duas  columnas  de  bronze  ^ 
cada  huma  das  quaes  tinha  dezoito  co- 
vados  de  altura:  e  a  ambas  as  columnas 
dava  voltas  (^)  huma  linha  de  dez  ce- 
vados. 

16  Fez  também  dous  capiteis  de 
bronze  ,  que  fundio  para  pôr  lebre  o 
alto  de  cada  colunina.  Hum  capitel  ti- 
nha llnco  covados  u'altura;  e  outro  ti- 
nha da  mcfma  íorte  a  mefma  altura  de 
finco  covados. 

17    E  aqui  Te  via  huma  efpecc  de 

re- 

ta  defta  Tribu.  Como  fe  diz  lo^o  aqui  nos  Reis, 
que  era  da  Tnbu-  de  Ncfíali  :  Refponde  rvi.^.riana 
com  S.  Jcronymo  ,  que  eíte  da  Tribu  de  Néftali 
nro  fe  deve  referir  para  a  mái  ,  mas  para  o  íilho : 
de  forre  que  o  pai  íe  dii;a  de  Tyro  y  porque  fendo 
da  Tribu  de  Nefraii  (  conx>  expreíTamente  o  ciz 
aqui  o  Hcbreo)  tinha  habitado  cm  Tyro.  Peref- 

{d)  Huma  linha  y  é-ç.  Ou  como  diz  oHebrca, 


58  Reis. 

rede  ,  e  de  cadeias  entrelaçadas  huma? 
nas  outras  com  admirável  artificio.  Ca- 
da capitel  deitas  columnas  era  fundido. 
Havia  fete  ordens  de  malhas  num  ca- 
pitel ,  e  outras  tantas  no  outro. 

18  E  para  complemento  das  colu- 
mnas fez  duas  ordens  de  romans  ao  re- 
dor de  cada  huma  das  malhas,  para  co- 
brir os  capiteis  que  eftavao  no  alto :  e 
o  mefmo  fez  também  com  o  fegundo 
capitel. 

19  Os  capiteis  que  eftavao  no  alto 
das  columnas  no  Pórtico,  erão  fabrica- 
dos em  forma  d' açucena,  e  tinhão  qua- 
tro covados. 

20  E  além  difto  no  alto  das  colu- 
mnas fobre  as  malhas  outros  capiteis 
proporcionados  á  medida  da  columna. 

21  E  poz  eftas  duas  columnas  no 
Pórtico  do  Tem.plo :  e  tendo  levantado 
^columna  direita,  (e)  chamou-a por  no- 
me 

hum  fio  :  o  que  por  iíTo  traduzem  outros  hum  cot- 
dão.  Pereira. 

(e)  ChamoU',iJaqum.  Ifto  hc,  confirme^  fuben- 
tendendo  Deos  ,  como  fe  diíTera:  Deos  faça  efta 
caía  cftdvel  ,  e  perpetua.  Booz  quer  dizer  /br- 
taiéZ^y  ou  p^ígor.  Manoel  de  Sa. 

1 


Liv.  líl.    Cap.  vil  ^9 

me  Jaquim  :  levantou  do  mefino  modo 
(/)  a  ícgunda  columna  ^  e  chamou-a 
por  nome  Booz. 

22  E  por  fima  das  columnas  poz 
hum  lavor  a  modo  de  açucena  ^  e  aca- 
bou-íe  a  obra  das  columnas. 

23  Fez  também  (g)  hum  mar  de 
fundição  de  dez  covados  d'huma  bor- 
da á  outra,  redondo  ao  redor:  a  fua  al- 
tura era  de  finco  covados  :  e  cingia-o 
hum  cordão  de  trinta  covados. 

24  Por  baixo  da  borda  (b)  corriao 
huns  ornatos  de  talha  (/)  por  dez  co- 
vados ,  que  rodeavao  o  mar  ;  duas  or- 
dens detalha  firzcndo  canacs,  tudo  era 
fundido. 

Ef. 

(  f  )     fecunda  coítmma.  Quer  dizer ,  a  efqucr- 

da.   A?AN'OEL  DE  Sa. 

Hum  mar  dc  fwidi:40»  Era  huma  como  ba- 
cia ,  ou  concha  dc  bronze ,  «.]uc  pela  fua  s^randcza , 
c  v.iftidáo  íc  chama  vur  :  e  fervia  para  as  abluçócs 
nos  f.^crificio»:.  Pereira. 

(/;)  Corriâo  huns  oníatos  de  talha  ^  ^c.  O  que 
a  Vulgata  por  hum  termo  geral  ch?ma  fcuiptura  y 
nós  huns  ornatos  dç  talha  ^  vcrrèrro  do  Hebrco  Caf- 
íiodoro  de  la  Reina  ,  humas  lolis  ctv.io  cábac^asi 
Pagnino  ,  hum/is  pequenas  esferas,  Pereika. 

( i )  Por  dez  çovados^  lílo  He ,  como  peio  Hcr 


6o  Rei  s. 

25'  Efte  mar  firmava  fobre  doze  bois», 
tres  dos  quaes  olhavão  para  o  Seten- 
trTao,  tres  para  o  Occidente,  tres  para 
o  Meiodia  ,  e  tres  para  o  Oriente  :  e 
o  mar  eílava  em  fima  deftes  bois  ,  cu- 
jas partes  pofteriores  todas  ficavao  ef- 
condidas  debaixo  do  mar. 

26    (k)  A  bacia  tinha  tres  pollega 
das  de  groíTura  :  e  a  fua  borda  era  co 
mo  aborda  d'hum  copo,  e  como  abor- 
da d'huma  açucena  aberta  :  (/)  e  ell 
levava  dous  mil  batos. 

Fez 

breo  explica  Mariana  ,  dez  deftes  ornatos  em  cada 
covado.  Pereira. 

( ^  )  ^  bacia ,  O  que  nos  verfos  preceden- 
tes chamara  mar  ,  chama  agora  bacia  pelo  feitio, 
c  pelo  ufo  a  cjue  era  deftinada  :  pela  qual  razáo 
tncfma  vertem  aqui  outros  O  lavatório..  Pereiua. 

(/)  E  ella  Icvdva  dous  mil  batos,  Efta  quantidar 
de  d"  agua  deve-fe  entender  da  que  por  inftituiçáo 
do  Rei  fe  devia  lançar  na  bacia  ,  ou  concha  char 
mada  mar  :  porque  fallando  da  quantidade  d'  agua 
que  o  vafo  era  capaz  de  levar ,  era  efta  huma  ter- 
ça parte  maior.  Com  efta  differença  de  quantida- 
des conciliâo  os  melhores  Interpretes  a  apparentc 
difcrcpancia  defte  Texto  do  Terceiro  dos  Reis  com 
o  outro  do  Segundo  dos  Paralipomenos,  Cap.  IV.  ^ 
verfo  5.  5  onde  fe  diz  que  a  bacia  levava  tres  mil 
batos,  O  bato  Hebreo  porém ,  conforme  Mariana , 


Liv.  III.    Cap.  vil  6t 

17  Fez  aííimmefmo  (m)  dez  bafes 
de  bronze,  cada  huma  das  quaes  tinha 
quatro  covados  de  comprido,  e  quatro 
covados  de  largo  ,  e  tres  covados  d' 
âlto. 

E  a  obra  mefma  das  bafes  era 
de  varias  peças:  e  havia  fuas  talhas  en- 
tre as  junturas. 

*-  29  E  entre  as  coroas  ,  e  laçadas  ha- 
v-ia  leões,  e  bois,  e  Querubins,  e  tam- 
bém nas  junturas:  e  debaixo  dos  Icócs, 
e  dos  bois,  como  pendentes ,  humas  ré- 
deas de  cobre. 

'  30  Cada  bafe  tinha  quatro  rodas 
com  feus  eixos  ,  e  nos  quatro  cantos  ha- 
via huns  como  hombrinhos  fundidos, 
que  foílinhão  a  bacia,  e  fe  olhavão  huns 
aos  outros. 

31    Havia  também  dentro  no  alto 

da 

levava  cada  hum  tres  modfos,  ifto  hc,  quarenta  e 
oito  fextarios  Romanos.  PERtiRA. 

(m)  Dez  bafes  de  bronze.  Para  foílcrem  outras* 
tantas  bacias  menores ,  que  cftaváo  á  roda  da  gran- 
de chamada  mar  ,  e  eráo  as  de  que  Te  falia  adiante 
no  verfo  ^8.  A  grande  fervia  para  fe  lavarem  os 
Sacerdotes ,  as  dez  menores  para  fe  lavarem  as  car- 
nes das  viólimas  ,  antes  que  fe  puzeíTem  fobre  o 
Altar.  Per£ira.  ... 


6i  Rei  s. 

da  bafe  huma  cavidade,  em  que  encai- 
xava a  bacia  :  e  o  que  fe  via  fóra,  era 
d' hum  covado  tudo  redondo  ,  e  tudo 
junto  tinha  covado  c  melo :  e  nos  can- 
tos das  columnas  havia  vários  abertos: 
e  o  que  fe  via  entre  as  columnas  não 
era  redondo ,  mas  quadrado. 

3z  As  quatro  rodas  que  havia  nos 
quatro  cantOLí  da  bafe ,  correfpondiao-fe 
humas  ás  outras  por  baixo  da  bafe  ,  e 
cada  roda  tinha  covado  e  meio  d' al- 
tura. 

3  3  E  as  rodas  erão  como  as  que  cof- 
tumão  fazer-fe  para  huma  carroça :  e  os 
feus  eixos,  raios,  caibas,  e cubos  tudo 
era  de  fundição. 

34  Porque  até  os  quatro  hombri- 
nhos,  que  eítavão  nos  quatro  cantos  de 
cada  bafe,  tinhão  lido  fundidos,  e  fa- 
zião  huma  fó  peça  com  a  mefma  bafe. 

3^  No  alto  da  bafe  porém  havia  hu- 
ma redondeza  de  meio  covado ,  feita  de 
tal  modo ,  que  fe  podia  pôr  em  fima  a 
bacia :  e  tinha  fuas  talhas ,  e  variedade 
de  relevos  ,  que  fahião  delia  mefma. 

La- 

(i;)  Naquelles  taholeiros,  que,  óc  Por  cftcg 


Liv,  m.    Cap.  VII.  ^3 

3^  Lavrou  também  («)  naquelles 
taboleiros ,  que  erao  de  bronze ,  e  nos 
cantos,  Querubins,  c  leões,  e  palmas 
com  tal  arte  ,  que  aquclles  reprefenta- 
vão  ao  vivo  hum  homem  em  pé ,  eftes 
não  parecião  gravados,  (o)  mas  poftos 
de  vulto  ao  redor. 

37  Defíe  modo  fez  dez  bafes  fun- 
didas todas  pelo  mefmo  eftilo,  e  d'hu- 
ma  mefma  medida,  e  entalhadura. 

38  Fez  também  dez  bacias  de  bron- 
ze ,  cada  huma  das  quaes  continha  qua- 
renta batos,  eera  de  quarenta  covados: 
e  poz  cada  bacia  fobre  cada  huma  das 
dez  bafes. 

39  Das  dez  bafes  poz  finco  (p)  à 

par- 

tahoíeiros  entende  Mariana  toda  a  planura ,  ou  cf- 
paço  plano.  Caíliodoro  de  la  Reina  verte  :  Hizo 
(n  les  tahlas  de  las  tnolduras ,  (â/^c.  E  á  margem  em 
fórma  d' explicação :  Enlos  cojtados  dela  gran  ba* 
fa.  Pereira. 

(  O  )  Mas  pojlos  de  vulto  ao  redor,  Táo  facadas 
fóra  ,  c  táo  relevadas  cráo  cilas  figuras.  ^Ieno- 

(  p  )  A  parte  direita  do  Templo,  O  mar  ,  e  as 
bacias  náo  eítaváo  no  Templo ,  mas  no  Átrio  dos 
Sacerdotes :  diz-fe  com  tudo  que  cftaváo  á  direita , 
<  á  efqucrda  do  Templo,  em  quanto  olhaváo  par 


64  Reis. 

parte  direita  do  Templo,  e  finco  á  eC* 
querda  :  e  poz  o  mar  ádireitá  doTeai- 
plo,  entre  o  Oriente,  e  o  Meiodia. 

40  Aílim  meímo  fez  Hirao  caldei- 
rões,  epanellas,  (^q)  ehamulas,  e  aca- 
bou toda  a  obra  que  o  Rei  Salarnão 
quiz  que  le  fizeíTe  no  Templo  do  Se- 
nhor. 

41  As  duas  columnas  ,  e  os  dous 
cordoes  dos  capiteis  íobre  os  capiteis 
das  columnas ,  e  as  duas  redes  para  co- 
brir os  dous  cordoes,  que  eílavão  fobrc 
os  capiteis  das  columnas: 

:  e 

os  feus  lados  direito,  ou  efquerdo.  Menoouio.  E 
cjuando  íe  diz,  que  o  mar,  ou  bacia  grande  íervii 
para  nella  fe  lavarem  Os  Sacerdotes  ,  e  as  dez  pc- 
cjuenas  para  fe  lavarem  as  carnes  das  viélimas :  náo 
le  deve  por  iíTo  entender  ,  que  os  Sacerdotes  im- 
niediatameníe  fe  lavafíem  no  mar ,  ou  bacia  gran- 
de ,  e  da  mefma  forte  í*s  carnes  das  viólimas  im- 
mediaiamente  nas  bacias  pequenas.  Porque  fegun- 
do  fe  colhe  d^is  Antiguidades  Judaicas  dejofé,  Li- 
vro VIIÍ. ,  Cap.  IIÍ.  5  o  que  na  realidade  fe  palia- 
va era  que  todas  eíks  aguas  vinháo  ás  máos  dos 
fagrados  Miniílros  por  canos  fubterraneos  ,  e  dos 
canos  a  vários  ciguichos.  Malvenda. 

(</.)  E  hamulas:  Huns  o  lomáo  por  hãcias ,  ou- 
tros por  púcaros  ,  que  fervi áo  para  as  libações  dd 
vinho  nos  facrificios  ,  chamados  aílim  mefmo  ha*, 
mulas  pelos  Italianos.  Pereira. 


Liv.  III.    Cap.  VII.  6s 

41  e  quatrocentas  romans  nas  duas 
redes;  a  faber:  duas  ordens  de  romans 
em  cada  rede  ,  com  que  ficavão  cober- 
tos os  cordões  dos  capiteis  ^  que  efta- 
vão  no  alto  das  columnas : 

43  e  dez  bafes,  e  dez  bacias  fobre 
as  bafes : 

44  ehum  mar  5  edoze  bois  porbai-  j 
xo  defte  mar : 

45*  e  caldeirões,  e  panellas,  e  ha- 
mulas.  Todos  os  vafos,  que  Hirao  fez 
por  ordem  de  Sahmão  para  a  cafa  do 
Senlior,  erão  de  latão  fino. 

46  O  Rei  os  fez  fundir  nos  cam- 
pos do  Jordão  5  numa  terra  de  muita  gre- 
da ,  entre  Socoth  ,  e  Sarthan. 

47  E  todos  eftcs  vafos  poz  Salamâo  : 
e  pelo  feu  exceíFivo  numero  não  fe  po- 
dia faber  o  pezo  do  metal. 

48  Fez  também  Salamão  tudo  o  mais 
que  devia  tazer  na  cafa  do  Senhor :  (r) 
o  Altar  d' ouro  5  e  a  Meza  d' ouro,  fo- 
bre a  qual  fe  pozeíTem  os  pães  da  Pro- 
pofição : 

Tom.  VI.  E  os 

(r)  O  Altar  d'  ouro,  Ifto  hc  ,  coberto  d' ouro 
porfòra:  por^jue  no  interior  era  de  cedro.  Pekeijia, 


66  Reis. 

49  os  Candieiros  d' ouro  ,  finco  á 
direita  ^  e  finco  á  efquerda  diante  do 
Oráculo  de  fino  ouro  ,  em  fima  dos  quaes 
havia  humas  como  flores  d' açucenas,  e 
alampadas  d' ouro:  as  tanazes  d'ouro5 

5'o  as  quartas  para  agua  ,  os  garfos  , 
os  copos,  os  graes,  e  os  thuribulos  d' 
ouro  purifiimo.  As  couceiras  das  portas 
da  cafa  interior  do  Santo  dos  Santos, 
e  as  das  portas  da  caía  do  Templo  erao 
também  d' ouro. 

51  Defte  modo  acabou  de  fazer  Sa- 
lamão  tudo  o  que  tinha  emprendido  na 
cala  do  Senhor :  e  metteo  dentro  delia 
a  prata,  o  ouro,  e  os  vafos,  que  Da- 
vid leu  pai  tinha  confagrado  a  Deos  ,  e 
depofitou  tudo  nos  thefouros  da  cala 
do  Senhor. 


Livro    III.  67 


CAPITULO  VIII. 

Dedicação  do  Templo   Oração  de  Salamão 
a  Deos,  Numero  das  vicHmas  ininio- 
ladas  nefta  folemnidade, 

I         Ntão  fe  congregarão  todos  os  Anno 
Xl^  Anciãos  d'Iírael  com  os  Prin-^^^^^^- 
cipes  das  Tribus  ,  e  todos  os  CheFes  ^^j"^ 
das  familias  dos  filhos  d^lfrael  junto  ao], C. 
Rei  Saiamíio  em  Jerufalem  ,  para  tras-  ^^^5- 
ladarem  a  Arca  do  concerto  do  Senhor 
da  Cidade  de  David,  ifto  he ,  de  Siilo. 

2  Todo  lírael  pois  concorreo  ao  Rei 
Salamão  num  folemne  dia  do  mez  de 
Ethanim  ,        que  he  o  fctimo  mez. 

3  Tendo  vindo  todos  os  Anciãos  d* 
líVael ,  tomarão  os  Sacerdotes  a  Arca. 

4  E  levarão  a  Arca  do  Senhor ,  (^) 

E  ii  e 

(^)  Q^^  ofetimo  mez.  O  fctimo  doarno  Tan- 
to, no  í.jual  fe  razia  a  Fcíla  dos  Tabernáculos.  Pe- 
reira. 

(/;)  E  O  T.ibsrnaciilo  do  concerto.  Dnvida-fc 
fe  cito  T.ibern.icuio  era  o  mcfino  que  Moyiés  ii- 
zera  ,  oa  ouíro  que  fizera  D^\ià.  O  .Abulcní;;  e 
Viilaipando  ,  kj^uinro  a  joié  Heureo,  tem  'tD  pe- 
lo mcfíT.o  dc  Moyiés,  que  aiégora  exiftia  cuiGa» 


68  R  a  I  s. 


e  o  Tabernáculo  do  concerto  ,  e  todos 
osvafos  do  Santuário ,  que  havia  no  Ta- 
bernáculo :  e  os  Sacerdotes ,  e  Levitas 
os  levavao. 

$  O  Rei  Salamão  porém  ,  e  todo 
o  Povo  5  que  tinha  concorrido  a  elle, 
hião  adiante  da  Arca  ^  c  immolavao  ove- 
lhas 5  e  bois  5  que  fe  não  podião  avaliar , 
nem  contar. 

6  E  os  Sacerdotes  poderão  a  Arca 
do  concerto  do  Senhor  no  lugar  ^  que 
lhe  eftava  deftinado  ,  no  Oráculo  do 
Templo,  no  Santo  dos  Santos,  debai- 
xo das  azas  dos  Querubins. 

7  Porque  os  Querubins  tinhâo  eften- 
didas  as  azas  fobre  o  lugar  da  Arca,  e 
cobrião  a  Arca ,  e  os  feus  varaes. 

8  (^)  E  como  os  varaes  fobrefahif- 
fem ,  e  as  fuas  pontas  apparcceíTem  fo- 
ra 

baon.  Saliano ,  e  Manoel  dc  Sá  por  outro ,  que  Da- 
vid tinha  erigido.  I.  Parai.  XVI.  I.  Pereira. 

( f )  E  como  os  varaes  fobrefahíjjem,  O  Hebrco 
aqui  ,  e  a  Vulgata  no  Segundo  dos  Paralipome- 
nos  ,  Capitulo  V. ,  verfo  9. ,  dáo  a  caufa  de  fobre- 
íahirem  os  varaes,  dizendo:  ^uia  paululum  longio» 
res  eram :  porque  crão  hum  canto  mais  compridos. 

P£R£IRA. 


Liv.  III.    Cap.  VIII.  6^ 

ra  do  Santuário  diante  do  Oráculo  (J) 
já  não  apparecião  mais  por  fora  ,  e  af- 
ligi ficarão  alli  {e)  até  o  prefente  dia. 
9    (/)  Na  Arca  porém  náo  havia  fe- 

não 

(íí)  Jâ  não  apparecião  mais  por  fora.  Texto  ef- 
curiílimo  ,  e  difíicillimo  (i'enrender:  ao  qual  por 
iíTo  chama  Calmct  a  Cruz  dos  Interpretes.  Mas  el- 
le  mefmo  nos  fug^erc  huma  interpretação,  da  qual 
diz,  que  fendo  admittida ,  tira  toda  a  dúvida:  náo 
fendo  admiitida  ,  deixa  proceder  incoherente  todo 
o  verfo.  ]ulga  pois  que  efte  apparecer,  e  náo  ap- 
parecer  das  pontas  dos  varacs  ,  fc  deve  entender  poc 
rcfpeito  a  diverfos  tempos ,  c  lugares  :  o  apparecer , 
do  tempo  que  a  Arca  cftivcra  no  Tabernáculo  de 
Moyfés  ,  onde  por  fer  mui  curto  o  Santuário ,  fa- 
hiáo  fóra  delle  os  varacs  ,  e  como  que  cn^purra- 
váo  o  véo  ,  que  eitava  diante.  O  náo  apparecer, 
do  tempo  que  a  mcíma  Arca  foi  agora  trasladada 
para  o  Templo  de  Salamáo  ,  onde  por  fer  o  San- 
tuário dous  tantos  maior,  já  a  ponta  dos  varaes  fc 
náo  viáo  de  íóra.  Pereira. 

(  e  )  Até  o  prefente  dia.  Defta  claufula  infere  Cal- 
met ,  que  quem  primeiro  a  efcreveo  ,  vivia  antes 
da  irrupção  dos  Caldeos,  e  dcílrniçáo  do  Templo. 

PeREI  RA. 

(f)  Na  Arca  porém  nao  havia  ^  'à-c.  Fftc  Tex- 
to parece  oppor-fe  ao  que  depois  cícrrvco  S.  Par.- 
lo  na  Epiítola  aos  Hebrcos ,  ix.  4. ,  onde  diz  que  na 
Arca  fe  guardaváo  também  a  urna  do  manná  ,  c  a 
vara  d  Aráo.  Rcfponde-fe.  Primeiro.  Que  S.  Pau- 
lo falia  do  tempo  ,  que  decorrco  defde  que  Moy- 
fcs  coliocou  a  Arca  no  Tabernáculo ,  até  o  em  que 


7Ò  Reis. 

não  as  duas  taJboas  depcdrn  ,  que  Moy- 
lés  tinha  mcttido  nella  em  Horeb  ,  quan- 
do o  Senhor  fez  alh'ança  com  os  íilhps 
dMlrnel  logo  depois  da  fua  fahida  do 
Egypro. 

10  Aconieceo  porém  ,  que  logo  que 
os  Sacerdotes  fahírão  do  Santuário ,  hu- 
ma  névoa  encheo  a  cafa  do  Senhor; 

11  e  os  Sacerdotes  não  podiao  ter- 
fe  em  pé ,  nem  fazer  as  funções  do  feu 
miniílerio  por  cauía  da  névoa  :  porque 

a 


Salamão  a  HepoGrou  no  Templo.  Antes  da  funda- 
ção do  Tcmpío  gu.-írd.iváo-íc  m.  Arca  a  urna  do 
inanná  ,  e  a  vara  d  Aráo,  juntamente  com  as  duas 
Taboas  de  pedru.  Depois  da  fundação  do  Tcnrplo 
ficáráo  dentro  da  Arca  as  duas  Taboas  de  pedra , 
e  mettêráo  fe  no  Er.irio,  ou  Thcíouro  do  Templo 
a  urna  ,  e  a  vara.  Rclponde-fe.  Segundo.  Que  tal- 
vez náo  tendo  eftado  dentro  da  Arca  nem  cm  tem- 
po de  MoyTes,  nem  em  tempo  de  Salamão  fcnão 
as  duas  Taboas  da  Lei  :  depois  nos  últimos  tem- 
pos da  Republica  Judaica  fc  tcrião  também  met- 
tido  na  Arca  a  urna,  c  a  vara.  RerpondeTc.  Ter- 
ceiro. Que  em  a  urna  ,  e  a  vara  íe  pondo  junto 
da  Arca  ,  ainda  que  fòra  delia  ,  iíTo  bailava  para 
S.  Paulo  em  bom  fentido  dizer  ,  que  com  as  Ta- 
boas da  Lei  fe  confervavão  também  na  Arca  a  ur- 
na do  manná,  e  a  vara  d  Arão:  na  Arca,  ifto  he, 
ao  pc  da  Arca.  Pereira, 


Liv.  lil.    Cap.  VIII.  71 

a  gloria  do  Senhor  tinha  enchido  a  ca- 
fa  do  Senhor. 

12  Então  diíTe  Salamão :  (g)  O  Se- 
nhor dilTe,  que  elle  habitaria  ^luma  né- 
voa. 

13  Eu  edifiquei  efta  cafa  paratefer- 
vir  de  morada  ,  e  para  o  teu  throno  fe 
eílabelecer  nella  para  fempre. 

14  E  o  Rei  voltando-fe  para  todo 
o  a  juntamento  d'  Ifrael  ,  o  abençoou  : 
porque  todo  o  Ifrael  eílava  alli  congre- 
gado. 

15-  E  Salamão  diíTe  :  Bemdito  feja 
o  Senhor  Deos  d' Ifrael ,  que  fallou  pe- 
la fua  boca  a  meu  pai  David,  eque  (b) 
pelo  ieu  poder  executou  a  fua  palavra, 
dizendo  : 

1 6    Des  do  dia  que  eu  tirei  do  Egy- 

pto 

(^)  O  Senhor  diffe ,  ^â^c.  Oncíe  ,  ou  quando  dif- 
fc  o  ^Senhor ,  (jue  clle  habitaria  numa  nevo^  ?  Dif- 
fc-D  náo  de  palavra,  mas  por  obra,  qucr.do  repe- 
tidas vezes  fe  rinha  dado  a  perceber  encoberto  nu- 
ma nuvem  ,  ou  numa  névoa  no  dcícrto ,  como  re- 
petidas vezes  fc  !c  no  E>:odo.  Cai.met. 

(/;)  Pelo  [cu  poder  ^  é^c.  Segui  a  .Saci,  e  a  de 
Carricrcs,  que  allin^  vertem  aquclle  in  vianitus 
ejuj  pcrfecit  :  quando  outros  traduzem  ,  por  fuas 
mios y  ou  com  Jua  mau.  Pereira. 


72  Reis. 

pto  o  meu  Povo  d'Ifrael  ,  não  efcolhi 
Cidade  alguma  de  todas  as  Tribus  d' 
Ifrael  ,  para  fe  me  edificar  nelb  huma 
cala  5  e  para  neíTa  cafa  fe  eftabelecer  o 
meu  Nome  :  mas  efcolhi  a  David  para 
fer  Chefe  do  meu  Povo  d'  Ifrael. 

17  Meu  pai  tinha  querido  edificar 
huma  cafa  ao  Nome  do  Senhor  Deos  d' 
Ifrael. 

18  Mas  o  Senhor  diíTe  a  David  meu 
pai  :  Qiiando  tu  no  teu  coração  conce- 
befte  o  projcfto  de  edificar  huma  cafa 
ao  meu  Nome,  fizefie  bem,  formando 
dentro  de  ti  mefmo  efta  refolução. 

19  Todavia  não  feras  tu  o  que  me 
edifiques  huma  cafa  :  mas  teu  filho,  que 
nafcerá  dos  teus  rins  ,  eíTe  ferá  o  que 
edifique  huma  cafa  ao  meu  Nome. 

20  Verificou  o  Senhor  a  fua  pala- 
vra:  e  eu  me  aflentei  fobre  o  throno  d' 
Ifrael ,  bem  como  o  Senhor  tinha  orde- 
nado :  e  edifiquei  huma  cafa  ao  Nome 
do  Senhor  Deos  d'  Ifrael : 

21  e  alli  conftitui  o  lugar  da  Arca, 
cm  que  eftá  o  concerto  que  o  Senhor 
fez  com  noíTos  pais,  quando  f;ihír3o  do 
Egypto.  De- 


Cap.  III.    Liv.  VIII.  73 

^^  Depois  poz-fe  Salamão  diante 
do  Altar  do  Senhor  á  vifta  de  todo  o 
Ajuntamento  d'Ilrael;  e  eftendendo  as 
fuas  mãos  para  o  Ceo ,  diíFe : 

23  Senhor  Deos  d^Ifrael  ,  não  ha 
Deos  que  feja  femelhante  a  ti ,  nem  no 
mais  alto  do  Ceo  ,  nem  febre  a  terra, 
Tu  es  o  que  confervas  opa(íl:Oj  e  a  mi- 
fericordia  que  fizefte  com  os  teus  fer- 
vos,  que  caminhão  diante  de  ti  de  to- 
do O  feu  coração. 

24  Tu  oqueguardafte  a  David  meu 
pai  teu  fervo  tudo  o  que  lhe  tinhas  pro- 
mettido  :  tu  lho  tinhas  predito  da  tua 
boca  ,  e  as  tuas  mãos  o  comprírao ,  do 
que  he  prova  efte  dia. 

25-  Agora  pois  5  Senhor  Deos  d'íf- 
rael ,  conferva  a  meu  pai  David  teu  fer- 
vo o  que  lhe  promettefte  ,  dizendo  : 
Não  te  faltarão  defcendentes  ,  que  fe 
aíTentem  diante  de  mim  fobre  o  throno 
d'Ifrael :  com  tanto  todavia  que  teus  fi- 
lhos guardem  os  teus  caminhos ,  andan- 
do em  minha  prefença ,  como  tu  andaf- 
te  diante  de  mim. 

26   Agora  pois,  Senhor  Deos  d'If- 

rael , 


74  Reis. 

rael,  cumprac-fe  as  palavras  qne  diíTef- 
te  a  David  meu  pai ,  e  teu  fervo. 

27  He  pois  crivei  que  Deos  habite 
verdadeiramente  fobre  a  terra  ?  Porque 
fe  o  Ceo  5  e  os  Ceos  dos  Ccos  te  não 
podem  comprehender  ,  quanto  menos 
efta  cafa  que  eu  edifiquei. 

28  Mas  arrende  5  Senhor  Deos  meu , 
á  oração  do  teu  fervo:  ouve  oHymno, 
e  a  oração  ,  que  teu  fervo  te  offcrece 
hoje; 

29  para  os  teus  olhos  eftarem  aber- 
tos de  dia ,  e  de  noite  fobre  cila  cafa  : 
fobre  efta  cafa,  da  qual  tu  diíTeíle  :  O 
meu  Nome  eftará  nella ,  para  ouvires  a 
oração  que  teu  fervo  te  ofFerece  nefte 
lugar. 

30  Para  ouvires,  digo,  a  depreca- 
çâo  de  teu  fervo ,  e  todas  as  que  o  teu 
Povo  d'ífrael  te  ofFerecer  nefte  mefmo 
lugar:  para  as  ouvires  do  lugar  da  tua 
morada  no  Ceo  :  e  para  que  tendo-as 
ouvido,  lhe  fejas  propicio. 

3 1  Quando  algum  homem  tiver  pec- 
cado  contra  feu  próximo  ,  não  tendo 
guardado  o  juramento  com  que  feligaf- 


Liv.  III.    Cap.  VIíI.  75^ 
fe,  c  vier  á  tua  cafa  ,  e  diante  do  tea 
Altar,  para  fn/er  juramento  , 

32''  tu  ouvirás  do  Ceo,  e  farás  juf- 
tiça  a  refpeito  de  teus  fcrvos  :  conde- 
mnarás  o  ímpio  ,  fazendo  recaliir  a  fua 
perfídia  fobre  a  fua  cabeça  :  e  juítifica- 
rás  o  jujfto  5  rctribuindo-lhe  conforme  a 
fua  jaftiça. 

33  Qiiando  o  teu  Povo  d'lfrael  ti- 
ver fugido  diante  dos  feus  inimigos, 
(porque  algum  dia  peccará  elle  contra 
ti )  e  fazendo  penitencia,  e  dando  glo- 
ria ao  teu  Nome,  vierem  elles  fazer-te 
oração  ,  e  implorarem  a  tua  mifericor- 
dia  ncfta  cafa : 

3  4  ouve-os  do  Ceo ,  c  perdoa  o  pec- 
cado  do  teu  Povo  d'  Ifrael  ,  e  torna-os 
a  levar  á  terra,  que  déíle  a  feus  pais. 

35*  Quando  o  Ceo  fe  tiver  fecha- 
do, e  não  cahir  chuva  alguma  por  cau- 
fa  dos  feus  peccados  :  e  elles  orando 
nelle  lugar  fizerem  penitencia  em  honra 
do  teu  Nome  ,  c  le  converterem  dos 
feus  peccados  por  caufa  da  afflicçao  em 
que  fe  virem  : 

36    ouve-os  do  Ceo  ^  e  perdoa  os 

pec- 


*j6  Reis, 

peccados  de  teus  fervos ,  e  do  teu  Po- 
vo d'Ifrael:  moftra-lhes  o  caminho  di- 
reito por  onde  andem  ,  e  derrama  chu- 
va fobre  a  tua  terra  ,  que  tu  défte  ao 
teu  Povo  para  a  poíTuirem. 

37  Quando  vier  fobre  aterra  ou  fo- 
me, ou  pefte,  ou  corrupção  do  ar:  ou 
quando  a  ferrugem ,  ou  gafanhoto  ,  ou 
qualquer  malino  humor  deftruir  os  paes : 
ou  quando  o  teu  Povo  fe  vir  apertado 
por  algum  inimigo ,  que  fc  ache  ás  fuas 
portas ,  e  o  cerque :  ou  ferido  de  qual- 
quer açoute  j  ou  de  qualquer  enfermida- 
de que  feja : 

38  no  cafo  que  algum  homem  da 
teu  Povo  d' Ifrael  5  feja  elle  quem  quer 
que  for  5  te  offereça  os  feus  votos ,  e  as 
preces  ,  e  conhecendo  a  chaga  do  feu 
coração  eftenda  as  fuas  mãos  para  ti 
nefta  cafa: 

39  tu  o  ouvirás  do  Ceo  ,  deíTe  lu- 
gar de  tua  morada  ;  tu  te  moftrarás 
outra  vez  propicio  a  elle,  eufarás  com 
elle,  fegundo  vires  que  he  a  difpofição 
do  feu  coração ,  dando  a  cada  hum  con- 
forme todas  as  fuas  obras  ,  e  defejos: 

(por- 


Liv.  III.    Cav.  VIIL  77 

(  porque  tu  fó  es  o  que  conheces  o  in- 
t-eriòr  dos  corações  de  todos  os  filhos 
dos  homens. ) 

40  A  fim  de  que  elles  temao  por 
todo  o  tempo,  que  viverem  fobre  a  fa- 
ce da  terra ,  que  tu  défte  a  nofibs  pais. 

41  Outrofi  quando  aigum  eftrangei- 
ro  ,  que  não  he  do  teu  Povo  d'  Ifrael , 
vier  d'a!gum  paiz  remoto ,  attrahido  do 
teu  Nome ,  porque  em  toda  a  parte  fe 
farão  conhecer  a  grandeza  do  teu  No- 
me 5  a  força  da  tua  mâo ,  c  o  poder  do 
t^u  braço: 

42  Quando  algum  eftrangeiro,  di- 
go, vier  fazer  oração  nefte  lugar; 

43  tu  o  ouvirás  do  Ceo  ,  do  firma- 
mento da  tua  morada  ,  e  farás  tudo  o 
que  o  eftrangeiro  te  pedir  que  faças: 
para  que  todos  os  Povos  da  terra  ápren- 
dão  a  temer  o  teu  Nome ,  como  faz  o 
teu  Povo  d'  Ifracl  ;  e  para  que  experi- 
mentem j  que  o  teu  Nome  foi  invocada 
fobre  cfta  cafa ,  que  eu  edifiquei. 

44  Quando  o  teu  Povo  tiver  fahi- 
do  á  guerra  contra  os  feus  inimigos, 
indo  pelo  caminho  por  que  tu  o  tiveres 

man- 


7»  Reis. 

mandado  ir  ,  fe  ellcs  te  dirigirem  as 
fuas  preces  ,  olhando  para  a  banda  da 
Cidade ,  que  tu  cfcolheíle  ,  e  para  a  ban- 
da defti  caía  ,  que  eu  edifiquei  ao  teu 
Nome : 

45*  tu  ouvirás  do  Ceo  as  fuas  ora- 
ções ,  e  as  íuas  preces ,  e  lhes  farás  juf- 
tiça. 

46  Se  o  teu  Povo  peccar  contra  ti , 
(porque  não  ha  homem  que  não  peque), 
e  tu  irado  contra  elle  o  entregares  nas 
mãos  de  feus  inimigos  ,  e  elles  forem  le- 
vados cativos  ou  perto,  ou  longe ,  pa- 
ra alguma  terra  inimiga : 

47  fe  fizerem  penitencia  do  íntimo 
do  feu  coração  no  lugar  do  íeu  cativei- 
ro, e  cdnvertendo-fe  a  ti  no  feu  cativei- 
ro diíTerem:  Nós  peccámos,  nós  com- 
mettemos  a  iniquidade  ,  nós  fizemos  ac- 
ções ímpias : 

48  fe  elles  fe  voltarem  para  ti  de 
todo  o  feu  coração ,  e  de  toda  a  fua  al- 
ma na  terra  de  feus  inimigos,  para  on- 
de forão  levados  cativos;  e orarem  vol- 
tados para  a  terra  ,  que  tu  déíie  a  feus 
pais ,  e  para  a  Cidade  que  tu  efcolhef- 

te, 


Liv.  III.    Cap.  VIII.  79 

te,  e  para  o  Templo,  que  eu  edifiquei 
ao  teu  Nome  : 

49  tu  ouvirás  do  Ceo  ,  e  delTa  ef- 
tavel  morada  ,  onde  eílá  o  teu  throno  ,  as 
fuas  orações ,  e  as  luas  preces  :  tu  toma- 
rás fobre  ti  a  defenfa  da  fua  caufa  : 

50  tu  te  moftrarás  propicio  ao  teu 
Povo  5  que  pcceou  contra  ti ;  tu  lhe  per- 
doarás todas  as  iniquidades  com  que  el- 
les  violarão  a  tua  Lei  5  e  tu  infpirarás 
ternura  por  elles  aos  que  os  levarão  ca- 
tivos,  para  delles  terem  compaixão. 

ji  Porque  elles  são  o  teu  Povo  ,  e 
a  tua  herança ,  e  tu  fofte  o  que  os  riraf- 
te  da  terra  do  Egvpto,  do  meio  d'ha- 
ma  fornalha  de  ferro. 

52  Os  teus  olhos  eftejão  abertos  ás 
deprecações  do  teu  fervo,  e  do  teu  Po- 
vo d'Iírael  ,  para  que  tu  os  ouças  em 
todas  as  petições,  que  elles  te  fizerem. 

S  3  Porque  tu  es  ,  ó  Senhor  Deos , 
o  que  os  feparaítc  de  todos  os  Povos 
da  terra  ,  para  delles  fazeres  a  tua  he- 
rança, como  tu  odeclarafte  por  teu  fer- 
vo Moyfés ,  quando  tiraíle  a  noífos  pais 
do  Egypto. 

Ten- 


8o  Reis. 

^4  Tendo  Salamão  acabado  de  fa- 
zer eíla  oração  ^  e  efta  rogativa  ,  le- 
vantou-fe  de  diante  do  Altar  do  Senhor : 
porque  elle  tinha  pofto  ambos  os  joe- 
lhos cm  terra,  e  tinha  as  mãos  eílendi- 
das  para  o  Ceo. 

55r  Pofto  logo  em  pé  ,  abençoou  a 
todo  o  ajuntamento  d'Itrael  ,  dizendo 
em  alta  voz : 

56  Bcmdito  feja  o  Senhor,  quedeo 
dcfcanço  ao  feu  Povo  d'Ifrael,  confor- 
me todas  as  promeíTas  que  tinha  feito: 
todos  os  bens  que  elle  nos  tinha  pro- 
mettido  por  feu  fervo  Moylés,  nos  luc- 
cedêrão  ,  fem  que  cahilTe  alguma  das 
fuas  palavras. 

57  O  Senhor  noífo  Deos  feja  com- 
nofco  5  bem  como  foi  com  noíTos  pais ; 
elle  nos  não  defampare ,  nem  nos  lance 
defi: 

58  mas  elle  incline  os  noíFos  cora- 
ções a  fi  ,  para  andarmos  em  todos  os 
feus  caminhos  ,  e  para  guardarmos  os 
feus  mandamentos ,  as  fuas  ceremonias , 
e  todas  as  ordenações  que  elle  prefcre- 
veo  a  noflbs  pais. 

As 


Liv.  III.    Cap.  VIII.  8i 

5*9  E  as  palavras  defta  oração  que  fiz 
diante  do  Senhor  ,  fejáo  preíenres  de 
dia,  e  de  noite  ao  Senhor  noíTo  Deos, 
para  que  cada  dia  faça  elle  juítiça  ao 
leu  fervo,  e  ao  feu  Povo  d'Ilrael: 

60  de  forte  que  todos  os  Povos  da 
terra  faibao  que  elle  he  o  Senhor ,  que 
he  o  Dcos  ,  e  que  nao  ha  outro  fóra 
elle. 

61  Seja  tamfaem  o  noíTo  coração 
perfeito  com  o  Senhor  nofíb  Deos  ,  pa- 
ra andarmos  nos  fcus  decretos,  c guar- 
darmos os  feus  mandamentos,  como  fa- 
zemos hoje. 

62  O  Rei  pois  ,  c  todo  o  Ifrael 
com  elle  immolárao  viftimas  diante  do 
Senhor. 

i  63  E  Salamão  por  hoftias  pacificas 
dcí^oliou,  eimmolou  ao  Senhor  vinte  e 
dous  mil  bois  ,  e  cem  mil  ovelhas  :  e 
o  Rei  com  os  filhos  d'llrael  dedicárao 
o  Templo  do  Senhor. 

64  Naqucllc  dia  conH^grou  o  Rei 
o  meio  do  átrio  ,  que  citava  diante  da 
cafi  do  Senhor,  offercccndo  alli  holo- 
cauílos ,  facrificios,  e  as  banhas  d^s  hof- 

Tom.  Vi.  F  tias 


82  Rei  s. 

tias  pacificas :  porque  o  Altar  de  bron- 
ze ,  que  eftava  diante  do  Senhor ,  era 
pequeno  ,  e  não  havia  nelle  lugar  para 
os  holocauftos  ,  facrificios ,  e  banhas  das 
hoftias  pacificas. 

65*  Fez  Salamão  pois  então  huma 
Fefta  muito  célebre  ,  e  todo  o  Ifrael  com 
elle  y  tendo  concorrido  em  grandes  en- 
xames des  da  entrada  d'Emath  até  o 
rio  do  Egypto  ,  e  tendo-fe  confervado 
diante  do  Senhor  nolTo  Deos  por  fete 
dias  5  e  depois  por  outros  fete  ,  ifto 
Jie,  por  quatorze  dias. 

66  Ao  dia  oitavo  defpedio  elle  os 
Povos,  osquaes  abençoando  o  Rei  vol- 
tarão para  fuas  cafas  cheios  d' alegria, 
e  mui  contentes  no  feu  coração  por  to- 
dos os  bens  ,  que  o  Senhor  tinha  feito 
a  David  feu  fervo  ,  e  ao  feu  Povo  de 
Ifrael. 


CA- 


Livro  III. 


83 


CAPITULO  IX. 

Apparece  o  Senhor  fegunda  vez  a  Sala- 
mão.  r.Jle  Príncipe  dd  vinte  Cidades  ao 
Rei  de  Tyro,   Edifica  outras  de  novo  ^ 
e  fujeita  vários  Povos,  Manda  huma 
frota  ao  paiz  d^  Ojfír, 

I  ^T^Endo  Salamão  acabado  d'edl- 
JL  ficar  a  cafa  do  Senhor  ,  e  o  pa- 
lácio do  Rei ,  e  tudo  o  que  tinha  defe- 
jado,  e  querido  fazer: 

2  lhe  appareceo  o  Senhor  fegunda 
vez  ,  como  lhe  tinha  apparecido  em  Ga- 
baon ,  e  lhe  difle  : 

3  Eu  ouvi  a  tua  oração ,  e  a  fiippli- 
ca  que  mefizeíle  :  eu  lantifiquei  efta  ca- 
fa que  me  edificafte,  para  nclla  cftabe- 
leccr  para  fempre  o  meu  Nome  :  e  nei- 
la  eftarão  fempre  os  incus  olhos  ,  e  o 
meu  coração. 

4  Se  tu  andares  na  minha  prefença  , 
como  andou  teu  pai  ,  em  fimplicidade 
de  coração,  e  em  equidade:  fe  fizeres 
tudo  o  que  te  tenho  mandado,  c  guar- 
dares as  minhas  leis  ,  e  as  minhas  or- 
denações : 

F  ii  eu 


§4  Reis. 

$  cu  eftabelecerei  o  teu  throno,  e 
o  teu  reino  febre  Ifrael  para  fempre  já 
mais  y  como  eu  o  prometei  a  David  teu 
pai ,  dizendo-Ilie :  Tu  terás  fempre  fuc- 
ceíTores  da  tua  linhagem ,  que  eftejão  af- 
fentados  fobre  o  throno  d' Ifrael. 

6  Mas  fe  vós  vos  defviardes  de 
mim  5  vós  5  e  voíTos  filhos :  fe  me  não 
feguirdeSj  nem  guardardes  os  meus  pre- 
ceitos, e  as  ceremonias  que  eu  vospref- 
crevi  ;  mas  fordes  fervir  ,  e  adorar  os 
deoíes  eílrangciros : 

7  eu  exterminarei  Ifrael  da  fuperfi- 
ce  da  terra ,  que  lhes  dei :  lançarei  lon- 
ge de  mim  o  Templo  ,  que  confagrei 
ao  meu  Nome :  Ifrael  virá  a  fer  o  pro- 
vérbio 5  e  a  fabula  de  todos  os  Povos : 

8  e  efta  cafa  virá  a  fervir  d' exem- 
plo :  e  todo  o  que  paíTar  por  diànie  del- 
ia ficará  pafmado,  e  a  infultará,  dizen- 
do :  Porque  fe  houve  o  Senhor  alfm  com 
efta  terra,  e  com  efta  cafa? 

9  E  refponder-lhe-hão  :  Porciue  ef- 
tes  Povos  deixárão  o  Senhor  feuDeos, 
que  tinha  tirado  doEgypto  afeuspais; 
c  porque  elles  feguírão  deofes  eftrangei- 

ros  * 


\ 


Liv.  III.    Cap.  IX.  85^ 

ros ,  c  os  adorarão ,  e  fervírao :  por  iflb 
o  Senhor  defcarregou  fobre  elles  todos 
eíles  niveles. 

10  Vinte  annos  andados  ,  depois  Ann^ 
que  Salamão  edificara  as  duas  cafas ,  if- ^012/ 
to  he  5  a  cafa  do  Senhor  ,  e  a  cafa  do  am.  de 
Rei ,  chr. 

11  ( mandando-lhe  Hirao  Rei  de^^^* 
Tyro  toda  a  madeira  de  cedro  ,  e  de 
faia  ,  e  o  ouro  que  havia  mifter )  deo 
Salamão  a  Hirao  vinte  Cidades  nopaiz^ 

de  Galiléa. 

12  E  fahio  Hirao  de  Tyro  a  ver 
ellas  Cidades  ,  que  Salamão  lhe  tinha 
dado;  mas  não  lhe  agradarão, 

13  edilTc:  Sãoeftas,  irmão,  as  Ci- 
dades que  tu  medcíle?  E  chamou  a  ef- 
ta  Comarca  (a)  a  Terra  dc  Cabul ,  co- 
mo ella  fc  chama  ainda  hoje. 

14  Tinha  Hirao  também  mandado 
ao  Rei  Salamão  (b)  cento  e  vinte  ta- 
lentos d' ouro. 

Ef. 

(^)  J  terra  dc  Cahul.  Jofé  Hcbreo  diz  ,  que 
Cabul  em  Jingua  Fenícia  fignifica  o  que  n?,o  agra- 
da. Duhamel ,  e  de  Carrieres  vertem  Cabul  a  terra 
d' arca.  Pereira. 

C^)  Cmto  e  vinte  talmos  a  ouro.  Pelos  cálcu- 


26 


Reis. 


(c)  Eíla  he  a  fomma  das  def- 
pezas  que  fez  Salamao  na  fábrica  da 
cafa  do  Senhor,  e  da  fua  cafa  ,  (d)  q 

na 

los  de  Calmet ,  que  já  expozemos  noutras  partes , 
hum  talento  d' ouro  avaliava-fe  cm  íeíTenta  e  nove 
mil  c  quinhentas  e  trinta  e  huma  libras  Francczas , 
ifto  he  5  cm  vinte  e  fete  mil  cruzados,  e  trezentos 
e  noventa  e  quatro  mil  e  novecentos  c  feííenta  mil 
reis  da  noíTa  moeda.  AHim  os  cento  e  vinte  talen- 
tos im.portaváo  da  moeda  Pcriugueza  tres  milhões, 
c  trezentos  e  trinta  e  fete  mil  cruzados ,  e  cento  c 
noventa  e  finco  mil  e  duzentos  reis.  Pereira. 

(f )  Efta  hc  a  fomma  das  defpezas  ,  ó^c.  Pois 
que  ?  Náo  chegou  a  mais  do  que  a  cento  e  vinte 
talentos  o  que  Salamão  gaftou  cm  tantas  obras  ? 
Sem  dúvida  nenhuma  chegou  a  muito  mais.  Logo 
o  prefente  verío  náo  íe  deve  entender  dos  cento  e 
vinte  talentos,  que  proximamente  íe  mencionarão : 
(  porque  eítes  fe  fuppóem  que  foráo  dados  por  Hi- 
ráo,  e  não  enipreftados  )  mas  tomar-fe  como  hum 
epilogo  de  tudo  o  que  atégora  fe  contára  dos  gaf- 
tos  de  Salamáo  nos  ícus  edifícios.  Calmet.  To- 
davia Saci ,  c  de  Carrieres,  porque  a  liçáo  da  Vul- 
gata lhes  pareceo  aqui  menos  exaóla,  e  clara  ,  rc- 
folvêráo  rubftituir-lhe  a  do  Hebreo ,  que  nós  tam- 
bém adoptáranios  na  primeira  Impfcrsão,  e  diz  af- 
ílm  :  E  a  razão  que  teve  Salamão  para  por  hum 
tributo  ao  feu  Povo ,  foi  a  grande  defpcza  que  fe  v/o 
Obligado  a  fazer  nà  fundação  da  Cafa  do  Senhor  y 
na  da  fua  cafa  ^  e  na  de  Mello  ^  <ò'C.  Pereira. 

( )  E  na  dc  Mello,  Por  outros  lugares  dos  Li- 
vros dos  Reis ,  e  dos  Paralipomenos  confta  ,  que 


Liv.  III.    Cap.  IX.  87 

na  de  Mello  ,  e  dos  muros  de  Jerufa- 
lem  ,  e  na  de  Hefer  ^  e  Mageddo ,  e 
Gazer. 

1 6  Faraó  Rei  do  Egypto  tinha  vin- 
do tomar  Gazer  ,  e  a  tinha  queimado , 
e  tinha  desfeito  os  Cananeos  que  habi- 
tavão  na  Cidade  5  e  a  tinha  dado  cm 
dote  a  fua  filha  ^  e  mulher  de  Salamao. 

17  Salamao  pois  reedificou  Gazer, 
e  Bethoron  a  Baixa , 

1 8  Balaath  j  (e)  c  Palmyra ,  na  ter- 
ra do  deíerto. 

19  Fortificou  também  todas  as  al- 
deãs que  lhe  pertencião ,  e  que  nao  ti- 
nhão  muros;  as  Cidades  dos  coches,  e 
as  Cidades  da  gente  de  cavallo;  e  tu- 
do o  que  a  eile  lhe  approve  edificar  em 

Afello  era  hum  Palácio  entre  o  monte  Siao  ,  c  a 
Jcrufalcm  Baixa.  E  adiante  Capitnlo  XI.  ,  verío 
27.  do  prcfcnte  Livro  vè-fe  que  ao  fundar  efte  Pa- 
hcio  poz  Salamão  hum  grande  tributo  ao  Povo, 
çue  depois  deo  occafiáo  a  queixumes ,  e  rebclliôes. 
Pereira. 

(e)  E  Palmyra.  Segundo  Jofé  nas  Antiguida- 
des, Palmyra  era  o  nome  Gre^o  da  Cidade  ,  que 
o  Hcbrco  aqui  chama  Tbaudamon ,  vizinha  do  Eu- 
tates.  Della  foi  natural  Odcnato  marido  dc  Zenoi 
'aia.  DuHAJíEL, 


n  Reis. 

Jerufalem,  (/)  no  Libano,  e  em  toda 
a  extensão  do  feu  reino. 

20  Quanto  ao  que  tinha  ficado  do 
Povo  dos  Amorrheos  ,  dos  Hctheos, 
dos  Fec^zeos,  dos  Hev^eos,  e  dos  Je- 
bufcos  ,  que  não  erao  dos  filhos  d'If- 
rael  : 

21'  fez  Salamão  tributários  os  filhos 
dellcs  5  que  tinhao  ficado  no  paiz  ^  e 
que  os  filhos  d'irrael  não  rinhão  podi- 
do extinguir  :  aflím  ficarão  tributários 
até  hoje. 

-  '  22  Elie  não  quiz  que  algum  dos  fi- 
lhos d'lfrael  íerviíTe  d'eícravo:  mas  fez 
delles  os  feus  homens  de  guerra  ,  os 
feus  Miniftros  ,  os  ícus  primeiros  Oín- 
ciaeSj  e  os  Chefes  dos  leus  exércitos: 
e  ellcs  commandavão  os  coches  5  e  a 
cavaliaria.  . 

23  Havia  quinhentos  efincoenta  ho- 
mens eftabelecidos  íobre  todas  asobrís 
de  Salâmão,  aos  quaes  todo  o  Povo  ef- 
tava  fujeito^  e  que  tinhão  a  fuperinten- 

den- 

(f)  No  Líbano,  Ifto  he,  no  Palacio  chamade 
JBofquc  cio  Líbano  ,  fegundo  íe  colhe  do  Capitulí 
X.  verfo  17.  e  21.  Pereira. 


Liv.  III.    Cap.  IX.  89 
dencia  de  todas  as  obras  ^  que  elle  ha- 
via emprendido. 

24  Depois  difto  veio  a  filha  dc  Fa- 
raó da  Cidade  de  David  para  a  íua  ca- 
fa  j  que  Salamao  lhe  tinha  edificado  í 
então  foi  que  o  Rei  edificou  Mello. 

25:  Ofierecia  também  Salamao  tres 
vezes  no  anno  holccauftos  ,  e  viílimas 
pacificas  fobre  o  Altar  que  tinha  levan- 
tado ao  Senhor  ;  e  queimava  pcríumes 
diante  do  Senhor  ^  depois  que  o  Tem- 
plo foi  acabado. 

26  Outrofi  efquipou  o  Rei  Salamao 
huma  frota  cmAfiongaber,  que  hc  per- 
to d'Elath  na  praia  do  mar  vermelho  ^ 
em  terra  d'Idumea. 

27  E  Hirao  mandou  ncfta  frota  al- 
guns dos  feus  fervos  ,  bons  marinhei- 
ros 5  e  que  entcndiao  bem  da  náutica  y 
que  fe  ajuntavão  com  os  fervos  de  Sala- 
mao. 

2a    (g)  Os  quacs  tendo  chegado  a 

Of- 

Çg)  E  tendo  checado  a  Ojjir ,  é-c.  Hc  tão  céle- 
bre na  Hiftoria  de  Salamáo  a  terra  d  Oítir,  como 
incerto  entre  os  Interpretes  o  fcu  fitio.  Até  os  prin- 
cípios do  prcfente  fcculo  cráo  duas  as  opiniões, 
que  íendo  entre  fi  oppoftas  ,  corriáo  todavia  com 


90  Rei  s. 

OlEr  y  (Z?)  tomarão  alli  quatrocentos  c 

vin- 

igual  applaufo.  Huma  a  dos  que  punhão  a  Ofíir 
naquella  parte  da  índia  Oriental  ,  que  comprehcn- 
de  a  Peninfuía  de  Malaca ,  ou  a  Ilha  de  Sumatra  , 
ou  o  Reino  de  Pegú ,  ou  todos  juntos.  Efta  he  a 
que  feguio  o  nolTo  Gafpar  Barreiros  na  fua  DHfer- 
tação  De  Regione  Ophirina,  como  vinda  já  dos  an- 
tigos Éxpofi rore  s  da  Efcritura  Jofé  Hcbreo  ,  S.  je- 
ronymo ,  Thcodoreto ,  e  Procopio  de  Gaza.  Outra 
a  dos  que  punháo  a  Oííir  naquella  parte  da  CoPcn 
d  Africa  Oriental  ,  que  comprehendc  o  ReiriO  de 
Sofala.  Efta  he  a  porque  ,  depois  de  Manoel  de 
Sá  ,  e  de  Joáo  Mariana  ,  fe  declarou  o  famofo  Bif- 
po  d'  Avranches.  Daniel  Huecio  na  Tua  DiíTerta- 
çáo  De  Navigationibiis  Salomonis.  Por  ultimo  em 
noíTos  dias  Calmer ,  não  fc  contentando  de  nenhu- 
ma deftas  hypothercs  ,  tanto  no  Commentario  do 
verfo  29.  do  Capitulo  X.  doGencfis,  como  em  Dif- 
fertaçáo  feparada  febre  o  Paiz  d' Ojfr  ,  foi  bufcar 
OfRr  áquella  pane  da  Afia ,  que  fica  entre  a  Col- 
quída ,  e  a  Media ,  crendo  fer  efta  a  terra  pov;oada 
pelos  defcendentcs  d'Ofíir,  filho  dc  Jeòlan ,  donde 
cila  romou  o  nome.  Pereira. 

(/;)  Quatrocentos  e  vinte  talemos  d' ouro.  Que 
pelos  cálculos  ailima  eráo  danoiTa  moeda  onze  mi- 
lhões, e  feiiícentos  c oitenta  e  hum  mil  cruzados,  e 
oito  mil  e  trezentos  e  vinte  reis.  Mas  no  Livro  II. 
dos  Paralipomenos ,  vm.  i8. ,  em  lugar  de  quatro- 
centos e  vinte  talentos ,  Icm-íe  qu.-ítrocentos  e  fin- 
coenta.  O  que  Mr,  Huet  attribue  a  equivocaçáo 
dos  Copittas  ,  occafionada  de  que  no  Hebreo  fe 
parecem  muito  huma  com  outra  as  letras  Caph  c 
Nun,  Pereira. 


Liv.  m.    Cap.  IX.  91 

vinte  talentos  d'ouro ,  que  trouxerão  ao 
Rei  Salmão. 

CAPITULO  X. 

A  Rainha  de  Sahá  lem  b-ufcar  Salamão, 
Sabedoria  ,  e  ri^íuzas  dtjle  Príncipe, 
Dejcripção  do  throno ,  que  elle  mandou 
fazer. 

I  {a)  A  Rainha  mefma  de  Saba, 

ou- 

(^)  A  Rxinhi  mejma  àc  Sahd  ^  'ò^c.  Comnrjm- 
mentc  fc  fuppõe  que  Sxhd  era  nome  da  Rainha, 
fendo  que  íò  o  era  da  Kegiáo,  como  com  Caííio- 
doro  de  Ia  Reina  reconhecem  todos  os  meus  Tra- 
dudlores  Francezcs.  A  dúvida  toda  he  ,  queRcgiáo 
era  efta  de  Saba.  Jofé  Hebreo  efcreve  ,  que  cfta 
Rainha  fc  chamava  Nicaule  ,  e  reinava  no  E2;y- 
pto,  e  na  Ethiopia  ,  tendo  por  Corte  a  Cidade  dc 
Meroe  ,  que  antes  que  CambyTcs  conquiflalTe  o 
Egypto  fe  denominava  Sabi,  Induzido  da  authori- 
dade  dc  Jofé  ,  deo  Grocio  por  certo  nefíe  lu^ar, 
que  a  Rainha  de  Sabá  era  a  Rainha  da  Ethiopia; 
e  fundados  na  tradição  dos  Póvos  Abexins  ,  ou 
dos  Póvos  do  Prefte  ]oáo  ,  dão  os  nollos  Efcriio- 
rcs  ifto  mefmo  por  certo  com  Joáo  de  Barros:  ac- 
crefcentando  5  que  efta  Rainha  depois  de  fe  aviftar 
com  Salamáo  na  Judca  ,  tivera  delle  hum  filho, 
em  cuja  pciToa ,  c  dcfcendcncia  fc  continuou  a  fuc- 
cefsáo  do  Reino  da  Ethiopia.  Porém  Bochart  no 
Livro  II.  do  Faleg.  Capitulo  XXVI.  moftra  que  a 


Reis. 

(h)  ouvida  afama  de  SalamaonoNome 
do  Senhor  ,  veio  fazer  experiência  nei- 
le  por  enigmas. 

2    E  tendo  entrado  em  Jerufalem 
com  grande  comitiva  ,  e  rica  equipa- 
gem, 

narração  ãe  Jofé  eftá  cheia  de  falfidades ,  de  forte 
que  defcobre  nella  doze  erros.  E  Calmet  tem  por 
huma  fabula  a  tradição  dos  Abexins  ,  com  que  os 
noíTos  Te  enganarão.  Convém  lo^o  ambos  com  os 
melhores  Commentadores  da  Efcritura  ,  que  Sabá 
era  aquelia  Região  da  Arábia  Feliz  ,  cujos  Póvos 
fe  chamaváo  Sabcos,  e  donde  vinha  grande  cópia 
de  preciofos  aromas ,  como  confta  até  dos  Efcriio- 
res  profanos.  Nem  deve  fazer  dúvida  o  que  Chriíío, 
diíTe  5  Luc.  xi.  ^i.,  que  eíla  Rainha  viera  ouvir  a 
Salamão  dos  tins  da  terra :  porque  ,  como  nora  Du- 
hamel  ,  por  fins  da  terra  coítuma  a  Efcritura  ex- 
primir os  lugares  mui  remotos  ,  e  principalmente 
os  que  fe  termináo  pelo  mar.  Pereira. 

Çb)  Ouvida  a  fama  de  SaUmao  no  Nome  do  Se^ 
tjbor.  Ifto  hc  5  conforme  parafrafeão  Saci  ,  c  de 
Carrieres  ,  ouvida  a  fama  que  corria  ,  de  tudo  o 
(juc  Salamão  tinha  feito  em  horira  do  Nome  do 
Senhor,  Outros  atão  aquelle  no  Nome  do  Senhor 
com  o  verbo  veio ,  e  cxplicáo  aííim :  ouvida  a  fa- 
ma de  Salamão ,  veio  no  Nome  do  Senhor  :  iíto 
he ,  veio  infpirada  pelo  Senhor  ,  ou  abrazada  em 
defejos  de  o  conhecer  por  meio  de  Salamão.  An- 
tes S.  Paulino  ,  e  Theodoreto  a  coníiderão  nefta 
vinda  já  convertida  ao  verdadeiro  Deos ,  c  illuílra- 
da  com  o  conhecimento  fobrenatural  dellc.  Perei- 


Liv.  Iir.    Cap.  X.  93 

gem,  com  cnmelGS  que  traziao  aromas, 
e  infinita  quantidade  d' ouro,  e  de  pe- 
dras preciofas,  fe  aprefentou  diante  do 
Rei  Saiamão  ,  e  lhe  defcobrio  quanto 
trazia  no  peito. 

3  E  Saiamão  a  inílruio  em  todas  as 
coufas,  que  ella  lhe  tinha  propofto,  e- 
não  houve  nenhuma  que  o  Rei  ignoraf- 
fe  5  e  fobre  a  qual  elle  a  não  fatisfizeíTe 
com  as  fuas  reípoftas. 

4  Ora  a  Rainha  de  Saba  vendo  to- 
da a  fabedoria  de  Saiamão;  a  caía  que 
elle  tinha  feito ; 

5:  os  manjares  da  fua  meza  ;  os  quar- 
tos dos  feus  Officiaes ;  as  diverfas  claf- 
fes  dos  que  o  fervião;  os  feus  veftidos; 
os  feus  copeiros;  e  os  holocauftos  que 
elle  oífcrecia  na  cafa  do  Senhor  :  efta- 
va  toda  fora  de  íí , 

é  e  diífe  ao  Rei:  O  que  fe  me  con- 
tou no  meu  reino , 

7  da  tua  convcrfação  ,  e  da  tua  fa- 
bedoria ,  he  verdadeiriílimo:  e  com  tu- 
do eu  não  dava  credito  ao  que  fe  me 
dizia  ,  até  que  cu  mefma  vieífe  ,  e  o 
viffe  com  meus  próprios  olhos:  c tenho 

re- 


94  Reis. 

reconhecido  que  fe  me  nao  dizia  ame- 
tade  do  que  era.  A  tua  fabedoria  ,  e 
as  tuas  obras  excedem  tudo  quanto  a 
fama  me  tinhão  dito  de  ti. 

8  Bemaventurados  os  teus  homens, 
e  bemaventurados  os  teus  fervos  ,  que 
gozão  fempre  da  tua  prefença  ,  e  que 
ouvem  a  tua  fabedoria. 

9  Bemdito  feja  o  Senhor  teuDeos, 
aquém  agradafte ,  eque  tecollocou  fo- 
bre  o  throno  d'lfrael ,  porque  elle  amou 
a  Ifrael  para  fempre  ,  e  te  conftituio 
Rei  5  para  governares  com  equidade ,  e 
fazeres  juftiça. 

10  Depois  deo  a  Rainha  de  Saba 
ao  Rei  cento  e  vinte  talentos  d' ouro, 
e  huma  infinidade  d' aromas  ,  e  pedras 
preciofas.  D'  então  para  cá  nao  le  trou- 
xerao  a  Jerufalem  tantos  aromas ,  como 
os  que  a  Rainha  de  Sabá  deo  ao  Rei 
Salamâo. 

1 1  A  frota  d*  Hirao  que  trazia  o 
ouro  d'OíHr  ,  trouxe  também  ao  mef- 
mo  tempo  (c)  huma  prodigiofa  quanti- 

da- 


(c)  Huma  prodigiofa  íjuaiitídade  de  páos  odori" 
fros ,  ó'€.  O  Hcbrco  aqui  chama-lhes  Almugim , 


Liv.  IIL    Cap.  X.  95: 

dade  de  páos  odoríferos ,  e  pedras  pre- 
ciofas. 

12  E  o  Rei  mandou  fazer  deftas 
preciofas  madeiras  os  balauftes  da  cafa 
do  Senhor,  e  da  caía  do  Rei  ,  cytha- 
ras,  e  violas  para  os  muficos.  Nao  tor- 
nou a  vir,  nem  fe  vio  mais  defta  caíta 
de  madeira  até  o  prefente  dia. 

13  O  Rei  Salamão  da  fua  parte  deo 
á  Rainha  de  Sabá  tudo  o  que  ella  de- 
fejou,  e  lhe  pedio,  afora  os  prefentes, 
que  elle  meímo  lhe  fez  com  real  ma- 
gnificência. E  a  Rainha  voltou  ,  e  fe 
foi  para  o  feu  reino  com  os  feus  fervos. 

14  O  pezo  d' ouro,  que  fe  trazia  a 
Salamão  cada  anno  ,  (d)  era  de  feis- 

cen- 

nos  Parai  ipomcnos  invertidas  as  letras,  Al^umim:  6 
que  CaíHodoro  de  la  Reina  verte  cm  Caftelhano 
madeira  de  Brazil.  A  Vulgata,  feguindo  os  Seten- 
ta 5  chama  cftes  páos  cm  Grego  ligna  íhyina ,  ad- 
jcótivo  formado  do  nome  thyax  ,  ou  ií^ya  ,  que 
Plinio  no  Livro  XIII.  ,  Capitulo  XVI.  contunde 
com  a<quc  os  Latinos  chamaváo  citrus ,  arvore  odo- 
rífera que  vinha  da  Mauritânia  ,  c  da  qual  cm  tem- 
po d*  Augufto  começarão  os  Romanos  a  tazcr  as 
mais  preciofas ,  e  mais  eftimadas  mezas ,  que  en- 
lio  fe  conhcciáo.  Pekeira. 

{d)  Era  de  [ámnto^  e  fejfenta  e  [eis  talentos 

I 


9^  Reis. 
centos  e  feílenta  e  feis  talentos  d^ou- 

15'  afóra  o  que  lhe  traziao  os  que 
tinhao  a  intendência  da  arrecadação  dos 
tributos,  os  negociantes  ,  os  que  ven- 
dião  quinquclharias  ,  e  todos  os  Reis 
da  Arábia,  e  os  Governadores  da  terra. 

16  Fez  outroíi  o  Rei  Salamao  du- 
zentos efcudos  d'ouro  puriíliino,  dando 
para  as  chapas  de  cada  efcudo  {e)  íeis- 
centos  íiclos  d' ouro. 

17  Fez  também  feiscentos  broqueis 
de  ouro  de  Lei ,  fendo  cada  broquel  re- 
veftido  de  trezentas  minas  d' ouro,  e  o 
Rei  os  poz  na  cafa  do  Bolque  do  Lí- 
bano. 

18  Fez  mais  o  Rei  Salamao  hum 
grande  throno  de  marfim  ,  que  guarne- 
ceo  d' hum  curo  mui  hrzente. 

19  Eíte  throno  tinha  feis  degráos: 

e 

ouro,  lílo  he,  de  moeda  Portugueza  dezoito  mi- 
lhões ,  e  quinhentos  e  vinte  e  tres  mil  cruzados  , 
c  vinte  e  tres  mil  e  trezentos  e  ícíTcnra  reis.  Pe- 
reira. 

(  e  )  Seiscentos  fidos  d' ouro.  Ifto  he ,  de  moeda 
Portugueza  hum  conto  e  cento  e  vinte  mil  reis* 
Pereira. 


Liv.  III.    Cap.  X.  97 

c  o  alto  era  redondo  por  detrás:  (/)  e 
duas  mSos  huma  d'huma  parte  ,  outra 
d'outra  foftinhão  oaíTcnto;  e  havia  deus 
leões  ao  pé  de  cada  mão. 

20  E  doze  leÕeslinhos  fobre  os  feis 
degráos  ,  feis  d' huma  parte ,  e  leis  de 
outra.  Em  todos  os  reinos  do  mundo 
fe  não  fez  nunca  obra  tão  prima. 

21  Todos  os  vâfos  por  onde  bebia 
o  Rei  Salamao  crão  d' ouro  :  e  toda  a 
baixella  da  cafa  do  Bolque  do  Libano 
era  d'ouro  puriílímo.  Nenhum  deftes  va- 
fos  era  de  prata ,  nem  fe  fazia  cafo  del- 
ia no  reinado  de  Salamao. 

22  (g)  Porque  a  frota  doRei  Sala- 
mao hia  por  mar  com  a  frota  d'Hirão 
huma  vez  cada  tres  annos  a  Tharfis  ^  a 
trazer  dalli  ouro,  e  prata,  e  dentes  d* 
elefantes,  e  bogios,  c  pavões. 

23  Excedeo  logo  o  Rei  Salamao 
todos  os  Reis  do  mundo  em  riquezas, 
e  fabcdoria. 

Tom.  VI.  G  E 

(/)  E  duas  vúos,  lílo  hc,  dous  cfpeques ,  ou 
cfteioà.  Pereira. 

(^)  Porque  4  frota  do  Rei  Salmão  ,  &c.  A 
mefma  fcm  dúvida  ,  que  aquella  dc  que  íe  falia 
no  Capitulo  IX.  ,  verfo  26  ,  27  c  28,  c  no  Cíi- 


98  Reis. 

24  -E  toda  a  terra  defcjava  conhe- 
cer de  viíla  a  Salomão  para  ouvir  a  fa- 
bedoria ,  que  Deos  tinha  depolitado  no 
feu  coração. 

25-  E  cada  hum  lhe  mandava  todos 
os  annos  íeus  prelentes  :  vafos  dc  pra- 
ta, c  d^ouro,  veílidos,  armas,  cheiros, 
cavailos ,  e  machos. 

26  E  ajuntou  Salamao  hum  grande 
numero  de  coches ,  e  de  cavalleiros :  e 
teve  mil  e  quatrocentos  coches,  edoze 
mil  homens  de  cavai  lo  :  e  ellc  os  dif- 
tribuio  pelas  Cidades  fortificadas,  dei- 
xando ficar  parte  dclles  cm  Jerufalem  , 
para  andarem  junto  da  peíToa  dclle  Fvei. 

27  Elie  fez  que  a  prata  fofie  em  Je- 
rufalem tão  commum  ,  como  as  pedras  ; 
e^ue  foílem  tão  óbvios  os  cedros,  co- 
mo os  íycómoros  que  nafcem  nos  cam- 
pos. 

28  Sacavão-fe  também  doEgypto, 
e  de  Cóa  cavailos  para  Salamao.  Por- 
que 

pitulo  X.,  verfo  11.  Ma.*:  o^de  era  Thars ,  e  ain- 
da fe  Tharfis  era  ou  náo  era  divería  d'  Ojjir ,  cou- 
fas  são  que  fc  náo  podem  refolver  pelo  fagrado 
contexto ,  c  febre  cjue  os  Expofitores  náo  propõem 
íenáo  nicras  conjc61uras.  Pereira. 


Liv.  III.    C  A  p.  X.  99 

que  os  Feitores  do  Rei  os  compravão 
em  Cóa,  e  ihos  traziao  por  hum  certo 
preço. 

29  Saliia-lhe  porém  do  Egypto  hum 
tiro  de  quatro  cavallos  (h)  por  feis- 
ccntos  ficios  de  prata  ,  e  hum  cavallo 
por  cento  ccincoenta.  E  aíTim  lhe  ven- 
dião  caviiUos  todos  os  Reis  dos  Hctheos^ 
e  da  Syria, 

(  ^  )  Por  ftiscentos  fidos  de  prata.  Ifto  hc ,  por 
novecentas  e  feicnca  e  du?.s  libr  -.s  de  França  ,  (]uc 
fazem  da  moeria  Poriugueza  cento  e  cincocnta  c 
cinco  mil  e  (quinhentos  c  vinte  íeis.  PiRaiRA. 

CAPITULO  XI. 

Salamão  fe  deixa  arrajlar  do  amor  das 
mulheres.  Elias  o  faztm  cahir  na  Ido- 
latria. Adierjarios  que  Deos  lhe  jí^jci" 
ta,  O  Profeta  Abias  promette  a  Jero- 
hoão  o  reino  das  dez  Lrihus.  Morte  de 
òlalamíio,  Roíwão  lhe  [ucccde, 

I         Ntretanto  oReiSalamao  amou 
JLli  apaixonadamente  amuicas  mu- 
lheres eítrangeiras^  {a)  tan  bem  á  íilha 
G  ii  djuí 
(4)  Também  d  filha  de  Fardo.  JSc^undo  u  A.al- 


100 


Reis. 


de  Faraó  ;  a  mulheres  Moabitas  ,  Ara- 
monitas  ,  Sidonias ,  c  Hetheas  : 

2    ifto  he  5  daquellas  nações  ,  (b) 

dc 

gata  ,  he  aqui  rcprchcndido  Salamáo  por  ter  ama- 
do com  ourras  mulheres  gentias  a  filha  de  Faraó. 
Como  ifto  fe  náo  pôde  entender  do  tempo  que  Sa- 
lamáo cafou  com  efta  Princeza ,  como  fe  retcre  no 
Capitulo  III.  defte  Livro,  vcrío  i.  (porque  deite 
meímo  tempo  aHirma  a  Efcritura  no  mefmo  Ca- 
pitulo vcrío  ^.5  que  Saldmao  amava  ao  Senhor) 
luípeiíáo  agora  muitos  Interpretes  ,  que  efta  filha 
de  Faraó ,  que  no  principio  íe  tinha  moftrado  con- 
vertida á  Religião  Judaica,  (no  qual  cafo  permit- 
tia  Dcos  que  os  Ifraclitas  cafaíTcm  com  mulheres 
eftran^eiras)  depois  tornára  a  fazer-fe  idólatra  :  c 
que  o  continuar  Salamáo  a  viver  maritalmente  com 
cila  aííim  pervertida,  he  o  que  nefte  lugar  fenota 
em  wSalamáo,  Aííim  o  Ahulenfe  ,  Pinèda  ,  Salia- 
no  ,  Menoquio  ,  c  Tirino.  Pelo  contrario  outros 
advertindo  que  na  Efcritura  não  ha  fundamento  pa- 
ra ella  fufptita  da  recahida  daquella  Princeza:  cm 
lugar  dcftas  palavras  da  Vulgata,  etiam  jiliam  Pha- 
raonis ,  tem  aliim  oHebreo,  prt  er  filiam  Pharao- 
nis  5  ifto  he ,  além  da  filha  de  Faraó.  E  entáo  to- 
da a  rcprehcnsáo  eftá  em  que  Saiam ão  depois  de 
Itgi  timamcnre  cafado  com  numa  mulher  Catholi- 
ca  »  pof  nos  explicar-nos  aííim  ,  lhe  ajuntou  por 
ultimo  outras  muitas  gentiar,.  Aííim  Saci  ,  e  dc 
Carrieres  com  o  Padre  Houbii^ant.  Pereira. 

(^b)  De  que  o  Senhor  tinha  dito ,  ó  c.  A  faber , 
Exod.  XXXIV.  16.  e  Deut.  vn.  ^.  Da  qual  prohi- 
biçáo  todavia  (como  aflima  notámos)  era  expref- 


Liv.  IIL    Cap.  XI.  lor 

de  que  o  Senhor  tinha  dito  aos  filhos 
d'Iírael  :  Não  tomeis  mulheres  deíTe 
paiz ,  nem  volTas  filhas  cafem  com  taes 
homens  :  porque  ellas  ccrtiííimamcnte 
vos  perverterão  os  corações  ,  para  vos 
fazerem  adorar  os  feus  idolos.  A  ellas 
pois  fe  unioSalamão  com  hum  amor  ar- 
dentiíEmo. 

3  E  e!le  teve  fctecentas  mulheres, 
quecrão  comoRamhas,  e  trezentas  que 
crao  concubinas.  E  as  mulheres  Iheper- 
vcrtêrao  o  coração. 

4  Elie  era  já  velho,  quando  as  mu- 
lheres lhe  depravarão  o  coração  para  o 
fazerem  feguir  deofes  alheios  :  nem  o 
feu  coração  era  perfeito  diante  do  Se- 
nhor feu  Deos ,  (c)  como  o  tinha  fido 
o  coração  de  David  feu  pai. 

j    Mas  Salamão  dava  culto  a  Aftar- 

te 

famcnte  exceptuado  o  cafo  ,  que  a  mulher  gentia 
fc  tivcíTc  feito  Profelyta  da  Religião  Judaica.  (Oeu- 
icr.  XXI,  10.  II.  12.)  Do  que  temos  exemplos  cm 
Raab  de  Can.^an  cafada  com  Salmon  :  em  Ruth 
de  Moab  cafada  com  Booz :  em  Maáca  de  Geííu- 
ri  cafada  com  David.  Pereira. 

( c  )  Como  o  tinha  fido  o  coração  de  David.  Da- 
vid umbem  tinha  pcccado ,  c  pcccado  con*  mulher 


I02  Pv   E   I  S. 

te  Deofa  dos  Sidonios  ,  e  a  Moloch 
Deos  dos  Aaimonicas. 

6  E  fez  Salamão  o  que  não  era  agra- 
dável ao  Senhor  ,  e  não  feguio  o  Se- 
nhor perfeitamente  ,  como  o  feguíra  feu 
pai  David. 

7  Nefte  mefmo  tempo  edificou  Sa- 
lamão hum  Templo  a  Camos  idolo  dos 
Moabitas ,  no  monte  fronteiro  a  Jerufa- 
lem  ,  e  a  Moloch,  idoio  dos  filhos  d' 
Ammon. 

8  E  o  mefmo  fez  elle  por  tod-as  as 
fuas  mulheres  efírangeiras,  que  queima- 
vão  incenfo  ,  e  facrificaváo  a  feus  deo- 
fes. 

9  O  Senhor  pois  fe  irou  contra  Sa- 
lamão, por  fe  ter  o  feu  efpirito  aparta- 
do do  Senhor  Deos  d'  Ifrael  ,  que  lhe 
tinha  apparecido  fegunda  vez, 

10  e  lhe  tiuha  prohibido  exprcíTa- 
mente,  que  não  feguilTe  a  deofes  eftran- 
geiros  ;  c  por  elle  nao  ter  guardado  o 
que  o  Senhor  lhe  mandara. 

Dif- 

fes  :  mas  o  feu  peccado  não  foi  permanente  ,  co- 
D  o  o  de  Salamão  ,  a  quem  o  melhor  da  fua  vidi 
ílominou  oappcdtc  libidinofo.  Santo  Agostikmo. 


Liv.  III.    Cap.  XI.  loj 

11  DiíTe  pois  o  Senhor  a  Salamão: 
Pois  que  tu  affim  re  pcrrafte  ,  e  não  guar- 
dafte  o  meu  pacto ,  nem  os  mandamen- 
tos que  eu  te  tinha  poílo ;  eu  ruígarei , 
c  dividirei  o  teu  reino  ,  e  eu  o  Gurci  a 
hum  dos  teus  fervos. 

12  Não  o  farei  com  tudo  cm  tua 
vida  ,  por  attençao  a  David  teu  pai : 
mas  eu  o  dividirei  em  tempo  de  teu  fi- 
llio. 

13  Eu  lhe  não  tirarei  todavia  o  rei- 
no todo :  mas  darei  dclle  a  teu  filho  hu- 
ma  Tnbu  em  artcnçao  a  teu  pai  Da- 
vid ,  e  a  Jeruíalem  que  eu  efcollii. 

14  Ora  o  Senhor  fuícitou  por  ini- 
migo de  Salamão  a  Adad  Idumco  dc 
Sangue  Real,  que  vivia  em  Edom. 

15:  Porque  qu.mdo  David  eftava  em 
Idumea  ,  veio  Joab  General  dofeu  exer- 
cito a  fepultar  os  que  tinhao  fido  mor- 
tos, e  a  matar  em  Idumea  todos  os  ma- 
chos. 

16  E  feis  mezes  fe  demorou  Jonb 
cm  Idumea  com  todo  o  exercito  d'lf-' 
rael  ,  em  quanto  matava  os  machos  d' 
Idumea. 

Adad 


ib4  Reis. 

17  Adad  porém  fugio  de  la  com 
os  Idumeos  ferves  de  íeu  pai  para  fc 
retirar  ao  Egypto :  o  qual  Adad  era  en- 
tão muito  criança. 

18  E  eftes  homens  pafsárão  de  Ma- 
dian  a  Faran  ;  e  tendo  levado  daqui 
comfigo  alguma  gente ,  entrárao  no  Egy- 
pto ,  e  fe  aprcfentárão  a  Faraó  Rei  do 
Egypto  5  que  deo  a  Adad  huma  cala , 
confignou-Ihe  donde  podia  comer  ,  c 
lhe  deo  terras. 

19  E  tanto  cahio  Adad  em  graça 
a  Faraó  j  que  cíle  o  caiou  com  a  pró- 
pria irmã  da  Rainha  Tafnes  fua  mu- 
lher. 

20  Dcfta  irmã  de  Tafnes  teve  Adad 
hum  filho  chamado  Genubach,  a  quem 
Tafnes  criou  na  cafa  de  Faraó  ,  e  Ge- 
nubach  habitava  no  Palacio  de  Faraó 
com  os  filhos  do  Rei. 

2 1  E  Adad  tendo  ouvido  no  Egy- 
pto 5  que  David  adormecera  com  feus 
pais ,  e  que  Joab  General  do  feu  exer- 
cito era  morto  ^  diíTe  a  Faraó :  Deixa- 
me  ir  para  a  minha  terra. 

E  Faraó  lhe  diíTe :  Pois  que  hc 

o 


Liv.  III.    C  ap.  XI.  lo^ 

o  que  te  falta  em  minha  cafa,  para  cui- 
dares em  voltar  para  a  tua  terra  r  E  Adad 
lhe  reípondeo :  Nao  me  falta  nada:  mas 
fupplico-te  que  me  deixes  ir. 

23  Suícitou-lhe  Deos  também  por 
inimJgo  a  Razon  filho  d'  Eliada  ,  que 
tinha  fugido  d'Adarezer  Rei  de  Soba 
feu  Senhor: 

24  eque  ajuntando  gente  contra  ef- 
te  Principe,  eílava  feito  Capitão  de  la- 
droes,  quando  David  lhes  fazia  guerra. 
Eftcs  ladroes  tendo  ido  para  Damafco 
fizerão  alli  aflcnto,  e  oconllituírão  Rei 
cm  Damafco. 

25-  Efte  foi  inimigo  d'lfrael  todo  o 
tempo  que  reinou  Salamao.  Eis-aqui  a 
origem  dos  males  ,  que  Adad  caufou 
aos  filhos  d'Ifrael ,  e  do  odio  que  tinha 
contra  elles:  c  elle  reinou  na  Syria. 

26  Jeroboão  filho  de  Nabat,  Efra- 
teu  de  Sareda  ^  fervo  de  Salamao ,  cuja 
mãi  era  huma  mulher  viuva  por  nome  Sar- 
via ,  também  fc  fublevou  contra  Salamao. 

27  E  o  motivo  que  teve  para  fc  rc- 
bellar  contra  cite  Principe ,  (^d)  foi  por- 
que . 

(á)  Foi  porqaç  Salamao  tinha  edificado  Aídlo.^ 


io6  Reis. 

que  Salamao  tinha  edificado  Mello  ,  c 
enchido  hunia  grande ,  e  profunda  aber- 
tura ^  que  havia  na  cidade  de  David  feu 
pai. 

2  8  He  de  faber  que  Jeroboão  era  hum 
homem  valente,  e  poderofo :  e Salamao 
vendo  neíle  moço  mtclligencia  ,  e  ca- 
pacidade para  manejar  negócios  ,  lhe  ti- 
nha dado  a  intendência  dos  tributos, 
que  lhe  devia  pagar  toda  a  caia  de 
Jofé. 

29  Nefte  mefmo  tempo  acontecco, 
que  Jeroboão  fahio  dejerufalem,  e  que 
Ahias  de  Silo  Profeta  ,  levando  fobre 
oshombros  huma  capa  nova,  encontrou 
a  Jeroboão  no  caminho.  E  eftavao  íós 
os  dous  no  campo. 

30  EAhias  tomando  a  capa  nova  de 
que  vinha  coberto  ,  a  rafgou  em  doze 
partes ,  e  diíTe  para  Jeroboão  : 

31  Toma  parati  dez  retalhos:  por* 
que  eis-aqui  o  que  diffe  o  Senhor  Deos 
d'  Ifrael :  Eu  rafgarei  o  reino  das  mãos 

de 

Tendo  carregado  para  iíTo  de  tributos  ,  não  fó  os 
eftrangciros  ,  como  tambpm  os  mefmos  Ifraclitas, 
De  Carri ekes. 


Liv.  III.    Cap.  XI.  T07 

deSalamão,  e  dar-te-hei  delle  dezTri- 
bus. 

32  (f)  A  clle  porém  ficar-lhe-ha 
hurna  Tribu  em  attençao  a  meu  fervo 
David  5  e  á  cidade  de  Jeruíaiem  ,  que 
eu  efcolhi  d'  entre  todas  as  Tribus  d'íf- 
rael : 

33  porque  Salamao  mc  deixou  ,  e 
adorou  a  Aftarte  Deofa  dos  Sidonios, 
a  Camos  Deos  de  Moab ,  e  a  Moloch 
Deos  dos  filhos  d'Ammon ,  c  nao  andou 
pelos  meus  caminhos  para  fazer  o  que 
era  jufto  diante  de  mim,  e  para  obfer- 
var  os  meus  preceitos ,  e  as  minhas  or- 
denações, como  David  feu  pai. 

34  Eu  lhe  nao  tirarei  com  tudo  o 
reino  das  fuas  maos:  mas  deixar-lhe-hei 
governar  todo  o  refto  da  fua  vida  por 
caufa  de  David  meu  fervo  ,  que  guar- 
dou as  minhas  ordenações  ,  e  os  meus 
preceitos. 

35  Tirarei  porém  o  reino  das  máos 

de 

(  e  )  el!e  porém  ficar-lhe-ha  huma  Trihu.  A  Tri- 
bu dc  Benjamim  reputava-fc  huma  mefma  com  a 
dc  ]uda  ,  que  he  a  que  perfevcrou  na  obediência 
dc  Roboão  j  e  ficou  confticuindo  com  a  de  Benja- 
mim o  Reino  de  ]uda.  Pereira. 


io8  Reis. 

de  feu  filho ,  c  dar-tc-hei  a  ti  dez  Tri- 
bus ; 

36  e  darei  humaTribu  a  feu  filho, 
para  que  íempre  fique  a  meu  fervo  Da- 
vid huma  alampada  5  que  luza  diante  de 
mim  na  cidade  de  Jerufalem  ,  que  eu 
efcolhi  5  a  fim  de  ler  nella  honrado  o 
meu  Nofne. 

37  Mas  quanto  a  ti,  cU  te  tomarei, 
e  tu  reinarás  fobre  tudo  o  que  a  tua  al- 
ma defeja ,  e  feras  Rei  em  Ifrael. 

38  Se  tu  pois  ouvires  tudo  o  que 
cu  te  ordenar  ;  fe  andares  pelos  meus 
caminhos  ;  e  fe  fizeres  o  que  he  jufto, 
e  refto  diante  dos  meus  olhos  ,  guar- 
dando as  minhas  ordenações,  e  os  meus 
preceitos ,  como  fez  David  meu  fervo : 
Eu  ferei  comtigo  ,  eu  te  edificarei  hu- 
ma  cafa  que  feja  eftavel ,  e  fiel ,  como 
a  que  fiz  a  meu  fervo  David  ;  e  eu  tc 
entregarei  Ifrael  , 

39  e  affligirei  nefte  ponto  a  def- 
cendencia  de  David ,  mas  não  para  fem- 
pre. 

.  40  Quiz  pois  Salamão  matar  a  Je- 
roboão :  mas  eftc  fugio  para  o  Egypto , 

aco- 


LiY.  IIT.    Cap.  XL  109 

acolhendo-fe  a  Sefac  Rei  do  Egypto, 
c  lá  fe  deixou  ficar  até  á  morte  de  Sa- 
lamáo. 

41  Tudo  o  mais  das  acções  de  Sa- 
lainão,  tudo  o  que  elle  fez  ,  c  tudo  o 
que  diz  refpeito  á  fua  fabedoria  ,  (f) 
eftá  efcrito  no  Livro  que  contém  a  Hif- 
toria  do  reinado  de  Salamão. 

42  O  tempo  que  elle  reinou  emje- 
ruíalem  fobre  todo  o  Ifraei ,  forão  qua- 
renta annos. 

43  (á")  E  Salamão  adormeceo  com  Anmo 

feus  í^o^í- 
(/)  Eftd  efcrko  m  Livro  ,  é^c.  Hum  dos  Ef- 
critores  deite  Livro ,  confta  pelo  Segundo  dos  Pa- 
ralipomcnos,  ix.  29.,  que  foi  o  Profeta  Ahias  de 
Silo  aJíima  referido.  Periira.  ^75* 

(^^  )  E  Salamão  adormceo  com  fcus  pais  ,  <ò'c, 
Aqu;  era  o  lugar  de  decidir  o  grande  Problema  ,  it 
5alamáo  íe  íaivou  ,  ou  íe  fe  perdco.  Mas  onde  os 
maiores  homens  fulpenderáo  o  leu  juizo ,  que  po- 
derei eu  fentencear  d  ahfoluto  Tem  temeridade? 

Por  huma  parte  he  certo  pelo  prelcntc  lugar 
da  Eícritura  ,  que  Salamáo  peccou  graviílimamcn- 
te  ,  caiando  com  mulheres  gentias  ,  contra  o  ex- 
prelTo  mandamento  de  Deos  no  Êxodo  ,  e  Deutero- 
noniio,  e  muito  mnis  gravemente  dando  comellas 
culto  aos  falfos  dcoles.  Por  outra  parte  náo  coníta 
nem  da  Efcriíura  ,  nem  da  Tradição,  que  Salamáo 
fizcíTe  penitencia  deíh?'^  graviflimos  pcccados.  Mns 
porque  náo  conita  ao  certo  ,  «juc  Salamáo  fizeíTc 


líO 


Reis. 


feus  pais,  e  foi  enterrado  na  cidade  de 

íeu 

penitencia ,  poder-fe-ha  concluir  daqui  em  boa  Ló- 
gica,  cjne  cíie  a  aáo  fez^  Nâo  :  e  iílo  hc  o  que 
faz  o  Prob letra  iníoluvel  a  todos  os  que  nas  fuas 
refoluçôes  querem  proceder  com  fegurança. 

He  verdade  que  S.  jcronymo ,  feguindo  aSáo 
Gregorio  Thauraaturgo ,  e  a  commum  tradição  dos 
Doutores  Hebreos  ,  teve  para  fi ,  que  o  Livro  do 
Eccleíiaôes  fora  fruto  da  penitencia  de  Salamáo 
pela  coníiísáo  que  cUe  faz  ncfte Livro  do  feu  erro, 
c  defengano  que  dá  do  que  sáo  mulheres.  (  EccL 
II.  2.  e  VII.  27.  )  He  também  verdade,  que  oroer» 
mo  S.  ]eronymo  com  S.  Cyrillo  de  Jcrufaiem  deo 
por  cerra  a  penitencia  de  Saiamáo  ,  fundado  em 
que  no  Livro  dos  Provérbios  ,  xxiv.  ^2.  trazia  a 
Versão  dos  Setenta  eitas  palavras :  Depois  dijlo  fiz 
Penitencia. 

Mas  pelo  contrario  Santo  Agottinho ,  tanio  nos 
Livros  contra  Fautto ,  como  nos  da  Doutrina  Chri- 
ílá ,  e  da  Cidade  dc  Deos  ,  nenhuma  dúvida  teve 
^e  contar  a  Salamáo  entre  os  réprobos,  ainda  quan- 
do o  conlldcra  Author  daquelles  divmos  Livros:  c 
ifto  ou  porque  julgava  que  o  Livro  do  Ecclefiaftes 
fora  efctiío  por  Salamáo  antes  da  fua  queda  ,  ou 
porque  crendo-o  eícrito  depois  da  queda,  náo  acha- 
va nelie  provas  decifivas  da  fua  penitencia  final.  £ 
Calmec  nota  ,  que  o  fer  o  Livro  do  Ecclefiaftes 
fruto  de  penitencia  de  Salamáo ,  he  hum  ponto  muiro 
incerto  ,  e  muito  controverfo  entre  os  Interpretes. 

Quanto  ao  Texto  dos  Provérbios  ,  obferva  o 
mefmo  Calmet  ,  que  elíc  poderia  decidir  a  quef- 
Ú.O  ,  fe  o  que  os  Setenta  verrêráo ,  fc  achaíTe  con- 
forme com  o  Heb^eo:  mas  que  o  Hebieo  traz  ou- 


Liv.  III.    Cap.  XI.  III 


feu  pai  David  ,  e  Roboao  feu  filho  rei- 
nou em  leu  lugar. 

^  CA- 

tra  coufa  ir.uito  diíFcrente ,  qual  hc  a  Quc  exprime 
a  Vulgata  defíc  n^odo  :  Qiicd  cum  vidijfem  ,  pofui 
in  coràe  imo  ,  exemplo  dtáici  difciplinam.  llto 
he:  o  c|ue  tendo  eu  viUo,  fiz  reflexão,  c  me  inf- 
irui.  E  que  vcítigio  ha  aqui  de  penitencia  ?  Quan- 
to mais  ,  que  o  ter  fido  elcrito  o  Livro  dos  Pro- 
vérbios por  Saiam.áo  depois  da  íua  ruina ,  he  igual- 
mente incerto  ,  que  o  do  tcclefiaftes. 

No  feculo  XII.  Fiiippe  ,  Abbadc  da  Boa  Ef- 
perança,  da  Ordem  Premonftratenle ,  entre  muitos 
Tratados  que  efcreveo  ,  e  publicou  com  univerfal  ap- 
plaufo,  foi  hum  o  que  tem  por  titulo  De  Damna» 
tkne  Salomonis  ,  da  Condemnaçáo  de  Salamáo. 
Dos  Modernos  bafte  citar  pela  mcíma  fcnrcnça  a 
Guilnerme  Eíiio  ,  commentando  o  prefente  Texto 
dos  Reis  j  c  a  Roberto  Bellarmino  no  Livro  I. 
De  Verbo  Dei  ^  Capitulo  V. 

Por  ultimo  te  advirto  ,  Leitor  meu  ,  que  íc 
lendo  a  Pineda  De  Rcbus  Salomonis ,  achares  entre 
os  tcítcmunhos  da  falvaçáo  de  Salamáo  ,  citadas 
como  Monumentos  antigos  as  Laminas  de  Grana- 
da ,  eftejas  de  fobre  avilo,  que  citas  Laminas  def- 
cobertas  no  anno  de  i5í>5.  junto  áquella  Cidade 
noíitio  que  chamáo  Falparaizo  ^  moíhou  depois  o 
tempo  ,  que  eráo  obra  d^  máo  moderna ,  e  de  máo 
impoftora  :  e  que  os  Papas  ínnocencio  X.  ,  c  In- 
no.cncio  XI.  as  condemnáráo  como  apocryías  ,  fin- 
idas ,  e  cheas  de  crr.bufte?  ,  c  impiedades ,  como 
oje  he  notório  a  iodos  os  Eruditos  d'Herpdnha 
pelos  Efcritos  de  D.  Nico'áo  Antonio,  de  D.  Joáo 
dc  Ferreras,  e  de  Fr.  Jacinto  Segura.  Pkreika. 


112 


Reis. 


CAPITULO  XII. 

Rohoãõ  dd  lugar  dfeparação  das  dez  Tri' 
bus  ,  que  elegem  a  Jerobeão  por  Jèu  Rei. 
Roboào  fe  prepara  para  fazer  guerra 
a  [jerohoão.  O  P  roje  ta  Semeias  lho  pro» 
híhe.  Culto  Ímpio  dos  Bezerros  d^  ouro 
eftabelecido  por  Jeroboão. 

'  I   I    Nrão  veio  Roboao  a  Siquem  : 
jL>  porque  todo  o  Ifrael  le  tinha 
alli  ajuntado  para  o  conftituir  Rei, 

2  Porém  Jeroboão  filho  de  Nabat, 
que  ainda  fe  achava  no  Egypto  ,  para 
onde  fe  tinha  refugiado  por  medo  de 
Salamão,  fabendo  que  elte  era  morto, 
voltou  daquclle  reino, 

3  donde  lhe  tinhao  mandado  dizer 
que  fe  recolheíTe.  Veio  pois  Jeroboão 
com  todo  o  Povo  d'  Ifrael  a  Roboao , 
e  lhe  diílerão : 

4  Teu  pai  nos  tinha  pofto  ás  coftas 
hum  jugo  duriííimo  :  tu  pois  agora  di- 
minue  alguma  coufa  da  dureza  do  go- 
verno de  teu  pai  5  e  daquelle  pezadiífi- 
mojugo,  qucelle  tinha  pofto  fobrenós, 
e  nós  te  ferviremos.  Ro- 


L I  y.  IIL   C  A  p.  XII.    1 1 55 

5:  Roboão  lhes  rcfpondeo :  Ide- vos , 
c  ao  terceiro  dia  tornai  a  vir.  Tcndo-fc 
retirado  o  Povo  ^ 

6  teve  o  Rei  Roboão  confelho  com 
os  velhos,  que  fazião  Corte  a  Salamão 
fcu  pai ,  quando  efte  ainda  vivia  ,  e  lhes 
diíTc:  Que  refpofta  me  aconfelhais  vós 
que  eu  dê  a  efte  Povo? 

7  EUes  lhe  refpondêrâo :  Se  tu  ago- 
ra obedeceres  a  efte  Povo,  e  lhe  cede- 
res ,  condefcendendo  com  a  fua  peti- 
ção, c  fallando-lhe  com  brandura,  cl- 
Ics  fe  entregaráo  ao  teu  ferviço. 

8  Porém  Roboão  não  approvando 
o  confelho,  que  lhe  tinhão  dado  os  ve- 
lhos, quiz  confultar  os  moços  (a)  que 
tinhão  lido  criados  com  elle,  eque  lhe 
aíTiftião,  e  lhes  dilFe: 

Tom.  VI.  H  Que 

(4)  Que  tinhão  fido  criados  com  el!e.  Era  efte 
hum  coftume  dos  Príncipes  Oricntaes  ,  que  ainda 
hoje  fc  pratica  nas  Cortes  da  Europa ,  fazerem  edu- 
car feus  filhos  com  05  Moços  Fidalgos  da  mefma 
idade.  Aílim  foi  criado  no  Egypto  Sefoftris  por  tcf- 
temunho  de  Diodoro  de  Sicilia.  Aflim  os  Prínci- 
pes da  Perfia  ,  fegundo  lemos  cm  Xenofonte.  Af- 
fim  Alexandre  Magno  em  Macedónia  ,  como  he 
expreíío  no  principio  da  Hiftoria  dos  Macabcos, 


114  Reis. 

9  Qlic  refpofta  me  aconfelhais  vós 
que  eu  dê  a  elte  Povo,  que  veio  dizer- 
me:  Adoça  hum  pouco  o  jugo,  que  teu 
pai  poz  fobre  nós  ? 

10  E os  moços  j  que  tinhão  fido  cria- 
dos com  elle  ,  lhe  refpondcrao  :  Eis- 
aqui  a  refpofta  que  tu  deves  dar  a  cftc 
Povo,  que  te  veio  dizer:  Teu  pai  fez 
o  noíTo  jugo  pezadiíEmo  ;  nós  te  pedi- 
mos que  nos  alivieis :  o  meu  dedo  mé- 
minho  he  mais  groflb  do  quer  o  coftado 
de  meu  pai. 

1 1  Agora  pois  refpondendo  ao  que 
vós  dizeis ,  meu  pai  impoz-vos  hum  ju- 
go ;  e  eu  ainda  lhe  accrefccntarei  o  pe^ 
zo.  Meu  pai  açourou-vos  com  correias  ; 
e  eu  açoutar-vos-hei  (^)  com  efcor- 
pióes. 

íz  Jeroboáo  pois  com  todo  o  Po- 
vo voltou  a  Roboao  no  terceiro  dia, 
conforme  o  que  Roboao  lhes  tinha  di- 
to :  Tornai  a  vir  ter  comigo  ao  terceiro 
dia. 

R 

(^)  Com  efcorpíôes.  Ifto  he,  com  varas  de  fer- 
ro ,  que  ferem ,  e  rafgáo  com  as  fuas  pontas ,  co- 
mo o  cfcorpiáo ,  ou  lacráo  com  â  fua  cauda.  F£- 


Liy.  líl.    Cáp.  XIL  US 

Í3  E  o  Rei  refpondeo  dafártience 
aòPovo;  c  deixando  o  confelhd  que  os 
velhos  lhe  tinhão  dado , 

14  lhes  fallou  conforme  ò  que  lhe 
tinhão  aconfelhado  os  moços  ,  e  lhes 
diíTe:  Meu  pai  impoz-vos  hum  jugo  pe- 
zado  ;  e  eu  ainda  lhe  accrefcentarei  a 
pezo  :  meu  pai  açoutou-vos  com  cor- 
reias ;  e  eu  açoutar-vos-hei  com  varas 
de  ferro. 

ij  E  riãodeo  o  Rei  ouvidos  ao  Po- 
vo ,  porque  o  Senhor  tinha  apartada 
delle  a  fua  face  j  para  verificar  a  pala* 
vra  que  havia  dito  a  Jeroboão  filho  dc 
Nabat,  pelo  Profeta  Ahias  de  Silo. 

16  Yeiído  logo  o  Povo  que  o  Rei 
ò  não  queria  ouvir  5  refpondeo,  dizendo  í 
Qlic  parte  temos  nós  com  David  ,  ou 
que  herança  no  filho  d'  Ifai  ?  Vai-tc 
pois  para  as  tuas  tendas  ^  ó  Ifrael ;  e 
tu,  ó  David  ,  tratíi  agora  da  tua  cafa. 
E  Ifrael  fe  retirou  para  as  fuas  ten« 
das. 

17  E  reinou  Roboão  fobre  todos  08 
filhos  d^Ifrac^  que  habitavao  nas  cida- 
des de  Juda. 

H  ii  En- 


Reis. 


18  (c)  Enviou  pois  o  Rei  a  Adu- 
rão  j  que  tinha  a  fuperintendencia  dos 
tributos  :  mas  todo  o  Ifrael  o  apedre- 
jou ,  e  elle  morreo.  E  o  Rei  Roboão 
a  toda  a  preíTa  montou  no  feu  coche ,  e 
fugio  para  Jerufalcm. 

19  (^)  E  Ifrael  fe  feparou  da  cafa 
de  David  até  o  dia  d' hoje. 

20  E  foi  aílím  que  quando  todo  o 
Ifrael  ouvio  que  Joroboao  tinha  volta- 
do y  congregados  todos  em  Cortes  o 
mandarão  chamar ,  e  o  acclamárão  Rei 
fobre  todo  o  Ifrael :  c  não  houve  alguém 

que 

•  (f  )  Ênviou  pois  o  Rei  a  A  durão,  &c.  Náo  de- 
clara a  Efcritura  a  que  o  mandou.  Dc  Carrieres, 
feguindo  a  Sanches ,  julga  que  foi  a  cobrar  do  po- 
vo os  tributos  coftumados.  Calmet ,  que  a  apazi- 
guar o  povo  rebellado.  Mas  talvez  que  o  fim  prin- 
cipal do  Rei  náo  foíTe  outro ,  que  o  de  tentar  co- 
mo o  Povo  recebia  a  Aduráo  ,  para  pela  fortuna 
que  o  Miniftro  correíTe  ,  conjedurar  qaal  feria  a 
fua.  Pereira. 

{d)  E  Ifrael  fe  feparou  da  cafa  de  David ,  é-c. 
O  duro  governo  de  Roboão  deo  caufa  á  rebelliáo 
das  dez  Tribus.  Peccou  Roboáo  vexando  com  tri- 
butos o  Povo  :  mas  o  Povo  náo  deixou  de  pcccar , 
rcbellando-fe  do  feu  legitimo  Rei  por  caufa  dos 
tributos.  Períira. 


Liv.  III.    Cap.  XII.  117 

que  fcguifle  a  cafa  de  David  ,  (e)  fe- 
não  fomente  a  Tribu  de  Juda. 

21  Veio  pois  Roboão  a  Jcrufalem  ,  Anno 
e  fez  ajuntar  toda  a  cafa  de  Juda ,  e  a^^^- 
Tribu  de  Benjamim,  (/)  cento  e  oitenta  l^^^^ 
mil  homens  efcolhidos  de  guerra ,  para  chr. 
pelejar  contra  a  cafa  d'Ifrael  ,  e  redu- í^74- 
zir  o  Reino  á  obediência  de  Roboão, 
filho  de  Salamão. 

22  Então  dirigio  o  Senhor  a  fua  pa- 
lavra a  Semeias  homem  dcDeos,  c  lhe 
diílc : 

23  Falia  a  Roboâo  filho  de  Sala- 
mão, Rei  de  Juda  ,  e  a  toda  a  cafa  dc 
Juda ,  c  á  Tribu  dc  Benjamim  ,  c  a  to- 
do o  refto  do  Povo ,  e  dize-lhes : 

24  Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor: 
Não  vos  ponhais  em  campanha  ,  nem 
façais  guerra  aos  filhos  d'lfrael  ,  que 

são 

(e)  Senão  fmente  a  Tribu  de  Juda,  Pelo  verfo 
fcgundo  confta  que  também  a  Tribu  dc  Benjamim 
ficou  na  obediência  de  Roboáo.  Mas  cila  Tribu 
comprehcndc-íe  na  dc  Juda ,  como  parte  no  todo , 
como  acceíTorio  no  principal  :  porque  a  Tribu  dc 
Juda  era  mais  célebre  entre  todas  ,  c  a  que  domi- 
nava o  reino,  c  depois  toda  a  naçáo.  PEnEiiiA. 

(/)  Cmo  eoiuntd  milíiomcns  efcolhidos.  Os  Se- 
tenta dizem  cmo  ç  vinte  mil  homens,  Duhamel. 


ti8  Rei  s. 

vsão  voíTos  irmãos  :  cada  hum  torne  par^ 
fua  cala  :  porque  cu  he  que  fiz  ifto.  Ou- 
virão elles  a  palavra  do  Senhor,  e  fe  re- 
tirarão da  fua  jornada  ,  conforme  o  Se- 
nhor lhes  havia  mandado. 

25-  Ora  Jcroboão  reedificou  a  Si- 
quem  fobre  o  monte  d' Efraim  ,  e  alli 
eÍLabeleceo  a  fua  morada:  depois  tendo 
fahido  daqui  5  reedificou  a  Fanuel. 

^6  Entretanto  diíTeJeroboao  lá  com- 
iigo :  Agora  tornara  o  reino  para  a  caf^ 
dc  David  5 

27  fceftePovo  for  ajeruf^lem,  pa- 
ra lá  oíFerecer  facrificios  na  cafa  do  Se- 
nhor :  o  coração  defte  Povo  tornará  en^ 
tão  para  Roboão  Rei  de  Juda  ;  c  elles 
me  matarão  ,  e  fe  voltarão  para  elle. 

28  E  depois  de  ter  bem  confidera- 
ído  a  coufa  ,  {g)  fez  dous  bezerros  d' 
ouro,  ediíTe  ao  Povo:  Não  torneis  mais 
a  ir  a  Jerufalem  :  {h)  Eis-aqui  ,  ó  Ifc 

rael , 

(^)  Fez  ãous  bezerros  d' ouro ^  é'C.  Como  ho- 
mem 5  que  havia  pouco  rinha  vindo  do  Egypto, 
onde  a  deosApis  era  íidoradp  na  figura  d' hum  no? 

VilHo,  DuHAMEL. 

(/;)  Eis-aqui  ^  o  Jfracl ,  os  teus  deofes,  &c.  As 
íiiermas  palavras  fe  dilTeráo  huns  a  outros  os  lí? 


Liv.  III.    Cap.  XII.  119 

rael,  os  teus  deofes,  que  te  tirarão  do 
Egypro. 

29  (O  ^  poz  hum  em  Bethel,  ou- 
tro em  Dan: 

30  o  que  foi  huma  occafiao  de  pec- 
cado  :  porque  cfte  Povo  hia  até  Dan , 
para  lá  adorar  o  bezerro. 

31  Levantou  outrofi  Templos  nos 
Altos,  e  cftabeleceo  para  Sacerdotes  os 
Ínfimos  do  Povo ,  que  nao  erao  filhos  de 
Levi. 

32  Ordenou  também  hum  dia  dc 
Fcíla  no  oitavo  mez  y  no  dia  decimo 
quinto  do  mèz  ,  á  fcmellunça  da  fole- 
mnidade,  (k)  que  fe  celebrava  em  Ju- 
da.  E  fubindo  ao  Altar  ,  o  mefmo  fez 
em  Bethel  ,  offereccndo  facrificios  aos 
bezerros,  que  tinha  fabricado  :  e  efta- 

be- 

faelitas,  quando  Aráo  no  dcferro  lhe  fez  o  primei- 
ro bezerro  d' ouro,  á  imitação  do  que  adoraváo  os 
E^ypcios.  Exod.  xxxn.  4.  Pereira. 

( i )  £  poz  hum  m  Bcthcl ,  outro  cm  Dan.  Cada 
hum  em  íua  extremidade  do  reino.   De  Carri e- 

RES. 

(^)  Qj^í*  fe  celebrava  em  'Juda.  No  fetlmo  mez 
a  Fefta  dos  Tabernáculos.  Levit.  xxiii.  24.  DeCar- 

ILIEKES, 


lao  R  K  I  s. 

bcleceo  cm  Bethcl  Sacerdotes  dos  Al- 
tos que  edificara. 

33  Ao  decimo  quinto  dia  do  oita- 
vo mez,  que  elle  tinha  feito  folemnc  á 
fua  fantazia,  fubio  Jeroboao  ao  Altar, 
que  tinha  conftruido  em  Bethel  ,  e  fez 
fazer  huma  folemne  feita  aos  filhos  d* 
Ifrael  ;  e  fubio  ao  Altar  para  oíFerccer 
o  incenfo. 

CAPITULO  XIIL 

Hum  Profeta  prediz  diante  de  Jerohoa» 
o  merecimento  de  Jofias ,  e  a  dejiruição 
dos  Altos,  EJic  mefmo  Profeta  he  mor- 
to  for  hum  leão  ,  por  ter  defobedecido 
ao  mandamento  de  Deos.  Jeroboao  per* 
Jijle  na  fua  impiedade, 

I     A   O  mefmo  tempo  que  Jeroboao 
jLJLeílava  fobre  o  Altar,  e  lança- 
va o  incenfo,  {a)  eis-quc  hum  homem 

de 

Eis- que  hum  homem  de  Deos  veio  de  Juda^ 
fb^c,  joíé  Hcbreo  nas  fuas  Antiguidades  ,  chama- 
Ihe  ^addon :  TertuUiano  no  Livro  dos  Jejuns ,  Se* 
tneiíts :  S.  Jcronymo  fobre  os  Paralipomcnos ,  Jad- 
do:  o  Cardeal  Hugo,  Mdo.  O  Author  do  Livro 


Lir.  III.    Cap.  XIIL  121 

de  Dcos  veio  de  Juda  a  Bethel  por  or- 
dem do  Senhor, 

2  e  exclamou  contra  o  Altar  ,  di- 
zendo aíllm  da  parte  do  Senhor:  Altar, 
Altar  ,  eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor: 
{b)  Na  cafa  de  David  nafcerá  hum  fi- 
lho, que  fe  chamará  Jofias ,  e  elle  de- 
goUará  fobre  ti  os  facerdotes  dos  Al- 
tos, que  agora  queimao  fobre  ti  incen- 
fos  ,  e  queimará  fobre  ti  oflbs  d' ho- 
mens. 

3  E  cm  prova  do  que  predizia ,  ajun- 
tou :  Eis-aqui  o  final  por  onde  fe  co- 
nhecerá, que  o  Senhor  he  quem  fallou: 
o  Altar  fe  partirá  ,  c  a  cinza  que  eftá 
por  fima  fe  efpalhará. 

4  E  o  Rei  tendo  ouvido  cftas  pa- 
lavras ,  que  o  homem  de  Deos  proferia 
cm  alta  voz  contra  o  Altar  que  citava 
cm  Bethel ,  eftendeo  a  fua  mão  des  do 
Altar,  dizendo:  Prendci-o.  E  no  mcf- 

mo 

I>A  Morte  dos  Profetas  ,  que  corre  cm  nome  dt 
Santo  Epifânio,  João,  Menoquio. 

Na  cafa  de  David  nafcevâ  bum  filho  ,  <5^r. 
O  complemento  deftc  vaticínio  íobre  o  que  havia 
de  fazer  Jofias,  vio-fe  dahi  a  trezentos  c  fincoenu 
arnios.  iv.Reg.  xxiii.  15.  Fsrsiha. 


111 


Reis. 


mo  tempo  a  mão  ,  que  elle  eftendcra 
contra  o  homem  de  Deos  ,  fe  feccou, 
€  elle  a  não  podia  trazer  a  fi. 

f  O  Altar  também  logo  fc  partio 
em  dous ,  e  a  cinza  que  eftava  cm  lima 
fe  efpalhou  conforme  o  final  que  o  ho- 
mem  de  Deos  tinha  dado  em  Nome  do 
Senhor. 

6  Então  difle  o  Rei  ao  homem  de 
Deos :  Faze  oração  ao  Senhor  teu  Deos , 
e  roga-lhe  por  mim  ,  que  me  reílitua  a 
minha  mão.  E  o  homem  de  Deos  fez 
oração  ao  Senhor  ,  e  o  Rei  trouxe  a 
íl  a  fua  mão  ,  e  ella  ficou  como  antes 
era. 

7  DiíTe  mais  o  Rei  ao  homem  de 
Deos:  Vem  jantar  comigo  a  minha  ca- 
fa  5  e  eu  te  farei  meus  prefentes. 

8  E  o  homem  de  Deos  refpondeo 
ao  Rei:  Ainda  quando  tu  me  houveíTes 
de  dar  ametade  da  tua  cafa  ,  cu  não  irei 
comtigo  5  nem  comerei  pao  ,  nem  be- 
berei agua  nefte  lugar: 

9  porque  affim  me  foi  mandado  da 
parte  do  Senhor  ,  que  me  deo  efta  or- 
dem :  Tu  não  comerás  pão ,  nem  bebe- 
rás 


Liv.  III.    Cap.  XIII.  123 

rãs  agua  ,  nem  voltarás  pelo  caminho 
por  onde  viefte. 

10  Elie  pois  fe  foi  por  outro  cami- 
nho, e  não  voltou  pelomeímo,  porque 
tinha  ido  a  Bethel. 

11  Ora  em  Bethel  (c)  morava  hum 
velho  Profeta  ,  ao  qual  feus  filhos  vie- 
rão  dizer  todas  as  obras ,  que  o  hom.em 

de 

(f)  Morava  hum  velho  Profeta.  Sobre  que  caf- 
la  de  Profeta  era  eíte  ,  ha  grande  difcrepancia  dc 
pareceres.  O  Auihor  da  Hiltoria  Eícolaltica ,  e  o 
da  Gloza  Ordinária  tem  para  íi ,  que  era  hum  Adi- 
vinho,  ou  Profeta  fingido.  No  que  elles  íe^uíráo 
ao  Parafraftes  Caldco  ,  que  diz  aííim  :  Frcpheta 
mendax  unus  fitiex:  accrefcentando  que  fe  chamava 
Mkâl ,  ou  como  outros  trazem ,  Micjueas,  To(ta- 
do ,  Sanches,  e  Corneho  A  Lapide  crera,  que  era 
verdadeiro  Profeta  do  Senhor,  mas  ímpio,  emáo, 
como  o  fora  Balaão  em  tempo  de  Mcyfés ,  e  co- 
mo outros  do  numero  daquelics  ,  que  no  dia  do 
Juízo  háo  dizer  ao  Senhor :  (  Matth.  vn.  22.  )  Non* 
tic  in  noimne  tua  prophetavimus  ?  E  o  Senhor  !hc  ha 
de  refponder :  Qida  nunquam  íiovi  vos,  Thcodorcro 
o  defculpa  com  dizer  que  era  hum  homem  rude  , 
e  fimplcs ,  que  ouvindo  dizer  que  aquelle  homem 
de  Deos  viera  a  Roboáo ,  quiz  ir  vello,  e  com  o 
convite  que  lhe  fez ,  merecer  a  fua  benção  :  por- 
que cuidou  que  a  prohibiçáo  de  náo  comer  cm 
Bethel,  que  o  Senhor  lhe  intimara,  era  ló  dc  náo 
comer  em  cafa  de  Jeroboáo  ^  ou  na  d' algum  l'os 
feus  apaniguados :  c  com  o  mcfmo  cnganp  íc  per* 


it4  Reis. 

de  Deos  tinha  feito  aqucllc  dia  em  Bc- 
thcl ;  e  contarão  a  feu  pai  as  palavras  , 
que  ellc  tinha  dito  ao  Rei. 

12  E  o  pai  IhesdiíTe:  Porque  cami- 
nho fe  foi  ellc  ?  E  os  filhos  lhe  moítrá- 
rao  o  caminho  por  onde  voltara  o  ho- 
mem de  Deos,  que  tinha  vindo  de  Ju- 
da. 

13  Eelle  diíTc  afeus  filhos:  Appa- 
rclhai-me  o  meu  burro.  E  como  o  ti- 
veíTem  apparclhado  ,  montou  nelle , 

14  e  foi  apôs  o  homem  de  Deos, 
ao  qual  achou  aíTentado  debaixo  d'huni 
terebyntho  ,  e  lhe  diíTe  :  Tu  es  o  ho- 
mem de  Deos,  que  viefte  dejuda?  El- 
lc lhe  refpondeo :  Sou  o  mcfmo. 

15'  E  elle  lhe  diíTe  :  Vem  comigo 
a  cafa  a  comer  pão. 

16  O  homem  de  Deos  lhe  refpon- 
deo: Não  poíTo  voltar  ,  nem  ir  comti- 
go :  nem  eu  comerei  pão ,  nem  beberei 
agua  neftc  lugar: 

.  17    porque  o  Senhor  com  palavras 

ver- 

fuadio  ,  que  lhe  era  lícito  ufar  d' alguma  mentira 
oíHciofa ,  a  íim  dc  trazer  o  homem  dc  Deos  a  íua 
tl  caía.  PfiREiRA, 


Liv.  III.   Cap.  XIIL  125- 

verdadeiramente  fuas  me  mandou  ,  di- 
zendo: Nâo  comerás  pão,  nem  beberás 
agua  neíTe  lugar,  nem  voltarás  pelo  ca- 
minho, porque  tiveres  ido. 

18  Aquclle  homem  lhe  refpondeo: 
Eu  também  fou  Profeta  como  tu;  ehum 
Anjo  me  veio  dizer  da  parte  do  Senhor: 
Leva-o  comtigo  a  tua  cafa  ,  para  que 
elle  coma  pão,  e  beba  agua.  (d)  En- 
ganou-o , 

19  e  Icvou-o  comfigo.  O  homem 
de  Deos  pois  comeo  pão  cm  fua  cafa, 
e  bebeo  agua. 

20  E  quando  clles  ellavâo  ámeza, 
fez  o  Senhor  ouvir  a  fua  palavra  ao  Pro- 
feta, que  o  tinha  feito  voltar, 

21  c  exclamou  ,  e  diíTe  ao  homem 
de  Deos,  que  tinha  vindo  de  Juda  :  Eis- 
àqui  o  que  diz  o  Senhor :  Porque  tu  não 

obc- 

(íí)  Enganou-o,  Para  naofer  enganado,  dcvêra 
advertir  o  homem  de  Deos  ,  que  tcndo-Ihe  o  Se- 
nhor prohibido  táo  expreíTamente  que  náo  voltaf- 
fe  ,  nem  entraíTc  a  comer  ,  ou  beber  em  cafa  dc 
ninguém ,  Te  náo  devia  fazer  cafo  nem  do  dito  d' 
hum  Anjo  ,  conforme  o  que  depois  cfcreveo  Sáo 
Paulo  aos  Gálatas :  Se  hum  Anjo  do  Ceo  vos  evan* 
gelizar  o  contrario  do  que  eu  vos  evangelizd  ,  ten» 
de-o  por  hum  exçommungado,  Pkreira. 


it6  Rei 

obedecefte  á  palavra  do  Senhor,  e  naa 
guardafte  o  mandamento,  que  o  Senhor 
teu  Deos  te  tinha  pofto  ; 

2z  e  voltafte  ,  e  comefte  pão  ,  e 
bebeíte  agua  no  lugar  em  que  te  man- 
dou ,  que  não  comeíTes  pão  ,  nem  be- 
beíTes  agua  :  o  teu  corpo  morto  (e) 
não  ferá  levado  ao  fepulcro  de  teus 
pais. 

23  E  logo  que  ò  homem  de  Deos 
comeo,  e  bebeo,  mandou  o  velho  Pro- 
feta apparelhar  o  feu  burro  para  o  Pro- 
feta ,  a  quem  tinha  feito  voltar. 

24  E  quando  o  homem  de  Deos  hia 
no  caminho  ,  hum  leão  fahindo-lhe  ao 
encontro  (f)  o  matou,  e  o  feu  cadáver 

fi- 

(e)  Não  fera  levado  ao  Jepnkro  de  teu  pai.  Era 
efte  hum  grande  caftigo  para  hum  Hebrco  ,  cm 
cuja  Naçáo  procuraváo  todos  os  pais  de  família  ter 
feus  jazigos  próprios,  em  que  fe  enrerraíTem  elles , 
c  feus  defcendentes ,  como  hc  notório  pelos  fepul- 
cros  dos  Tantos  Patriarcas ,  que  fe  referem  no  Ge- 
nefis.  Pereira. 

(/)  O  matou»  Por  efte  caftigo  tão  grande  pode- 
fá  alguém  perfuadir  fe  qae  opeccado  defte  homem 
de  Deos  fora  mortal  ;  mas  as  circumftanclas  cm 
que  elle  defobedeceo  ao  divino  preceito ,  fazem  que  o' 
sommum  dos  Padres  3  c  Thcologos  reputem  efte  pee* 


Liv.  III.    Gap.  XIII.  117 

ficou  eftendido  no  caminho.  E  o  burro 
eftavâ  parado  jurito  a  elle  ;  c  o  leão  fi- 
cou ao  pé  do  cadáver. 

25*  Eis-que  pairando  por  alli  certos 
homens,  virão  o  cadáver  eftirado  no  ca- 
minho ,  e  o  leão  pofto  ao  pé  do  cadá- 
ver: e  forão,  e  o  publicarão  na  Cida- 
de ,  onde  morava  o  velho  Profeta. 

a  6  Tendo  ifto  ouvido  o  Profeta  ,  que 
o  tinha  feito  voltar  do  caminho ,  dilte: 
He  o  homem  deDeos,  que  foi  defobe- 
diente  á  palavra  do  Senhor,  e  o  Senhor 
o  entregou  a  hum  leão  ,  que  o  defpe- 
daçou,  e  o  matou,  conforme  a  palavra 
que  o  meímo  Senhor  lhe  tinha  dito. 

27  E  diíTe  a  feus  filhos  :  Apparelhai- 
me  o  burro.  O  que  tendo  elles  feito, 

28  fe  partio  dalli ,  e  foi  achar  o  ca- 
dáver eftendido  no  caminho  ,  e  o  bur- 
ro, 

cado  fó  por  venial ,  para  não  deixar  dc  morrer  juf- 
to,  e  em  ^raça  de  Deos.  Allim  Santo  Agoftinbo 
no  Livro  DcCura  Gerenda  pro  Mortuis  y  Cap.  Vil, 
Num,  9. ,  o  Abbade  Sereno ,  alienado  por  Caflia- 
no  na  Collaçáo  VII.  ,  Cap.  XXVI,  (c  náo  na 
Collaçáo  IV.,  Cap.  XXIV.  como  falfamente  o  ci- 
tou Menoquio  )  e  S.  Gregorio  Magno  no  Livro  IV» 
dos  Diálogos ,  Cap.  XXIV.  Pereira, 


128 


Reis. 


ro  ,  e  o  leão  poftos  ao  pé  do  cadáver: 
náo  tinha  o  leão  comido  do  cadáver, 
ncni  feito  mal  ao  burro. 

29  E  pegou  pois  o  Profeta  do  ca- 
dáver do  homem  de  Deos ,  e  o  poz  cm 
lima  do  feu  burro  ,  e  o  levou  á  cidade 
delle  velho  Profeta  para  o  chorar. 

30  E  mctteo  o  cadáver  no  feu  fe- 
pulcro,  e  elles  o  choravão. 

31  E  depois  de  o  terem  pranteado , 
diiTe  ellc  a  feus  filhos  :  Quando  cu  mor- 
rer 5  fepulcai-me  no  fepulcro  ,  cm  que 
foi  enterrado  o  homem  de  Deos :  pon- 
de os  meus  oflbs  ao  pé  dos  oflbs  dclle. 

32  Porque  o  que  elle  prcdifle  da 
parte  do  Senhor  contra  o  Altar,  que  ef- 
tá  em  Bethcl ,  e  contra  todos  os  Tem- 
plos dos  Altos  y  (g)  que  cxiftem  nas 

ci- 

(^)  Q.^^  exijlem  nas  cidades  de  Samaria.  Sc  o 
velho  de  Bethei  fe  fervio  dcftas  mefmiflimas  pala- 
vras ,  náo  fc  pôde  negar  que  era  verdadeiro  Profe- 
ta que  fallava  infpirado  por  Deos.  Porque  a  cftc 
tempo  ainda  o  Reino  das  dez  Tribus  fe  náo  cha- 
mava Reino  de  Samaria :  vifto  que  efte  nome  o  te- 
ve elle  da  cidade  de  Samaria ,  que  Amri  Rei  d  lf- 
rael  fundou  dahi  a  íincoenta  annos.  m.  Reg.  xvi» 
24.  Mas  os  que  feguem  que  efte  velho  de  Bethei 
era  hum  mero  Adivinho,  ou  Profeta  fingido,  rc» 


Liv.  III.   Caf.  XIIL  Í2^ 

cidades  de  Samaria  ,  certiffimamente  af- 
fim  ha  de  vir  a  ler. 

33  (/;)  Depois  deftas  cõufas  não  fe 
convcrteo  Jeroboão  da  fua  peíEma  vida  : 
antes  ao  contrario  dos  Ínfimos  do  Povo 
fez  Sacerdotes  dos  Altos.  Todo  o  que 
queria,  (i)  enchia  a  fua  mão,  ecra  fei- 
to Sacerdote  dos  Altos. 

34  Eíle  foi  o  peccado  da  cafa  de 
Jeroboão  ,  é  o  porque  ella  foi  deílrúi- 
da^  e  extiníla  da  face  da  terrai 

Tom.  VI.  r  CA- 

fpondem  que  clle  não  nomeara  Samaria ;  màs  que 
cfte  riome  lho  poz  na  boca  o  Sagrado  Eícritor  def» 
te  Livro ,  artendendo  ao  que  paliava  já  no  feu  tcm^ 
pO.  Pereira. 

Depois  ciejlas  coufas ,  &c.  Depois  de  tan- 
tos prodigios  obrados  por  Deos  á  vifta  dos  fcús 
olhos,  náo  fc  mudou  Jeroboáo  nada  do  feu  peílí- 
mo  procedimento :  para  daqui  entendermos  que  pa- 
ra o  peccador  náo  ter  dcículpa  das  fuás  impieda- 
des ,  baftáo  Os  milagres  que  Deos  obra  na  íua  pre- 
fença;  ma»  que  para  elle  fe  converter,  hc  ncceíTa- 
ria  de  mais  a  mais  a  graça  interior,  que  o  loque^ 
C  mova.  Pereira. 

(/)  Enchia  a  fua  mao,  Ifto  he,  vinha  reveftído 
das  Veftes  Sacerdoraes ,  trazendo  namáo  humah&Ç* 
<iaj  copio  oífetta.  Pereira* 


130 


Reis* 


CAPITULO  XÍV. 

Envia  Jcroboão  fua  mulher  a  confultar  ó 
Profeta  Abias  fobre  a  doe?: ca  de  feu 
filho.  Morte  de  Jeroboão,  Succede-lhe 
Nadab.  Sefac  Rei  do  Egypto  defpoja  o 
Templo  de  Jerufalenu  Morre  íioboãoi 
fuccede-lhe  Abião, 

I  l\Tx\quc!le  tempo  cahio  doente 
JL^  Abia  filho  de  Jeroboão. 

2  E  Jeroboão  dlífe  a  faa  mulher: 
Levanta-te,  muda  de  trajo,  para  fe  não 
conhecer  que  es  mulher  de  Jeroboão,  e 
vai  a  Silo,  onde  eftá  o  Profeta  Ahias, 
que  me  prediue  que  eu  reinaria  fobre 
efte  Povo. 

3  Leva  comtigo  dez  pães ,  e  huma 
torta ,  e  huma  botija  cheia  de  mel ,  e 
vai  ter  com  c!le :  porque  elle  temoftra- 
rá,  que  he  o  que  tem  d'acontecer  a  efte 
menino. 

4  Fez  a  mulher  de  Jeroboão  o  que 
cUe  lhe  tinha  dito:  partio  logo  para  Si- 
lo ,  e  foi  a  cafa  d'Ahias.  Mas  Ahias 
não  podia  ver ,  porque  os  ollios  fe  lhe 

ti-* 


Liv.  líf.    Cap.  Xlt.  Í3t 
tinhão  efcurecidò  porcaufa  da  fua  mui- 
ta idade. 

5-  O  Senhor  porém  dilTe  a  Ahias: 
Eis-ahi  vem  a  mulher  dejeroboao  con- 
íultar-té  fobre  feu  filho,  que  eílá  doen- 
te. Tu  lhe  dirás  iílo  eifto.  Como  a  mu- 
lher de  Jeroboáo  entraíTe  diíEmulando 
quem  era  j 

6  Ahias  ao  entrar  ella  ouvio  o  ef- 
trondo  dos  feus  pés,  e  lhe  difíe  :  En- 
tra 5  mulher  de  Jeroboão :  porque  finges 
tu  feres  outra  ?  mas  eu  fui  enviado  para 
dar-te  huma  dura  nova. 

7  Vai,  e  dize  a  Jeroboáo:  Eis-aqui 
o  que  diz  o  Senhor  Deos  d' Ifrael ;  Eu 
te  elevei  do  meio  dos  Ifraelitas  ,  e  eu 
te  conftitui  Chefe  do  meu  Povo  d'If- 
rael , 

8  e  dividi  o  reino  da  cafa  de  Da- 
vid, eto  dei  a  ti:  etu  depois  difto  não 
fofte  como  meu  fervo  David,  que  guar- 
dou os  meus  mandamentos  ,  e  que  me 
feguio  de  todo  o  feu  coração  ^  fazendo 
o  que  me  era  agradável : 

9  mas  obrafte  maiores  males  do  que 
todos  quantos  tem  havido  antes  de  ti  j 

I  Ú  6 


rja  R  È  I  s. 

e  forjafte  para  ti  deofcs  eílrangeiros  ,.  ô 
fundidos,  para  mc  provocares  a  ira  ,  c 
a  miíTi  lançafíe-me  para  trás  das  coitas. 

10  Por  líio  cu  i.nduzirei  tí)da  a  caf^ 
ta  de  males  íbbre  a  cafa  de  Jcroboao , 
e  farei  morrer  da  cafa  de  Jeroboão  (<í  ) 
até  o  que  ounna  á  parede;  (i?)  e  até  o 
encerrado  ,  (í*)  e  até  o  ultimo  era  IP* 
rael  :  e  varrerei  os  refiduos  da  cafa  de 
Jcroboao  ^  como  fe  eofcuma  varrer  o  ef- 
terço  até  nao  ficar  raftro. 

1 1  Os  da  cafa  de  Jeroboão ,  que  mor^ 
rercm  na  cidade  ,  ferao  comidos  dos 
cães  ;  e  os  que  morrerem  no  campo  ,  fe- 
rao  comidos  das  aves  do  Ceo  ,  porqua 
o  Senhor  he  quem  fallou. 

12  Vai-te  pois  ,  e  torna  para  tua 
cafa  ;  e  ao  mefmo  tempo  que  pozeres 
os  pés  na  Cidade  y  morrerá  o-  naenino , 

e 

Até  o  queowina  a  parede,  lílo  hc,  aréhum 
cão,  animal  de  quem  hc  propríó  ourinar  á  pareJe. 

Qb)  E  até  o  encenado.  Tfto  he,  o  mais  precio 
fo ,  c  como  tal  mais  rcrcatado.  Pereira. 

(f )  E  até  o  ultimo  em  IfraeL  Ifto  hc,  o  mai? 
vil  5  e  baixo  da  cafa  de  Roboso ,  quê  íe  achíir  eíA 
Ifiael.  Pehsira. 


Liv.  IH.    Cap.  XIV.  133 

13  c  todo  o  Ifrael  o  chorará  ,  c  o 
ícpultará:  porque  íó  efte  da  cafa  deje- 
roboão  fera  mettido  no  fepulcro  ,  (d) 
vifto  que  nelle  entre  os  da  cafa  de  Je- 
roboão  achou  o  Senhor  Dcos  d'lfrael 
huma  coufa  boa. 

14  Mas  o  Senhor  conílituio  para  fi 
hum  Rei  fobre  Ifrael  ,  que  arruinara  a 
cafa  dcjeroboao  nefte  dia,  enefte  tcnir 
po. 

15"  E  o  Senhor  Deos  ferirá  a  Ifrael 
como  huaia  cana  coíluma  fcr  apitada 
nas  aguas ;  e  elle  arrancará  a  lírael  dcf- 
ta  excellente  terra  ,  que  dco  a  feus  pais , 
e  o  facudirá  para  além  do  rio  :  porque 
c!!es  ccnf^igrárao  áfua  impiedade  gran- 
des bofques  ^  para  inc  iri irarem  con- 
tra fi. 

E 

{d)  Fiílo  que  nelíe  dcbou  o  Senhor  ,  e^T.  Náo 
declara  aEícriciira  que  coufi  hoa  íoi  cíb  qiic  Dcos 
achou  ncfl-e  Príncipe.  Sutpeiíáo  os  Inrcrprercs ,  que 
tal  vez  feria  ellc  dotado  de  íingular  piedc.dc  ,  em 
conrrapoíiçáo  dos  grandes  rncrilegios  que  Jeroboáo 
fcu  pai  obrava.  O  Auihor  da  Vulgnra  exprime  á 
k-fra  o  Hebreo.  Ao  que  Saci,  e  de  Carriercs  dáo 
por  equiv;i!cnte  :  Por  quanto  o  Ser.hcr  clhou  parX 
tUe  cem  cibos  favoravsís  na  cafa  de  Jerohoão, 


Í34  Rei  s. 

j6  E  o  Senhor  enrrcgará  Ifrael  por 
cauía  dos  peccados  de  Jeroboao  ,  que 
peccou,  e  fez  peccar  a  Ifrael. 

17  A  mulher  pois  de  Jeroboão  fe 
foi  5  (e)  e  vçio  para  Therfa :  e  quando 
elia  punha  o  pé  na  entrada  da  porta  , 
morreo  o  menino. 

18  Depois  foi  elle  fepultado  ,  e  to- 
do o  Ifrael  o  chorou  ,  conforme  o  Se- 
nhor tinha  predito  pelo  Profeta  Ahias 
leu  fervo. 

19  Ornais  das  acções  de  Jeroboão , 
as  fuas  guerras  ,  e  o  modo  de  reinar, 
eílao  cfcritas  no  Livro  dos  Annaes  dos 
Rejsd'irraeL 

20  O  tempo  porém  que  reinou  Je- 
roboão, forão  vinte  edous  annos  :  c  el- 
le adormeceo  com  feus  pais,  e  em  fcu 
lugar  reinou  feu  filho  Nadab. 

21  Entretanto  RoboSo  filho  deSa- 
lamao  reinou  em  Juda.  Elle  tinha  qua- 
renta e  hum  annos ,  quando  começou  a 

rei- 

C? )  E  veio  parã  Thcrfa,  Efta  cm  no  principiq 
a  Corte  do  Reino  d' I Iraci  ;  e  efta  o  continuou  a 
fer  até  que  o  Rei  Amn  fundou  a  Cidade  de  Sama- 
ffia  ,  como  veremos  adiante ,  Cap.  XYI«  24.  Fç-? 


Liv.  líL    Cap.  XVI.  i35r 

reinar:  c  elle  reinou  dezefete  annos  na 
cidade  de  Jerufalem  ^  que  o  Senhor  ti- 
nha cfcolhido  d' entre  todas  as  Tribus 
d'Ifrael  ,  para  eílabelecer  nella  o  feu 
Nome.  Sua  mãi  chamava-fe  Naama  ^  e 
era  do  paiz  dos  Ammoniras. 

22  E  Juda  fez  o  mal  diante  do  Se- 
nhor, e  com  os  peccados  que  commet- 
terao  o  irritarão  clles  mais  ,  do  que  o 
tinhão  irritado  ícus  pais  com  os  feus 
.crimes. 

23  Porque  cllcs  mefmos  levantarão 
também  para  fi  Altares,  e  fizerão  eíta- 
tuas  .  e  bofques  em  fima  de  todas  as 
eminências  ,  e  debaixo  de  todas  as  ar- 
vores frondofas. 

24  E  até  houve  também  na  terra  (/) 
cíTeminados  ;  e  commettêrão  todas  as 
xibominaçoes  das  gentes,  que  o  Senhor 

ti- 

(/)  Ejfaninados,  lílo  hc  ,  homens  que  profli- 
-tuiáo  o  íeu  corpo  a  outros  ,  fervindo-Ihes  de  mu-' 
lhere.?.  Aííim  pelos  que  a  Vulgata  chama  cfae- 
lintiatos  ,  poz  Varablo  m  fna  Ver  áo  Sccrta'^via' 
fcida.^  Os  amigos  diriáo  Qnacdos,  Vicio  que  íen- 
do  táo  abominável  ,  como  contra  rasuram  ,  paf- 
fou  dos  Póvos  Cananeos  a  fer  entre  os  Hebrcos 
táo  defcaradamcnte  recebido ,  e  praticado ,  que  atç 


13^  Reis. 

tinha  deftruido  á  vifta  dos  filhos  d*If- 
rael. 

Anno  ^5*  Mas  no  quinto  anno  do  reinado. 
doM.  deRoboão  veio  a  Jerufalem  Sefac  Rei 

dcj  C  ^  levou  dalli  os  thefouros  da  ca- 

<^7i,  *fa  do  Senhor  ,  e  os  thcíouros  do  Rei^ 
e  roubou  tudo :  levou  tanribem  os  efcu- 
dos  d' ouro  que  Salamão  fizera, 

27  em  lugar  dos  quaes  fez  o  Rei 
Roboão  outros  de  bronze  ,  e  os  entre- 
gou nas  mãos  dos  Capitães  da  Guarda, 
e  dos  que  faziao  fentinella  diante  da> 
porta  da  cafa  do  Rei. 

2  o  E  quando  o  Rei  entrava  na  ca- 
fa do  Senhor  ,  os  que  tinhão  o  oíEcio, 
de  ir  adiante  delle ,  levaváo  eftes  efcu- 
dos ,  e  depois  os  tornavao  a  por  na  ca- 
fa das  armas, 

29  O  refto  das  acções  de  Roboão  5^ 
e  tudo  o  que  el!e  fez  ,  acha-fe  efcrito 
no  Livro  dosAnnaes  dos  Reis  de  Juda. 

E  ^ 

lib  Templo  de  Jerufalem  fe  lhes  confentio  por  mui- 
íos  annos  ter  fuas  cellas  ,  ou  cubículos ,  que  dur^-i 
íáo  até  o  tempo  de  Joftas.  iv.  Rcg.  xxin.  7» 


Liv.  IIL    Cap.  XIV.  137 

go  E  por  todo  o  tempo  houve  guer- 
ra entre  Roboao ,  e  Jeroboão. 

31  E  Roboão  adormeceo  com  feus 
pais  ,  e  foi  fepultado  com  elles  na  ci- 
dade de  David.  O  nome  de  fua  mai  foi 
Naama ,  que  era  Ammonita. 

CAPITULO  XV. 

Ahião  imita  a  impiedade  de  Roboão,  Mor-^ 
re  :  e  Aja  feu  filho  lhe  jtic cede,  Efleimi» 
ta  a  piedade  de  Dã'vid.  Succede-lhe  Jeu 
filho  Jojafat.  Nadal?  Rei  d'  Ijrael  he 
morto  por  Baafa ,  que  reina  em  feu  lu- 

I  O  decimo  oitavo  anno  do  rei-^nno. 

JL^  nado  de  Jeroboão  filho  deNa-'^^ 
bat  (^)  remou  Abião  fobre  Juda.  anrí^a 

if  Elie  reinou  trcs  annos  çm  Jerufa- chr. 
lem:  (Z^)  fua  mai  fe  chamava  Maáca,  e^sS. 
era  filha  d^AbeíTalao. 

E 

(ií)  Rúmii  Ahlao.  Nofcgundo  cios  Paralípome- 
fíos,  xni.  I.,  chama-fe  Abia.  No  Evangelho  dc 
S.  Matthcus,  K7.  ,  Ahm.  Pereira. 

Su^  tmi  fe  chamava  Maáca ,  é>f.  No  Se- 
gundo Livro  dos  Paralipomenos ,  xm.  2.,  íe  cha- 
ma a  mái  d'Abiáo  Miçaia  ,  e  fc  di?  filha  d'  l/rid 


138  Reis. 

3  E  o  mefmo  andou  em  toios  os  pee- 
eados  ,  que  fea  pai  tialia  commettido 
antes  delle  :  nem  o  feu  coraçito  era  per- 
feito diante  do  Senhor  Teu  Deos,  como 
o  fora  o  coração  dc  feu  pai  David. 

4  Mas  o  Senhor  íeu  Deos  em  at- 
tenção  a  David  (c)  lhedeo  huma  alam- 
pada  em  Jeru falem  ,  fufcitando  a  feu  fi- 
lho depois  delle  para  reíiabelccer  a  Je- 
rufalem : 

5'  porque  David  tinha  feito  o  que 
.era  refto,  e  jafto  aos  olhos  do  Senhor: 
e  em  todos  os  dias  da  fua  vida  fe  não 
tinha  aíFaftado  de  nada  do  que  elle  lhe 
mandava,  (d)  excepto  o  que  fe  paíTou 
a  refpeico  d'  LJrias  Hetheo. 

1  o- 

Ae  Gábía :  por-jac  talvez  huma  merma  mulher  ti- 
nha doas  nom^s  ,  como  também  feu  pai.  Pereí- 

HA. 

(c)  Lhcdej  hiimi  almpa.U  emJeruCalm.  Dan-, 
do-lSe  hum  íiiho  Rei  ,  cuja  dignidade  com  razáo 
fe  chama  ãla  nptda  ,  paio  refplandor  que  lança ,  e 
parque  03  R:is  devem  fcr  para  03  valfailos  á  ma- 
neira Je  luz.  N^Iariana. 

(íí)  Excepto  o  (]ue  pajou  comUrias  Hetheo.  Mui-, 
íos  ouiros  peccados  commectco  David  ,  fòra  o  do 
adultério  com  Biírfibé  ,  e  morre  confecutiva 
XJr;a:.  Goaia  quaido  veio  a  caía  de  Nabal  com 


Liv.  Iir.    Cap.  XV.  139 

é  (e)  Todavia  entre Roboao,  eje? 
roboao  houve  guerra  todo  o  tempo  que 
Roboão  reinou. 

7  O  refto  porém  das  acções  d^Abiao  ^ 
e  tudo  o  que  elle  fez  ,  cllá  efcrito  no 
Livro  dos  Annaes  dos  Reis  de  Juda, 
(/)  E  houve  huma  batalha  entre  Abião, 
c  Teroboão, 


propofíto  de  pafíar  todos  a  cutelo,  (i.  Reg.  xxv, 

7,^\.)  E  oufindo  n  andou  faztr  ieienha  de  iodo  o 
Povo  por  mera  cur  olldade,  e  v?.nporia,  e  iem  3 
fórma  prefcnia  por  Dcos  na  Lei:  dando  com  ifto 
caufa  a  c]ue  o  Senhor  irritado  contra  elle  fizeíTe 
morrer  num  dia  fctcntamil  vaíiallos.  (  ir.  Kcg.  xxiv. 
10.  15.)  Sendo  ifto  aílim,  pcrgunta-íe;  Como  lo* 
go  fó  no  que  ppiííou  com  Urias  coníidcra  a  hfcri- 
lura  aqui  por  culpado  a  David  ?  Rcfpondem  todos 
os  Interpretes :  Que  ifto  he  ,  porque  fallando  hu- 
manamente ,  todos  os  outros  pcccados  corrparado3 
com  cftc  parecem  dcfculpaveis  ,  e  de  pouca  cnti? 
dade.  Pereira. 

(e)  Todavia  entre  Bcloão  ,  e  Jeroloao  ,  <è^c. 
Os  Serenta  cm  lugar  de  RchoRo  non.eáo  aqui  lAbiao. 
E  efta  lição  parece  a  mais  natural.  Prlo  menos  af- 
íim  fe  lè  também  no  Segundo  dos  Paialij  omenos , 
xm.  2.  PereíPvA. 

(f)  E  hcuvc  hinva  batalha  entre  Ahi?o  ^  cJcrO' 
l^oão.  Que  foi  huma  das  m,ais  ían?uinoIcnt?s  que 
fe  lem  nas  Hiftorias  ;  porque  Abiáo  cem  cuairo- 
^cnios  mil  homens  desbaratou  imeiramicnie  a  ]ero* 


I40  Reis. 

8     Depois  difto  adormeceo  Abião 
com  feus  pais  ,  e  o  fepultárao  na  cidar 
de  de  David  :  c  feu  filho  Aia  reinou 
cm  feu  lugar, 
^^^^l      9  ^^^^  vigeíimo  pois  de  Jero- 

^5049/  ^'  i''^^^'-  começou  a  reinar 

anc.  dc  Aia  Kci  dc  Juia. 

^^r.        IO    tlllc  reinou  quarenta  e  hum  anr 
P^^'    no  em  Jerufalem  :  (g)  fua  mai  fe  eha- 
mava  Miaca ,  e  era  filha  d'Abeíndão. 

1 1  E  Afa  fez  o  qjje  era  reclo  e 
jufto  aos  olhos  do  Senhor,  como  tinh^ 
feito  David  feu  pai. 

12  E  tirou  da  terra  os  eíFeminados , 
ç  a  alimpou  de  todas  as  immundicias 
(Jos  Ídolos ,  que  feus  pais  tinhão  fabrir 
icado. 

E 

hoÍQ ,  qac  trazia  oitocentos  mil  ,  dos  quaes  forao 
morcos  ,  ou  feridos  quinhentos  mil.  Defcreye-a  o 
Author  do  Segundo  Livro  dos  Paralipomcnos  ,  xiu. 
2.  e  Te^g.  Pehsira. 

(,^)  Sua  mii  fe  chamava  Aíadcd  ,  é^c,  He  o 
^nel  no  nom^  que  aíKtna  fe  deo  á  mái  d'  Abiáo , 
pai  dMfa.  Djnde  inferem  graves  Interpretes,  com- 
ino Sá ,  Mariana  ,  Malvenda  ,  e  Gordon ,  que  por 
f\m  fe  deve  aqui  entender  a  /ivo  :  bem  como  no 
verfo  feguinte  hc  David  chamado  p4í  do  mcfmo 
Aia,  fendo  feu  trefavô.  Fèreira. 


Liv.  IIL    C  ap.  XV.  141 

13  E  além  dillo  (è)  removeo  a  fuã 
mãi  ,  para  que  não  folTc  (i)  Princeza 
(k)  nos  lacrificios  dePriápo,  e  no  bof- 
que  que  lhe  tinha  confagrado  ,  e  arrui- 
nou a  fua  gruta  ;  e  fez  pedaços  eílc 
idolo  torpiCimo,  e  queimado  lançou  as 
íuas  cinzas  no  ribeiro  de  Cedron. 

14  (/)  Mas  não  tirou  os  A!to5. 

Ain- 

(^)  Removeo  a  fua  mai.  Ifío  ,  privou-a  da 
authoridade  de  Rainha  ,  como  declara  o  mefmo 
Auihor  do  Segundo  Livro  dos  Paralipomenos ,  xv» 
16.  MãtvLm  QX  augUjíO  dcpofuit  império.  Pereira. 

(í)  Princeza.  líio  hc,  ^upcriniendcnte ,  ou  Sa- 
círdorilla.  Pereira. 

(/j )  Nos  jiicrificios  de  Priápo.  Era  o  Dcos  que 
preíidia  aos  Jardins  ,  onde  por  iíTo  còílumaváo  0$ 
Gregos  ,  e  Romanos  collocar  a  fua  imagem.  Hc 
de  mais  a  mais  para  notar  ,  que  o  que  S.  Jeiory- 
mo  verteo  PriÁpo  ,  Toa  no  Hebreo  Miphletfeih  ^ 
que  quer  áizer  Terror ,  ou  Efpmtalho,  Nome  que 
o  Doutor  jMaximo  com  razão  entcndeo  dePiiápo, 
porque  fabia  que  entre  os  Gentios  era  tido  Priápo 
por  deos  dos  medos  ,  conforme  cllc  mefm.o  de  íi 
confeiía  por  boca  d"  Horácio  ,  Livro  \. ,  Saiyra  8.^ 
Indc  ego  fw  um  aviumque  Máxima  formido.  Toda- 
via na  Versáo  do  Hebraico  do  Padre  Houbiganc 
não  appi^recc  rifquicio  difto.  PEREtnA. 

(/)  Mas  não  tirou  os  Altos,  Ifto  he ,  os  Alfa- 
ies ereélos  cm  certas  eminências.  Eftes  erso  de 
deus  géneros:  huns  dedicados  «o  verdadeirçDcos^ 


14^  Reis. 

Ainda  aílim  o  coração  de  Afa  (;;;)  foi 
perfeito  com  o  Senhor  toda  a  lua  vida. 

IS  Metteo  também  na  cafa  do  Se- 
nhor o  CjUe  ieu  pai  tinha  coníagrado,  e 
votado  dar:  prata,  e  ouro,  e  vafos. 

ló  Por  todo  o  tempo  porém  que 
ambos  viverão  ,  houve  guerra  entre  Aia  ^ 
e  Baára  Rei  d'ífrael. 

E 

antes  que  houveíTe  Templo :  e  eftes  são  os  que  Afa- 
não  tirou  5  talvez  porque  náopode,  ou  porque  jul- 
gou que  03  podia  permittir.  No  que  S.  Jcronyma 
no  Dialo'^o  contra  os  PeLií^ianos  diz  ,  qu^  crrára 
ACa,  Outros  dedicados  a  falfos  deoíes.  E  deftes  le- 
mos, ii.  Parai.  xiv.  2.,  que  Aia  os  deftruíra.  Pe- 
reira. 

(f?/)  Foi  perfeito  como  Senhor.  ]á  aííima  no  ver- 
fo  II.  o\j\imo'^  :  E  j4fa  fez  o  que  era  reão ,  e  juf- 
to  aos  olhos  do  penhor.  Huma,  e  outra  coufa  po- 
rém parece  enconirar-fe  com  varias  faltas  graves, 
de  que  Afa  he  notado  ,  ir.  Parai.  xvi.  ,  e  com  o 
que  efcrcveo  o  Author  do  Livro  do  Eccleíiaftico  5 
Cap.  XLIX.  ,  vcrfo  5.  Praeter  David  ,  é'  Eze^ 
chiam,  ó''Jofíam  omries  peccatwncommijemnt.  Ma© 
lefponde  fe,  que  os  elogios  que  nefte  Terceiro  Li- 
vro dos  Reis  fe  dáo  a  Afa  ,  refpeitáo  principalmente 
a  fua  adhesáo  ao  cuito  do  verdadeiro  Deos  ,  e  o 
feu  zelo  contra  a  idolatria.  Com  o  que  pôde  eftar  ^ 
que  Afa  peccaíTe  noutras  matérias  ,  como  também" 
peccou  David  ,  e  que  depois  apagalíe  citas  íaita» 
com  a  penitencia.  Pereira» 


Liv.  líL    Cap.  XV.  143 

17  E  Baáfa  Rei  d'Iírael  veio  a  Ju- Anno 
da  ,  e  edificou  Rama  ,  para  que  ninguém 
pudelTe  ílihir,  nem  entrar  nos  eítados  ^^i^ic 
Afa  Rei  de  Juda.  Chr. 

18  Então  Afa  tomando  toda  a  pra-  940* 
ta  5  e  o  ouro  que  tinha  ficado  nos  the- 
Iburos  da  cafa  do  Senhor  ,  e  nos  the- 
Iburos  do  Palacio  do  Rei  ,  os  poz  nas 
mãos  dos  fcus  fcrvos  ,  e  os  enviou  a 
Benadad  filho  de  Tabrcmcn  ,  filho  d* 
Hezion  Rei  da  Syria ,  que  habitava  em 
Damafco,  e  lhe  mandou  dizer: 

19  Entre  ti,  e  mim  ha  alliança  co- 
mo a  houve  entre  meu  pai ,  e  o  teu.  Por 
iiTo  te  mandei  eíTes  prefentes  d' ouro, 
e  prata  :  e  lupplico-te  que  venhas  ,  c 
que  desfaças  a  alliança  que  tens  com 
Baáfa  Rei  d'Ifraei,  para  que  elle  fe  re- 
tire das  minhas  terras. 

20  Benadad  condefcendcndo  com 
os  rogos  do  Rei  Afa  ,  mandou  os  Ge- 
neraes  do  feu  exercito  contra  as  cida- 
des d'lfrael :  e  tomarão  a  Ahion ,  a  Dan , 
a  Abel  cafa  deMaáca,  c  a  todo  o  dif- 
trifto  de  Gcneroth  ,  iíto  he  ,  todas  as 
terras  de  Ncfthali, 

O 


i44  R  E  I 

21  o  que  tendo  ouvido  Baáfa,'  iú-^ 
terrompeo  a  obra  dc  Rama  ,  e  voltou 
para  Therfa. 

2  2  Entáo  defpachou  o  Rei  Afa  va- 
rios  correios  por  toda  a  Judea  com  efta 
ordem  :  Ninguém  fe  efcufe.  E  tendo  eU 
les  trazido  todas  as  pedras,  e  todas  aâ 
ínadciras  ,  que  Baáfa  havia  empregada 
em  edificar  a  Rama  ,  delias  fundou  o 
Rei  Afa  a  Gabaa  de  Benjamim  ,  e  a 
Masíii. 

23  O  reflo  das  acções  d'Ara  ,  e'  to- 
das as  emprezas  ,  em  que  elle  aflígna- 
lou  o  feu  valor,  todos  os  feus  feitos,  c 
que  cidades  edificou  :  tudo  ifto  eftá  eC* 
crito  no  Livro  dos  xinnaes  dos  Reis  de 
Juda.  Todavia  no  tempo  da  fua  velhi-^ 
ce  padecco  dos  pés. 

24  E  adormeceo  com  feus  pais  ,  e' 
foi  fepultado  com  elles  na  cidade  de  feu 
pai  David.  E  Jofafat  feu  filho  reinou 
em  feu  lugar. 

Anno  2^  No  fegundo  anno  porém  d'Afa 
do  M.  jR^ei  de  Juda  começou  Nadab  filho  de 
an/^e  J^^oboao  a  reinar  fofare  Ifrael ,  e  reinou 
CKr.    fobre  Ifrael  dous  annos. 

954-  Et* 


Liv.  IIL    Cap.  XV.  Í4J' 

16  E  elle  fez  o  mal  diante  do  Se- 
hhor,  e  andou  no  caminho  de  feu  pai^ 
e  nospeccados  que  elle  tinha  feito  com- 
mettcr  a  Ifrael, 

27  Mas  Baáfa  fiího  d^Ahias,  da  ca- 
ía dlíTacar,  armou  huma  traição  contra 
a  fua  peífoa,  e  o  matou  junto  aGebbé- 
thon  5  que  he  huma  Cidade  dos  Filif- 
theos  ,  a  que  Nadab  ,  e  todo  o  Ifrael 
então  litiavão» 

28  Baáfa  pois  matou  a  Nadab  ,  e -Anhò 
reinou  em  lugar  delle,  no  terceiro  an-^^?^' 
no  d'Afa  Rei  de  Juda.  am^  de 

29  E  tanto  que  fe  vio  Rei,  matou]. C 
a  todos  da  cafa  de  Jeroboão :  não  dei-í^5^ 
xou  com  vida  nem  fequer  hum  da  fua 
linhagem ,  ate  acabar  inteiramente  com 
ella,  conforme  a  palavra  que  o  Senhor 
tinha  dito  por  boca  de  feu  fervo  Ahias 

de  Silo : 

30  e  ifto  por  caufa  dos  peccados 
que  Jeroboão  commettêra  ,  c  fizera  com- 
ínetter  a  Ifrael  ;  c  por  caufa  do  delito 
com  que  tinha  irritado  ao  Senhor  Deos 
d' Ifrael. 

3 1  O  refto  das  acções  de  Nadab , 
Tom,  VL  K  c 


I 


Reis, 

e  tudo  o  que  ellc  fez  ,  eílá  cfcrlto  na 
Livro  dos  Annaes  dos  Reis  d'Iírael. 

32  E  houve  guerra  entre  Afa  ,  e 
Baáfa  Rei  d'  Ifrael ,  todo  o  tempo  que 
elles  vivêrSo. 

33  No  terceiro  anno  d'Afa  Rei  de 
Juda  reinou  Baáfa  filho  d^Ahias  íobre 
todo  o  Ifrael  emTherfa,  e  o  feu  reina- 
do foi  de  vinte  annos. 

34  Elie  fez  o  mal  diante  do  Se- 
nhor ,  e  andvou  no  caminho  de  Jeroboão  ^ 
e  nos  pcccados  ,  que  elle  tinha  feito 
commetter  a  Ifrael. 

CAPITULO  XVL 

Jehu  prediz  a  Baáfa  a  ruina  da  fua  fa» 
milia.  Morte  de  Baáfa.  Sue  cede -lhe  Ela* 
Zamhri  mata  aEla^  e  fe  faz  Rei  d"^ If- 
rael, Amri  he  eleito  Kei  feio  Povo.  Zam- 
■  hri  fe  queima  no  feu  palácio*  Morte  d^ 
Amri,  Succede4he  Acab.  Efe  cafa  com 
JezabeL 

I  Ríi  o  Senhor  dirigio  a  fua  pa- 

\^J^  lavra  a  Jehu  filho  d'  Hanani 
contra  Baáfa  y  dizendo : 

Eu 


Lrv.  IIÍ.    Cap.  XVI.  14^ 

2  (a)  Eu  tc  levantei  do  pó  ,  e  te 
conftitui  Chefe  fobre  o  meu  Povo  d'If- 
rael:  c  tu  andafte  no  caminho  de  Jero- 
boão  ,  e  fizefte  peccar  o  meu  Povo  d* 
Ifrael  ,  para  me  irritares  com  os  feus 
peccados. 

3  Eis-ahi  fegarei  eu  a  pofteridade 
de  Baáfa ,  e  a  pofteridade  da  fua  cafa , 
e  farei  da  tua  caía  o  que  fiz  da  cafa  de 
Jeroboao  filho  de  Nabat. 

4  Aquelle  da  linhagem  de  Baáfa, 
que  morrer  na  Cidade  ,  comello-hao  os 
cães  :  e  o  que  delle  morrer  no  campo , 
comello-hâo  as  aves  do  Ceo. 

$  O  refto  das  acções  de  Baáfa  ,  e 
todos  os  feus  feitos ,  e  batalhas  ,  eftao 
efcritos  no  Livro  dos  Annaes  dos  Reis 
d'lfracl. 

6  Adormcceo  pois  Baáfa  com  feus 
pais  5  e  foi  enterrado  cmTherfaj  e  rei- 
liou  por  elle  feu  filho  Ela. 

K  ii  Mas 

Ça)  Eu  te  levantei  do  po\  é^c.  Antes  deftas  pa- 
lavras ,  que  sáo  já  dirigidas  por  Dcos  a  Baáfa ,  dc- 
vem-fe  entender  ditas  pe'o  Senhor  a  Jehu  cftou- 
iras  :  fali  ar  ds  affim  da  mitiha  parte  a  Badja  :  as 
qoaei  talvez  foráo  omiitidas  por  dcfeuido  dos  pri- 
meiros CopiítaSi  PfiREIRAé 


148  Reis. 

7    Mas  tendo  o  Profeta  Jchu  fiího^ 
d'Hanani  deGlar;ido  a  Badia  o  que  o 
Senhor  pronunciara  contra  elle ,  e  con- 
tra a  fua  caía  ,  pela  razão  de  todos  os 
males  ,  que  elle  tinha  feito  aos  olhos 
do  Senhor,  para  o  irrirar  com  as  obras 
das  fuas  niaos  ,  e  para  o  Senhor  tratar 
a  fua  cafa  como  adejeroboão:  porefta 
razão  o  matou  elle,  (è)  ifto  he,  a  Jé- 
hu  Profeta  filho  d'Hanani. 
Anno       *^    No  anno  vigefimo  fexto  d'Afa 
do  M.  R-ei-  de  Juda  reinou  Ela  filho  de  Baáfa 
^074.  iQ^j-e  í-frael  em  Therfa  dous  annos. 
dcl.C     9    Porque  Zambr-i  íeu fervo,  qúego- 
(j{q.    vernava  anietadc  da  fua  cavallaria  ,  fe 
rebellou  contra  elle,  e  a  tempo  que  Ela 
bebia  em  Therfa  ,  e  eftava  bêbado  cm 
caía  d'Afa  Governador  de  Therfa, 
10    Zambri  cahindo  fobre  elle  o  fe- 
rio , 

Çb)  Ijio  he ^  a  '^ehit  Profeta y  à^c.  Efta  cia u fu- 
la por  fi  mcfma  fe  cílá  dando  a  conhecer  por  hu- 
ma  addiçáo  do  Interprete  Latino  :  porque  nem  o 
Hebreo  ,  nem  o  Grego  dos  Setenta  a  trazem :  an- 
tes- os  Hebreos  referem  o  pronome  eum  para  Na- 
dab  fubentendido.  Sobre  eíla,-  e  outras  difficulda- 
dcs  contra  a  lição  da  Vulgata  ,  veja-fe  Galmet :  e  fo- 
bre o  que  fe  pôde  dizer  a  favor  delU ,  veja-fe  Gaí- 
par  Sanches.  Pereira^ 


Liv.  IIÍ.    Cap.  XVI. 
rio  ,  e  marou  no  anno  vigefimo  fetimo 
d'Afa  Rei  de  Juda  ,  e  reinou  em  feu 
lugar. 

II  E  quando  elle  fe  vioPvei,  e  fu- 
bio  ao  feu  throno,  e^tinguio  toda  a  ca- 
ía de  Baáfa  fem  deixar  nella  refto  al- 
gum ,  e  fem  perdoar  a  algum  de  feus 
parentes ,  e  amigos. 

12,    AíTim  deltruio  Zambri  toda  aca- 
fa  de  Baáfa  5  conforme  a  palavra  que  o 
Senhor  tinha  feito  dizer  a  Baáfii  pelo  ^ 
Profeta  Jchu , 

13  por  caufa  de  todos  os  pcccados 
de  Baáfa  ,  e  de  feu  fiUio  Ela  ,  que  ti- 
nhão  peccado,  e  feito  peccar  a  Ifrael, 
irritando  o  Senhor  Deos  d' Ifrael  (c) 
com  as  fuas  vaidades. 

14  O  mais  das  acções  d'E]a ,  e  tu- 
do o  que  elle  fez  eltá  cfcnto  no  Li- 
vro dos  Annaes  dos  Reis  d' Ifrael. 

15'  No  anno  vinte  c  fete  d'Afa  Rei  Anno 
de  Juda  reinou  Zambri  em  Therfa  fete  ^• 

r^-^-   am.  dc 

(f)  Com  as  fiiis  vaidades.  Iflo  hc ,  com  o 
to,  que  daváo  aos  idolos  dos  falíos  dcoícs  ,  con- 
forme aquillo  de  S.Paulo:  Scimus  quia  idolumuibil 
ejl  iti  mundo,  Pebeira. 


lyo  Reis. 

dias:  porque  o  exercito ,  que  então  fi^ 
tiava  sí  Gebbéthon  cidade  dos  Filif- 
theos  5 

16  tendo  ouvido  que  Zarribri  fe  ti- 
nha rebellado  ,  e  havia  morto  o  Rei, 
todo  olfrael  conftituio  feu  Rei  aAmri, 
General  do  Exercito  d'Ifracl5  que  efia- 
va  então  em  campanha. 

17  Amri  pois  deixando  a  Gebbé- 
thon marchou  com  o  exercito  d'  líracl , 
e  veio  finar  a  Therfa. 

18  E  Zambri  vendo  que  a  cidade 
eftava  a  ponto  de  fer  tomada  ,  entrou 
no  Palacio  5  (d)  q  fe  queimou  a  fi  mef- 
mo  juntamente  com  a  Cala  Real,  {ç) 
e  morrco 

nos 

(d)  Éfe  queimou  a  ft  mefmo  ,  é-c,  Aííim  rc-  ^ 
fere  Juílino ,  que  lambem  íe  matára  a  fi  o  famofo. 
Sardanapálo.  Tiríno. 

( <? )  £  morreo  nos  peccndos  que  tinha  comniettido , 
ó-'C.  Se  Zambri  náo  reinou  íenáo  feíc  dias,  coma 
podia  elle  moftrar-fc  ião  máo  ,  como  aqui  fc  def- 
creve?  Reíponde-fe  que  ncfíe  pouco  tempo  pudera 
Zambri  mottrjr  fe  táo  empenhado  cm  confirmar  a 
idolatria  cftabelccida  por  Jeroboso,  que  merccefrc 
muito  bem  a  acre  cenfura  com  que  o  irara  a  Ef- 
critura.  Ou  attendeo  a  Efcritura  não  fó  para  os  fete 
dias  que  reinou  Zambri ,  mas  tambçm  pata  o  mais 


Liv.  III.    Cap.  XVI.  iji 

19  nospeccados  que  tinha  commet- 
tido,  obrando  o  mal  diante  do  Senhor, 
€  andando  pelo  caminho  de  Jcrohoão, 
€  no  peccado  com  que  el!e  tinha  feito 
peccar  a  Ilrael. 

20  O  mais  das  acções  de  Zambri  , 
da  fua  conjuração  ,  e  da  fua  tyrannia , 
eílá  ef^TÍto  no  Livro  dos  Annaes  dos 
Reis  d'  Ilrael. 

21  Então  fe  dividio  o  Povo  d'If- 
rael  em  dous  partidos.  Ametade  do  Po- 
vo feguia  aThebnifilho  deGinerh,  pa- 
ra o  conílituu'  Rei :  e  a  outra  ametade 
feguia  a  Amri. 

22  Mas  o  Povo  queeftava  com  Am- 
ri prevaleceo  contra  o  Povo  que  cllava 
com  Thebni  filho  de  Gincth^  e  moirco 
Thebni ,  e  reinou  Amri. 

23  Noanno  trinta  chum  d'Afa  Rei  Anno 
de  Juda  (/)  reinou  Amri  fobre  liracl  ^'^ 

anr.  de 

tempo,  que acclamado Amri  começou,  c continuou  •* 
a  guerra  entre  os  dous.  Calmet. 

(/)  Jxetnou  Jmri  fobre  Ifniel  dcze  mncs.  Eíles 
doze  annos  devem  ccmeçar-fe  a  conczr  des  do  an- 
no vinte  c  fcte  d  Afa ,  Rei  de  Juda  ,  conforme  o 
verfo  16, ,  cacabáo  no  anno  irinra  e  oito  do  mef- 
mo  Afa,  conforme  o  vcrío  2^;.  O  alli^ar  porém  ^ 


1$%  Reis. 

doze  annos,  dos  quaes  reinou  elle  feis 
cm  Therfa. 

24  Elie  comprou  o  monte  de  Sama- 
ria a  Somer  por  dous  talentos  dc prata, 
ç  fundou  nelle  huma  Cidade  (^)  a  que 
chamou  Samaria  do  nome  de  Somer, 
cujo  fora  o  monte. 

25-  Amri  porém  fez  o  mal  diante 
do  Senhor  5  e  os  crimes  que  elle  com- 
metteo  amda  excederão  os  de  todos 
ps  feus  predeceiTores. 

2Ó  E  elle  andou  em  todo  o  caminho 
dejeroboão  filho  deNabat,  e  nospec- 
cados  com  que  elle  tinha  feito  peccar 
a  Ifrael ,  para  irritar  o  Senhor  Deos  d' 
Ifrael  com  as  fuas  vaidades. 

27    Oreíio  das  acções  d'Amri,  com 

as 

pfcritura  neíle  verfo  2:5.  a  Época  <3'Amri  ao  anno 
trinta  e  hum  ci'Afa  Rei  de  Juda,  foi  porque  neftc 
anno  trinta  e  hum  d'x\ra  he  que  Amri  começou  a 
reinar  fó  lobre  rodo  o  Ifrael  ,  por  morte  de  The- 
bni  ,  fegundo  o  que  fc  refere  no  verfo  22.  Pe-» 

{g^  A  que  chamcu  Samaria^  ^'c,  A  qual  Cida- 
de dchi  por  diante  começou  a  fcr  a  Corte  ordiná- 
ria dos  Reis  d'ífracl ,  que  no  principio  tinháo  re- 
fidido  em  Therfa,  como  já  afíima  advertimos.  Pe- 


Liv.  III.    Cap.  XVI.  15-5 

as  batalhas  que  elle  deo,  acha-fe  efcri- 
to  no  Livro  dos  Annaes  dos  Reis  d'If- 
rael. 

28  E  Amri  dormio  com  feus  pais, 
e  foi  fepultado  em  Samaria  :  e  em  feu 
lugar  reinou  feu  filho  Acab. 

29  Noanno  pois  trinta  e  oito  d'Afa  Antio 
Rei  de  Juda  reinou  Acab  filho  d'  Amri  ^°g^^' 
fobrelfrael.  E  reinou  Acab  filho  d'Amri  gnt.  dc 
fobre  Ifrael  em  Samaria  vinte  e  dous  ].  Chr, 
annos.  S^^^- 

30  E  Acab  filho  d'Amri  fez  o  mal 
diante  do  Senhor,  e  excedeo  na  impie- 
dade todos  os  que  tinha  havido  anteçi 
dellc. 

31  Elle  não  fe  contentou  com  an- 
dar nos  peccados  de  Jeroboão  filho  de 
Nabat  :  mas  fobre  ifíb  tomou  por  mu- 
lher ajezabel  filha  dcEthbaal  Rei  dos 
Sidonios ;  e  palTou  a  fervir  a  Baal ,  c  o 
adorou. 

32  Poz  o  Altar  dc  Baal  no  Tem- 
plo de  Baal  ,  que  elle  tinha  edificado 
cm  Samaria , 

3  3    (^0  ^  plantou  hum  Bofque  :  c 

ac- 

EpUntou  Ims  Bofque s  ^  <ò'C»  Plantou-o  cm 


i5'4  Reis. 

accumulando  crime  fòbre crime,  irritou 
o  Senhor  Deos  d'lfrael  mais  do  que  to- 
dos os  Reis  d'Ifrael ,  que  o  tinháo  pre- 
cedido. 

34  Durando  o  feu  reinado,  fundou 
Hiel  de  Bethel  a  Jericó.  Elie  perdeo  a 
Abirão  feu  primogénito  ,  quando  lhe 
lançou  os  aUceíTes  ;  e  perdeo  a  Segub 
o  ultimo  de  feus  filhos,  quando  lhe  poz 
as  portas  ,  ( i )  conforme  o  que  o  Se- 
nhor tinha  predito  por  boca  de  Jofué 
filho  de  Nun. 


CA- 

honra  deftc  falfo  Deos  dos  Cananeos.  De  Car- 

( / )  Confonm  o  que  o  Senhor  tinha,  predito  por 
hoct  dc  Jofué  filho  de  Nun.  No  Livro  dc  Jofué, 
VI.  26.  temos  eíta  imprecação  ,  que  Jofuc  com 
efpirito  profético  havia  quinhentos  e  trinta  c  tantos 
annos  lançou  contra  o  que  lornaíTe  a  edificar  Jeri- 
có. Maldito  fej^  diante  do  Senhor  arjuelle  homem , 
que  levantaf ,  e  reed  ficar  a  cidade  de  Jericó.  O  feu 
primogénito  morra  ,  quando  elle  lhe  lanhar  os  funda- 
mentos ^  e  elle  perca  o  ultimo  de  feus  filhos  ^  quando 
lhe  pozer  4t  portas.  A  qual  imprecação  vemos  aqui 
agora  cumprida  á  rifca  na  peíToa  d' Hiel.  Perei- 
ra, 


Livro  IIL 


CAPITULO  XVIL 

Elias  declara  a  Acah  ,  que  não  choveria 
até  que  Deos  o  não  declarajfe  feia  fua 
boca,  Efte  Profeta  Jujlentado  pelos  cor- 
'VOS.  Vai  a  Sarepta  a  cafa  d'huma  viu- 
va ,  a  quem  elle  multiplica  o  azeite ,  e 
a  farinha.  O  filho  dejia  viuva  morre. 
Elias  o  refu feita. 

I  IVT  Aquelle  tempo  Elias  de  Thes-  Anno 
JL^  ba,  que  era  hum  doshabitan-  cio  M. 
tes  de  Galaad  ,  diíTe  a  Acab  :  Viva  o  ^^^^^ 
Senhor  Deos  d'  Ifrael ,  em  cuja  prefen-  j.  chfo 
ça  eftou  5  que  neíles  annos  não  cahirá  í>i2, 
nem  orvalho  ,  nem  chuva  ,  fcnao  con- 
forme as  palavras  da  minha  boca. 

2  Depois  dirigio  o  Senhor  a  fua  pa- 
lavra a  Elias  5  e  lhe  diíTe: 

3  Retira-te  daqui ,  e  vai  para  a  ban- 
da do  Oriente  ,  e  efconde-te  ôo  pé  da 
torrente  deCarith,  que  he  defronte  da 
Jordão. 

4  Tu  beberás  lá  da  agua  da  torren- 
te; e  eu  mandei  aos  corvos  ,  que  te  fuf- 
teiuem  alli  mefmo. 

Par- 


JS6  Reis. 

$    Partio  pois  Elias  em  conforrnida- 
de  da  ordem  do  Senhor  ,  e  foi  morar 
ao  pé  da  torrente  de  Caritli  ,  que 
defronte  do  Jordão. 

6    E  os  corvos  lhe  traziâo  pela  ma- 
nhã pão,  e  carne,  e  de  tarde  também 
pao ,  e  carne ;  e  elle  bebia  da  torrente. 
Anno       y    Algum  tempo  depois  feccou-fe  a 
20^*  torrente,  porque  não  tinha  chovido  fo- 
ant!  dc  bre  a  terra.  ^ 

J.  Chr.  8  E  então  lhe  fallou  o  Senhor  por 
P^^'    eftes  termos: 

9  Vai  para  Sarepta  dos  Sidonios , 
e  alli  eftarás :  porque  eu  ordenei  ahuma 
niulher  viuva ,  que  te  fuftente. 

10  Foi  elle  logo  para  Sarepta.  E 
quando  ellc  tinha  chegado  á  porta  da 
Cidade  ,  lhe  appareceo  huma  mulher 
viuva  apanhando  lenha  :  e  elle  a  cha- 
mou ,  e  lhe  diffe :  Dá-me  num  vafo  hu- 
ma pouca  d' agua  para  beber. 

11  E  quando  ella  lho  hia  bufcar, 
gritou  Elias  apôs  ella  ,  dizendo :  Tra- 
ze-me  também  ,  te  peço ,  hum  bocado 
de  pão  na  tua  mão. 

J.Z    Ella  lhe  refpondeo:  Viva  o  Se- 
nhor 


Cap.  IIL   Liv.  XVIÍ.  IJ7 

nhor  teu  Deos ,  que  eu  não  tenho  pão : 
tenho  fomente  obra  d'hum  punhado  de 
farinha  numa  panella  ^  e  hum  pouco  d' 
azeite  na  almotolia.  Eis-aqui  ando  eu 
ajuntando  huns  cavacos  para  ir  prepa- 
rallo  para  mim ,  e  para  meu  filho ,  pa- 
ra comermos,  e  depois  morrer. 

13  EHas  lhe  diíle:  Não  temas,  vai 
fazer  como  m,e  diíTefte  :  mas  faze  pri- 
meiro para  mim  deíTa  pouca  de  farinha 
hum  pãofinho  cozido  debaixo  dorefcal- 
do,  e  traze-mo:  e  depois  fallo-has  pa- 
ra ti,  e  para  teu  filho. 

14  Porque  eis-aqui  o  que  diz  o  Se- 
nhor Deos  d'Ifrael:  A  farinha  que  eftá 
neíTa  panella  não  faltará,  e  o  azeite  que 
eftá  ncffa  almotolia  não  fe  diminuirá, 
até  o  dia  que  o  Senhor  faça  cahir  chu- 
va fobre  a  terra. 

15  Fui  pois  a  mulher,  e  fez  o  que 
Elias  lhe  tinha  dito :  e  comeo  elle  ,  e 
comco  ella  também  com  toda  a  fua  ca- 
fa.  E  des  daquelle  dia 

16  não  faltou  a  farinha  da  panella, 
nem  fe  diminuio  o  azeite  da  almotolia, 
conforme  o  que  o  Senhor  tinha  predita 
por  Elias.  De- 


15^8  Rei  s. 

17  Depois  acontcceo,  que  o  filhd 
delia  viuva  mai  de  familia  cahio  mal 
d'  huma  doença  tão  forte  ,  que  já  não 
refpirava. 

1 8  DiíTe  ella  pois  a  Elias :  Que  te 
fiz  eu  5  ó  homem  deDeos?  Acafo  vief- 
te  tu  a  minha  cafa  para  excitares  eiri 
mim  a  memoria  de  meus  peccados  ,  e 
me  matares  meu  filho  ? 

19  E  Elias  lhe  diílc  :  Dá-me  cá  o 
teu  filho.  E  tendo-o  tomado  d'entre  os 
feus  braços  ^  o  levou  á  camará  onde  el- 
le  mefmo  aíEítia  ,  e  o  poz  em  fima  do 
ícu  leito. 

20  Depois  clamou  ao  Senhor  ,  e 
lhe  diíTe:  Senhor  meu  Dcos,  que  até  a 
huma  viuva  ^  que  me  fuftenta  como  pô- 
de 5  affligifte  5  matando-lhe  feu  filho  ^ 

21  Depois  fe  eílendeo,  e  fe  médio 
tres  vezes  fobre  o  menino ,  e  gritou  ao 
Senhor ,  e  lhe  difle :  Senhor  meu  Deos  ^ 
faze  5  te  rogo ,  que  a  alma  deíle  meni- 
no torne  a  entrar  no  feu  corpo. 

22  E  o  Senhor  ouvio  a  voz  d^Elias: 
e  a  alma  do  menino  tornou  a  entrar  nel- 
le,  e  ellc  recobrou  a  vida. 

E 


Liv.  III.    Cap.  XVII.  1^9 

23  E  Elias  tendo  tomado  o  meni- 
no, defceo  da  fua  camará  á  cafa  debai- 
xo,  e  o  entregou  a  fua  mãi ,  e  lhe  dif- 
fe :  Eis-ahi  tens  vivo  a  teu  filho. 

24  E  a  mulher  refpondeo  a  Elias: 
Agora  nefta  acção  conheço  eu  que  tu  es 
hum  homem  dc  Deos,  e  que  a  palavra 
do  Senhor  he  verdadeira  na  tua  boca. 


CAPITULO  XVIIL 

Manda  o  Senhor  a  "Elias  ,  que  fe  apprefen-^ 
te  diante  d\^cab,  Elias  perfuade  a  Ab" 
dias  que  z'd  annunciar  a  Acah  a  fua 
vinda,  Ej2tre  vijia  d''Acab^  e  d^  Elias. 
Elias  faz  defcer  o  fogo  fobre  o  feu  fa^ 
crificio  ,  e  mata  os  falfos  Profetas  de 
BaaL  Promette  chuva  ^  e  ella  cabe, 

I    \/í  Uito  tempo  depois  dirigio  oAnno 
XtJL  Senhor  a  fua  palavra  aElias  ,<ioM^^ 
{a)  no  terceiro  anno,  e  lhe  diífe:  Vai- 5^^^^*^ 
te  apprefentar  diante  d'Acab,  {h)  pa-]"chr« 
ra  eu  dar  chuva  fobre  a  terra.  5^08, 

Par- 

(ji)  iVb  Urcúro  ãmo^  (b-c.  No  rcrcçiro  anno, 
depois  que  clíe  tinha  deixado  aterra  deCariih.  De 
Carrieres. 

(ih)  Fau  eu  áár  çhuva  fobn  a  ma,     Lucas  ^ 


i6o  Reis. 

2  Partio  pois  Elias  para  fe  moftrar 
a  Acab :  entretanto  era  extrema  a  fome 
cm  Samaria. 

3  E  Acab  mandou  chamar  Abdias 
Mordomo  da  fua  caía.  Era  efte  hum 
homem ,  que  temia  muito  o  Senhor. 

4  Porque  quando  Jezabel  matava  os 
Profetas  do  Senhor ,  elle  Abdias  tomou 
cem  5  e  os  efcondeo  n'umas  cavernas, 
íincoenta  numa  ,  e  lincoenta  noutra  ,  e 
os  fuftentou  de  pão,  e  agua. 

5  Difle  pois  Acab  a  Abdias  :  Vai 
por  eftas  terras  a  todas  as  fontes  ,  e  a 
todos  os  Valles  a  ver  fe  podemos  achar 
herva  para  falvarmos  os  cavallos  ,  e  os 
machos  ,  e  não  pereção  todas  as  bef- 
tas. 

6  EUes  pois  repartirão  entre  11  as 
terras  para  difcorrerem  por  todas  as  par- 
tes. Acab  hia  por  hum  caminho ,  Ab- 
dias feparadamente  hia  por  outro. 

7  E  quando  Abdias  eílava  em  ca- 
minho encontrou-fe  Elias  com  elle.  Ab- 
dias tendo-o  conhecido  feproítrou  com 

o 

c  Sant-Iago  notão  ,  que  cfta  fecca  durán  tres  ati- 
nos  e  meio.  Luc.  i  v.  25.  Jaçob.  y.  17.  Pêrçira^- 


Liv.  III.   Cap.  XVIIt.  iSr 

ò  roftó  ertí  terra  ,  e  lhe  dlíFe  :  Es  tu 
Elias  meu  Senhor? 

8  E  elle  lhe  refpondeo  :  Eu  fou. 
■  Vai  5  e  dize  a  teu  amo  :  Eis-aqui  eílá 

Elias. 

9  Qye  p^ccado  commetti  eu,  dilFe 
Abdias  5  para  tu  me  entregares  nas  mãos 
d'Acab5  a  mim  que  fou  teu  fervo,  pa- 
ra elle  me  matar? 

10  Viva  o  Senhor  Deos  ,  que  nSo 
ha  Nação  nem  Reino,  onde  meu  amò 
te  não  tenha  mandado  bufcar:  e  dizen- 
do-lhe  todos,  que  tu  não  appareces,  e 
vendo  que  te  nío  achao  ^  {c)  tem  elle 
conjurado  todos  os  Reis  e  Povos. 

11  E  agora  me  dizes  tu  :  Vai  ,  è 
dize  a  teu  amo:  Eis-aqui  eílá  Elias. 

12  E  que  depois  que  eu  me  tiver 
apartado  de  ti ,  te  tranfporte  o  Efpiri- 
to  do  Senhor  para  algum  lugar  que  eu 
não  faiba ;  e  quando  eu  for  dar  parte  a 
Acab-,  elle  te  não  ache,  eme  mate.  En* 
tretanto  teu  fervo  temco  o  Senhor  des 
da  fua  infância. 

Tom.  VI.  L  Aca- 

(  f  )  Tem  elle  conjuraio  todos  os  Reis ,  e  Povm: 
Çl^Q  lhe  dcfcubrão  3  onde  tu  eítás.  DfiCAiMMSKEn 


t62  R  s  I  s. 

13  Acafo  não  fe  te  diíTe  a  ti  meu 
Senhor ,  o  que  eu  fiz  ,  quando  Jezabel 
matava  os  Profetas  do  Senhor?  que  ef- 
condi  cem  deftes  Profetas  n'umas  caver- 
nas ,  fincoenta  n'uma ,  e  fincoenta  nou- 
tra, e  os  fuftentei  de  pão  e  agua  ? 

14  E  depois  difto  me  dizes  tu :  Vai  y 
e  dize  a  teu  amo  :  Eis-aqui  eftá  Elias  y 
para  elle  me  matar. 

ij  E  Elias  lhe  diíTe:  Viva  o  Senhor 
dos  Exércitos ,  em  cuja  prefença  eftou  , 
que  eu  me  apprefentarei  hoje  diante 
delle. 

1 6  Foi  pois  Abdias  ter  com  Acab , 
e  lhe  contou  o  que  fe  paíTava.  E  Acab 
fahio  logo  a  enconrrar-fe  com  Elias. 

17  E  vendo-o ,  lhe  dilTe :  Acafo  es  tu 
aquelle ,  que  trazes  perturbado  a  Ifrael  ? 

18  E  Elias  lhe  refpondeo:  Não  fou 
eu  o  que  perturbei  a  Ifrael,  mas  es  tu, 
e  a  cafa  de  teu  pai,  por  terdes  deixado 
os  mandamentos  do  Senhor,  e  feguido 
a  BaaL 

19  O  que  não  obftante  ,  manda  ta 
agora  meíTageiros,  e  faze  ajuntar  toda 
O  Povo  d* Ifrael  no  monte  Carmelo,  e 


Liv.  III.    Gap.  XVm.  163 

Ds  quatrocentos  e  fincoenta  Profetas  de 
Baal  5  com  os  quatrocentos  dos  Boíques  ^ 
que  Jezabel  fullenta  á  fua  meza. 

20  Mandou  pois  Aeab  bufcar  todos 
os  filhos  d'lfrael  ,  e  ajuntou  os  Profe* 
tas  no  monte  Carmelo» 

21  E  Elias  chegando-le  a  todo  o 
Povo^  diíTe:  Até  quando  coxeareis  vóâ 
d'  ambas  as  partes  ?  Se  o  Senhor  he  o 
Deos  5  feguio-o  ;  e  fe  o  he  Baal  ,  fe- 
guio-o.  E  o  Povo  lhe  não  refpondeo  nem 
huma  fó  palavra^ 

22  E  tornou  a  dizer  Elias  ao  Povo  t 
Eu  fou  o  único  que  fiquei  dos  Profetas 
do  Senhor ,  ao  mefmo  tempo  que  os  Pro* 
fetas  de  Baal  chegáo  a  quatrocentos  c 
ficoenta  homens. 

23  Dem-fe-nos  dous  bois,  elles  ef- 
colhão  para  fi  hum;  ctendo-o  feito  em 
quartos ,  o  ponhão  fobre  a  lenha ,  fem 
lhe  metter  fogo  por  baixo:  e  eu  toma- 
rei o  outro  boi ;  e  pondo-o  também  fo- 
bre a  lenha ,  não  lhe  metterei  fogo  por 
baixo. 

24  Invocai  vós  os  nomes  dos  voíTos 
deofes,  e  cu  invocarei  o  Nome  do  meu 

L  ii  Deos: 


164  K  t  i  s. 

Deos  :  e  o  Deos  que  pelo  fogo  dech^ 
rar  que  elle  he  Deos ,  eíTe  leja  reconhe- 
cido por  Deos.  Todo  o  Povo  refpon- 
deo:  A  propofiçao  he  juftiílima. 

25-  DiíFe  pois  Elias  aos  Profetas  de 
Baal:  Efcolhei  para  vós  hum  boi,  e  co- 
meçai vós  primeiro  ,  porque  fois  em 
maior  numero :  e  invocai  os  nomes  dos 
voífos  deofes  y  íem  metterdes  fogo  á  le- 
nha. 

26  Elles  pois  5  tendo  tomado  o  boi  , 
que  lhes  foi  dado ,  prepararão  o  feu  ía- 
crificio  ,  e  invocavao  o  nome  de  Baal 
des  da  manhã  até  o  meio  dia,  dizendo: 
Baal  5  ouve-nos.  Mas  não  fe  percebia 
voz ,  nem  havia  quem  refpondeífe ,  em 
quanto  elles  paíTavao  d'huma  parte  pa- 
ra a  outra  do  Altar  que  tinhao  feito. 

27  Eira  já  meio  dia ,  e  Elias  come- 
çou a  fítotejallos ,  dizendo :  Gritai  mais 
alto  :  poFque  o  volTo  deos  Baal  eu  ef- 
tá  talvez  fallando  a  alguém  no  cami- 
nho ,  ou  rfalguma  eftalagem  ,  ou  tal- 
vez dorme  ,  e  necelíita  que  o  acor- 
dem. 

28  Elles  pois  fe  pozerâo  a  gritãí 

ain- 


Liv.  IIL    Cap.  XVIII. 

ainda  mais  de  rijo  ^  (d)  q  fazlâo  nos 
feus  corpos  varias  incisões ,  fegundo  o 
fcucoftume,  com  canivetes ,  e  lancetas, 
até  fe  cobrirem  do  feu  fangue. 

29  PaíTado  o  meio  dia ,  e  chegado 
o  tempo,  em  que  era  coftume  cfferecer 
o  facrificio ,  gritavão  os  Profetas ,  e  in- 
vocavão  o  feu  deos  Baal  :  mas  elle  ef- 
tava  furdo  ,  e  nao  havia  ninguém  que 
refpondeíTe ,  nem  que  ouviíTe  os  feus  ro- 
gos. 

30  Então  diíTe  Elias  a  todo  o  Po- 
vo :  Vinde  comigo.  E  tendo-fe  o  Povo 
chegado  a  elle,  refez  Elias  o  Altar  do 
Senhor,  que  tinha  fido  deftruido. 

3 1  E  tomou  doze  pedras  ,  ccMiforme 
o  numero  das  Tribus  dos  filhos  de  Ja- 
cob ,  a  quem  o  Senhor  tinha  dirigido 
a  fua  palavra,  dizcndo-lhe  :  Ifrael  fera 
O  teu  nome. 

E 

(íí)  Efazião  nosfm  corpos  varias  incisões ,  <ô-c» 
Coftume  bárbaro ,  e  gentilico ,  que  dos  Canancos 
fe  communicou  a  outros  Póvos  do  Oriente  ,  como 
dos  Perfas  affirma  Herodoro  no  Livro  VIL,  Cap. 
CXCI.  dos  Sacerdotes  de  Cybeles  Tibullo  ,  dos 
Sacerdotes^  de  Bellona  Marcial.  E  os  Itinerários 
laaodctnos  nos  certiíicáo  ,  que  ainda  hoje  praticáo 


l66  Reis. 

32  E  deftas  pedras  edificou  hum  Al- 
tar em  Nome  do  Senhor:  e  fez  hum  re- 
gueiro 5  como  de  dous  pequenos  regos 
ao  redor  do  Altar: 

33  e  concertou  a  lenha :  e  cortou  o 
boi  em  pedaços ,  e  o  poz  íobre  a  lenha , 
c  difle : 

34  (e)  Enchei  d' agua  quatro  ta- 
lhas, e  cntornai-as  fobre  o  holocaufto, 
e  fobre  a  lenha.  Eprofeguio:  Fazei  ifto 
mefmo  ainda  outra  vez.  Etendo-o  elles 
feito  fegunda  vez  ,  diíTe  :  Fazei  ainda 
terceira  vez  o  mefmo.  E  elles  ofizerão 
terceira  vez, 

35  de  forte  que  as  aguas  corrião 
ao  redor  do  Altar  ,  e  o  regueiro  ficou 
cheiò. 

36  Chegado  o  tempo  d'  oíFerecer  o 
holocauílo,  o  Profeta  Elias  fe  chegou, 

e 

QS  Turcos  5  Ferias ,  e  índios  eíla  fuperftição.  Pe- 

BEIRA. 

(c)  Enchei  d'  agua  quatro  talhas  ,  <zb-f.  Todas 
cftas  precauções  do  regueiro  feito  ao  redor  do  Al-? 
tar  5  e  da  agua  entornada  repetidas  vezes  fobre  o 
holocaufto  5  e  fobre  a  lenha ,  hiáo  encaminhadas  ^ 
remover  dos  ânimos  dos  circumftantes  toda  a  fuí- 
peita ,  de  que  ou  havia  dolo ,  ou  a  coufa  fucce4i^ 
fqnx  miia^re^  Pereuu. 


Liv.  III.   Cap.  XVIIL  167 

e  diíTe  :  Senhor  Deos  d'  Abrahão  ,  d' 
Ifaac ,  e  dlfrael ,  faze  ver  hoje ,  que  tú 
es  o  Deos  d'lírael  ,  e  que  eu  fou  teu 
fervo,  e  que  por  tua  ordem  he  que  eu 
fiz  todas  eftas  coufas. 

37  Ouve-me  ,  Senhor  ,  ouve-me  , 
Senhor  ,  para  que  efte  Povo  aprenda , 
que  tu  es  o  Senhor  Deos,  eque  tu  con- 
verteíle  novamente  os  feus  corações. 

38  Ao  mefmo  tempo  cahio  o  fogo 
do  Senhor ,  e  devorou  o  holocaufto ,  a 
lenha,  e  as  pedras  ,  lambendo  o  mefmo 
pó,  e  a  agua  que  eftava  no  regueiro. 

39  O  que  tendo  vifto  todo  o  Povo, 
proítrou-fe  com  o  rofto  em  terra,  edif- 
ie :  O  Senhor  he  que  he  Deos  ,  o  Se- 
nhor he  que  he  Deos. 

40  Então  lhes  diíFe  Elias :  Apanhai 
os  Profetas  de  Baal ,  e  nao  efcape  nem 
hum  fó.  E  tendo-os  o  Povo  agarrado, 
Elias  os  levou  á  torrente  de  Ciíon  ,  e 
alli  os  matou. 

41  Depois  diíTe Elias  aAcab:  Vai, 
come ,  e  bebe ,  porque  eu  ouço  o  ruído 
d'huma  grande  chuva. 

42  Acab  fe  retirou  para  comer  ,  e 

be- 


1Ó8  Reis. 


heber;  e  Elias  fubio  ao  alto  doCarme-^ 
Io  ,  e  inclinado  por  terra  metteo  o.  feu 
roílo  entre  os  feus  joelhos, 

43  e  dilTe  ao  feu  criado  :  Vai  ,  c 
olha  para  a  banda  do  mar.  Tendo  ido. 
o  criado,  a  olhar  ,  voltou  ,  e  difle-lhe: 
Não  ha  nada.  Elias  lhe  fegundou,  di- 
zendo: (/)  Torna  a  ir  fete  vezes. 

44  E  á  fetima  vez  eis-que  appare-. 
ceo.  huma  pequena  nuvem  ,  que  íe  le- 
vantava do  mar,  como  huma  pégada  d^ 
homem.  EdiíIeFUias  ao  feu  criado:  Vai 
dizer  a  Acab :  Faze  metter  os  cavallos 
po  teu  coche ,  e  corre ,  não  te  apanhe 
a  chuva. 

45-  E  quando  elle  fe  voltava  ora  para 
huma  ,  ora  para  outra  parte ,  eis-que  de 
repente  fe  çobrio  o  Ceo  de  trévas ,  ví- 
rão-le  nuvens  ,  levantou-fe  o  vento,  e 
çahio  huma  grande  chuva.  Acab  pois, 
fubindo  ao  coche  foi  para  Jezrael. 

(/)  Torna  a  ir  fete  vezes.  De  Carrieres  verte : 
Elus  lhe  diííe  ainda  :  Torva  a  ir  ^  e  lho  repete  fct(r> 
vezes.  Eu  fcguí  a  outros,  que  referem  o  fete  vezes, 
para  o  Torna  a  ir ,  e  náo  para  o  lhe  àijfe  ainda.  É 
â  pontuação  ordinacik  nos  Exemplares  da  Vulgar^ 
aíiim  o  pede.  Pereirao 


Liv.  IIL    Cap.  XVIII.  169 

46  E  ao  mefmo  tempo  foi  a  mão 
do  Senhor  fobre  Elias ,  e  tendoJe  cinr 
gido  os  rins ,  corria  adiante  d'Acah ,  até 
chegar  a  Jezrael. 

CAPITULO  XIX. 

yezabel  quer  matar  a  Elias.  O  Profeta 
fe  retira  ao  monte  Horeb.  O  Senhor  lhe 
manda  que  vd  ungir  a  Hazael  Rei  da 
Syria  ,  e  a  Jehu  Rei  IJrael.  Elifea 
recebe  o  ejpirito  de  Profecia  ,  e  fe  ag^ 
grega  a  Èlias^ 

I  ^nr^  Endo  Acab  referido  a  Jezabel 
JL  tudo  o  que  Elias  havia  feito , 
c  como  elle  matara  á  efpada  todos  os 
Profetas  , 

2  Enviou  Jezabel  hum  meíTageira 
a  Elias  para  lhe  dizer  :  Os  Deoíes  me 
tratem  com  toda  a  fua  feveridade  ,  fe 
çu  á  manhã  a  eíla  meíma  hora  te  não 
fizer  perder  a  vida  ^  como  tu  a  fizefte 
perder  a  cada  hum  delles.. 

3  {a)  Elias  pois  teve  medo,  e  au-  doM^ 

fen-  S^í^T- 

ant.  dc 

(^)  Elidi  pois  teve  medo ,  é^c,  O  que  não  tive-  ].  Chr. 
ra  medo  d'Acab ,  tem  agora  medo  de  Jezabel :  poj-  c^oy. 


-íjo  Reis. 

fentou-fe  para  onde  quer  que  o  feu  de- 
lejo  o  levava :  e  como  tiveíTe  chegada 
aBerfabée  em  Juda,  defpedio  alli  o  feu 
criado. 

4  E  andou  pelo  deferto  o  caminho 
d' hum  dia  :  e  tendo  chegado  onde  ef- 
tava  hum  junipero,  fe  aíTentou  debaixi 
delle :  e  defejando  a  morte,  diffe :  Baf- 
ta-me  devida,  Senhor:  tira  a  minha  al- 
ma do  meu  corpo  ,  porque  eu  não  fou 
melhor  do  que  meus  pais. 

5-  E  lançou-fe  em  terra  ,  e  dormio 
á  fombra  do  junipero  :  e  eis-que  hum 
Anjo  do  Senhor  o  tocou  ,  e  lhe  diffe : 
Levanta-te ,  e  come. 

6  Olhou  elle ,  e  vio  junto  á  fua  ca- 
beça hum  pão  cozido  debaixo  da  cin- 
za,  e  hum  vafo  d' agua.  Comeo  pois, 
e  bebeo ,  e  tornou  a  dormir. 

7  Vindo  outra  vez  o  Anjo  do  Se- 
nhor, o  tocou,  e  lhe  diffe:  Levanta-te, 
e  come :  porque  te  refta  que  fazer  hum 
grande  caminho. 


que  Deos  o  largou  á  fua  própria  fraqueza  para  o 
confervac  na  humildade.   Theodokexo  3  e  Ra.» 

BANO. 


Liv.  III.    Cap.  XIX.  171 

8  Tendo-fe  levantado  ,  comeo  ,  e 
bebeo:  e  com  o  vigor  que  lhe  deoaquel- 
la  comida,  caminhou  quarenta  dias,  c 
quarenta  noites  até  o  monte  de  Deos, 
Horeb. 

9  Chegado  alli  ficou  numa  caver- 
na: e  cís-que  o  Senhor  Ihedirigio  a  fua 
palavra  ,  dizendo-lhe :  Que  fazes  aqui , 
Elias  ? 

10  A  que  elle  refpondeo  :  Eu  me 
confumo  de  zelo  por  ti  ,  Senhor  Deos 
dos  Exércitos :  porque  os  filhos  d'Ifrael 
deixarão  o  teu  pado,  deftruírão  os  teus 
Altares,  matarão  os  teus  Profetas  á  ef- 
pada;  e  tendo  eu  ficado  fó,  elles  ainda 
me  procurão  tirar  a  vida. 

11  E  diffe-lhe  :  Sahe  ,  e  tem-te  no 
monte  diante  do  Senhor.  E  eis-ahi  paf- 
fa  o  Senhor  ,  e  diante  do  Senhor  hum 
vento  impetuofo,  e  lijo,  que  tranftorna 
os  montes  ,  e  quebra  as  pedras  diante 
do  Senhor.  O  Senhor  não  eftará  no  ven- 
to. Depois  do  vento  haverá  tremor :  e 
o  Senhor  não  eftará  no  tremor. 

12  Depois  do  tremor,  accender-fe- 
ha  hum  fogo :  e  o  Senhor  não  eftará  no 


f72'  Reis. 
fogo.  Depois  do  fogo  (è)  ouvir- fe-ha 
o  alTopro  d'  huma  branda  viração. 

13  Elia-s  tendo  ouvido  ifto,  (r)  co- 
brio  o  feu  rofto  com  a  capa  ;  e  tendo 
fahido ,  poz-fe  á  entrada  da  caverna :  e 
ao  mefmo  tempo  fe  lhe  d-eo  a  perceber 
huma  voz  ,  que  lhe  dizia  :  Que  fazes 
aqai  5  Elias  ?  E  elle  refpondeo  : 

14  Eu  mc  confumo  de  zelo  por  ti. 
Senhor  Deos  dos  Exércitos ;  porque  os 
filhos  d'Ifrael  deixárão  o  teu  pafto ,  def- 
truírão  os  teus  Altares ,  matarão  os  teus 
Profetas  áefpada;  e  tendo  eu  ficado  fó, 
.elles  ainda  procuráo  tirar-me  a  vida. 

E  o  Senhor  lhe  diífe  :  Vai  ,  e 
torna  pelo  caminho  por  onde  viefte  a® 
iongo  do  deferto  paraDamafco;  e  quan- 
do lá  tiveres  chegado ,  ungirás  a  Hazaei 
-em  Rei  da  Syria : 

e 

(^b)  Ouvir-fc-h.t  o  ajfjpro  d' huma  branda  vira^ie. 
Pepois  dúiàs  palavras  traz  o  Manuícrito  Aiexan- 
drÍ!io  da  versão  dos  Setenta  eltoutras  que  De  Car- 
rieres  ajunioa :  e a^ui  ejl.ird  o  Senhor:  palavras  que 
acabáo  de  dcfenvoiver  o  fencido  das  anceeedemei. 
Pereira. 

(c)  Cobrio  o  feu  rojlo  com  a  capi.  Sinal  de  de- 
cência ,  e  de  obfequio  entre  os  Hcbreos ,  coma  eri' 
aós  o  tirar  o  cbapéo.  Ca-l!£et« 


Liv.  IIL   Cap.  XIX.  173 

16  e  a  Jehu  filho  de  Namfi  ungirás 
cm  Rei  fobre  Ifraei :  ( ^ )  e  a  Elifeo  fi- 
lho de  Saffatj  que  he  de  Abelmeula ,  o 
ungirás  Profera  em  teu  lugar. 

17  E  acontecerá  ,  que  todo  o  que 
tiver  efcapado  á  efpada  d' Hazael,  ferá 
morto  por  Jehu  :  e  todo  o  que  tiver  ef- 
capado á  efpada  de  Jehu  ,  ferá  morto 
por  Eliieo. 

18  E  eu  rne  refervarei  para  mim  em 
Ifrael  fete  mil  homens ,  que  não  dobra- 
rão os  joelhos  diante  deBaal,  e  não  le- 
varão a  mão  á  boca  para  o  adorar. 

19  Tendo-fe  pois  Elias  partido  dal- 
li,  achou  aElifeo  filho  deSaíFat  lavran- 
do com  doze  juntas  de  bois  ,  e  cllc  mcf- 
mo  conduzia  hum  dos  arados  das  doze 
juntas  de  bois.  E  chegado  Elias  a  Eli- 
feo,  poz  a  fua  capa  íobre  elle. 

20  Logo  Elifeo,  deixados  os  bois, 
correo  apôs  Elias,  e  lhe  diíTe  :  Permit- 
te-me,  te  rogo  ,  que  eu  vá  beijar  meu 

pai, 

{à)  E  a  Elifto  filho  de  Saffat,  Efte  he  o  úni- 
co lugar  ,  donde  os  Padres ,  c  os  Expofitores  co- 
lhem ,  que  entre  os  Hebrcos  náo  fó  fc  ungião  03 
Sacerdotes ,  e  0$  Reis ,  mas  também  os  Profetas, 
Pereira» 


l74  Reis. 

pai,  e  minha  mãi:  e  aílim feguif-te-heL 
E  Elias  lhe  reípondeo  :  Vai ,  c  volta : 
porque  eu  fiz  por  ti  o  que  era  da  minha 
parte. 

2  1  EElIfeo,  depois  deter  deixado 
á  Elias ,  tomou  huma  junta  de  bois ,  e 
os  matou  5  e  com  a  lenha  que  fez  do  ara- 
do dos  bois  cozeo  as  fuas  carnes ,  a^as 
deo  ao  Povo,  o  qual  comeo  delias.  E 
partiologo,  efe  foi  em  alcance  d'Elias^ 
e  o  fervia. 

CAPITULO  XX. 

Cerco  de  Samaria  por  Benadad.  Derrota 
do  feu  exercito.  Outra  derrota  doexer^ 
cito  dos  Syros.  Acab  faz  alliança  com 
Benadad.  He  por  ijfo  reprehendido  por 
hum  Profeta, 

Anno     X  Ra  Beiiadad  Rei  de  Syrla , 

do  M.  tendo  ajuntado  todo  o  feu  exer- 

aiít^dè  ^^^^•>  ^       cavallaria,  e  as  fuas  carro- 
J.  Ghr.  Ç^s  ,  e  com  elle  trinta  e  dous  Reis, 
5>oi.    marchou  a  atacar  a  Samaria  ,  e  a  II- 
tiou. 

2   E  ao  mefmo  tempo  enviou  á  Ci- 
da- 


Liv.  III.    Ca  p.  XX.  175- 
dade  Embaixadores  a  Acab  Rei  d'If- 
rael ,  dizendo-lhe : 

3  Eis-aqui  o  que  diz  Benadad  :  A 
tua  prata  ,  e  o  teu  ouro  são  meus  :  as 
tuas  mulheres  5  e  os  teus  filhos  mais  bem 
feitos  são  meus. 

4  E  o  Rei  d^Ifrael  lhe  refpondeo: 
O' Rei  meu  Senhor,  eu  fou  teu,  como 
tu  dizes ,  e  todas  as  minhas  coufas  são 
tuas. 

5*  Tornarão  a  vir  os  Embaixadores, 
e  diíTerão:  Eis-aqui  o  que  diz  Benadad, 
que  nos  enviou  a  ti:  Tu  me  has  de  dar 
a  tua  prata  ,  e  o  teu  ouro ,  e  as  tuas  mu- 
lheres ,  e  os  teus  filhos. 

6  A' manhã  pois  a  efta  mefma  hora 
irão  os  meus  fervos  a  ti  ,  efquadrinha- 
ráõ  a  tua  cafa  ,  e  a  cafa  dos  teus  fervos: 
e  elles  tomarão  com  as  fuas  mãos  tudo 
o  de  que  goftarem ,  e  o  levarão. 

7  Então  fez  vir  o  Rei  d'Ifrael  to- 
dos os  anciãos  do  povo  ,  e  lhes  diíTe: 
Confiderai,  e  vede,  que  elle  nos  arma 
algum  laço ,  porque  elle  me  mandou  a 
pedir  minhas  mulheres  ,  meus  filhos ,  mi- 
nha prata,  e  o  meu  ouro :  e  eu  não  lhe 
dilTe  que  não.  E 


tfè  R  E  I  á. 

o  E  todos  os  anciãos  5  e  todo  o  Pò- 
Vo  lhe  rcfpondêrâo:  Não  lhe  dês  ouvi- 
dos ,  nem  te  accomodes  com  o  que  eltó 
defeja; 

9  Refpondeó  pois  Acab  aos  Em- 
baixadores de  Benadad  :  Dizei  ao  Rei 
nieu  Senhor  :  Eu  farei  todas  as  coufas 
que  tu  meenviafte  a  pedir  no  principio, 
como  fervo  que  fou  teu  :  {a)  mas  eíta 
ultima  coufa  não  a  poíFo  fazer. 

10  Tendo  voltado  os  Embaixado* 
res  5  referirão  efta  refpofta  a  Benadad  ^ 
o  qual  os  tornou  a  enviar  para  que  dif- 
feifem  a  Acab  :  Os  deofes  me  tratem 
com  a  fua  ultima  feveridade,  fe  todo  o 
pó  de  Samaria  baftar  para  cada  hum  dos 
que  me  feguem  poder  encher  hum  pu- 
nhado. 

11  E  o  Rei  d'Ifrael  lhe  replicou: 
Dizei  a  voífo  amo:  Não  he  quando  fe 
tomão  as  armas ,  que  hum  fe  deve  glo- 
riar; mas  fim  quando  as  larga. 

1 2  Recebco  Benadad  efta  refpofta  ^ 
quando  elle  bebia  na  fua  tenda  com  os 

ou- 

(a)  Mas  ejia  ultima  eoufá^  &c,  Afabcr,  a  dé 
entregar  os  bens  dos  vaíTallos.  Peixeira* 


\ 


L  iv.  IIL    Gai^.  XX.  iii 
outros  Reis  :  e  diíTe  logo  aos  feus  fer- 
ros :  Cercai  a  Cidade.  E  elles  a  cer- 
cárãoi. 

í3  Ao  mefmo  tempo  chegando-fe 
hum  Profeta  a  Acab  Rei  d*Ifrael,  lhe 
diíTe  :  Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor :  Vif- 
te  toda  eílainnumeravel multidão?  Pois 
eu  te  declaro  que  hoje  ta  entregarei  nas 
mãos  5  para  que  tu  íaibas  que  eu  fou  o 
Senhor. 

14  E  Acab  lhe  perguntou  :  Por 
quem?  E  elle  lhe  refpondeo :  Eis-aqui 
o  que  diz  o  Senhor  :  Pelos  criados  dtí 
pé  dos  Príncipes  das  Provincias.  Ac- 
crefcentou  Acab  :  Quem  começará  a  pe- 
lejar? Serás  tu,  lhe  diíTc  o  Profeta. 

ly  Fez  Acab  pois  revifta  dos  cria- 
dos de  pé  dosPrincipes  das  Provincias, 
e  achou  que  erão  duzentos  e  trinta  t 
dous.  Depois  fez  revifta  do  Povo  dos 
filhos  d'irrael5  e  achou  que  erão  fcte  mil. 

ló  E  fahírão  da  Cidade  ao  meio 
dia.  Bcnadad  porém  já  bêbado  eftava 
bebendo  na  fua  tenda  ,  e  com  elle  os 
trinta  e  dous  Reis  ,  que  tinhão  vindo 
em  feu  foccorro. 

Tom.  VI.  M  0% 


178  Reis. 

17  Os  criados  pois  dos  Príncipes 
das  Provincias  marchavão  na  frente  do 
exercito.  E  Benadad  mandou  reconhe- 
cer efta  gente.  E  vierão-lhe  dizer:  He 
gente  que  fahio  de  Samaria. 

18  E  diíTe-lhes  Benadad:  Ou  clles 
venhão  tratar  de  paz,  ou  venhão  a  pe- 
lejar, apanhaimos  vivos. 

19  Avançárão-fe  pois  os  criados  de 
pé  dos  Príncipes  das  Províncias  ,  e  o 
reíto  do  exercito  depois  delles. 

ao  E  cada  hum  delles  matou  os  que 
fe  lhe  pozerão  diante :  e  logo  os  Syros 
fugirão,  e  o  exercito  d'Ifrael  os  perfe- 
guio.  Benadad  Rei  de  Syria  também 
fugio  a  Cavallo  com  os  cavalleiros  que 
o  acompanhavão. 

21  E  o  Rei  d'Ifrael  tendo  fahido 
de  Samaria  matou  os  cavallos,  deftruio 
as  carroças  ,  e  ferio  a  Syria  com  hum 
grande  cftrago. 

22  Então  veio  ter  hum  Profeta  coni^ 
o  Rei  d'Ifrael,  e  lhe  diíTe:  Vai,  forti- 
fica-te,  evê  bem  o  que  tens  para  fazer: 
porque  o  Rei  de  Syria  virá  o  anno  fe- 
£:uinte  a  dar-tc  batalha, 

^  Os 


Liv.  m.    Ca?.  XX.  179 

23  Os  fervos  do  Rti  de  Syria  po- 
tém  lhe  diíTerão  :  Os  feus  Deofes  sao 
Deofes  desmontes,  e  por  líTo  elles  nos 
vencerão.  He  melhor  que  pelejemos  com 
clles  em  campo  rafo  ^  e  vedcel-los-he- 
mos. 

24  Eis-aqui  pois  o  que  tu  deves  fa- 
zer :  Aparta  do  teu  exercito  todos  os 
Reis,  e  poe  em  feu  lugar  os  teus  pri- 
meiros Officiaes. 

25-  Reftabelece  as  tuas  tropas ,  met- 
tendo  nellas  tanto  de  foldados  ,  quan- 
tos os  que  delias  forâo  mortos  :  tanto 
de  cavallos  ^  quantos  erão  os  do  teu 
exercito :  e  tanto  dc  carroças ,  quantas 
erão  as  que  tinhas  antes:  e  nós  peleja* 
remos  contra  elles  em  campo  rafo  j  e 
tu  verás  que  os  desbaratamos.  Crep  el- 
le  no  confelho  que  lhe  tinhao  dado  ,  e 
aílim  o  fez. 

26  Hum  anno  depois  fez  Benadad  Anno 
revifta  dos  Syros  ,  e  veio  a  Afec  para  ào  M; 
combater  contra  Ifrael.  anr°dc 

27  Fizerão  também  os  filhos  d'If-j^Cj^j^ 
rael  revifta  das  fuas  tropas  ;  e  tendo-fe  s^oo^ 
provido  de  viveres  ,  marchárão  contr^ 

M  ii  os 


i8o  Réis. 

os  Syros ,  e  fe  acamparão  defronte  dei- 
les.  Elles  não  parecião  fenão  dous  pe-* 
quenos  rebanhos  de  cabras  ,  ao  mef- 
mo  tempo  que  os  Syros  cobriao  toda  a 
terra. 

28  Então  veio  ter  com  o  Rei  d'If* 
rael  hum  homem  de  Deos ,  e  lhe  dilTe : 
Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor  :  Porque 
os  Syros  diílerão:  O  Senhor  he  o  Deos 
dos  montes ,  mas  não  o  hc  dos  valles : 
eu  te  entregarei  nas  mãos  toda  efta  gran- 
de multidão  5  e  tu  faberás  que  çu  he 
que  fou  o  Senhor. 

29  Efti verão  os  dous  exércitos  or- 
denados em  batalha  fete  dias:  e  ao  fe- 
timo  dia  fc  deo  a  batalha :  e  os  filhos  d' 
Ifrael  matarão  n'um  dia  cem  mil  homens 
de  pé  dos  Syros. 

30  Os  que  efcapárão ,  fugirão  para 
a  Cidade  d' Afec  :  e  cahio  o  muro  fo- 
bre  vinte  e  fete  mil  homens ,  que  tinhão 
reftado.  E  Benadad  fugindo  entrou  na 
Cidade  ,  e  retirou-fe  ao  lugar  mais  fe- 
creto  d'huma  camará. 

31  Então  lhe  diíTerao  os  feus  fer- 
ros :  Nos  temos  ouvido  dizer  que  os 

Reis 


Liv.  IIL    Cap.  XX.  i8i 

Reis  da  cafa  d'Ifrael  são  clementes: 
{b)  ponhamos  poisfaccos  fobre  osnof- 
fos  rins,  (r)  e cordas  á  roda  das  nolTas 
cabeças  ,  e  vamos  bufcar  o  Rei  d'If- 
rael ;  talvez  que  elle  nos  dê  a  vida. 

32  Pelo  que  elles  fepuzerão  faccos 
fobre  os  rins  ,  e  cordas  á  roda  das  ca- 
beças: e  vierão  ter  com  o  Rei  d'lfrael, 
e  lhe  diíTcrão  :  O  teu  fervo  Benadad  tc 
manda  fazer  efta  fúpplica  :  Concede-me 
ávida.  Elle  lhe  refpondeo  :  Se  elle  ain- 
da vive,  elle  he  meu  irmão. 

33  Daqui  tirarão  os  Syros  humbortl 
prefagio  :  e  tomando  logo  efta  palavra 
da  fua  boca  ,  lhe  dilferao:  Teu  irmão 

Bc- 

Pcnhamcs  pois  faccos  fobre  os  iiojjbs  rins, 
Sacco  ncftc  lugar,  como  noutros  muitos  da  Efcri- 
lura  ,  fignifica  hum  veílido  groíTeiro  ,  e  lúgubre, 
próprio  dos  que  vão  íupplicar  a  algucm  ,  que  te- 
nha dellcs  mifericordia.  Pereira. 

( c )  E  cordas  d  roda  das  nojfas  cabeças.  Náo 
fci  porque  razáo  ,  dizendo  a  Vulgata  láo  expreíTa- 
mente  e^^  funiculos  in  c<ifnibus  nofiris  ,  traduzirão 
ranto  Saci ,  como  De  Carricrcs ,  des  ccrdes  a  tiotre 
COu.  Porque  ainda  que  as  cordas  ao  pefcoço  con- 
venháo  bem  aos  rcos  ,  com  tudo  afhrmando  aqui 
aEícritura  que  os  Syros  as  pozeráo  á  rcda  das  Tuas 
cabeças  ,  náo  he  traduélor  fiel  o  que  por  cabeças 
ycnc  o  pcfcoço.  Principaloicntç  quando  até  aHifr 


l2^  Reis, 

Benadad.  Eelle  lhesrefpppdeo:  Ide,  e 
trazei-mo.  Veio  pois  Benndad  aprefen- 
tar-fe  a  Acab  ,  e  efcc  o  fez  montar  fo- 
bré  á  fua  carroça. 

34  E  Benadad  lhe  diffe:  Eu  te  en- 
tregarei as  Cidades  ,  que  meu  pai  to- 
mou a  teu  pai  .  e  faze  para  ti  praças 
públicas  em  Damaíco  ,  como  meu  pai 
as  tinha  feito  para  11  em  Samaria  :  e 
quando  nós  tivermos  feito  efta  alliança  , 
eu  mê  retirarei.  Acab  pois  fez  ella  ai- 
Jiança ,  e  o  deixou  ir. 

35r  Então  hum  dos  filhos  dos  Pro- 
fetas dilTe  da  parte  do  Senhor  a  hum 
dos  feus  companheiros  :  Dá  em  mim. 
E  como  elle  lhe  não  quizcíTe  dar,  pro- 
feguio ,  dizendo : 

36  Porque  tu  não  quizefte  ouvir  a 
voz  do  Senhor  ,  fabe  que  em  te  apar- 
tando de  mim  te  matará  hum  leão.  E 
tendo-fe  elle  apartado  hum  pouco  del- 
le,  hum  leão  o  achou,  e  o  matou. 

Ten- 

tõría  profana  rsos  fubminiílra  outros  exemplos  c!c 
cabeças  coroadns  com  cordas  ,  corr-o  fe  pódc  ver 
cm  Heródoto  Livro  I.,  Cap.  CXCÍX. ,  e  em  Ef-» 
irabâo  Livfo  XVI. ,  pag.  1081.  da  Edição  dc  We(* 


Liv.  III.    Cap.  XX.  185 

37  Tendo  encontrado  outro  ho- 
mem ,  lhe  diiTe  :  Dá  em  mim.  Deo  o 
homem  nelle,  e  o  ferio. 

38  Ao  fahir  dalli  pois  o  Profeta  en- 
controu o  Rei  que  hia  de  caminho  ;  e 
para  efle  o  não  conhecer,  cobrio  de  pó 
o  feu  rofto ,  e  os  feus  olhos. 

39  E  tendo  paíTado  o  Rei ,  gritou 
após  elle,  e  lhe  difle :  O  teu  fervo  fa- 
hio  a  pelejar  com  os  inimigos  de  per- 
to :  e  como  fugilTe  hum  delles  ,  outro 
mo  trouxe,  e  mediíFe:  Guarda-me  bem 
efte  homem  ;  e  fe  elle  fe  efcapulir  ,  a 
tua  vida  ficará  refponfavel  pela  dellc, 
ou  tu  pagarás  hum  talento  de  prata. 

40  E  quando  eu  todo  turbado  an- 
dava ás  voltas  d'huma  parte  para  a  ou- 
tra 5  eis-que  de  repente  defappareceo 
efte  homem.  E  o  Rei  d'lfrael  lhe  diíTe  : 
Tu  mefmo  pronunciaíle  a  tua  fentença, 

41  Logo  alimpou  elle  o  pó  do  feu 
rofto  ,  e  o  Rei  dMlrael  conhecco  que 
elle  era  do  numero  dos  Profetas. 

42  E  elle  lhe  diíTe  :  Eis-aqui  o 
que  diz  o  Senhor  :  Porque  tu  deixafte 
eicapar^  das  tuas  mãos  hum  homem  di- 


i?4  Reis. 
gno  de  morte  ,  a  tua  vida  refponderá 
pela  delle,  e  o  teu  Povo  pelo  feu. 

43    O  Rei  d'lírael  porém  tornou  | 
para  fua  cafa ,  não  fazendo  cafo  do  que 
o  Profeta  lhe  tinha  diro  ,  e  cheio  dç 
furor  entrou  em  Samana, 

CAPITULO  XXI. 

I^ahoth  recuja  vender  a  fua  vinha  a  Acah. 
Jezabel  faz  conãemnar  Nabotb  a  Jer 
apedrejada.  Elias  faz  terriveis  amea^ 
ças  a  Acab.  Efte  Principe  fe  humilha , 
e  defuia  de  fima  de  fi  os  males  de  qus 
ejlai^a  ameaçado, 

4lnno  \  1 A  Epois  deftes  fucceíTõs  yio-fe 
doM.  naquelle  mefmo  tempo  outro^, 

^^^^^^^Naboth  de  Jezrael  tinha  em  Jezrael 
Íg.  "niefmo  huma  vinha  ao  pé  dopalaçio  d*' 
^99*    Acab  Rei  de  Samaria. 

a    {a)  E  Açab  lhe  diCe:  Dá  me  a 

tua 

(4)  E  Acab  lhe  di{fe:  Dá-we  a  tua  vinha,  &Ci 
pctts  lu^ar  iníerc  Eího ,  que  o  que  Samuel  diííe- 
ra  tallando  do  direito  que  o  Kei  d' Ifrael  havia  de 
exercitar  íobre  os  vaíTallo'?  :  Elie  tomará  os  vcffos 
campos ,  c  vinhas .  e  os  melhores  olivaes ,  e  os  dara 
içsjeui  fervo i ,  (i.Rc^.  vui.  14.)  fe  náo  devia  er\n 


Liv.  III.    Cap.  XXL  i8f 

tua  vinha  para  eu  poder  fazer  huma  hor- 
ta, viftoeftar  ella  vizinha  derninha  ca- 
fa  :  e  eu  te  darei  por  ella  outra  vinha 
melhor  :  ou  fe  ifto  te  faz  mais  conta , 
eu  ta  pagarei  a  dinheiro  pelo  preço  que 
ella  vale. 

3  Naboth  lhe  refpondeo  \  {h)  Deos 
me  guarde ,  que  eu  te  dê  a  herança  de 
meus  pais. 

4  Veio  poisAcab  para  fua  cafa  to- 
do agaftado  ,  e  encolerizado  por  caufa 
defta  palavra  ,  que  Nabcth  Jezraelit^ 
lhe  diíTera  :  Eu  te  não  darei  a  herança 
de  meus  pais.  E  deitando-íe  na  fua  ca-' 
ma  ,  voltou  o  rofto  para  a  parede  ,  e 
não  comeo. 

E 

tender  d'  hum  império  legitimo ,  mas  d'  hum  direi- 
to arrogado  5  c  ulurpado.  Porque  d  outra  forte  não 
poderia  fazer  mal  a  Naboth ,  para  que  lhe  vendelie 
a  fua  vinha  ;  mas  tirar-lha-hia  ,  ou  cUc  quizcíTc, 
ou  não  quizeíTe.  Pereira. 

( )  DcGs  me  guarde ,  c^ue  cu  te  dê  a  herança  de 
vwus  pais,  A  qual  a  Lei  prohibia  alienar  para  iem- 
prc ,  Levit.  XXV.  2:5.  Terra  non  vcndetur  in  pape- 
tuum  quia  mea  eft,  Ai\\m  Santo  Ambrcíio  conCde- 
ra  a  reípofta  ,  e  acçáo  de  Naboth  por  huma  pro- 
va da  fua  probidade  :  e  a  efte  aíTumpto  dedicou 
hum  Livto  3  que  intitulou  Dq  Naboth,  Pereiua. 


i86  Reis. 

5  E  J^zabel  fua  mulher  vindô  ter 
com  elle,  lhe  diíTc  :  Pois  que  he  ifto? 
Donde  te  vem  efta  trifteza  ?  E  porque 
não  comes  ? 

6  Elie  refpondeo:  Fallei  a  Naboth 
de  Jezrael  ,  e  lhe  diíTe  .  Dá-me  a  tuâ 
vinha,  e  cu  ta  pagarei  a  dmheiro;  ou 
fe  aíTim  te  faz  mais  conta  ,  dar-te-heí 
porella  outra  melhor.  EcUe  me  refpon- 
deo :  Eu  te  não  darei  a  minha  vinha. 

7  Então  lhe  diiTe  Jezabel  fua  mu- 
lher :  Grande  authoridade  he  a  tua  ,  e 
bem  governas  tu  liVael  :  Levanta-te, 
come  ,  e  focega  o  teu  efpinto.  Eu  te 
darei  a  vinha  de  Naboth  de  Jezrael. 

8  Logo  efcrev^eo  elia  huma  carta 
em  nome  d'Acab  ,  a  qual  fellou  com  o 
fello  do  Rei  ,  e  enviou  aos  velhos  ,  e 
aos  primeiros  da  Cidade  de  Naboth, 
que  habitavão  com  elle. 

9  E  o  theor  da  carta  era  efte :  (c) 
Publicai  hum  jejum  ,  e  fazei  aíFentar 
Naboth  entre  os  primeiros  do  Povo ; 

10  e  ganhai  contra  elle  dous  filhos 


(f )  Publicai  hum  jejum  ,  f^c.  Como  para  vos 
íiifpordes  a  íenienccac  hum  grande  ne^owio  ,  fç- 


Liv.  IIL  Cap.  XXL  187 
de  Baal  ,  que  profirão  hum  falfo  tefte- 
munho,  dizendo:  (d)  Naboth  blosfe- 
mou  contra  Deos  ,  e  contra  o  Rei.  E 
trazei-o  fora  da  Cidade ,  e  apedrejai-o  , 
e  morra  Naboth. 

11  Os  velhos  5  e  os  primeiros  da 
Cidade  de  Naboth,  que  vivião  com  el- 
le  ,  fizerão  o  que  Jezabel  lhes  havia 
mandado  ,  e  o  que  continha  a  carta , 
que  ella  lhes  enviara. 

12  Publicarão  hum  jejum  ,  efizerao 
aflentar  Naboth  entre  os  primeiros  do 
Povo. 

13  (^)  E  tendo  feito  vir  dous  ho- 
mens filhos  do  diabo  ,  os  fizerao  aífen- 
tar  defronte  delle.  E  cftcs  dous  como  ho- 
mens diabólicos  derao  teftemunho  con- 
tra Naboth  diante  da  alTcmblea ,  dizen- 
do : 

gundo  era  coftume  cnrrc  os  Hebreos  nos  cafos  ex- 
iraordinarios.  Pereira. 

Çd)  Naboth  blasfemou  contra  JDccs  ^  e  contra  Q 
Rd.  Náo  he  fò  aqui  que  o  verbo  bencdkere  íc  [  õc 
na  íi^nificaçáo  de  métledicere  ,  ao  uío  da  lingua  lan- 
la.  O  mcrn-.Q  lemos  em  Job,  i.  5.  e  n.  Perki- 

(^e)  E  tendo  feito  vir  deus  hmcns  filhos  do  dia* 
ho ,  é-c,  líto  he  5  dous  pcíiimos  homens.  Perh- 


i83  Reis. 

do:  Naboth  blasfemou  contra  Deos,  e 
contra  o  Rei.  E  em  confequencia  defte 
teftemunho  ,  elles  o  fizerão  levar  fóra 
da  Cidade ,  e  o  matarão  ás  pedradas. 

14  E  mandarão  logo  dizer  a  Jeza» 
bel:  Naboth  foi  apedrejado,  e  morreo. 

i^y  EJezabel  tendoouvido  que  Na- 
both fora  apedrejado  ,  e  morrera  ,  foi 
dizer  a  Acab  :  Vai  ,  (/)  c  faze-te  fe- 
nhor  da  vinha  de  Naboth  de  Jezrael , 
que  te  mo  quiz  fazer  a  vontade  ,  nem 
dar-ta  pelo  que  ella  valia  :  porque  Na- 
both já  não  vive,  mas  he  morto. 

16  Acab  tendo  ouvido  que  Naboth 
era  morto,  hia  para  a  vinha  de  Naboth 
de  Jezrael  para  fe  apoíTar  delia. 

17  A  efte  tempo  dirigio  o  Senhor 
a  fua  palavra  a  Elias  Thesbita  ,  e  lhe 
diífc  : 

1 8  Vai  encontrar-te  com  Acab  Rei 
d*ífrael,  que  eílá  em  Samaria:  porque 
eis-ahi  vai  elle  á  vinha  de  Naboth  para 
fe  fazer  fenhor  delia. 

E 

(/)  E  f  izc-te  fenhor  da  vinha  de  Naho'h,^  Co" 
fÇiO  d'  huma  fazenda  ,  que  por  fer  d'  hum  réo  de 
lefa  migcftade  recahio  no  FifçQ  ,  c  te  pertence. 


Liv.  m.  Cap.  XXI.  189 

19  E  tu  lhe  fallarás  neltes  termos: 
Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor :  Tu  o  ma- 
tafíe  5  e  em  fima  te  fenhoreafte  do  que 
era  feu.  E  depois  accrefcentarás :  Eis* 
aqui  o  que  diz  o  Senhor:  Nefte  mefmo 
lugar,  em  que  os  cães  lamberão  o  fan* 
gue  de  Naboth  ,  (g)  lamberáõ  elles 
também  o  teu  fangue. 

20  E  Acab  diíTe  a  Elias  :  Em  que 
achaftc  tu  que  eu  fofle  teu  inimigo? 
Elias  lhe  refpondeo :  Eu  o  achei  cm  tu 
feres  vendido  para  fazeres  o  mal  aos 
olhos  do  Senhor. 

21  Eis-ahi  farei  eu  cahir  o  mal  fo- 
bre  ti ;  eu  te  arrancarei  a  ti ,  e  á  tua  pof- 
teridade  de  fima  da  terra ;  e  eu  matarei 
da  cafa  d'  Acab  até  o  que  ourina  á  pa- 
rede 5  e  des  do  primeiro  até  o  ultimo 
dMfraeh 

22  E  eu  darei  a  tua  cafa  ,  como  a 

ca- 

(^)  Lamberão  elles  também  o  teu  fatigue.  Efte 
vaticínio  quanto  ao  lugar  nâo  fe  verificou  napefíba 
d'Acab  ,  que  como  adiante  veremos  no  Cap.  XXII. 
verfo  ^S,  os  cáes  lhe  lambêráo  o  fangue  na  pifci- 
na  de  Samaria  :  mas  verificou-fc  á  rika  na  pcíToa 
de  fcu  filho  Joráo  ,  cujo  fangue  lambêráo  os  cáes 
no  campo  de  Naboth.  iv.Rcg,  ix.  25.  Pereira. 


ipo  Reis, 

cafa  de  Jeroboão  filho  deNabat,  c  co- 
mo a  cafa  de  Baáfa  filho  d'Ahia:  por- 
que as  tuas  acções  me  provocarão  a  ira  , 
e  porque  fizefte  peccar  a  Ifrael. 

23  Também  dejezabel  pronunciou 
o  Senhor  efta  fentença :  Os  cães  come- 
rão a  Jezabel  no  campo  de  Jezrael. 

24  Se  Acab  morrer  na  Cidade,  co- 
meí-lo-hão  os  cães  :  c  íe  morrer  no  cam- 
po j  comeUo-hão  as  aves  do  Ceo. 

25  Acab  pois  não  teve  femelhante 
em  maldade  ,  como  quem  fora  vendido 
para  fazer  o  mal  aos  olhos  do  Senhor: 
porque  Jezabel  fua  mulher  o  incitou. 

26  E  elle  fe  tornou  tão  abominá- 
vel ,  que  feguia  os  idolos  dos  Amor- 
rheos,  que  o  Senhor  tinha  exterminada 
á  entrada  dos  filhos  d' Ifrael. 

27  Acab  tendo  ouvido  eftas  pala- 
vras, ralgou  os  feus  veftidos,  cobrio  a 
fua  carne  d' hum  cilicio,  jejuou,  edor- 
mio  com  o  facco  ,  e  andou  de  cabeça 
baixa. 

28  Então  dirigio  o  Senhor  a  fua  pa- 
lavra a  Elias  Thesbita,  e  lhe  diíTe: 

Não  viíte  a  Acab  humilhada 

.  dian- 


Liv.  ITI.   Cap.  XXI.  191 

diante  de  mim  ?  (h)  Porque  elle  pois 
fe  humilhou  por  minha  eaufa  ,  não  fa- 
rei eu  cahir  o  mal ,  em  quanto  elle  vi- 
ver ;  mas  em  tempo  de  leu  filho  falio- 
hei  cahir  fobre  a  íua  cafa. 

(/;)  Porque  elle  pois  fe  humilhou ,  <ò*c.  Quanto 
agradará  ao  Senhor  nos  feus  efcolhidos  a  iriftcza 
da  penitencia,  que  teme  perder  aDeos,  fe  até  lhe 
agradou  a  penitencia  d'  hum  réprobo  ,  que  temia 
perder  o  feculo  preíente !  S.  Gregorio  Hom.  X.  fo- 
bre Ezequiel. 

CAPITULO  XXII. 

j^Cí^b  ,  e  Jofciftít  fe  Ugão  contra  os  Syros, 
Os  faljos  Profetas  Acab,  predizem  a 
'vtí\oria,  Miqueas  lhe  prediz  a  fua  mor- 
te,  Acah  morre,  Ocozias  lhe  juccede. 
Morre  também  Jofafat  ,  e  fuccede-lh^ 
Jorão. 

I  Epoisdiftopafsárao-fe  tres  an-  Anno 

JL^  nos  fem  haver  guerra  alguma 
entre  a  Syria ,  e  Ifrael.  H^Jf 
2    Mas  ao  terceiro  anno  veiojofafat  deJ.C. 
Rei  de  Juda  ter  com  o  Rei  d'Ilrael.  ^^7- 

^3  Porque  o  Rei  d' Ifrael  tinha  já 
dito  aos  feus  fervos.  :  Ignorais  vós  que 


i;)^  Reis. 

íi  Cidade  deRamoth  dcGalaad  hertof- 
fa  ?  E  entretanto  nós  não  curamos  de  a 
recobrar  das  mãos  do  Rei  da  Syria. 

4  E  o  Rei  d'Ifrael  diíFe  a  Jofafat: 
Quererás  tu  vir  comigo  a  guerra  para 
tomar  Ramoth  de  Gilaad? 

5*  Jofafat  refpondeo  ao  Rei  d'If- 
rael:  'Va  podes  difpôr  de  mim,  como 
de  ti  mefmo:  o  meu  Povo,  e  o  teu  Po- 
vo são  hum  mefmo :  e  a  minha  cavalla- 
ria  he  tua  cavallaria.  E  accrefcentou 
fallando  com  o  Rei  d'Ifrael:  Gonfulta 
hoje  ,  te  peço  ,  qual  he  a  vontade  do 
Senhor. 

6  O  Rei  d'Ifrael  pois  ajuntou  os 
feus  Profetas  ,  que  erão  perto  de  qua- 
trocentos )  e  lhes  difle  :  Devo  eu  ir  á 
guerra  para  tomar  Ramoth  de  Galaad, 
ou  deixar-me  eftar  quieto?  EUes  Ihcre-* 
fpondêrão :  Vai ,  e  o  Senhor  entregará 
a  Cidade  nas  mãos  do  Rei. 

7  Jofafat  lhe  diíTe  :  Não  ha  aqui 
nenhum  Profeta  do  Senhor  para  nós  a 
confultarmos  por  elle  ? 

8  E  o  Rei  d'lfrael  refpondeo  a  Jo- 
fafat :  Ficou  hum  homem  ^  por  quem 

nós 


Liv.  III.    Càp.  XXII.  193 

nós  podemos  confultar  o  Senhor  :  mas 
eu  o  aborreço  5  porque  elle  me  não  pro- 
fetiza o  bem ,  mas  o  mal.  Efte  he  Mi- 
queas  filho  de  Jcmla.  Jofafat  lhe  diíTc: 
O' Rei ,  não  í^lles  aílim. 

9  Chamou  pois  o  Rei  d'Ifrael  hum 
eunuco,  e  IhediíTe:  Traze-me  aqui  de- 
preíTa  a  Miqueas  filho  de  Jcmla. 

10  E  o  Rei  d'Ifraelj  ejofafat  Rei 
de  Juda  eftavão  n'uma  eira  junto  á  por- 
ta de  Samaria ,  aíTentados  cada  hum  no 
feu  throno,  veftidos  com  huma  magni- 
ficência real  ,  e  todos  os  Profetas  pro^ 
fetárão  diante  delles. 

1 1  Sedecias  filho  de  Canaana  fe  ti- 
nha também  feito  huns  cornos  de  ferro, 
e  difle  :  Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor: 
Com  eftes  cornos  baterás  tu  ,  e  agita- 
rás a  Syria  até  a  deftruires  de  todo. 

12  E  todos  os  Profetas  profetaváo 
omefmo,  e  diziao:  Vai  contra  Ramoth 
de  Galaad ,  e  marcha  felizmente  ;  e  o 
Senhor  a  entregará  nas  mãos  do  Rei. 

13  Aquelle  porém  ,  que  tinha  fido 
enviado  a  chamar  Miqueas  ,  lhe  difle : 
Eis-ahi  todos  os  Profetas ,  que  nas  fuas 

Tom.  VL  N  re- 


194  R  E  í  s, 

refpoftas  todos  a  huma  voz  predizem  a 
fucceíTo  ao  Rei :  fejão  pois  as  tuas  pa- 
lavras femelhantes  ás  delles  ,  e  a  tua 
predicção  favorável. 

14  Miqueas  lhe  refpondeo :  Viva  o 
Senhor  ,  que  eu  nao  direi  fenão  o  que 
o  Senhor  me  diíTer. 

Apprefentou-fe  pois  Miqueas 
diante  do  Rei  5  e  o  Rei  lhe  diffe:  Mi- 
queas, devemos  nós  ir  á  guerra  para  to- 
mar Ramoth  de  Galaad ,  ou  deixarmos 
eftar  quedos  ?  Miqueas  lhe  refpondeo : 
(a)  Vai,  e  marcha  felizmente;  e  o  Se- 
nhor a  entregará  nas  mãos  do  Rei. 

16  Accrefcentou  o  Rei:  Eu  te  con- 
juro huma  ,  e  outra  vez  em  Nome  do  Se- 
nhor 5  que  me  não  falíes  fenão  a  verdade, 

17  E  Miqueas  lhe  diíTe  :  Eu  vi  todo 
o  Ifrael  difperfa  pelos  montes  ,  como 
ovelhas  que  nao  tem  paftor:  e  o  Senhor 
difle :  Elles  não  tem  Conduftor  :  torne 
cada  hum  em  paz  para  fua  cafa. 

Dif- 

(^)  Fai,  e  marcha  felhmstite i  ò'C,  Pelo  modo 
de  falhr,  e  pelo  geíto  de  Miqueas,  entcndeo  logo 
Acab ,  que  o  feu  dito  era  irónico  :  por  iíTo  o  con" 
jurou,  que  lhe  diíTeíTe  a  verdade  pura,  e  clara,  Fe-, 


Liv.  III.    Cap.  XXII.  ipy 

18  DiíTe  então  o  Rei  d^Ifrael  para 
Jofafat  :  Não  te  diíTe  eu,  que  eíle  ho- 
mem nunca  me  profetiza  o  bem  ,  mas 
fempre  o  mal  ? 

19  Miqueas  porém  accrefcentou  : 
Por  ilTo  ouve  a  palavra  do  Senhor  :  Eu 
vi  o  Senhor  aíTentado  fobre  o  feu  thro- 
no,  e  todo  o  exercito  doCeo  ao  redor 
delle  á  direita  ,  e  á  efquerda : 

20  e  o  Senhor  diíTe  :  Qtiem  enga- 
nará aAcab  Rei  d^IíVael,  para  que  el- 
le  marche  contra  Ramoth  de  Galaad, 
c  pereça  ?  E  hum  diíTe  huma  coufa^  c 
outro  outra. 

21  Mas  o  efpirito  malino  fe  adian- 
tou ;  e  apprefentando-fe  diante  do  Se- 
nhor, lhe  diíTe:  Eu  ferei  o  que  engane 
a  Acab.  E  o  Senhor  lhe  diíle :  De  que 
modo  ? 

22  E  elle  refpondco:  Eu  irei,  e  eu 
ferei  hum  efpirito  mentirofo  na  boca  de 
todos  es  fcus  Profetas.  E  o  Senhor  lhe 
diíFe:  Tu  o  enganarás,  e  tu  prevalece- 
rás: {b)  fahe,  e  faze-o  aílim. 

N  ii  eis- 

(  ^  )  Sabe ,  €  faze-o  ajftm.  Nem  fempre  o  modo 
Miiperativo  na  Eícritura  íignifica  império ,  ou  ina*í 


1^6  Reis. 

a 3  Eis-aqui  pois  agora  poz  o  Se- 
nhor hum  efpirito  de  nientira  na  boca 
de  todos  os  teus  Profetas ,  que  aqui  ef- 
tão  j  e  o  Senhor  pronunciou  a  tua  fen^ 
tença. 

24  Ao  mefmo  tempo  fe  chegou  Se- 
decias  filho  de  Canaana  a  Miqueas  ,  e 
lhe  deo  huma  bofetada  na  maça  do  rof- 
to  ,  e  IhediíTe:  Logo  a  mim  largou-me 
o  Efpirito  do  Senhor,  e  fó  a  ti  he  que 
elle  fallou? 

25*  E  Miqueas  IhediíTe:  Tu  o  verás 
no  dia  que  andares  de  camará  em  ca- 
mará, para  te  efconderes. 

26  Então  difle  o  Rei  d'Ifrael:  To- 
mai 

do  de  quem  quer,  ou  approva  a  coufa  fignificada. 
Muitas  vezes  pelo  modo  imperativo  íefignifica  hu- 
ma mera  permifsáo  da  coula,  ou  huma  predicçáo 
do  futuro.  Aflim  fucccde  aqui ,  onde  pcrmitte  Deos 
que  Acab  feja  enganado  em  pena  das  fuas  idola- 
trias. Porque,  como  diz  Santo  Agoftinho ,  era  juf- 
to  que  Acab ,  que  não  tinha  crido  no  Deos  verda- 
deiro, foíTe  enganado  pelo  falfo.  Ou  como  efcre- 
Ve  S.Gregorio  Papa,  merecia  Acab  ,  que  já  que 
tantas  vezes  por  querer  tinha  peccado ,  foíTe  agora 
enganado  fem  querer.  Nefte  fcntido  diíTc  também 
Deos  porifaias,  vi.  10.  Obféca  o  coraç^xo  dejie  Po^ 
vo  ,  e  faze  aue  as  fuas  crelhas  fe  lhe  tornm  pezít- 
daSf  e  fqha-íhe  os  olhos.  Pereira» 


Liv.  III.   Cap.  XXII.  197 

fnai  â  Miqueas ,  e  levai-o  a  cafa  de  Amon 
Governador  da  Cidade ,  e  a  cafa  dejoás 
filho  d'Ame!cch : 

27  e  dizei-Ihes  :  Eis-aqui  o  que  o 
Rei  ordena :  Mettei  cfte  homem  na  ca- 
deia ,  e  elle  fe  fuftente  do  pão  da  dor , 
e  da  agua  da  tribulação  ,  até  que  eu 
volte  em  paz. 

a  8  E  Miqueas  lhe  diíTe  :  Se  tu  vol- 
tares em  paz  ,  não  fallou  o  Senhor  por 
mim.  E  continuou  :  Ouvi  ,  Povos  to- 
dos. 

29  Marcha'rão  pois  o  Rei  d^Ifrael, 
e  Jofafat  Rei  de  Juda  contra  Ramoth 
de  Galaad. 

30  Entretanto  o  Rei  d'Ifrael  dilTe 
a  Jofafat:  Toma  as  tuas  armas,  e  entra 
no  combate  com  os  teus  veftidos.  (c) 
Mas  o  Rei  d'Ifrael  mudou  de  trajo, 
antes  de  dar  a  batalha. 

31  Ora  o  Rei  de  Syria  tinha  dado 

ef- 

(r)  Mas  o  Rei  d'  Ifrael  mudou  de  trajo  ,  ebr. 
Efta  prevenção  d  Acab  dá  motivo  dcdifcorrcr,  que 
ellc  foubcra  da  ordem  ,  que  o  Rei  da  Syria  tinha 
dado  aos  Capitães  das  luas  carroças  ,  e  que  fe  re- 
fere no  feguintc  verfo :  a  qual  ordem  talvez  tinha 
ciado  Benadad  em  púbhco  aos  fcus.  Pereira, 


Reis. 

efta  ordem  aos  trinta  e  dous  Capitães 
das  fuas  carroças  :  Nao  pelejeis  contra 
efte  nem  aquelle  :  mas  atacai  fomente 
o  Rei  d'Ifrael. 

32  Os  Capitães  das  carroças  pois 
tendo  vifto  a  Jofafat  ,  imaginarão  que 
clie  era  o  Rei  d'irrael  ;  e  tendo  cabi- 
do fobre  elle,  o  aperta  vão.  (d)  Então 
clamou  Jofafat : 

33  e  os  Capitães  das  carroças  co- 
nhecerão que  aquelle  não  era  o  Rei 
Ifrael ,  e  cefsárão  de  o  atacar. 

34  Entretanto  aconteceo  que  hum 
homem  tendo  embebido  nofeu  arcohu- 
ma  fetta  5  atirou  com  ella  á  ventura,  e 
a  fetta  foi  dar  no  Rei  d^ífraei,  e  oatra- 
veíTou  (e)  entre  o  bofe,  e  o  eftomago, 

E 

(d)  Então  clamou 'Jofafat  ,  'àc.  O  Segundo 
dos  Paralipomenos ,  xviii.  nos  certifica ,  que 
JoíaFat  nelte  aperto  clamou  ao  Senhor  que  o  li- 
vraíTe ,  como  com  effeiro  livrou.  Clãmavit  nd  Do- 
minum,  <ò'  auxiliaius  ejl  ci ,  atque  avenh  cos  ah  il" 

lo.  PexE(Ríí. 

(e)  Entre  o  tofe,  ó^c.  Neftc  lugar  alguns  ver- 
tem doHebreo,  entre  a  ccxa,  e  a  coiraçã.  No  Li- 
vro II.  dos  Paralipomenos  Cap.  X\'ílí. ,  verío  ^^<. 
as  mefmas  palavras  do  Hebrco  fe  traduzem  aílimj 
Entre  a  cerviz^  e  as  cofias.  Pereira. 


Liv.  III.    Cap.  XXII.  199 

E  élle  diíTe  para  o  feu  cocheiro :  Toma 
a  volta  5  e  tira-me  do  exercito ,  porque 
eftou  gravemente  ferido. 

35'  Durou  a  batalha  todo  o  dia,  e 
o  Rei  d'  Ifrael  ficou  na  fua  carroça  com 
o  rofto  voltado  para  os  Syros.  Corria- 
ihe  o  fangue  fobre  toda  a  carroça  da  fe- 
rida ,  e  el!e  morreo  de  tarde. 

36  E  antes  que  fe  pozeíTe  o  Sol, 
tocou  hum  pregoeiro  a  trombeta  por  to- 
do o  exercito,  e  diíTe:  Cada  hum  vol- 
te para  a  fua  Cidade  ,  e  para  a  fua 
terra. 

37  Morto  pois  o  Rei  ,  fei  levado 
a  Samaria,  e  alli  o  enterrarão. 

30  Lavarão  as  fuas  carroças  ,  e  as 
rcdeas  na  pifcina  de  Samaria,  e  os  cães 
lamberão  o  feu  fangue  ,  conforme  a 
palavra  que  o  Senhor  tinha  pronuncia- 
do. 

39  O  refto  das  acções  d' Acab  ,  e 
tudo  o  que  elle  fez  ,  a  cafa  de  marfim 
que  fabricou  ,  e  todas  as  Cidades  que 
fundou ,  eftão  cfcritas  no  Livro  dos  An- 
nacs  dos  Reis  d' Ifrael. 

40  Dormio  pois  Acab  com  fcus  pais , 


lÔO  R  E  I  s\ 

Anno  e  reinou  em  feu  lugar  Ocozias  feu  fi- 
do M.  lho.  ^ 

ant^dc     41    E  Jofafat  filho  d'Afa  tinha  co- 
Chr.    meçado  a  reinar  fobre  Juda  no  quarto 
anno  d'Acab  Pvei  dMírael. 

42  Elie  tinha  trinta  e  hum  annos, 
quando  começou  a  reinar;  e  reinou  vin^ 
te  e  finco  annos  em  Jerufalein.  Sua  mal 
chamava-fe  Azuba  ,  e  era  filha  de  Sa- 
lai. 

43  Eelle  andou  em  todos  os  cami^ 
nhos  d'Afa  feu  pai,  efez  o  que  era  re-r 
Cio  j  e  jufto  diante  do  Senhor. 

44  (/)  Não  deilruio  eom  tudo  os 
Altos:  porque  ainda  o  Povo  facrificava  , 
e  queimava  incenfo  nos  Altos. 

E 

(/)  Não  dejiruio  comtodo  os  Altos*  No  Segundo 
dos  Paralipomenos 5  xvii.  6.  e  xix.  ^.  fe  diz,  que 
Joíafai  deftruio  os  Altos.  Pelo  que  Grocio  ,  e  Cap- 
pel  fufpeitáo  ,  que  nos  Paralipomenos  ha  erro  dos 
Copiftas.  Mas  outros  conciliáo  o  Segundo  dos  Para- 
lipomenos com  o  Terceiro  dos  Reis  ,  dizendo:  que 
Jofafat  deftruio  os  AIros,  que  eráo  confagrados  aos 
Ídolos;  mas  não  dfftniio  03  outros Alros,  que  eráo 
confagrados  ao  Dcos  dosHebreos.  Affim  Theodore- 
XO.  Ou  náo  deftruio  Jorafat  os  Altos  nos  principio^ 
do  feu  reinado :  mas  ucftruio-os  no  fim  dclle.  He 
inncgflvel  com  tudo,  que  os  Alros  ainda pcríervcra' 
vão  em  tempo  d'  Ezequias  ^  e  de  Jofias.  Pereira^ 


Liv.  III.    Cap.  XXII.  201 
45-    E  Jofafat  teve  paz  com  o  Rei 
d'lfrael. 

4Ó  Ornais  das  acções  de  Jofafat, 
todos  os  feus  feitos  ,  e  todas  as  fuas 
guerras  5  eílao  efcritas  no  Livro  dos  An- 
naes  dos  Reis  de  Juda. 

47  Extirpou  também  da  terra  os 
reftos  dos  eíFeminados  ,  que  tinhão  fi- 
cado do  tempo  de  feu  pai  Afa. 

48  (g)  E  então  não  havia  Rei  conf- 
tituido  cm  Edom. 

49  E  o  Rei  Jofafat  tinha  prepara- 

do  huma  frota  para  a  pôr  no  mar  ,  a  ^^^g' 
fim  de  fe  fazer  á  véla  para  Offir  porcau-  ames' 
fa  do  ouro  :  mas  nao  poderão  lá  ir  os  de  J.C* 
navios  5  porque  fe  deílroçárao  emAlion- 
gaber. 

yo    (b)  Então  diíFe  Ocozias  filho 

d' 

(g)  E  então  tiao  havia  Rei  co)ijiituido  cm  Edom. 
O  Hebreo  declara  melhor  o  fentido  ,  dizenrio :  E 
emão  não  havia  Rei  em  Edom  ,  mas  hum  Oficial 
pojlo  pelo  Rei:  ifto  hc ,  pelo  Rei  de  Juda,  a  cjuera 
àcs  do  tempo  de  David  eftava  íujeita  a  Idumea, 
Mas  morto  Jofafat  ,  e  em  tempo  de  Joráo  fcu  fi- 
lho, fe  rebelláráo  os  Idumeos ,  e  criárâo  Rei  pro- 

pnO.    IV.  Rpg.  VIU.  20.    PeRE  RA. 

(h)  Então  dijfe  Ocozias  filho  d  Acab  a  Jofafat , 
énff.  No  Segundo  dos  Paralipomcnos ,  xx.  ^6. ,  pa- 


30i  Reis. 

d'Acab  a Jofafat :  Deixa  ir  os  meus  fer- 
vos  embarcados  com  os  teus.  Mas  Jo- 
fafat não  quiz. 
^^"^  5"!  E  dormio Jofafat  comfeus  pais, 
^jj^*  e  foi  fepultado  com  eiles  na  Cidade  de 
ant.  de  David  íeu  pai :  e Jorão  feu  filho  reinou 
].  Chr.  em  feu  lugar. 

5*2    Ocozias  porém  filho  d'Acab  co^ 
meçou  a  reinar  fobrelfrael  em  Samaria, 
Anno  no  anno  dezefete  de  Jofafat  Rei  deju- 
^^o^'  da :  e  reinou  fobre  Ifrael  dous  annos. 
Int  de     5"  3    E  ^'^^  obrou  o  mal  diante  do  Se- 
lo Chr.  nhor,  e  andou  no  caminho  de  feu  pai, 
i^pB,    e  de  fua  mãi  ,  e  no  caminho  de  Jero- 
boão  filho  de  Nabat  ,  que  tinha  feito 
peccar  a  Ifrael. 

54    Scrvio  também  a  Baal  ^  e  oado^ 
rou  5  e  irritou  o  Senhor  Dcos  d' Ifrael 
com  todas  ,  e  com  as  meÍLTias  coufas , 
-    que  leu  pai  tinha  feito. 

REIS. 

íece  dizer-fe  o  contrario.  Porque  fe  refere ,  que  a 
frota  era  d"  ambos  ,  como  feita  de  íociedade.  Mas 
póde-fe  tudo  concordar  fe  fuppozermos  ,  que  de- 
pois por  caftigo  de  Dcos  íoráo  deftruidos  os  navios 
no  porto  d'Aíiong?iber ,  convidara  Ocozias  parahu- 
ma  nova  fociedade  a  Jofafat  ,  e  que  elie  ent^o  3. 
mo  quizera.  PeREiRAt 


REIS. 

LIVRO  (QUARTO, 

CHAMADO  EM  HEBRAICO 

SEGUNDO  LIVRO 
MEL  A(IU  I  N  S. 

CAPITULO!. 

Moalf /acode  o  Jugo  d^Ifrael,  Oçozias  maii- 
da  confultar  a  Beelzebií  fobre  a  Jua  doen^ 
ça,  Elias  lhe  prediz  que  fnorrerã.  EJle 
Príncipe  manda  gerite  ,  que  lhe  prenda 
Elias,  Morte  d^  Ocozias,  Succede-lhe 
Jorão, 


1  l^^pl  Epois  da  morte  d'Acab  Anna 
facudio  Moab  o  jugo  d'K-^^X 
rael.  ant.de 


m 


2    Siiccedeo  também  que  Ocozias  3.  Chr, 
tendo  cahido  pelas  grades  d' hum  quar-^^^' 
to  alto  ,  que  tinha  em  Samaria  ,  ficou 
dahi  muito  maltratado:  e enviou  meíTa- 
geiros,  dizendo-lhes :  Ide,  {a)  conlbl- 

rai 

(^)  Conjultai  X  BzQhéu^  e^í".  Os  Setenta,  c 


ao4  Reis. 

tai  a  Beelzebú  ,  {b)  deos  d'Accaron, 
fe  poderei  eu  convaleícer  defta  minha 
moieítia. 

3  Ao  mefmo  tempo  o  Anjo  do  Se- 
nhor fallou  a  Elias  de  Thesbith ,  e  lhe 
dilTe  :  Vai  fahir  ao  encontro  aos  meíTa- 
geiros  do  Rei  de  Samaria,  e  dize-lhes  : 
Acafo  não  haJium  Deos  em  Ifrael  para 
vós  irdes  aflim  confultar  a  Beelzebú  deos 
d'  Accaron  ? 

4  Por  iíTo  els-aqul  o  que  diz  o  Se- 
nhor :  Tu  te  não  levantarás  da  cama  em 
que  jazes  ,  mas  cerriíTimamente  morre- 
rás. (^)  E  Elias  partio. 

j-  Voltados  que  forao  os  que  Oco- 
zlas  tinha  enviado  ,  elle  lhes  diíTe :  Por- 
cjue  voltaftes  vós  ? 

.0  E  elles  lhe  refpondêrão  :  Hum 
homem  nos  fahio  ao  encontro  ,  e  nos 

dif- 

Symmaco  dizem :  a  Baal  mofca :  Porque  Beelzebú 
jcra  rido  pelo  deos  das  mofcas.  Peri: ira. 

Deos  d'  u4  cear  Ott.  Accaron  era  huma  Cida- 
de da  terra  dos  Filifthcos.  Pkreira. 

(c)  E  Elias  par  th.  Partio  a  executar  a  ordem 
do  Anjo.  E  porque  depois  d"  intimado  por  Elias  o 
recado,  voltarão  logo  os  me.Tageiros,  deixando  o 
caminho  d'  Accaron  ,  por  iíTo  como  admirado  lhes 
perguntou  OcQZiriS :  Por^^ue  vqU^Jí^s  vós  \  Pçíiçiba. 


Liv.  IV.    Cap.  I.  205: 

diíTe:  Ide,  tornai  para  o  voffo  Rei,  e 
dizei-lhe:  Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor: 
Acafo  porque  não  ha  hum  Deos  cm  If- 
rael  he  que  tu  mandas  aíHm  confultar  a 
Beelzebú  deos  d'Accaron?  Pois  por  if- 
fo  te  não  levantarás  tu  da  cama  em  que 
jazes ,  mas  certiffimamente  morrerás. 

7  E  o  Rei  lhes  diíTe  :  Que  figura  , 
e  que  habito  he  o  deffe  homem  ,  que 
fe  vos  fez  encontradiço ,  e  vos  dilTe  ef- 
fas  palavras  ? 

8  E  elles  lhe  refpondêrão:  (d)  He 
hum  homem  pelludo  ,  e  que  anda  cingi- 
do Ibbre  os  rins  com  huma  cinta  de 
couro.  EíTe  he  Elias  de  Thesbith,  dif- 
fe  elle. 

9  E  logo  lhe  enviou  hum  Capitão 
de  fincoenta  homens  ,  e  os  fincocnta  Tol- 
dados ,  que  eftavão  debaixo  do  feu  man- 
do. Foi  eíle  Capitão  a  Elias,  que  cita- 
va allentado  no  cume  d' hum  monte,  e 

lhe 

(íí)  Me  hum  hotnem  peitudo  ,  &c.  Pelludo  ou 
òc  cabcUo  ,  e  barba ,  como  entendeo  S.  JeronyTT.o 
no  Commcntario  a  Ezecjuiel ;  ou  pelludo  ,  porque 
vcftido  pcllo  5  como  tem  o  commum  dos  íntcr- 
ptetes  ,  e  como  do  Evangelho  confta  que  depois 
andára  S.Joáo  Baptifta.  Pereira. 


2o6  R  E  I  ^. 


lhe  diíTe:  Homem  de  Deos,  o  Rei  te 
manda  que  venhas  cá. 

10  E  Elias  lhe  refpondeo  :  (^)  Se 
eu  fou  homem  de  Deos  ^  defça  fogo  do 
Ceo,  e  te  devore  a  ti  com  os  teus  íin- 
coenta  homens.  No  mefmo  ponto  def- 
eco fogo  do  Ceo  5  e  devorou  o  Capitão 
com  os  fincoenta  homens  ,  que  eftavão 
com  elle. 

lí  Enviou  Ocozias  fegundo  Capi- 
tão com  os  fcus  fincoenta  foldados  ^  o 
qual  dilTc  a  Elias:  Homem  de  Deos,  o 
Rei  me  mandou  que  te  diffeíTe  :  Vem 
cá  depreífa. 

12  Elias  lhe  refpondeo:  Se  eu  fou 
homem  de  Deos,  defça  fogo  do  Ceo, 
e  te  devore  a  ti  com  os  teus  fincoenta 
hom.ens.  E  logo  defceo  fogo  do  Ceo , 
e  devorou  o  Capitão  com  os  fincoenta 
homens,  que  eftavão  com  elle. 

1 3  Enviou  Ocozias  ainda  terceiro 

Ca- 

(e)  Se  eu  fou  homem  de  Deos  ,  def^^  fogo  da 
Ceo ,  <ò-c.  Hum  caíiigo  láo  rigorofo ,  e  táo  prom- 
pio  dá  fundamento  aos  Interpretes  para  julgarem  , 
que  o  chamarem  o  primeiro  ,  e  fegundo  Capitão 
Homem  de  Deos  a  Elias ,  foi  zombando  ,  e  mofan- 
do deile.  Affim  Eílio  com  outtos.  Pereira. 


Li  V.  IV.    C  AP.  I.  207 

Capitão  ,  e  os  feus  fincoenta  homens 
com  elle.  O  qual  tendo  chegado  ápre- 
fença  d'Elias5  fe  poz  de  joelhos,  e  lhe 
fez  efta  íijpplica  :  Homem  de  Deos^ 
(f)  não  deíprezes  a  minha  alma  ,  nem 
as  almas  deftes  teus  fervos  ,  que  eflão 
comigo. 

14  Eis-ahi  defceo  o  fogo  do  Ceo, 
e  devorou  os  dous  primeiros  Capitães, 
e  os  fincoenta  homens  ^  que  cada  hum 
commandava  :  mas  agora  eu  te  fuppli- 
co  que  te  comipadeças  da  minha  alma. 

Ao  mefmo  tempo  fallou  o  Anjo 
do  Senhor  a  Elias ,  e  lhe  diíTe  :  Defce 
com  elle,  e  não  temas.  Elle  pois  fe  le- 
vantou 5  e  defceo  com  efte  Capitão  a 
buícar  o  Rei , 

16  ao  qual  fallou  defta  forte  :  Eis- 
aqui  o  que  diz  o  Senhor:  Porque  tu  en- 
viafte  meflageiros  ,  que  confultaíTem  a 
Beelzebú  dcos  d'Accaron ,  como  fe  não 

hou- 

(/)  Não  dcfprezes  a  minha  ahm^  ^  c,  O  He- 
breo  tem:  Seja  precioja  aos  teus  olhos  a  mwha 
wa  ,  é'C.  O  que  vai  o  mefmo  que  dizer  ao  noíTb 
modo:  Salva  me  a  vida,  e  falva  também  as  defles 
teus  fervos  ,  como  com  efíeito  vertem  ncíle  lugaí 
Saci,  c  De  Carrieres.  Pereira, 


ío8  R  E  í  s. 

houvclTe  hum  Deos  em  Ifrael  ,  que  tu 
podeíTes  confultar;  tu  te  não  levantarás 
da  cama  em  que  jazes  ,  mas  certiífima- 
mente  morrerás. 

17  Morreo  pois  Ocozias,  conforme 
a  palavra  que  o  Senhor  tinha  dito  por 
Ehas :  e  emfeu  lugar  reinou  (á")  Jo^^ão 
feu  irmão,  (^h)  no  fegundo  anno  dejo- 

rão 

(j?)  Jeu  innao.  Nem  o  Hebreo  ,  nem  o 

Caldeo ,  nem  o  Arábico  exprimem  aqui  a  qualida- 
de à' irmão.  Mas  exprimem-na  com  a  Vulgata  ó 
Syriaco ,  e  a  m.aior  parte  dos  Códices  dos  Setenta. 
Pereira, 

( )  No  fegundo  anno  de  Jorão  f!ho  de  'Jofafat , 
fbc.  Adiante  no  Cap.  III.  verfo  i.  fe  diz,  que  Jo- 
ráo  filho  d'  Acab  começara  a  reinar  em  lírael  no 
anno  decimo  oitavo  de  Jofafat  Rei  dc  Juda  :  c  nó 
Cap.  VIII.  verfo  16.  ,  que  Joráo  filho  de  Jofafac 
tomara  poíTe  do  reino  no  anno  quinto  de  Jorao  Rei 
íí'  Ifrael.  Como  fe  diz  logo  aqui ,  que  joráo  filho 
d'  Acab  começou  a  reinar  cm  lugar  d'  Ocozias  feii 
irmáo  no  anno  fegundo  de  Jorao  filho  de  Jofafatl 
Para  foltarem  efta  difíiculdade ,  fuppõe  Uffer  com 
outros  Chronólogos  ,  que  Jofafat  Rei  de  Juda  de- 
clarou por  duas  vezes  em  fua  vida  participante  do 
império  a  feu  filho  chamado  também  Joráo.  Que 
<la  primeira  aíTociaçáo  ao  império  fe  deve  enten- 
der o  que  fe  diz  no  prefente  verfo  ,  que  Joráo  fii- 
Iho  d  Acab  começou  a  reinar  no  fegundo  anno  dc 
Joráo  filho  de  Jofãfât ,  o  qual  fegundo  anno  do 


Liv.  IV.    Gap.  20^ 

tão  filho  de  Jofafat  Rei  de  Juda  :  por- 
que OcDzias  não  tinha  filho. 

i8  O  rcfto  das  acções  d'Ocozias 
cftá  efcrito  no  Livro  dos  Annaes  dos 
Reis  d'lfrael. 


Tom.  VI.  O  CA- 

ího  era  o  decimo  oitavo  do  pai.  Que  da  fegundâ 
âííociaçáo  ao  império  fc  deve  ciítendcr  o  que  fc 
diz  no  Cap.  VIIÍ.  verfo  i6.  ,  que  Jorão  filho  dc 
Jofafat  começara  a  reinar  no  quinto  anno  de  Joráo 
filho  d'Acab.  De  forte  que  nefta  hypothefe  come- 
çou Joráo  filho  dc  Jofafat  a  teinar  pela  primeira 
vez  hum  anno  antes  que  Joráo  filho  d'  Acab  :  e 
começou  aquelle  a  reinar  pela  fégunda  vez ,  quan- 
do eftc  eftava  no  feu  quinto  anno.  A  quem  porém 
náo  agradar  cfta  foluçáo,  pôde  julgar  comGrocio, 
e  Cappcl  ,  que  por  defcuido  dos  Copiftas  ha  aqui 
ctro  dos  números.  PsKsiRAé 


2ie 


Reis. 


C  A  P  I  T  U  L  O  IL 

Arrebatamento  cP Elias.  EJle  Profeta  pro-^, 
mette  a  Elifeo ,  que  lhe  communicará  a 
feu  efpirito  ,  e  lhe  deixa  a  fua  capai 
Elifeo  fepara  as  aguas  do  Jordão  ,  e 
torna  fadtas  as  aguas  de  Jericó,  Qua- 
renta  e  dous  meninos  são  devorados  por 
dous  Urfos  por  terem  Jeito  zombaria 
dejie  Profeta. 

I         Uando  o  Senhor  quiz  arreba- 
tar  Elias  (^)  aa  Ceo  por  hum 
remoinho,  fuccedeo que Ehas y 
e  Elifeo  vinhâo  de  Galgala. 

2  E  Elias  diíTe  a  Elifeo:  Deixa-te 
ficar  aqui,  porque  o  Senhor  me  mandou 
a  Bethel.  {b)  Elifeo  lhe  refpondeo; 
Viva  o  Senhor  ,  e  viva  a  minha  ahna  , 
que  eu  te  não  hei  de  deixar.  Forao  pois 
àmbos  para  Bethel. 

"  3    (  c  )  Sahírão  os  filhos  dos  Profetas 

que 

(4)  Ao  Ceo  ^  <ò*c,  Ifto  he,  ao  ar,  Persira. 
'  (^b)  Elifeo  lhe  refpondeo  ^        Como  quem  pos 
divina  revelação  fabia  o  que  o  Senhor  eflava  para 
difpot  d'  Elias.  Pereira.  > 

(c)  Os  filhos  dos  Profetas  y        Por  filhpi 


Liv.  IV.    Cap.  IL  211 

que  eftavão  em  Bethel ,  a  receber  a  Eli- 
feo,  e  Ihediírerão:  Acafo  fabes  tu  que 
o  Senhor  te  hade  levar  hoje  teu  amo? 
E  Ehfeo  lhes  refpondeo  :  Eu  também 
o  fei :  calai-vos. 

4  Tornou  a  dizer  Elias  a  Ellfeo: 
Deixa-te  ficar  aqui  ,  porque  o  Senhor 
me  mandou  a  Jericó.  E  reípondeo-lhe 
Elifeo:  Viva  o  Senhor,  e  viva  a  minha 
alma  5  que  eu  te  não  hei  de  deixar.  De- 
pois que  elles  chegarão  a  Jericó, 

5'  vierao  os  filhos  dos  Profetas,  que 
eftavão  em  Jericó,  dÍ7cr  a  Elifeo:  Aca- 
fo fabes  tu  que  o  Senhor  te  hade  levar 
hoje  teu  amo  ?  E  elle  lhes  refpondeo: 
Eu  também  o  fei :  calai-vos. 

6  Terceira  vez  diíFe  Elias  a  Elifeo: 
Deixa-te  ficar  aqui  ,  porque  o  Senhor 
me  mandou  ao  Jordão.  E  Elifeo  lhe  re- 
fpondeo: Viva  o  Senhor,  e  viva  a  mi- 
nha alma  ,  que  eu  te  não  hei  de  deixar. 
Forão  pois  ambos  juntos  : 

7  e  fincoenta  dos  filhos  dos  Profe- 
tas os  feguírãoj  osquaes  parárão  longe 

O  ii  del- 

dos  Profetas  fe  entendem  aqui  os  Teus  Difcipuloií 
Pereira, 


21Z  R  E  I 

delles,  ficando  bem  defronte:  eosdous 
fe  pozerão  á  borda  do  Jordão. 

8  Então  tomou  Elias  a  fua  capa ;  c 
depois  de  a  dobrar ,  ferio  as  aguas,  as 
quaes  fe  dividirão  para  as  duas  bandas^ 
e  elles  pafsárao  ambos  a  pé  enxuto. 

9  E  depois  deterem  paíTado,  diíTe 
Elias  a  Elifeo  :  Pede-me  o  que  quize- 
res  para  eu  to  alcançar  ,  antes  que  me 
arrebatem  de  ti.  E  Elifeo  lhe  refpon- 
deo  :  Peço  (d)  que  feja  dobrado  em 
mim  o  teu  efpirito. 

Elias 

(i)  Que  feja  dobrado  em  mim  o  teu  efpirito.  Ef- 
te  he  o  lentido  que  Santo  Ambrofio  com  oucros 
Padres  ,  e  Expoíitores  conceberão  neftas  palavras 
da  Efcritura :  Obfecra ,  ut  fixt  in  me  duplex  fpiritus 
tuus  :  Peço  ,  que  feja  dobrado  em  mim  o  teu 
efpirito.  O  que  conforme  Caetano  ,  Vatablo  ,  e 
Grocio  foi  o  mefmo  que  dizer  Elifeo  :  Peço  , 
qm  tenha  eu  duas  partes  do  teu  efpirito  a  faber : 
pelo  direito  de  primogénito  leu.  E  ifto  com  allu- 
são  ao  que  mandou  a  Lei  de  Moyfcs  ,  que  os  fi- 
lhos mais  velhos  tiveíTem  duas  partes  na  herança. 
Dabit  ei  deiis  qu£  habuerit,  cuncla  duplicia.  (Deur. 
;kxi.  íy. )  Contorme  o  mcfmo  Santo  Ambrofio  fo4 
pedir  Elifeo  ,  q^e  tiveíTe  elle  dobrado  efpirito  , 
do  que  tinha  Elias,  ifto  he ,  maior  cópia  de  dons, 
e  graças.  Elifaei  haec  prima  laus  efi ,  ut  patrem  vo 
luerit  gratia  fupçrare. 


Liv.  IV.    Cap.  II.  213 

10  Elias  lhe  diíTe  :  Difficultofa  cou- 
fa  pedifte .  todavia  fe  tu  me  vires ,  quan- 
do me  arrebatarem  de  ti  ,  terás  o  que 
pedifte  :  mas  fe  me  nao  vires  j  não  o 
terás. 

1 1  Quando  elles  contlnuavao  o  feu 
caminho  ,  e  caminhavao  converfando, 
(e)  eis-qiie  hum  carro  de  fogo,  e  huns 
cavallos  de  fogo  os  fcparárão  de  repen- 
te hum  do  outro,  (f)  e  Elias  fubio  ao 
Ceo  por  meio  d' hum  remoinho. 

E 

Todavia  outros  com  Santo  Thomaz  expõem 
aílim  as  palavras  cl'Elireo:  Obfccro  te,  ut  fiat  inme 
duplex  fpiritus  tuus  :  Rogo-ie  que  feja  em  mim  o 
teu  dobrado  efpirito  :  iíto  he ,  o  teu  efpirito  de  pro- 
fecia ,  e  o  de  milagres.  E  eíh  he  a  interpretação 
que  no  prcfente  lugar  dcráo  Saci ,  c  Dc  Carrieres  , 
cjuando  verterão :  Âogo-te  que  o  teu  dobrado  efpirito 
rcpoufe  [obre  mim.  Calmet  reputa  a  primeira  expo- 
ílção  por  mais  literal  no  fentido  em  que  a  tomarão 
Gaetano,  \'atablo  ,  e  Grocio.  Psreuja. 

(e)  Ei  -aqui  hum  cirro  de  fogo ,  e  huns  cavallos 
de  fogo ,  é-c.  Ifto  he,  huma  bnlhsnte  nuvem  for- 
mada á  femelhança  dc  carro,  e  de  cavallos.  Du- 

HAMEL. 

(/)  E  Elias  fubio  ao  Ceo  por  vieio  d'  hum  remoi' 
nho.  Involvido  num  remoinho  foi  Elias  arrebata- 
do ao  ar ,  e  depois  trasladado ,  como  fe  crê  ,  ao 
Paraifo  terreal  ,  onde  vivo  efpcra  os  últimos  tem- 
pos do  mundo ,  nos  <]uaes  virá  com  Enoch  prégai 


114  Reis. 

12  EElifeo  o  via,  e  clamava:  Meu 
pai,  meu  pai,  (g)  Carro  d' líraél  ,  e 
feu  Conduftor.  Depois  difto  elle  o  não 
vio  mais.  E  tomando  os  ftus  vcftidos, 
(/;  )  os  rafgou  em  dous. 

13  Levantou  do  chão  a  capa  que 
Elias  lhe  tinha  deixado  cahir :  e  tendo 
voltado  para  a  borda  do  Jordão,  parou 
alli. 

E 

contra  o  Anti-chrifto.  Mas  fendo  qúc  a  vinda  d* 
Elias  5  e  d'  Enoch  antes  do  Juizo  univerfal  ,  tem 
por  íi  a  conftante  tradição  de  todos  os  Padres  da 
Igreja ,  como  de  Santo  H  ppolyto  ,  de  S.  Joáo  Chry- 
foíiomo,  de  S  Jcronymo ,  de  Santo  Agoftinho;  e 
confeguintemente  fe  deve  ter  por  cena ,  e  indubi- 
tável :  o  terem  fido  com  tudo  aquelles  dous  Profe- 
tas depofitados  no  Paraifo  terreal,  náo  paíía  d  hu- 
ma  conjeélura  d"  alguns  delles :  de  forte  que  Santo 
Agoftinho  no  Livro  II.  Do  Peccado  original,  Cap. 
XXIII.,  e  com  elle  Theodoreto  nas  Queftòes  fo- 
brc  o  Geneíis,  cenfurão  d' atrevidos  os  que  defini- 
tivamente o  aííirmao.  Pereira. 

(^)  Carro  d'  Ifrael ,  e  Jcu  Conduãor.  Sobenten- 
de-fe  por  appotiçáo,  que  eras  o  Carro  d'íírael,  e 
o  feu  Conduciilor:  iflo  he ,  que  eras  a  íorça ,  e  a 
defensão  d'ífrael:  porque  nas  carroças,  e  nos  ca- 
vaUos  panháo  então  os  Reis  a  fua  força  principal. 
Por  líTb  o  Hebrea  diz :  Carro  d'  Jjrael  ,  e  fua  ca* 
vallaria.  Pereira. 

(/;)  Os  rafgou  em  dous.  Em  íinal  da  fua  dor, 

FÇKEIRA. 


Liv.  IV.    Cap.  IL  2i5r 

-^14  E  pegando  na  capa  ,  que  Elias 
lhes  tinha  deixado  cahir,  ferio  com  el- 
Ia  as  aguas  ,  e  ellas  fe  náo  dividirão. 
Então  diíTe  Elifeo :  (i)  Onde eftá  ainda 
agora  o  Deos  d'  Ehas  ?  E  ferindo  as 
aguas,  ellas  fe  dividirão  d^huma,  e  d' 
outra  parte  5  e  EHfeo  paíTou. 

15  O  que  vendo  os  filhos  dos  Pro- 
fetas 5  que  eftavão  em  Jericó  bem  de- 
fronte,  diíTerão:  O  efpirito  d' Elias  re- 
poufou  fobre  Elifeo.  E  vindo  fahir-lhe 
ao  encontro  ,  fe  proftrárão  a  feus  pés 
com  hum  profundo  refpeito,  e  lhe  dif- 
ferão : 

16  Sabe  que  entre  os  teus  fervos 
ha  fincoenta  homens  fortes ,  que  podem 
ir  em  bufca  de  teu  amo:  porque  talvez 
que  o  Efpirito  do  Senhor  o  levaíTe  ,  e 
atiraíTe  com  elle  para  algum  monte ,  ou 
para  algum  valle.  Elifeo  lhes  refpon- 
deo:  Nao  os  mandeis. 

17  Porém  elles  o  conftrangerão  a 

con- 

CO  Otide  eftâ  ainda  agora  o  Deos  d' Elias  ^.  Ifto 
diíTe  Elifeo  ,  náo  porque  julgaíTe  a  Deo;  aufente, 
mas  porque  o  queria  prefenrc  para  o  bcneiicio.  Non 
uod  putavit  abfentem ,  fid  quia  praefentiam  ejuf  in 
mfiçiis  requiràat,  Sakto  Ambrósio. 


Reis. 

condefcender  ,  e  a  dizer  :  Pois  man- 
dai-os.  Mandarão  elles  pois  fincoentá 
homens ,  que  tendo-o  bufcado  tres  dias , 
o  não  acharão. 

18  Voltárão  elles  para  Elifeo,  que 
cftava  em  Jericó,  eelle  lhes  dilTe :  Não 
vos  diíTe  eu:  Não  os  mandeis? 

19  DiíTerão  também  aElifeo  os  ha- 
bitantes defta  Cidade  :  Senhor,  a  ha- 
bitação delia  Cidade  he  muito  cómmo- 
da  5  como  tu  mefmo  vês  ;  mas  as  fuas 
aguas  são  pellimas ,  e  a  terra  efteril. 

20  E  Elifeo  lhes  refpondeo  :  (k) 
Trazei-me  hum  vafo  novo,  e  deitai-lhe 
fal  dentro.  Como  lho  tiveÍTem  trazido , 

2, 1  fahio  elle  á  fonte  ;  e  tendo  dei- 
tado o  fal  na  agua  ,  diíTe  :  Eis-aqui  o 
que  diz  o  Senhor :  Eu  farei  eftas  aguas , 
e  ellas  não  caufaráo  mais  nem  morte, 
pem  efterilidade. 

Tor. 

( ^)  Trazci-me  hum  vdfo  novo  ,  e  dehai-lhe  fã! 
dentro.  Mandou  Eliíto  vir  hum  vafo  novo  ,  para 
que  ninguém  fufpeiraíTc  que  a  virtude  vinha  do  va- 
fo :  e  lançou  o  fal  na  agua ,  para  que  os  habitan- 
tes j  vendo  as  aguas  tornadas  dóceis  ,  e  goftofas  5 
não  attribuiíícm  iílo  a  alguma  coufa  natural.  Cai.-í 


Liv.  IV.   Cap.  II.  Í17 

12  Tornárâo-fc  pois  fádias  eftas 
aguas  5  como  ainda  hoje  o  são ,  conforme 
a  palavra  que  então  diíTe  Elifeo. 

23  Dalli  veio  Elifeo  para  Bethel. 
E  quando  elle  hia  pelo  caminho  ,  (/) 
huns  meninos  pequenos,  quetinhão  fa- 
hido  da  Cidade ,  zombavão  delle  ,  di- 
zendo: {m)  Sobe,  calvo:  fóbe,  calvo, 

24  Elifeo virando-fe  paraelles,  («) 
os  amaldiçoou  em  Nome  do  Senhor. 
{o)  Ao  mefmo  tempo  fahírão  dousUr- 
íbs  do  bofque;  e  lançando-fe  fobre  efta 

tro- 

(/)  Huns  meninos  pfpenos ,  é^c,  S.  Chryfofto- 
rno  difcorre  ,  que  clles  não  teriáo  menos  de  dez 
annos :  idade  baítante  para  conhecerem  que  Eliíeo 
era  hum  Profeta  ,  e  hum  Miniftro  do  Senhor,  c 
como  tal  digno  de  todo  o  refpeito.  Pereira. 

(  m  )  Sobe ,  calvo ,  eb'f.  Chamaváo-lhe  calvo  ou 
porque  o  era  por  defeito  da  natureza  ,  ou  porque 
como  Monge  traria  a  cabeça  rapada.  Em  todas  as 
Nações  porém  ,  e  em  todos  os  tempos  íe  teve  por 
injúria  chamar  aos  homens  calvos.  Pereira. 

(m)  Os  amaldiçoou  em  Nome  do  Senhor.  IíIq 
hc  5  invocado  o  Nome  do  Senhor  para  vingar  na- 
quclles  meninos  o  defprezo  ,  e  vilipendio  do  Sa^ 
grado  Miniíterio.  Pereira. 

(o)  y^o  mefmo  tempo  fahirâo  dons  Vrfos  do  Bof- 
que  ,  ó^c.  Os  Padres  eníináo  ,  que  por  meio  dos 
Urfos  quiz  Deos  caftigar  nos  filhos  a  má  creaçáo 
que  lhes  tinhâo  dado  os  pais.  Pejieira. 


ai8  Reis. 

tropa  de  meninos ,  fizerão  pedaços  qua- 
renta e  dous. 

25-  Depois  foi  Elifeo  para  o  mon- 
te Carmelo  ,  donde  voltou  para  Sarna* 
ria. 

CAPITULO  III. 

O  Rei  de  Mo  ah  recufa  pagar  o  tributo 
ao  Rei  IfraeL  Marcha  efte  Frincipe 
contra  elle  com  o  Rei  de  Juda  ^  e  o  Rei 
d"^  Edom.  Elifeo  livra  o  feu  exercito  dê 
morrer  de  Jede,  Os  Moahitas  são  ven- 
cidos, 

I  IVT  O  decimo  anno  deJofafatRei 
de  Juda  reinou  Jorão  filho  d* 
Acab  fobre  Ifrael  em  Samaria:  e  o  feu 
reinado  durou  doze  annos. 

2  E  elle  obrou  o  mal  diante  do  Se- 
nhor 5  mas  não  tanto  como  feu  pai ,  e 
fua  mãi  :  porque  elle  tirou  as  eftatuas 
de  Baal ,  que  feu  pai  tinha  mandado  fa- 
zer. 

3  Perfeverou  todavia  fempre  nos 
peccados  de  Jeroboao  filho  de  Nabar, 
que  fez  peccar  a  Ifrael  ^  e  fe  não  apar- 
tou delles. 

Ora 


Lir.  IV.    Cap.  ITI.     2  1^ 

4  Ora  Méfa  Rei  de  Moab  fuften- 
tava  grandes  rebanhos  ,  e  pagava  ao 
Rei  d'irrael  cem  mil  cordeiros,  e  cem 
mil  carneiros  com  os  feus  vellos. 

5:  Porém  depois  da  morte  d'Acab 
quebrou  o  ajufte  que  tinha  feito  com  o 
Rei  d'Ifrael. 

6  Por  ilTo  o  Rei  Jorão  fahio  então 
de  Samaria ,  fez  revifta  de  todas  as  tro- 
pas d'  Ifrael , 

7  e  mandou  dizer  a  Jofafat  Rei  de 
Juda  :  O  Rei  de  Moab  fe  fublevou  con- 
tra mim  :  Vem  tu  comigo  a  atacarmo- 
lo  em  batalha.  Jofafat  Jhe  refpondeo: 
Eu  irei  comtigo :  o  que  he  meu  he  teu : 
o  meu  Povo  he  teu  Povo  ;  e  os  meus 
cavallos  são  teus  cavallos. 

8  E  accrefcentou  :  Porque  caminho 
iremos  nós  ?  E  Jorão  lhe  refpondeo  :  Pe- 
lo deferto  da  Idumen. 

9  Marcharão  pois  com  as  fuas  gen-  Anno 
tes  o  Rei  d' Ifrael  ,  e  o  Rei  de  Juda  , 

(^)  e  o  Rei  d'Edom:  e  andárao  ás  vol- 

^    ^  '  anc.  de 

tas  j.chr. 

Cgr 

(a)  E  O  Rei  d  Edom.  Ifto  he ,  o  Rei  da  Idu- 
mea  ,  como  tributário  que  era  do  mcímo  Jofafat. 


aio 


Reis. 


tas  pelo  caminho  fete  dias,  e  não  havia 
agua  para  o  exercito ,  nem  para  as  bef- 
tas  que  o  feguião. 

10  Então  diíTe  o  Rei  d'Ifrael:  Ai, 
ai ,  ai !  O  Senhor  nos  ajuntou  aqui  a  tres 
Reis  ,  para  nos  entregar  nas  mãos  dc 
Moab. 

11  A  ifto  perguntou  Jofafat  :  Aqui 
não  ha  nenhum  Profeta  do  Senhor  para 
implorarmos  por  elle  a  mifericordia  do 
Senhor  ?  E  hum  dos  fervos  do  Rei  d' 
Ifrael  refpondeo :  Aqui  eítá  Elifeo  filho 
de  SaíFat  ,  que  dava  agua  ás  mãos  a 
Elias. 

12  E  diíTe  Jofafat  :  A  palavra  do 
Senhor  eítá  neile.  Então  forão  bufcar 
Ehfeo  o  Rei  d'  Ifrael  ,  e  Jofafat  Rei 
de  Juda,  e  o  Rei  d' Edom. 

13  E  Ehfeo  diíTe  ao  Rei  d' Ifrael: 
Que  correlação  ha  entre  mim,  eti?  Vai 
ter  com  os  Profetas  de  teu  pai  ,  e  de 
tua  mãi.  E  o  Rei  d'Ifrael  lhe  diíTe :  Por- 
que ajuntou  o  Senhor  eites  tres  Reis 
para  os  entregar  nas  mãos  de  Moab  ? 

14  E Elifeo  lhe  refpondeo:  Viva  o 
Senhor  dos  Exércitos ,  em  cuja  prefen- 


LiV.  IV.     Cap.  III.  221 

Ça  eftou  5  que  fe  não  foíTe  por  refpeitar 
a  peíToa  de  Jofafat  Rei  dejuda,  eu  te 
não  attenderia ,  nem  poria  em  ti  os  olhos. 

15"  Mas  agora  (b)  mandai-me  cá 
hum  harpifta.  E  quando  eíte  homem 
cantava  ao  fom  da  harpa ,  foi  a  mão  do 
Senhor  fobre  Elifeo,  e  elle  diíTe: 

16  Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor: 
Fazei  varias  poças  (c)  pela  madre  def- 
ta  torrente  abaixo. 

17  Porque  eis-aqui  o  que  diz  o  Se- 
nhor: Vós  não  vereis  vento,  nem  chu- 
va :  e  ainda  allim  a  madre  delia  torren- 
te fe  encherá  d' agua  :  e  bebereis  vós, 
e  os  voíTos  fervos ,  e  as  voíTas  bcftas. 

1 8  E  ifto  não  he  ainda  fenao  huma 
pequena  parte  do  que  o  Senhor  quer  fii- 
zer  por  vós :  porque  de  mais  a  mais  el- 
le entregará  Moab  nas  volTas  mãos. 

E 

(^)  Mandahine  cd  bum  harfijld.  Hum  harpif- 
ta, que  cantando  ao  feu  inftrumento,  faça  focegac 
o  meu  erpirito  dacommoção,  em  que  opoz  avif- 
U  de  Joráo,  Pereira. 

( f )  Pela  madre  dcfia  torrente  abaixo.  A  torren- 
íc  eftava  fccca :  c  as  poças  que  Elifeo  mandou  fa- 
zer ,  era  para  fc  encherem  da  agua ,  que  Deos  ha- 
vu  de  mandar.  Peruka. 


222  Reis. 

19  E  vós  deftruireis  todas  as  Cida- 
des fortes ,  todas  as  praças  as  mais  im- 
portantes :  e  cortareis  pelo  pé  todas  as 
arvores  frutiferas  :  e  entupireis  todas 
as  fontes  :  e  cobrireis  de  pedras  todos 
os  campos  os  mais  férteis. 

20  Pela  manhã  á  hora  que  fecoftu- 
ma  offerecer  facrificio  ,  eis-que  de  re- 
pente defcêrão  as  aguas  pelo  caminho 
d' Edom,  e  a  terra  foi  cheia  d' agua. 

21  Os  Moabitas  porém  tendo  fabi- 
do,  que  erao  vindos  eíles  Reis  para  os 
atacar,  ajuntarão  todos  os  que  pegavaa 
em  armas,  e  vicrão  efperallos  nas  fuas 
fronteiras. 

22  E  tendo-fe  levantado  ao  romper 
da  manhã  ,  quando  os  raios  do  Sol  já 
brilhavao  fobre  as  aguas  ,  (d)  ellas  lhes 
parecêrão  vermelhas  como  fangue  ,  c 
elles  diíTerão  entre  fi : 

23  A  efpada  he  que  derramou  tan- 
to fangue :  Os  Reis  pelejarão  hum  con- 
tra 

(í/)  Elias  lhes  parecerão  vermelhas  como  fangue^ 
Ou  porque  Deos  as  fez  parecer  vermelhas  náo  o 
fendo  ellas  ou  por  fer  defta  mefma  cor  a  terra 
por  onde  corriáo ,  ou  porque  feridas  obliquamente 
pelos  raios  do  Sol  parcciáo  aílim.  Galmet. 


LiV.  IV.     Cap.  IIT.        22 j 

tra  o  outro  5  e  de  parte  a  parte  íe  ma- 
tarão: Marcha,  ó  Moab ,  á  tua  preza. 

24  Vierão  elles  pois  ao  campo  d' 
Ifrael.  Mas  os  Ifraelitas  fahindo  de  re- 
pente, baterão  os  Moabitas,  os  quaes 
fugirão  á  fua  vifta.  Forão  os  vencedores 
em  íeu  alcance  ;  cortarão  ,  e  matárãa 
neiles  ; 

^$  deílruírão  as  fuas  Cidades  ;  en- 
cherão todos  os  campos  os  mais  férteis 
de  pedras  ,  que  cada  hum  veio  lançar 
nelles;  entupirão  todas  as  fontes;  dei- 
tarão abaixo  todas  as  arvores  frutífe- 
ras, (^)  e  não  deixarão  em  pé  fenão  os 
muros  feitos  de  barro.  A  Cidade  foi 
também  cercada  pelos  que  atiravao  com 
funda  ;  e  huma  grande  parte  dos  feus 
muros  abatida  com  as  pedras  ,  que  fe 
lançarão  por  máquinas. 

26    O  Rei  de  Moab  vendo  que  não 

po- 

'  (e)  E  não  deixarão  m  pé  fenâo  os  mftr os  feitos 
(íe  barro.  O  Hebrco  diz  aqui  :  j^té  nao  deixarem 
pedra  febre  pedra,  fenão  na  Cidade  chamada  Xir-ha^ 
refethy  iíto  he,  Muro  dc  ladrilhos,  como  também 
a  chamou  1  faias  ,  xvi.  7,  E  era  a  que  por  oatro 
nome  fc  chamava  Ar  ,  ou  Aréopok  ,  Capital  dos 


ai4  R  E  I 

podia  refiílir  aos  inimigos ,  tomou  com- 
íigo  fetecentos  homens  de  guerra ,  que 
forçaíTem  os  quartéis  do  Rei  d' Edom: 
mas  elles  o  não  poderão  confeguir. 

27  Então  pegando  emfeu  filho  pri-» 
mogenito  ,  que  havia  de  reinar  depois 
delle ,  o  oíFereceo  em  holocaufto  fobre 
o  muro.  O  que  tendo  vifto  os  Ifraeli- 
tas  ,  tiverão  horror  d'huma  acção  tão 
barbara  :  e  tendo-fe  retirado  logo  das 
terras  de  Moab  ,  voltarão  para  o  feu 
paiz. 

CAPITULO  IV. 

Elifeo  multiplica  o  azeite  d^huma  pohre 
'Viuva,  Alcança  de  Deos  hum  filho  a  hu^ 
ma  Sunamites  :  refujcita4he  ejle  meni" 
no.  Adoça  a  amargura  d?  algumas  her- 
das, farta  a  cem  pejjoas  com  alguns 
pães. 

I  "tp  Ntão  huma  mulher ,  que  o  era 
jQ/d^hum  dos  Profetas ,  veio  gri- 
tando a  Elifeo,  e  lhe  diíTe:  Teu  ferva 
meu  marido  morreo :  e  tu  fabes  que  teu 
ferro  era  temente  ao  Senhor  :  e  agora 

eis- 


Liv.  IV.    Cap.  IV.  125^ 

eis  vem  o  credor  levar-me  os  meuá 
dous  filhos,  (a)  para  ferem  feus  efcra- 
vos. 

2  Elifeo  lhe  diíTe :  Que  queres  que 
éu  te  faça?  Dize-me  ,  que  tens  tu  em 
tua  cafa  ?  E  ella  refpondeo :  Tua  ferva 
não  tem  em  fua  cafa  fenão  hum  pouco 
d' azeite  (b)  para  me  ungir. 

3  DiíTe-lhe  Elifeo:  Vai,  pede  em- 
preftados  ás  tuas  vizinhas  hum  bom  nu- 
mero de  vafos  defpejados : 

4  e  depois  que  tiveres  voltado  pa- 
ra cafa  ,  fecha  a  porta  fobre  ti  ,  e  la 
dentro  com  teus  filhos  vai  deitando  def- 

Tom.  VL  P  fe 

(^)  Para  ferem  feus  cf cravos,  "Níâo  fe  achi  en- 
tre os  Hebreos  Lei  cxprelTa ,  que  déíTe  aos  credo- 
res ella  faculdade.  Maè  do  preíente  lugar,  e  dou- 
tro d'iraias,  l.  1.  fe  colhe,  que  aílim  era  do  cof- 
tume.  Calmet. 

(^)  Para  me  ungir*  O  ungir  o  corpo  com 
azeite  era  entáo  enrre  os  Hebreos ,  e  mais  Orien- 
taes  ,  e  foi  depois  entre  os  Romanos  bum  regalo 
ordinário.  Moyfés  ,  Deut.  xxviii.  40. ,  e  Miqueas , 
VI.  15.  ameaçaváo  os  Judeos  ,  como  hum  grande 
mal  ,  que  viria  tempo  que  náo  teriáo  azeite  comi 
que  fe  ungir.  E  Plinio  cfcrevia  dos  feus  Romanos 
no  Livro  XIII. ,  CapA.P^oluptas  ejus  a  noftrís  quo- 
(jwi  inter  laudatijfvua ,  atque  etiam  honejliffima  fita^ 
pQna  admijfa  ejt,  Calmet. 


226  Reis. 

fe  azeite  que  tens  em  todos  efles  va- 
fos  :  e  quando  elles  eítiyerem  cheios, 
tirallos-has. 

$  Foi  pois  a  mulher  ,  e  fechou  a 
porta  fobre  li  ,  e  fobre  feus  filhos  :  os 
filhos  lhe  chegavão  osvafos,  eella  hia 
lançando  dentro  o  azeite. 

6  Cheios  que  forão  todos  osvafos^ 
diíTe  ella  a  hum  de  feus  filhos:  Chega- 
mecá  ainda  algum  cutrovafo.  Eelle  lhe 
refpondeo  :  Não  o  tenho.  E  o  azeite 
parou. 

7  Foi  aquella  mulher  dar  conta  de 
tudo  ao  homem  de  Deos  ,  o  qual  lhe 
dilTe:  Vai,  vende  eíTe  azeite,  e  paga 
dahi  ao  teu  crédor :  e  tu ,  e  teus  filhos 
vivei  do  que  ficou. 

8  Aconteceo  também  ,  que  Elifeo 
hum  diapaíTava  porSunám;  ehuma  Do- 
na grave  teve  mão  nelle  para  o  obrigar 
a  comer  :  e  elle  que  palTava  frequente- 
mente por  alli ,  hia  poufar  em  fua  cafa 
para  lá  tomar  a  fua  refeição. 

9  Então  diíFe  eíla  mulher  a  fcu  ma- 
rido :  Tenho  obfervado  que  efte  ho- 
mem y  que  paífa  tantas  vezes  por  nofl!a 

ca- 


Liv.  IV.    Cap.  IV.  aif 

cafa ,  he  hum  homem  de  Deos ,  e  hum 
fanto. 

10  Mandemos-lhe  pois  fazer  hum 
pequeno  quarto ,  e  ponhamos  nelle  hu- 
ma  cama ,  huma  meza  y  huma  cadeira , 
e  hum  candieiro,  para  que  quando  nos 
vier  ver  fe  accommode  alli. 

1 1  Hum  dia  pois  tendo  vindo  Eli- 
feo^  foi  alojar-fenaquelle  quarto,  edef- 
cançou  nelle. 

12  Depois  diíTe  a  Giezi  feu  cria- 
do: Chama  efta  Sunamites;  (^)  e  ten- 
do-a Giezi  chamado,  e  eílando  ella  cm 
pé  diante  delle , 

13  diíTe  elle  ao  feu  criado  :  Dize- 
Ihe  da  minha  parte :  Tu  nos  tens  trata- 
do com  todo  o  defvelo :  Que  queres  tu 
que  eu  te  faça  ?  Acafo  tens  algum  ne- 
gocio? E  queres  que  falle  ao  Rei,  ou 
ao  General  dos  feus  exércitos  ?  Ella 

P  ii  lhe 

(c)  Tmdo-a  Giezi  chamado,  &c.  O  PaJre  Dc 
Carricres  que  feguindo  a  Saci  traduzio  o  prefenic 
período  ,  como  eu  o  puz  no  Corpo  ,  adverte  na 
Nota ,  que  elle  fe  podia  verter ,  e  diípòr  de  outra 
forte  por  efte  modo :  GÍ€zi  a  fez  vir ,  e  ella  çjlava 
diante  da  porta.  Ora  Elifeo  tinha  dito  ao  Jeu  criíh 
dQ\  Dize-lhs  da  minha  parte,  &ç»  Pekiira, 


228  Reis. 

lhe  refpondeo  :  (^)  Eu  vivo  aqui  cm 
paz  no  meio  do  meu  Povo. 

14  DiíTe  Elifeo  a  Giezi:  Que  quer 
ella  pois  que  eu  faça  afeufavor.^  E  Gie- 
zi lhe  refpondeo :  He  efcufado  pefgun- 
tar-lho  ;  porque  ella  não  tem  filhos ,  e 
feu  marido  he  já  velho. 

15"  Mandou  pois  Elifeo  a  Giezi, 
que  chamaíTe  efta  mulher :  e  vmda  que 
ella  foi  5  e  fe  pozelíe  diante  da  porta , 

16    Elifeo  lhe  diífe:  Dentro  d' hum 
anno  nefte  mefmo  tempo ,  e  nefta  mef- 
ma  hora  fe  Deos  te  conferva  com  vida 
terás  tu  hum  filho  no  teu  ventre.  E  ella 
Iherefpondeo :  Não , meu  Senhor ;  não, 
homem  de  Deos;  não  enganes,  te  pe- 
ço, a  tua  efcrava. 
Anno      17    A  mulher  porém  concebeo  ,  e 
^^^^^•pario  hum  filho  na  mefmo  tempo  ,  e  á 
antes'  mefma  hora  que  Elifeo  lhe  diílera. 
deJ.C.     18    Grefceo  o  menino ;  E  tendo  ido 
SP4.  hum 

■  ( íí )  Eu  vivo  aqui  em  paz  no  meio  do  meu  Povo: 
Foi  o  mefmo  que  dizer:  Como  cu  vivo  be^-  com 
todos  5  e  ninguém  me  inquieta  ,  não  neceííito  de 
quem  me  apadrinhe  diante  do  Rei ,  OU  diante  dos 
fcus  Miniítros.  Pereira, 


Liv.  IV.   Caf.  IV.  229 

hum  dia  bufcar  a  feu  pai  ,  que  eftava 
com  os  feifciros,  lhe  diíTe: 

19  Doe-me  a  cabeça,  doe-me  a  ca- 
beça. DiíTe  o  pai  a  hum  dos  feus  fer- 
vos:  Toma  eíle  menino,  e  leva-o  afua 
mãi. 

20  Pegou  o  fervo  no  menino  ,  e  o 
levou  a  fua  mai :  e  tendo-o  ella  pofto  fo- 
bre  os  feus  joelhos  até  o  meio  dia,  mor- 
reo. 

21  Subio  a  mãi  ao  quarto  onde  fe 
hofpedava  o  homem  de  Deos ,  e  poz  o 
menino  em  lima  da  fua  cama  :  e  tendo 
fechado  a  porta ,  veio  ter  com  feu  ma- 
rido, e  lhe  diíTe : 

22  Manda  comigo,  te  peço,  hum 
dos  teus  fervos  ,  e  eu  m.ontada  na  bur- 
ra irei  correndo  até  o  homem  de  Deos, 
e  voltarei. 

23  O  marido  lhe  dilTe :  Porque  vás 
tu  ter  comelle?  (e)  Hoje  não  sao  Ca- 
lendas ,  nem  Sabbado.  Ella  lhe  refpon- 
deo:  Eu  fempre  irei. 

E 

(e)  Hoje  tiao  são  Calendas^  <b'C,  Para  que  m 
tc  hajas  de  ;.proveitar  das  práticas  ,  que  elle  faz 
ao  Povo  neítcs  dias.  De  Carri eres. 


1L$9  Reis. 

24  Efez  apparelhar  a  burra,  c  dif- 
fe  ao  feu  fervo :  Leva-me  a  toda  a  dili- 
gencia, e  não  haja  paradas  no  caminho; 
e  faze  o  que  te  ordeno. 

25'  Pofta  pois  a  caminho  ,  chegou 
onde  eftava  o  homem  deDeos,  que  era 
no  monte  Carmelo.  E  o  homem  de 
Deos ,  tendo-a  viílo  vir  para  elle ,  diffe 
para  o  feu  criado  Giezi  :  Eis-ahi  vem 
aquella  Sunamites. 

26  Vai  pois  a  recebella ,  e  dize-lhe : 
Vai  tudo  bem  em  tua  cafa  ?  Tu ,  e  teu 
marido  ,  e  teu  filho  pafsão  bem  ?  Re^ 
ípondeo-lhe  ella ;  Muito  bem. 

27  E  tendo  vindo  ter  com  o  ho- 
mem de  Deos  ao  monte  ,  fe  deitou  a 
feus  pés:  e  Giezi  fe  chegou  para  a  re- 
tirar. Mas  o  homem  de  Deos  IhediíTe: 
Deixa-a ,  que  a  fua  alma  eftá  em  amar- 
gura ,  e  o  Senhor  mo  encobrio  y  e  não 
mo  deo  a  conhecer. 

28  Então  lhe  diífe  a  mulher:  Aca- 
fo  pedi-te  eu  algum  filho  ,  meu  Se- 
nhor.^ Não  te  difle  eu:  Não  me  enga- 
nes. 

EElifeo  difle  a  Giezi:  Cinge  os 

teus 


Lrv.  IV.    Cap.  IV.  231 

teus  rins,  e  toma  o  meu  bordão  na  mão , 
e  parte.  (/)  Se  encontrares  alguém , 
não  o  faudes  ;  e  fe  alguém  te  laudar, 
não  lhe  reípondas :  e  porás  o  meu  bor- 
dão fobre  o  rofto  do  menino. 

30  Porém  a  mãi  do  menino  diffe: 
Viva  o  Senhor,  e  viva  a  tua  alma,  que 
te  não  largarei.  Partio  elle  pois ,  e  a  le- 
guio. 

3 1  Entretanto  Giezi  tinha  ido  adian- 
te ,  e  tinha  pofto  o  bordão  d'Elifeo  fo- 
bre o  rofto  do  menino  :  (g)  mas  não 

lhe 

(/)  Se  encontrares  alguém ,  não  o  faudes.  Modo 
de  fallar  hyperbolico ,  e  proverbial  com  que  fe  de- 
nota a  preíTa  ,  e  a  expedição  com  que  fc  deve  ir. 
Nefte  íentido  diíTe  também  Chrifto  depois  aos  feus 
Apoftolos:  Nemiuem  per  viam  falutaveritis.  Luc.  x. 
4.  Pereira. 

(g)  Mas  não  lhe  tinha  tornado  mm  falia,  neni 
fentimentos.  Pergunta-fe  :  Porque  náo  quiz  Deos 
ue  cfte  menino  refufcitaírc  ao  toque  do  bordão 
'Elifeo?  Reípondem  huns ,  que  por  culpa  de  Gie- 
zi ,  que  talvez  fe  tinha  jaótado  de  que  hia  a  rc- 
fufcitar  hum  morto.  Outros  ,  que  por  falta  de  fé 
na  mulher.  Nada  diílo  foi  ,  dizem  muitos  Santos 
Padres  :  mas  foi  que  o  bordão  dTJifco  fymboliza- 
va  a  Lei  de  Moyíés ,  c  a  prefença  d^Elifco  a  vin* 
da  dc  Chrifto.  E  quiz  Deos  molhar,  que  para  fe 
tomar  á  vida ,  náo  baftaya  a  Lei ,  mas  era  neceíTa- 


Reis. 

lhe  tinha  tornado  nem  falia  ,  nem  fen- 
timento.  Voltou  poisGiezi  a  enconcrar- 
fe  com  feu  amo ,  e  diíTe-lhe :  O  meni- 
no não  refufcitou. 

32  Depois  entrou  Elifco  na  cafa , 
e  achou  o  menino  morro  ,  deitado  em 
lima  da  fua  cama. 

33  E  tendo  entrado  ,  encerrou-fe 
com  o  menino,  e  fez  oração  ao  Senhor. 

34  Depois  fubio  á  cama,  e  dcitou- 
fe  fobre  o  menino,  epoz  a  fua  boca  fo- 
bre  a  boca  delle  ,  os  feus  olhos  fobre 
os  olhos  delle,  e  as  fuas  mãos  fobre  as 
mãos  delle  ^  e  incurvou-fe  fobre  o  me- 
nino. E  a  carne  do  menino  aqueceo. 

35-  Depois  defceo,  e  deo  duas  vol- 
tas pela  cafa :  e  tornou  a  fubir,  e  a  ef- 
tender-fe  fobre  elle :  e  o  menino  boce- 
jou fete  vezes  ,  e  abrio  os  olhos. 

36  Depois  chamou  Elifeo  aGiezi, 
e  lhe  diíTe  :  Faze  vir  elTa  Sunamites: 
Yeio  ella  logo ,  e  entrou  na  camará.  E 
Elifeo  lhe  difle  :  Toma  o  teu  filho. 

Che- 

rio  para  iílo  a  graça  do  Salvador.  AÍIim  Santo 
Agoftinho  ,  S.  Gregorio  Magno  ,  e  S.  Bernardo, 
Pereira, 


Liv.  IV.    Cap.  IV.  235 

37  Chegou-fe  a  mulher  a  elle  ,  e 
fe  lançou  a  leus  pés ,  e  o  adorou  fobre 
a  terra:  e  tomando  feu  filho,  fe  foi. 

38  E  Elifeo  voltou  para  Galgala. 
Ora  nefte  paiz  havia  fome :  e  os  filhos 
dos  Profetas  vivião  com  Elifeo.  Diífe 
elle  pois  a  huns  dos  feus  criados  :  Pé- 
ga  n'uma  panella  bem  grande  ,  e  faze 
de  comer  para  os  filhos  dos  Profetas. 

39  E  hum  delles  tendo  fahido  fo- 
ra a  apanhar  humas  hervas  do  campo, 
achou  huma  {h)  como  parra  filveftre,  c 
colheo  delia  a  fua  capa  cheia  de  colo- 
quintidas  bravas.  E  tendo  voltado  ,  as 
cortou  em  pedaços  ,  e  as  poz  a  cozer 
na  panella ,  porque  não  fabia  o  que  era. 

40  Deíla  vianda  pois  he  que  poze- 
rão  na  meza  aos  difcipulos  d'Elifeo5  os 
quaes  o  mefmo  foi  provarem-na  ,  que 
gritarem:  Homem  de  Deos,  a  panella 
tem  alguma  coufa  mortífera.  E  vúo^o-. 
dérão  comer  delia. 

41  Então  lhes  diíTe  Elifeo:  Trazeis 
me  huma  pouca  de  farinha.  Elles  lha 

trou- 

(/;)  Como  parra  filvejire,  He  a  planta  que  cha- 
máo  Ffl  da  tma.  Calmet. 


234  Reis. 

trouxerâo  :  e  elle  a  lançou  na  panella , 
e  lhes  dilTe:  Deitai  agora  para  todos, 
para  que  cada  hum  coma.  E  não  tor- 
nou a  haver  mais  amargor  algum  na  pa- 
nella. 

42  Veio  também  hum  homem  de 
Baalfalifa ,  que  trazia  ao  homem  de  Deos 
huns  pães  das  primícias ,  vinte  pães  de 
cevada  j  e  trigo  novo  ,  no  feu  alforje. 
E  Elifeo  diffe  ao  feu  criado :  Dá-os  ao 
Povo  5  para  que  coma. 

43  O  criado  lhe  refpondeo  :  Que 
he  ifto  para  eu  o  pôr  diante  a  cem  pef- 
foas?  RepUcou  Elifeo  :  Dá-os  ao  Povo, 
para  que  coma  :  porque  eis-aqui  o  que 
gíz  o  Senhor:  Elles  comerão,  e  ainda 
ha  de  fobejar. 

44  Elie  pois  lhos  poz  diante.  Co- 
merão os  homens  ,  e  ainda  ficarão  fuas 
febras  ,  conforme  a  palavra  do  Senhor. 


CA^ 


Livro    IV.  235: 

CAPITULO  V. 

ÍJàaman  he  curado  de  lepra  for  Elifeo. 
Giezi  he  ferido  do  mefmo  mal  por  ter 
recebido  pref entes  de  Naanian, 

I  T^/TAaman  General  do  exercito 
jl  \  do  Rei  de  Syria  era  hum  ho- 
mem poderofo,  e  tido  em  grande  hon- 
ra junto  ao  Rei  feu  amo  :  porque  por 
elle  tinha  o  Senhor  falvado  a  Syria  :  era 
valente ,  e  rico ,  mas  leprofo. 

2  Ora  huns  ladrões  havendo  fahi- 
do  da  Syria  ,  tinhao  levado  cativa  do 
paiz  d'  Ifrael  huma  rapariga  pequena , 
que  depois  entrou  no  ferviço  da  mulher 
de  Naaman. 

3  Ella  rapariga  diíTe  a  fua  ama  : 
Prouvera  a  Deos  que  meu  Senhor  tive- 
ra ido  bufcar  hum  Profeta ,  que  eílá  em 
Samaria  :  elle  fcm  dúvida  o  tivera  cu- 
rado da  fua  lepra. 

4  Sobre  ifto  foi  Naaman  ter  com 
feu  amo  5  e  lhe  diíTe  :  Huma  rapariga 
d' Ifrael  diífe  ifto,  e  ifto. 

J    E  o  Rei  da  Svria  lhe  refpondeo : 

Vai, 


Reis. 

Vai ,  que  eu  efcreverei  ao  Rei  d'lfrael. 
Partio  pois  Naaman  ,  levando  comfigo 
(a)  dez  talentos  de  prata,  feis  mil  ef- 
cudos  d' ouro,  e  dez  veftidos  para  mu- 
dar: 

6  e  levou  ao  Rei  d'  Ifrael  a  carta 
do  Rei  de  Syria  ,  a  qual  eftava  conce- 
bida neftes  termos  :  Quando  tu  tiveres 
recebido  efta  carta  ,  faberás  que  eu  te 
enviei  Naaman  meu  fervo  para  o  cura- 
res da  fua  lepra. 

7  Tendo  o  Rei  dlfrael  lido  efta  car- 
ta ,  rafgou  os  feus  veftidos  ,  e  diíTe: 
Acafo  fou  eu  algum  Deos  para  poder 
tirar ,  e  dar  a  vida  }  Como  aílim  enviar- 
ine  hum  homem  para  eu  o  curar  da  fua 
lepra  ?  Vós  bem  vedes  que  efte  Prínci- 
pe não  anda  fenao  a  bufcar  occaliao  de 
romper  comigo. 

8  Elifeo  homem  de  Deos  ,  tendo 
ouvido  que  o  Rei  d'  Ifrael  rafgára  af- 
íim  os  feus  veftidos,  mandou-lhc  dizer: 

Por- 

(tf)  Dez  talemos  de  prata.  Qae  fazião  perto  de 
fincocnta  mil  libras  de  França ,  c  confequentcmen- 
te  perto  de  vime  mil  cruzados  da  noíTa  moeda.  Pe- 


Liv.  IV.   Cap.  V.  237 

Porque  rafgafte  tu  os  teus  veftidos  ?  Ve- 
nha elTe  homem  ter  comigo  ,  e  faiba 
que  ha  hum  Profeta  em  Ifrael. 

9  Veio  pois  Naaman  com  os  feus 
cavallos  ,  e  os  feus  coches,  e  poz-fe  á 
porta  da  cafa  d'Elifeo. 

10  E  Elifeo  lhe  enviou  quem  lhe 
diireífe:  Vai  lavar-te  fete  vezes  no  Jor- 
dão, e  a  tua  carne  fera  curada ,  e  fica- 
rá limpa. 

1 1  Naaman  todo  agaftado  hia  a  re- 
tirar-fe,  dizendo:  Eu  cuidava  que  elle 
me  viria  bufcar ,  e  que  poíto  em  pé  in- 
vocaria o  Nome  do  Senhor  feu  Deos ; 
que  tocaria  com  a  fua  mão  a  minha  le- 
pra j  e  que  ma  curaria. 

12  Acafo  não  temos  nós  em  Damaf- 
co  (h)  os  rios  Abana  ,  e  Farfar  ,  que 
são  melhores  do  que  todos  os  d' Ifrael 
para  eu  lá  me  lavar  ,  e  ficar  limpo? 

Quan- 

(h)  Os  rios  Ahantí ,  e  Farfar  ,  é  c.  Segundo 
Benjamim  de  Tudela  no  fcu  Itinerário  ,  o  Abana 
corre  pelo  meio  da  Cidade ,  e  as  fuas  aguas  fcdif- 
tribuem  por  canaes  pelas  praças  ,  e  lugares  públi- 
cos ,  e  pelas  cafas  da  gente  principal.  O  Farfar  cor- 
f c  pelo  pé  da  Cidade ,  c  rega  as  hortas ,  e  poma- 
ícs  vizinhos.  Pereira. 


238  Reis. 

Quando  elle  pois  tinha  já  voltado  orof- 
tOj  e  fe  retirava  todo  enfadado, 

13  chegárão-fe  a  elle  os  feus  fer- 
vos ,  e  lhe  dilTerao  :  Pai ,  quando  o  Pro- 
feta te  houveíTe  ordenado  huma  coufa 
muito  diiíícil  5  deveras  tu  ainda  aíTim  fa- 
zella :  quanto  mais  lhe  deves  tu  obede- 
cer y  dizendo-te  elle  :  Vai-te  lavar  ,  e 
ficarás  limpo. 

14  Foi  elle  pois  ,  e  lavou-fe  fete 
vezes  no  Jordão  ,  conforme  o  homem 
de  Deos  lhe  ordenára :  e  a  fua  carne  fe 
tornou  como  a  carne  d'hu[Ti  menino  mui- 
to tenro ,  e  elle  fe  achou  curado. 

15'  Depois  difto  voltou  para  ver  a 
homem  de  Deos  com  toda  a  fua  comi- 
tiva ,  e  veio  apprefentar-fe  diante  delle  , 
e  lhe  diíTe:  (í*)  Eu  fci  certamente  que 
náo  ha  outro  Deos  em  toda  a  terra ,  fe- 
não  o  que  ha  em  Ifrael  :  rogo-te  pois 
que  recebas  o  que  teu  fervo  te  oíFere- 
ce. 

Mas 

(c)  Eu  fei  certamente  que,  ò*c.  Aqui  temos  a 
Naaman  convertido  da  idolatria  ao  coniiecimcnto  , 
e  culto  do  verdadeiro  Deos  ;  mas  fem  profeííar  a 
Religião  Judaica ,  porque  nem  fe  círcumcidou  ,  nen% 
lecebeo  a  fua  Lei.  Pekeiaa» 


Liv.  IV.   Cap.  V.  239 

16  Mas  Elifeo  lhe  refpondeo  :  Vi- 
va o  Senhor,  ante  cujo  acatamento  ef- 
tou  j  que  eu  não  receberei  nada  de  ti. 
E  por  mais  que  Naaman  inílou  ,  não 
foi  pollivel  rendello. 

17  Naaman  pois  IhedilTe:  Seja  co- 
mo tu  queres  :  mas  eu  te  peço  que 
me  permitias  {d)  levar  dous  machos 
carregados  da  terra  deite  paiz:  porque 
o  teu  fervo  não  tornará  mais  a  ofierecer 
holocauftos  5  ou  victimas  aos  deofes  ef- 
trangeiros ;  mas  não  facrificará  fenão  ao 
Deos  d'Ifrael. 

Hu- 

( í/ )  Levar  dous  machos  carregados  da  terra  def^ 
te  Paiz.  Confiderou  Naaman ,  (]ue  o  culto  do  ver- 
dadeiro Deos  5  por  Lei  do  mefmo  Deos ,  de  tal  for- 
te eftava  alligado  ao  terreno  dlfrael,  que  nenhuns 
facrificios  lhe  podiáo  fer  agradáveis  ,  fenáo  os  que 
fe  lhe  oífereccifem  naquellc  terreno.  E  como  fc  não 
achava  com  refoluçáo  de  deixar  a  pátria  ,  os  eíla- 
dos,  e  o  valimento  do  feu  Rei,  julgou  que  pode- 
ria commodamente  fcrvir  a  Deos  naSyria,  levan- 
do para  lá  alguma  porção  da  terra  d  lfrael.  Com 
femelhantc  affeòto  de  devoção  ,  mas  não  com  o 
mefmo  fim  ,  coftumaváo  os  Chriftâos  levar  para 
os  feus  paizes  alguma  porção  de  rerra  dos  Tantos 
Lugares  de  Jerufalcm  ,  como  do  feu  tempo  attcf- 
láo  Santo  Agoftinho  no  Livro  XXIL  Da  Cidade 
ie  Deos,  Cap.  VIII.,  e  S.  Gregorio  dc  Tura  no 


140  Reis* 

i8    (e)  Huma  fó  coufa  ha  ,  pela 

qual 

Livro  I.  Da  Gloria  dos  Martyres^  Cap.  VII.  Pe- 

KEIRA. 

(e)  Huma  fo  coufa  ha,  pela  qual  eu  te  fupplico^ 
^'C,  Feito  proíelyto  da  verdadeira  Religião  ,  en- 
trou Naaman  em  efcrupulo  ,  fe  a  acçáo  de  fe  in- 
clinar no  Templo  de  Remmon ,  quando  fervilTc  dc 
Braceiro  ao  Rei  idólatra  ,  teria  alguma  coufa  de 
illicira ,  e  peccaminofa ,  vifto  que  ao  abaixar-fe  o 
Rei  para  adorar  o  ídolo  ,  também  elle  Naaman  fe 
devia  abaixar  ,  como  Braceiro  do  Rei*  Elifeo  lhe 
refpondeo  precifamente :  Vai-te  em  paz.  Mas  eílc 
xnefmo  modo  de  lhe  refponder  parece  que  foi  daí 
por  indifíerente ,  e  por  licita  a  acçáo  de  que  falla- 
va  Naaman.  Vai-te  em  paz,  ifto  he,  diz  aquiTof- 
tado  :  Fai  feguro  nefie particular ,  que  não  peccards : 
o\i  Eu  rogarei  ao  Senhor  por  ti ,  para  que  nao  pc^ 
ques. 

Com  Toftado  fuppõe  o  commum  dos  Inter- 
pretes, que  a  acçáo  de  Naaman  fe  inclinar  no  Tem- 
plo diante  dc  Remmon ,  quando  dava  o  braço  ao 
Rei ,  nada  tinha  de  iílicita ,  ou  peccaminofa :  por- 
que da  parte  de  Naaman  era  meramente  huma  ac- 
çáo de  cortejo  civil,  terminada  náo  aoidolo,  maá 
ao  Rei,  AHim  todos  commummente  vertem  o  pre- 
fente  lugar  ,  como  eu  o  propuz  no  futuro  ,  con- 
forme o  traz  a  Vulgata ,  fcguindo  os  Setenta :  Quan^ 
do  ingredietur  domus  meus  templwn  Remmon  ,  ut 
adoret ,  ilío  inmtente  fuper  manum  meam ,  fi  ado^ 
ravero  in  templo  Remmon ,  odorante  eo  in  eodem  lo^ 
CO  ,  ut  ignojcat  mihi  Dominus  fervo  tuo  pro  hac  re, 
Ifto  he  ;  Que  quando  o  Kci  meu  amo  entrar 


Liv.  IV.    Cá?.  V.  241 

qual  eu  te  fupplico  que  rogues  ao  Se- 
nhor pelo  teu  fervo  :  que  he ,  que  auan- 
Tom.  VL  'do 

Templo  deRemmon  para  adorar,  fcgurando-fe  no? 
meu  braço :  Te  eu  adorar  nó  Templo  de  Remmoií 
<]uando  elle  adorar ,  o  Senhor  me  perdoe. 

Pelo  menos  aííim  o  traduzem  comido  Caííio- 
doro  de  la  Reina,  Saci,  Le  Gros,  Houbigant,  c 
De  Carrieres. 

Ainda  aííim  o  grande  Calmet  não  fe  podendo 
por  huma  parte  accommodar  a  que  a  acção  d'  en- 
trar Naaman  no  Templo  de  Remmon  com  o  feu 
Rei,  e  a  de  fe  inclinar  com  elle  diante  do  idolo, 
íofíe  huma  acçáo  indiííerentc :  c  reconhecendo  por 
outra  parte  que  a  rcípofta  d"  Eiifeo  era  de  quem 
cftava  pelo  que  Naaman  lhe  diíTera ,  recorreo  com 
Bocharc  a  entender  do  pretérito  o  qus  os  outros 
vertêráo  pelo  futuro.  Segue  pois  Calmet  ,  que  o 
que  Naaman  pedia  que  Dcos  lhe  pcrdoaílc  náo  era 
ohaver-fe  elle  d' inclinar  no  Templo  deRemmon, 
quando  pelo  ofhcio  que  tinha  déiTe  o  braço  ao  Rei 
íeu  amo  :  mas  fim  o  ter-fc  elle  n  outro  tempo  in- 
clinado diante  de  Remmon  ,  adorando-o  juntamen- 
te com  o  feu  Rei ,  quando  lhe  dava  o  braço:  n  u- 
ma  palavra ,  fegundo  Calmet  ,  pede  Naaman  per- 
dão a  Deos  do  que  fizera  antes  da  fua  conversão, 
c  náo  do  que  continuaria  a  fazer  depois  delia. 

Para  ifto  obfcrva  Calmet  com  Bochart  ,  que 
em  lugar  do  que  os  Setenta ,  c  S.  Jeronymo ,  Au- 
thor  da  Vulgata,  pozeráo  no  futuro  fi  adoravcro  ^ 
aaz  o  Hebrco  no  pretérito  <ò'  adoravi. 

Mas  já  advertirão  o  Abbadc  de  Vçncc  ,  c  o' 
Padre  Houbigant ,  que  na  Lingua  Santa  a  conjun- 


242  Reis. 

do  o  Rei  meu  amo  entrar  (/)  noTcm« 
pio  de  Remmon  para  adorar  ^  feguran- 
do-fe  no  meu  braço  ;  (^)  íe  eu  adorar 
no  Templo  de  Remmon  ,  quando  elle 
adorar,  o  Senhor  me  perdoe. 

19  Elifeo  lhe  reípondeo  :  Vai-te 
em  paz.  E  Naaman  o  deixou  ,  e  fe 
foi.    E  quando  elle  tinha  já  andado 

hum 

ção  et ,  que  precede  o  verbo ,  ordinariamente  faz 
mudar  o  preícrito  em  futuro  ,  e  o  futuro  em  pre- 
tcriro.  E  que  aíKm  no  génio  do  Hebreo  o  mefmo 
he  dizer  et  adoravi ,  que  et  adorabo :  c  pelo  con- 
trario, fegundo  o  génio  do  Hebreo,  era  neceííario 
que  o  Texto  diffelTe  et  adorabo  ,  f e  o  fcntido  de- 
veíTe  fer  et  adoravi.  Pereira. 

(/)  No  Templo  de  Remmon  ,  <â^c,  He  efte  o 
unico  lugar  da  Efcrirura  ,  em  que  fc  nomea  Rem- 
mon :  nome  que  como  nota  Bochart  na  fua  DiíTcr- 
taçào  ,  a  Tapino ,  tanto  em  Hebreo ,  como  em  Ará- 
bigo íignifica  ora  a  rovtã  ,  ora  o  que  he  elevado. 
Pelo  fignificado  de  romã  fufpeitava  Serario  ,  que 
efte  idolo  era  Vénus  ,  a  qual  fe  adorava  debaixo 
da  imagem  de  Deos  ,  e  de  Deofa  ,  c  a  ella  efpe- 
cialmente  eráo  confagrados  os  pomos  de  efpecial 
fermofura.  Pelo  fignificaco  de  coufa  alta  fe  incli- 
na Calmet  a  ter  para  íi  ,  que  efte  idolo  era  o  Soí, 
Pereira. 

(<?)  adorar  no  Templo  de  Remmon  j  &e, 

Ifto  he  3  fe  eu  mc  inclinar ,  íc  eu  mc  proftrar,  Pé- 


Liv.  IV.    Cap.  V.  24^ 

{h)  hutíi  efpaço  confideravel  de  cami- 
nho, 

20  Giczi  que  fervia  ao  homem  de 
Deos,  diíTe  lá  comíigo:  Meu  amo  per- 
doou a  efte  Naaman  Syro  ,  e  não  quiz 
receber  nada  do  que  elle  lhe  trouxera. 
Viva  o  Senhor  ,  que  eu  correrei  atrás 
delle  ,  e  receberei  delle  alguma  coufa. 

21  Foi  Giezi  pois  em  alcance  de 
Kaaman  :  e  Naaman  vendo-o  vir  cor- 
rendo para  elle,  faltou  logo  do  coche ^ 
e  veio  a  recebello ,  e  lhe  diífe :  Eftá  tu- 
do bom  ? 

22  Muito  bom  ,  refpondeo  Giezí : 
meu  amo  me  enviou  a  dizer-te  ,  que 
a  eíla  hora  lhe  chegarão  do  monte  d' 
Efraim  dous  moços  Profetas ,  e  te  pede 
que  lhe  mandes  hum  talento  de  prata  j 
e  dous  veftidos. 

Dif- 

( Ã  )  Hum  efpaço  confideravel  de  cdminho.  Expli- 
quei-me  dcík  modo ,  porque  náo  concordáo  os  In- 
terpretes no  que  fixamente  íigni fica  oHebreo:  ver- 
tendo huns  com  Saci,  huma  légua  y  outros  comCaf- 
fiodoro  dc  la  Reina ,  hUma  milha ,  outros  com  Cal- 
met ,  o  comprimento  de  terra ,  que  fe  fazia  lavrac 
a  huma  junta  de  bois:  o  que  ellc  avalia  emdu^n- 
e  (juarenta  pés.  Pereira, 


244  Reis. 

23  Difle-lhe  Naaman  :  Melhor  he 
que  eu  te  dê  dous  talentos:  eobrigou-a 
a  acceitallos:  e  tendo  mettido  os  dous 
talentos  de  prata  ,  e  os  dous  veltidos 
em  dous  faccos  que  atou ,  carregou  com 
elles  dous  dos  feus  fervos  ,  que  os  le- 
varão diante  de  Giezi. 

24  Chegada  a  tarde,  tomou-os  el- 
le  das  fuas  mãos ,  e  os  guardou  em  fua 
cafa,  e  defpedio  os  dous  homens,  que 
logo  fe  forão. 

25-  Entrou  depois  Giezi  ,  e  veio 
pôr-fe  diante  de  feu  amo.  EElifeo  lhe 
diíTe:  Donde  vens,  Giezi?  Elie  Ihere- 
fpondeo :  Teu  fervo  não  foi  a  parte  al- 
guma. 

26  Mas  Elifeo  lhe  replicou  :  Pois 
não  te  eftava  prefente  o  meu  efpirito, 
quando  aquelle  homem  defceo  do  co- 
che para  te  fahir  ao  encontro  ?  Tu  ago- 
ra pois  recebefte  prata,  e  veftidos  para 
comprares  olivaes  ,  vinhas  ,  ovelhas  , 
bois ,  fervos  ,  e  fervas. 

27  ( / )  Mas  também  a  lepra  de  Naa- 

man 

C  i )  Mas  também  a  lepra  de  Naaman  fe  pegará 
a  tiy  &ç.  ]ufta  pen^  da  Simonia  real,  que  Giezi 


Liv.  IV.    Cap.  V.  245- 
man  fe  pegará  a  ti ,  e  a  toda  a  tua  ra- 
ça para  fempre.  E  Giezi  íe  apartou  de 
íeu  amo  todo  coberto  d'huma  lepra  bran- 
ca, como  neve. 

commetreo  ,  vendendo  a  graça  da  cura  ,  que  feu 
amo  fizera  a  Naaman  :  pena  da  fua  mentira  em 
matéria  tão  grave  :  e  pena  do  feu  furto  cm  levar 
O  que  Elifeo  náo  quizcra  acceitar.  Pereira. 

CAPITULO  VI. 

Elifeo  faz  vir  affima  agua  o  ferro  cP 
hum  machado,  Defcobre  ao  Rei  cPIfrael 
a  embojcada  ,  í]ííe  lhe  queria  armar  o 
Rei  de  Syria.  Efte  manda  foldados  ,  que 
prendão  o  Profeta,  O  Rei  de  Syria  ccT' 
ca  a  Samaria  ,  e  caufa  nella  huma  fo- 
me horrorofa. 

I  TLXUm  dia  dilTerão  os  filhos  dos  Anno 
Xx  Profetas  a  Elifeo  :  Tu  bem  '^^J^- 
vcs  que  efte  lugar  ,  em  que  nós  mora-  ant!^dc 
mos  comrigo  ,  he  muito  eftrcito  para  nós.  ].  Chr^ 

2  Deixa-nos  ir  até  o  Jordão  ,  para 
que  cada  hum  de  nós  corte  madeira  no 
bofque  ,  e  faça  com  ella  para  fi  habitação 
iTiais  ampla.  Elifeo  lhes  refpondeo  :  Ide. 


Reis. 

3  E  hum  dellcs  lhe  diíTe  :  Pois  vem 
tu  tnmbem  com  os  teus  fervos.  Elie  lhe 
refpondeo :  Eu  irei. 

4  E  foi  com  cIIgs.  Chegados  elles 
ao  Jordão,  começarão  a  cortar  páos. 

•  5*  Acontecco  porém  que  tendo  hum 
delles  cortado  a  arvore  ,  lhe  cahio  na 
agua  o  ferro  do  machado.  Gritou  elle 
logo,  e  diífe :  Ai,  ai,  ai,  meu  Senhor! 
Que  eíle  mefmo  o  tinha  eu  pedido  em- 
preitado. 

6  E  o  homem  de  Deos  lhe  dilTe : 
Onde  cahio  elle  ?  E  elle  lhe  moftrou  o 
lugar.  Cortou  pois  Elifeo  (a)  hum  pe- 
daço de  páo,  e  o  Linçou  no  mefmo  lu- 
gar ,  e  o  ferro  veio  aílima ,  e  nadou  fo- 
bre  a  agua. 

7  E  Elifeo  lhe  diíTe  :  Tira-o.  Ef- 
tendeo  elle  a  maO)  e  o  tirou. 

Ora 

Hum  pedalo  de  pdo.  Ncfte  madeiro  ,  que 
Eliíeo  lançou  na  agua  para  fazer  vir  aílima  o  fer- 
ro 5  contempla  Terrulliano  no  Livro  contra  os  Ju- 
deos  Cap.  XIlí.  huma  figura  da  Cru2  de  Chrifto , 
que  pela  viítude  que  diíFundio  nas  aguas  do  Baptif- 
rno  tirou ,  e  fez  fubir  do  profundo  do  rio ,  ifto  ne  , 
do  abyfmo  do  erro  ,  e  da  maldade ,  o  ferro  do  ma- 
lho,  iíio  he,  os  homens  indurecidos,  e  eítupido^ 
-  pela  culpa.  Pekeiua, 


Liv.  IV.    Cap.  VL  247 

8  Ora  o  Rei  deSyria  pelejava  con- 
tra Ifrael ;  e  tendo  confelho  com  os  feus 
Officiaes  5  lhes  diíTe :  He  neceíTario  que 
armemos  huma  embolcada  em  tal  5  e 
em  tal  lugar. 

9  Mandou  pois  o  homem  de  Deos 
dizer  ao  Rei  d'Ifrael :  Acautelaste  ,  não 
paffes  por  acolá,  porque  os  Syros  eftao 
para  te  fazer  huma  embofcada. 

10  Em  confequencia  defte  avifo, 
mandou  o  Rei  d' Ifrael  ao  lugar ,  que  o 
homem  de  Deos  lhe  diíTera,  e  tomou-o 
d'ante-mão:  e  aflim  fe  guardou  mais  d' 
huma,  e  de  duas  vezes. 

1 1  Turbou-fe  com  efte  accidente  o 
coração  do  Rei  deSyria;  e  tendo  ajun- 
tado os  feus  fervos,  lhes  diíTe  :  Porque 
me  nao  defcubris  vós  quem  he  o  que 
me  faz  traição  junto  ao  Rei  d' Ifrael? 

12  E  hum  dos  feus  fervos  lhe  re- 
fpondeo  :  Ifto  não  he  ,  que  alguém  te 
faça  traição,  ó  Rei  meu  Senhor  :  mas 
he  que  o  Profeta  Elifeo  ,  que  eftá  em 
Ifrael,  defcobre  ao  Rei  d'lírael  tudo  o 
que  tu  dizes  no  teu  gabinete. 

13  E  elle  lhes  dilfe :  Ide  ,  e  vede 


24§  Reis, 
onde  elle  eftá  para  eu  o  mandar  pren- 
der. Vierão-lhe  elles  declarar  ,  dizen- 
do :  Elifeo  eftá  em  Dothan. 
Amo      14    Mandou  logo  o  Rei  de  Syria 
-^16*  cavailaria ,  coches ,  e  as  fuas  melhores 
ant.  de  ^^opas  :  e  tendo  ^lles  chegado  de  noi- 
J.  Chr.  te,  cercarão  a  Cidade. 

Porém  tendo-fe  levantado  ao 
amanhecer  o  criado  do  homem  de  Deos  , 
fahio  fora :  e  como  viíTe  o  exercito  tor- 
neando a  Cidade  ,  a  cavailaria  ,  e  os 
coches,  veio  dar  parte  diflb  afeuamo, 
e  lhe  diíTe  :  Ai ,  ai ,  ai  ,  meu  Senhor ! 
Qiie  havemos  de  fazer? 

1 6  Mas  Elifeo  lhe  refpondco :  Nâo 
temas  :  porque  mais  são  os  que  eftão 
comnofco ,  do  que  os  que  eftão  com  el- 
les. 

17  Aomefmo  tempo,  fazendo  ora- 
ção, diíTe  Elifeo:  Senhor,  abre-lhe  os 
olhos ,  para  que  elle  veja.  Abrio  o  Se- 
nhor os  olhos  a  efte  criado  ,  e  eis-que 
vê  Omonte  cheio  decavallos,  e  de  car- 
roças de  fogo,  que  eftavão  ao  redor  d* 
Elifeo. 

18  Entretanto  defcêrao  os  inimigos 

a 


Liv.  IV.    Cap.  VI.  249 

a  elle :  e  Elifeo  fez  a  fua  oração  ao  Se- 
nhor,  e  lhe  diíTe:  Peço-te  que  firas  ef- 
ta  gente  de  cegueira.  E  no  mefmo  pon- 
to os  ferio  o  Senhor  de  cegueira  ^  con- 
forme a  palavra  d' Elifeo. 

19  Então  lhes  diíTe  Elifeo :  {b)  Ef- 
te  não  he  o  caminho  ,  nem  efta  he  a 
Cidade:  fegui-mc  ,  e  eu  vos  moílrarei 
o  homem  ,  que  vós  bufcais.  Elle  pois 
os  levou  a  Samaria. 

20  E  tanto  que  elles  entrarão  em 
Samaria  ,  diífe  Elifeo :  Senhor ,  abre-lhes 
os  olhos  5  para  que  elles  vejâo.  Abrio- 
Ihes  o  Senhor  os  olhos  ,  e  elles  virão 
que  eftavão  no  meio  de  Samaria. 

21  E  o  Rei  d'Ifrael  tendo-os  vif-r- 
to  5  diíFe  a  Ehfeo:  Meu  pai^  matallos^ 
hei? 

22  Elifeo  lhe  refpondeo:  Não,  tu 
os  não  matarás  :  porque  tu  os  não  to- 
mafte  com  a  tua  efpada  ,  nem  com  o 

teu 

(/;)  Efle  não  he  o  caminho  ,  nem  ejfa  he  a  Ci- 
dade.  Achando-le  Elifeo,  como  devemos  íuppor, 
fóra  de  Samaria,  náoconrinháo  cilas  fuas  palavras  , 
fcnáo  a  pura  verdade.  Aflim  he  efcufado  recorrer, 
a  que  pelo  direito  da  guerra  era  licito  a  Eliíeo  ciX" 
ganar  os  inimigos.  Pereira, 


25'0  R  K  I  S. 

-teu  arco  para  teres  direito  de  os  matar  í 
mas  manda-Ihes  pôr  diante  pão ,  e  agua , 
para  que  comão  ^  e  bebão  ,  e  tornem 
para  feu  amo. 

23    O  Rei  d'Ifrael  pois  lhes  man- 
dou dar  grande  quantidade  d'aIimentos. 
E  depois  que  comerão,  e  beberão,  os 
defpedio,  eelles  voltárão  para  feu  amo. 
E  não  tornarão  mais  os  Syros  a  vir  rou- 
bar as  terras  d'  Ifrael. 
Anno       24    Algum  tempo  depois  ajuntou 
^jj^*  Benadad  Rei  deSyria  todas  asfuas  tro- 
am, de  pas  5  e  veio  íitiar  Samaria. 
J.  G.       25'    E  foi  em  extremo  grande  a  fo- 
me,  que  a  Cidade  padeceo:  em  termos 
que  continuando  fempre  o  affédio  ,  foi 
vendida  a  cabeça  de  hum  burro  (c)  por 
oitenta  moedas  de  prata,  (^)  e  a  quar- 
ta parte  d'  hu n  cabo  (e)  d' efterco  de 
pombas ,  por  finco  moedas  de  prata. 

E 

(c)  Por  oitentí  moedas  de  prata.  Que  importa- 
yão  oitenta  libras  de  França  ,  ifto  he  ,  da  nofla 
moeda  doze  mil  e  oitocentos  reis.  Pereira. 

Çd)  E  a  quarta  parte  d'  hum  cabo.  Que  era  a 
quarta  parte  d  huma  canada,  e  mais  hum  dedo  cu- 
bico. Calmet. 

(e)  J)'  efierço  de  pombas,  Bochart  na  fua  grai^^ 


Liv.  IV.    Cap.  VI.  25-1 

26  E  paíTando  o  Rei  d'Ifrael  ao 
longo  do  muro  ,  gritou  huma  mulher, 
e  lhe  diíTe :  Salva-me  5  ó  Rei  meu  Se- 
nhor. 

27  E  o  Rei  lhe  refpondeo:  O  Se- 
nhor te  não  falva  :  Donde  tirarei  eu  com 
que  te  poíTa  falvar  ?  Da  eira ,  ou  do  la- 
gar? E  accrefcentou  o  Rei :  Que  he  o 
que  tu  queres  ?  E  ella  lhe  refpondeo : 

28  Huma  mulher  me  diíTe :  Dá-me 
o  teu  filho  para  o  comermos  hoje :  E  o 
meu  filho  comello-hemos  á  manhã , 

^9    (/)  cozemos  pois  o  meu  filho, 

e 

de  obra  Dos  Animies  da  Sagrada  Efcritura  he  de 
parecer  que  por  ejierco  de  pombas  íe  náo  deve  en- 
tender aqui  o  lixo  deftas  aves  j  mas  íim  huma  her» 
va  ,  que  tinha  efte  mcímo  nome  entre  os  Hebreos , 
e  a  que  os  Árabes  chamáo  Cali ,  que  he  abftergcn- 
tc ,  e  deterfiva  :  o  que  Calmet  julga  fcr  a  folda  de 
cujas  cinzas  fc  faz  o  vidro.  A  commum  opinião 
comtudo  o  entende  do  próprio  efterco  dss  pom-? 
bas  ,  que  naquelle  aperto  íe  comprava  tão  caro , 
ou  para  comer  ,  ou  para  falgar ,  ou  para  eftercai 
terras.  Pereira. 

(/)  Cozemos  pois  o  meu  filho.  He  a  quanto  po- 
de chegar  a  raiva  ,  e  o  furor  da  negra  fome ,  que 
por  iíTo  o  Poeta  lhe  deo  os  epitheios  de  má  confe- 
íheira  ^  dc  torpe  ,  e  d  obfcena.  He  comtudo  certo 
que  náo  foi  efta  a  ultima  ycz  que  os  Hebrcos  fc 


Reis. 

€  o  comemos.  Ao  outro  dia  lhe  diíTe 
eu  :  Dá-me  o  teu  filho  para  o  comer- 
mos. Mas  ella  efcondeo  o  feu  filho. 

30  O  Rei  tendo  ifto  ouvido  ,  raf- 
gou  os  feus  veftidos  ,  e  hia  paliando 
pelo  muro  :  e  todo  o  Povo  vio  o  cili- 
cio 5  que  elle  trazia  veftido ,  á  raiz  das 
fuas  carnes. 

31  E  o  Rei  diíTe  :  Deos  me  trate 
çom  todo  o  feu  rigor  fe  a  cabeça  d'Eli- 
feo  filho  de  SaíFat  lhe  ficar  hoje  fobre 
os  hombros. 

32  Entretanto  Elifeo  eftava  aíTenta- 
do  em  fua  caía  ,  e  aíTentados  com  elle 
huns  velhos.  Mandou  pois  o  Rei  hum 
homem  :  e  antes  que  efte  homem  che- 
gaíTe,  diíTe  Elifeo  para  os  velhos:  Sa- 
beis vós  que  efte  filho  d'hum  homicida 
mandou  aqui  hum  homem  para  me  cor- 
tar a  cabeça?  Tende  pois  cuidado,  que 
quando  elle  chegar  y  fecheis  a  porta ,  e 

não 

virão  conílrangidos  pela  fome  a  praticar  efte  ex- 
tremo de  deshumanidade ,  c  de  fcvicia.  O  mefmo 
fe  tornou  a  ver  depois  no  cerco  de  Jerufalem  poE 
Nabuco  DonoíTor.  Jerem.  Thr.  n.  20.  ,  e  no  ou- 
tro pelos  Romanos^  jofé  Liv.  VH.  Cap.  VUh 


Liv.  VL    Cap.  vi. 
líâo  o  deixeis  entrar,  porque  eis-ahi  fin- 
to eu  o  eftrondo  dos  pés  do  Senhor, 
que  vem  apôs  elle. 

33  Quando  Elifeo  ainda  eftava  fal- 
lando  5  eis-que  appareceo  aquelle  ho- 
mem ,  que  vinha  para  elle.  (g)  E  elle 
lhe  diffe :  Bem  vês  a  que  extrema  def- 
graça  nos  leduzio  o  Senhor :  Que  mais 
poíTo  eu  efperar  do  Senhor  í 


CA- 

Çg)  B  elle  IhediJTe,  &c.  Nãohe  claro  do  Tex- 
to 5  quem  he  eíte  elle :  fe  o  homem  mandado  pe- 
lo Rei ,  fe  o  mefmo  Rei  ,  que  veio  nas  fuas  cof- 
ias ,  para  impedir  a  execução  do  mandado.  Munf- 
tcr,  Pefcador  ,  e  Eftio  são  de  parecer  que  fcja  o 
mefmo  Rei.  Outros  querem  que  feja  o  hcmcm 
que  o  Rei  mandou :  e  aílim  o  cniendeo  Saci.  Po- 
rém Joíc  Hebrco  ,  Theodorero ,  Nicoláo  de  Lyra , 
Caietano  ,  c  Vatablo  querem  que  feja  o  mefmo 
Rei:  é  aflim  o  cmendco  Dc  Carricres,  Pereira, 


Reis. 


CAPITULO  VII. 

Elijeo  prediz  huma  grande  abundância  de 
viveres  em  Samaria,  Os  Syros  fogem , 

^  e  deixão  todos  os  feus  provimentos.  Hum 
Oficial  do  Rei ,  que  não  tinha  crido  na 
predicção  d'  Elijeo  ^  he  morto  ^  pizadoy 
e  abafado  d  porta  da  Cidade, 

'Anno  I  TT^  Elifeo  lhe  refpondeo  :  Ouvi  a 
do  M.  .1  A  palavra  do  Senhor :  Eis-aqui  o 
am  ^de  ^  Senhor :  A'  manhã  a  efta  ho- 

J.  Chr.  ra'^  dar-le-ha  hum  alqueire  de  pura  fari- 
885.    nha  por  hum  ficlo  á  porta  de  Samaria ; 

e  por  hum  íiclo  fe  darão  dous  alqueires 

de  cevada. 

2  Hum  dos  grandes  da  fua  corte  ^ 
a  cujo  braço  eftava  o  Rei  encoftado , 
refpondeo  ao  homem  de  Deos  :  Ainda 
quando  o  Senhor  faça  chover  viveres 
do  Ceo  ,  poderá  acafo  fer  o  que  tii 
dizes  ?  Elifeo  lhe  diíTe  :  Tu  o  verás 
com  os  teus  olhos  ,  e  não  comerás  da-^ 
hi. 

3  Ora  junto  á  porta  efta  vão  quatro 
leprofos  y  que  diíTerâo  hum  para  o  ou« 

tro: 


Liv.  IV.   Cap.  vil  25-5^ 

tro  :  Para  que  eftamos  nós  aqui  ,  onde 
não  podemos  efperar  fenao  a  morte. 

4  Se  quizermos  entrar  neíla  Cida- 
de 5  morreremos  de  fome  :  fe  ficarm.os 
aqui ,  nao  podemos  evitar  a  morte.  Va- 
mo-nos  pois  daqui  para  o  campo  dos 
Syros  5  e  entrcguemo-nos  a  elles  :  fe  el- 
]es  íe  compadecerem  de  nos  ,  vivere- 
mos:  e  fe  nos  quizerem  matar,  morre- 
remos ,  como  nos  fuccederia  aqui. 

5'  Partirão  pois  á  tarde  para  darem 
com-figo  no  campo  dos  Syros.  E  tendo 
chegado  á  entrada  do  campo ,  não  acha- 
rão ninguém. 

6  Porque  o  Senhor  tinha  feito  ou- 
vir no  campo  dos  Syros  hum  grande  ef- 
trondo  de  carroças  ,  de  cavallos  ,  e  d' 
hum  exercito  que  não  tinha  cento.  E 
os  Syros  diíferao  huns  para  os  outros: 
Sem  dúvida  que  o  Rei  d'Ifrael  fez  vir 
em  feu  foccorro  contra  nós  os  Reis  dos 
Hetheos,  e  dos  Egypcios,  e  ei-los-ahi 
vem  íobre  nós. 

7  Abalarão  pois,  e  fugirão  de  noi- 
te ,  deixando  no  campo  as  fuas  tendas , 
os  íeus  cavallos  ,  e  o:i  feus  burros  ,  e 

nãa 


2^6  Reis. 

não  curando  fenão  de  falvar  as  fuas  vi- 
das com  a  fuga. 

8  Tendo  pois  chegado  aquelles  le- 
profos  á  entrada  do  campo  ,  enrrárãa 
n'uma  tenda  ,  onde  comerão  ,  e  bebe- 
rão;  e  tendo  tomado  da  prata ,  do  ou- 
ro, e  dos  veftidos  que  acharão ,  forão- 
nos  efconder :  e  tornando  outra  vez  ,  en- 
trarão noutra  tenda ,  e  levárão  delia  da 
mefma  forte  diverfas  coufas,  queefcon- 
dêrão. 

9  Então  difíerão  hum  para  o  outro: 
Nós  não  fazemos  bem  :  porque  efte  dia 
he  hum  dia  de  boa  nova.  Se  nós  nos 
calamos  ,  e  não  damos  avifo  antes  de 
rnanhã  ,  far-nos-hão  dahi  hum  crime. 
Vamos  pois  levar  efta  noticia  á  corte 
do  Rei. 

10  Tendo  chegado  á  porta  da  Ci- 
dade 5  contarão ,  e  diíTerão :  Nós  fomos 
ao  campo  dos  Syros ,  e  não  achámos  lá 
nem.  hum  ló  homem  ,  mas  fómente  os 
cavalloSj  e  os  burros  prezos,  e  as  fuas 
tendas,  que  ainda  eftão  fixas. 

11  Forão  pois  os  guardas  da  porta^ 
ao  palácio  do  Rei  ,  e  derão  eAa  nova. 
aos  de  dentro.  Ao 


Liv.  IV,    Cap.  VII.  1^7 

12  Ao  mefmo  tempo  fe  levantou  o 
tlei ,  ainda  que  era  noite ,  e  diíTe  aos  feus 
OfKciaes:  Vede  em  que  dérão  osSyros 
contra  nós.  Como  elles  fabem  que  a 
fome  nos  aperta  ,  fahíi  ao  do  feu  arraial , 
eeftão  efcondidos  em  alguma  parte  pe- 
los campos^  como  dizendo:  Elles  hão 
de  fahir  da  Cidade,  e  então  nós  os  to- 
maremos vivos  ^  e  entraremos  na  Cida- 
de fem  culto. 

13  Mas  hum  dos  fervos  do  Rei  lhe 
refpondeo  :  Elie  ainda  ha  finco  cavai- 
los  5  que  são  fós  os  que  ficarão  daquelle 
grande  numero  que  havia  em  Ifrael ,  de- 
pois de  comidos  todos  os  outros  :  pe- 
guemos nelles,  c  mandemos  quem  def- 
cubra  o  que  vai. 

14  Tomárão  pois  dous  cavallos  ,  e 
o  Rei  mandou  quem  foíTe  ao  campo 
dos  Syros  ,  e  lhes  diíTe  :  Ide  ,  e  ve- 
de. 

15  Forão  elles  pois  pelo  rafto  dos 
Syros  até  o  Jordão  ^  e  acharão  que  to- 
dos os  caminhos  eftavão  cheios  de  vef- 
tidos ,  e  de  armas ,  que  os  Syros  tinhão 
arrojado  com  a  turbação  em  que  fevião: 

Tom.  VL  R  e 


1 


25*8  Reis. 

e  voltados  os  meflageiros  ,  derâo  diflb 
conta  ao  Rei. 

ló  E  tendo  fahido  o  Povo  ,  esbu- 
lhou o  campo  dos  Syros :  e  hum  alquei- 
re de  pura  farinha  foi  vendida  por  hum 
ficlo ;  e  derâo-fe  por  hum  ficlo  dous  al- 
queires de  cevada  j  conforme  a  palavra 
do  Senhor. 

17  Ora  o  Rei  tinha  pofto  á  porta 
aquelle  Official ,  no  braço  do  qual  coftu- 
mava  elle  fegurar-fe  :  e  foi  tão  grande 
o  concurfo  do  Povo  á  entrada  da  por- 
ta ,  que  elle  morreo  pizado ,  e  abafado  , 
conforme  lho  tinha  predico  o  homem 
de  Deos ,  quando  o  Rei  o  veio  bufçar 
a  fua  cafa. 

18  AíCm  fe  cumprio  o  que  o  ho- 
mem de  Deos  tinha  predito  ,  quando 
dilTe  ao  Rei  :  A' manhã  a  efta  mefma 
hora  darão  á  porta  de  Samaria  por  hum 
íiclo  dous  alqueires  de  cevada  ,  e  hum 
alqueire  de  pura  farinha  por  hum  íiclo. 

19  E  quando  aquelle  OíEcial  tinha 
dito  ao  homem  de  Deos :  Ainda  quan- 
do o  Senhor  faça  chover  viveres  do  Ceo  , 
poderá  acafo  fer  o  que  tu  dizes  ?  Elle 

lhe 


Liv.  IV.    Cap.  VÍL  1/9 

lhe  refpondeo:  Tu  o  verás  com  os  teus 
olhos,  e  não  comerás  dahi. 

20  Como  Elifeo  lhe  tinha  predito, 
allim  lhe  fuccedeo  :  e  tendo-o  o  Povo 
pizado  aos  pés  5  morreo  á  porta. 

CAPITULO  VIIL 

A  Sunamites  torna  a  vir  para  Ifrael  de- 
pois dos  fete  annos  da  fome.  Elifeo  vai 
a  Damafco ,  e  prediz  a  morte  de  Bena* 
dad  ^  e  o  reinado  d^HazaeL  Jerão  filho 
de  Jofafat  reina  em  Jtida,  Revolta  dos 
Idumeos.  Morte  de  Jorão,  Succede-lhé 
Ocozias, 

I  Ra  Elifeo  fallou  áquella  mu- 

V^lher,  cujo  filho  elle  refufcitá- 
ra  5  e  lhe  diíTe  :  Vai-te  daqui  tu  ,  e  a 
tua  família ,  e  fahe  do  teu  paiz  a  vivef 
onde  quer  que  poderes  :  porque  o  Se- 
nhor chamou  a  fome,  e  ella  virá  fobre 
a  terra  por  fete  annos. 

2  Fez  aquella  mulher  pois  o  que  o 
homem  de  Deos  lhe  tinha  dito  :  foj-fe 
com  toda  a  fua  família  para  fóra  do  feU 
paiz ,  e  morou  largo  tempo  na  terra  dos 
r  iliftheoSé 

R  ii  Paf. 


2,6o  Reis. 
Anno  3  Paflados  que  forao  os  fete  annos , 
do  M.  voltou  eíla  mulher  do  paiz  dos  Filif- 
anr!%  theos ,  e  foi  ter  com  o  Rei  a  pedir-lhe 
J.  Chr.  que  a  reftabeleceíTe  na  fua  cafa  ,  e  nas 
^^4.    fuas  fazendas. 

4  Fallava  então  o  Rei  com  Giezi 
criado  do  homem  de  Deos  ,  e  lhe  di- 
zia: Conca-me  todas  as  maravilhas  que 
Elifeo  tem  feito. 

5  E  quando  Giezi  eftava  referindo 
ao  Rei  5  como  Elifeo  tinha  refufcitado 
hum  morto,  veio  efta  mulher,  cujo  fi- 
lho elle  tinha  refufcitado,  aprefentar-fe 
ao  Rei ,  conjurando-o  que  lhe  mandaf- 
fe  reftitair  a  íua  cafa,  e  as  fuas  fazen- 
das. Então  diífe  Giezi :  O' Rei  meuSe- 

/         nhor,  eis-aqui  a  tal  mulher,  e  eis-aqui 
o  filho,  que  Elifeo  refufcitou. 

6  E  perguntou  o  Rei  poriíTo  á  mu- 
lher, e  ella  lho  contou.  Ao  mefmo  tem- 
po o  Rei  lhe  deo  hum  eunuco ,  ao  qual 
diíTe  :  Faze-lhe  reftituir  tudo  o  que  he 
fcu  ,  e  os  reditos  de  todas  as  fuas  fa- 
zendas ,  des  do  dia  que  ella  fahio  do 
feu  paiz  até  o  prefente. 

7  Veio  também  Elifeo  a  Damafco 


Liv.  IV.    Cap.  Vlll.  261 

Si  tempo  que  Banadad  Rei  de  Syria  ef- 
tava  doenre.  E  os  leus  lhe  diflcrão :  O 
homem  de  Deos  he  chegado  aqui. 

8  Sobre  o  que  diíle  o  Rei  a  Ha- 
zael:  Toma  alguns  prelentes,  e  vai  en- 
contrar-te  com  o  homem  de  Deos  ,  e 
confulta  por  tile  o  Senhor  para  faber 
fe  eu  poderei  efcapar  delia  doença. 

9  Foi  Hazael  enccntrar-fe  com  o 
homem  de  Deos,  levando  comligo  qua- 
renta cameh)S  carregados  de  prefentes 
de  tudo  o  que  havia  de  mais  preciofo 
em  Damafco.  E  tcndo-fe  aprelentado  a 
Ehfeo  5  lhe  diíTe  :  Teu  filho  Benadad 
Rei  de  Syria  me  enviou  a  ti  para  faber 
fe  poderá  elle  farar  da  fua  doença. 

10  E  Elifeo  lhe  reípondeo  :  (a) 
Vai  j  e  dize-lhe  :  Sararás.  Mas  o  Se- 
nhor me  moftrou  que  elle  morrerá  cer- 
tamente. 

E 

(4)  Fai,  e  dize-lhe:  SavArã^,  Mas  o  Senhor 
me  mojirou ,  ó-c.  Quiz  dizer  o  Profera.  Sarai ãs: 
ifto  he ,  a  doença  nâo  he  mortal:  e  a  ráo  Ihcíuc- 
ceder  outra  coufa ,  elle  não  morrerá.  O  Saihor  vie 
mojii  ouy  que  elle  morrerá  certamente  não  da  íua  doen- 
ça ,  mas  d  outro  accidcnte.  Eíle  foi  O  que  fc  lê 
no  Ycrío  15.  Pereiua. 


ióx  R  E  I  s, 

11  (b)  E  tendo  o  homem  deDeos 
eftado  algum  tempo  com  Hazael,  ficou 
turbado  j  e  a  turbação  íe  lhe  vio  até  no 
roílo,  e  elle  chorou. 

12  E  Hazael  lhe  diíTe  :  Porque  cho- 
ra, meu  Senhor?  E  Elifeo  lhe  refpon^ 
deo:  (c)  Porque  fei  quantos  males  vi- 
rás tu  a  fazer  aos  filhos  d'Ifrael.  Quei- 
rnarás  as  fuas  Cidades  fortes;  farás  paf- 
far  ao  fio  da  efpada  os  feus  mancebos ; 
machoçarás  as  fuas  crianças ;  e  fenderás 
pelo  meio  o  ventre  das  prenhadas. 

13  E  Hazael  lhe  diíTe  :  Quem  fou 
cu  teu  fervo  5  (d)  eu  que  não  valho  mais 
do  que  hum  çao  para  fazer  tão  grandes 

cou- 

(^h)  E  tendo  o  homem  deDeos  efiado  algum  tem" 
fo  com  Hazael ,  ^^c.  Segundo  hábeis  Interpretes  , 
p  Hebreo  parece  affirmar  efte  eftado ,  e  efta  turba- 
ção ,  náo  d'  Elifeo ,  mas  d  Hazael :  como  que  cftc 
íicaíTe  fobrefaltado  ,  e  confufo  com  a  reípofta  dc 
Elifeo.  Pereira, 

(  c  )  Porque  Jci  quantos  males  virás  tu  a  fazer , 
C^T.  O  compendio  deíTes  males  fe  referirá  adiante 
no  G^p.X. ,  verfo  ^2.  e  t^^.  Pereira. 

(d)  Eu  que  não  valho  mais  do  que  hum  cao ,  &€, 
Aíiim  todos  os  meus  Francezes.  Todavia  Calfio- 
(doro  de  la  Reina  conccbeo  ouiro  fcntido ,  verten- 
do aífim ;  Porque  ?  Es  ta  fiervo  perro ,  para  hazet 
gran  ccfa  í  Pereira. 


Liv.  IV.    Cap.  VIII.  263 

coufas  ?  Elifeo  lhe  refpondeo  :  O  Se- 
nhor me  moítrou  que  tu  fcrás  Rei  de 
Syria. 

14  Hazael  depois  de  deixar  Elifeo, 
voltou  para  feu  amo ,  o  qual  lhe  diíTe : 
Qiie  te  diíTe  Elifeo  ?  Elie  lhe  refpon- 
deo :  DilTe-me  que  recobrarás  a  faude. 

15'    Ao  outro  dia  (e)  pegou  Hazael 
n'um  panno  que  molhou  em  agua  ,  e  o 
eftendeo  fobre  o  rofto  do  Rei :  e  mor-~ 
to  o  Rei  ,  reinou  Hazael  em  feu  lu- 
gar. 

16  No  anno  quinto  de  Jorão  filho 
d'Acab  Rei  d'Ifrael,  (/)  e  de  Jofafat 

Rei 

(e)  Pegou  Hazael  num  panno  ,  éc.  Calmet 
quer  que  o  termo  Hebreo  que  a  Vulgata  explicou 
cm  Latim  pelo  nome  Jtragulum  ,  fignitique  propria- 
mente hum  trãvejjeiro  :  de  forte  que  Banadad  mor- 
reíTe  fuftocado  com  ellc  ,  como  depois  morreo  Ti- 
bério,  c  Friderico  II.  Pereira. 

(J)Ede  Jofafat  Rei  de  Juda ,  &c.  Os  annos 
dc  jofafat  Rei  de  juda  hiáo  muito  adiantados  aos 
de  Joráo  Rei  d'  Ifracl.  Por  iíío  De  Carrieres  fup- 
pre  aqui:  E  vigefvno  quinto  de  Jofafat  Rei  de  Ju- 
da. Outros:  E  em  tempo  de  Jofafat  Rei  de  Juda. 
O  mais  defcmbaraçado  he  dizer  ,  que  citas  pala- 
vras ,  eb'  Jojaphat  regis  Juda ,  fc  introduzirão  no 
Texto  por  dcfcuido  dos  Copiftas.  Para  o  que  faz 
muito  o  ver  que  nem  o  Interprete  Árabe  ,  nem  o 


Rei?, 

Rei  de  Juda  ,  reinou  Juda  Jorão  fi^ 
lho  de  Jofafar. 

17  Elie  tinha  trinta  e  dous  anoos, 
quando  começou  a  reinar,  e  reinou  oi- 
to annos  em  Jeru falem. 

18  Elie  andou  pelos  caminhos  dos 
Reis  d-Ifrael ,  como  tinha  andado  a  car 
fa  d'Acab  5  porque  fua  mulher  era  filha 
d'Acab;  e  elle  obrou  mal  diante  do  Se? 
nhor.  f 

19  Mas  o  Senhor  não  quiz  perder 
inteiramente  ajuda  por  caufa  de  David 
feu  fervo ,  conforme  a  promeíTa  que  el- 
le lhe  tinha  feito  de  lhe  confervar  hu- 
nia  alampada  luzente  a  elle  ,  e  a  feus 
filho3  em  todo  o  tempo  que  fe  feguiíTe, 

Atino  20  Em  tempo  do  leu  reinado  facur 
do  dio  Edom  o  jugo  dcjuda  para  lhe  não 
ant!  Je  ^^"^^  "^^^^  fujeito  ^  e  conftituio  para  fi 
J.  Chr.  hum  Rei  próprio. 

m  Porém  tendo  Jorao  vindo  a  Seir 
com  todas  as  fuas  carroças  ,  fahio  de 
noite  contra  os  Idumeos,  que  o  tinhão 

cer- 


Syrq ,  nem  os  Setenta  da  Versão  d'  Alcala  trazei^ 
aqui  taes  palavras ,  as  quaes  também  faltáo  em  mvii^ 
£DS  £j{epiplarcs  iatings.  Peneira. 


Liv.  IV.    Cap.  VIII.  2^5- 
cercado ,  e  desbaratou-lhes  o  feu  exer- 
cito com  morte  dos  que  mandavão  as 
carroças :  mas  o  Povo  fugio  para  as  fuas 
tendas. 

22  (g)  Des  daquelle  tempo  pois 
le  retirou  Edom  de  Juda,  não  queren- 
do mais  eftar  fujeito  aelle,  como  ainda 
hoje  o  não  eftá.  Nefte  mefmo  tempo 
(è)  fe  rebellou  também  Lobna. 

23  O  refto  das  acções  de  Jorão  ,  e 
tudo  o  que  elle  fez  ,  íe  acha  elcrito  no 
Livro  dos  Annaes  dos  Reis  de  Juda. 

24  E  Jorão  adormeceo  com  feus 
pais,  e  foi  fepultado  com  elles  na  Ci- 
dade de  David :  e  em  feu  lugar  reinou 
feu  filho  Ocozias. 

25'  No  anno  duodécimo  de  Jorão 
filho  d'  Acab  Rei  d'  Ifracl  ,  fubio  ao. 

thro- 

Çg)  Des  daquelle  tempo  pois,  ^c.  Póde-fe  per- 
guntar ,  como  fendo  desbaratados ,  e  poílos  cm  fu- 
gida por  Joráo  de  Juda  os  Idumeos ,  podéráo  cllcs 
ainda  aíJim  fuftentar  a  fua  rebellião.  Refponde-fe : 
que  Joráo  náo  foube  aproveitar-fe  da  vidloria ,  mas 
deo  tempo  aos  Idumeos  de  fe  fortificarem  ,  e  da 
fe  livrarem  inteiramente  da  íua  dominação.  Pe- 
reira. 

(/í)  Se  rehelloa  também  Lobna.  Cidade  Sacçr»-. 
(?Qtâl  ao  meio  dia  de  Juda.  De  Carkieres. 


i66  Reis. 
Anno  throno  Ocozias  filho  de  Torâo  Rei  de 

ant.  dc     2-6    Elie  tinha  vinte  e  dous  annos , 
J.Chr.  quando  começou  a  reinar ,  e  reinou  hum 
anno  em  Jerufaiem  :  fua  mãi  chamava- 
fe  Athalia,  (i)  c  era  filha  d'Amri  Rei 
de  Ifrael. 

27    E  elle  andou  nos  ca^minhos  da 
cafa  d' Acab  ,  e  obrou  o  mal  diante  do 
Senhor ,  como  a  cafa  d'Acab  ^  (k)  por- 
Anno   que  era  genro  da  cafa  d' Acab. 
do  M.      -^g    Elle  marchou  também  com  Jo- 
,am!^dc  ^^^^  ^^^^  d' Acab,  a  pelejar  contra  Ha- 
Ghr,  zael  Rei  de  Syria,  em  Ramoth  deGa- 
-^^4.    laad :  e  Jorao  foi  ferido  pelos  Syros. 

29  O  qual  voltou  a  Jezrahel  para 
fe  curar  da  ferida  que  tinha  recebido 
em  Ramoth  ,  pelejando  contra  Hazael 

Rei 

(í)  E  era  filha  d  Amri  Rei  Ifrael,  Filha  fe 
toma  aqui  por  neta  ,  como  noutras  muitas  partes 
da  Efcritura,  Porque  Athalia  era  immediata  filha 
d' Acab  ,  como  fe  diíTc  no  verfo  18.  Pereira. 

(^)  Porque  era  genro  da  cafa  d'Jcab,  Coftuma 
a  Efcritura  attribuir  aos  filhos  a  qualidade  dos  pais. 
Por  i(To  chama  aqui  genro  o  filho  do  genro  ,  ifto 
hc  ,  genro  da  cafa  d'  Acab  Ocozias  Rei  de  Juda  , 
quando  o  que  tinha  fido  genro  da  cafa  d'  Acab  fo- 
ra Joráo  feu  pai  pelo  roeíaio  vetfo  18.  PeRsinA^  i 


Liv.  IV.   Cap.  VIIL     2  0/ 

Rei  de  Syria :  e  Ocozias  filho  de  Jorão 
Rei  dejuda  veio  ajezrahel  para  ver  a  Jo- 
rão  filho  d'Acab  ,  porque  eftava  lá  doente. 

CAPITULO  IX. 

yehu  he  ungido  em  Rei  Ifrael ,  e  rece* 
be  ordem  extinguir  a  cafa  d^  Acab. 
Mata  a  Jorão»  Ocozias  he  morto  pe- 
los feus,  Jezabel  he  precipitada  da  Jua 
janella, 

I  T7^  Chamou  o  Profeta  Elifeo  hum 
wrJ  dos  filhos  dos  Profetas  ,  e  lhe 
diíTe  :  Cinge  os  teus  rins  ,  e  toma  na 
mão  efta  redomafinha  d'oleo  ,  e  vai  a 
Ramoth  de  Galaad. 

2  E  quando  lá  tiveres  chegado  ,  ve- 
rás a  Jehu  filho  de  Namfi  :  e  chcgan- 
do-te  a  elle  ,  lhe  pedirás  que  faia  da 
roda  de  feus  irmãos  ,  e  que  entre  para 
hum  apofento  retirado. 

3  Depois  tomarás  efta  redomafinha' 
d'oleo5  e  derramar-lha-has  fobre  a  ca- 
beça ,  dizendo  :  Eis-aqui  o  que  diz  o 
Senhor:  Eu  te  ungi  Rei  d' Ifrael.  Lo- 
go abrirás  a  porta  ,  e  fugirás  ,  fem  la- 
te demorar  mais  hum  inftante. 

O 


aá8  R  E  I  s. 

4  O  moço  pois  criado  d'Elifeo  par- 
tio  fem  demora  para  Ramoth  deGalaad. 

$  E  entrou  no  lugar  onde  os  prin- 
eipaes  OiEciaes  do  exercito  eftavão  af- 
fentados  ,  e  diíTe :  O'  Príncipe  ,  eu  te- 
nho que  te  dar  huma  palavra.  E  Jehu 
lhe  diffe:  A  qual  de  nós  queres  tu  fal- 
lar?  Elie  refpondeo:  A  ti,  Principe. 

6  Jehu  pois  fc  levantou  ,  e  entrou 
para  hum  quarto  :  e  o  moço  lhe  derra- 
mou oleo  fobre  a  cabeça  ,  e  lhe  diíTe: 
Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor  Deos  d' 
lírael:  Eu  te  ungi  em  Rei  fobre  Ifrael 
Povo  do  Senhor. 

7  Tu  extinguirás  a  cafa  d'Acab  teu 
amo:  e  eu  vingarei  affim  damao  deje- 
zabel  o  fangue  dos  Profetas  meus  fer- 
voSj  e  o  fangue  de  todos  os  fervos  do 

,  Senhor. 

8  Eu  perderei  toda  a  cafa  d'Acab , 
e  matarei  da  cafa  d'Acab  até  o  que  ou- 
rina  á  parede ,  e  des  do  primeiro  até  o 
ultimo  em  Ifrael. 

9  E  tratarei  a  cafa  d'  Acab  ,  como 
tf  atei  a  cafa  de  Jeroboão  filho  de  Na- 
M>  ç  a  cafa  de  Baafa  filho  d'Ahia. 


Liv.  IV.   Cap.  IX.  269 

10  Jezabel  fera  também  comida  dos 
cães  no  campo  de  Jezrahel  ,  e  não  fe 
achará  ninguém  que  a  enterre.  Depois 
abrio  elle  a  porta ,  e  fugio. 

1 1  Logo  entrou  Jehu  onde  eftavao 
os  Officiaes  de  feu  amo  ,  os  quaes  lhe 
diíTerão:  Vai  tudo  bem?  Que  he  o  que 
te  veio  dizer  efle  louco  ?  Jehu  lhes  re- 
fpondeo  :  Vós  bem  conheceis  o  ho- 
mem 5  e  o  que  elle  me  poderia  di- 
zer. 

1 2  Replicarão  elles  :  Não  he  aílim  : 
mas  conta-no-lo  antes.  Jehu  lhes  diíTe : 
Elle  me  declarou  tal  ,  e  tal  coufa  ,  e 
accrefcentou :  Eis-aqui  o  que  diz  o  Se- 
nhor: Eu  te  ungi  em  Rei  d'lfrael. 

1 3  No  mefmo  ponto  fc  levantarão 
elles ,  e  tomando  cada  hum  a  fua  capa 
as  pozerão  debaixo  dos  pés  de  Jehu,  e 
fizerão  delias  huma  efpecie  de  throno, 
e  tocando  a  trombeta  gritarão  ,  dizen- 
do: Jehu  he  noffo  Rci. 

14  Jehu  pois  filho  dejofafat,  filho 
de  Namfi,  fez  huma  conjuração  contra 
Jorão  :  porque  Jorao  tendo  declarado 
guerra  a  Hazael  Rei  da  Syria  ,  tinha 

cer- 


270  Reis. 

cercado  Ramoth  de  Galaad  com  todo 
o  exercito  d'  Ifrael. 

15'  E  como  foíTe  ferido  pelos  Syros  ^ 
quando  pelejava  contra  Hazael  Rei  de 
Syria  ,  tinha  ido  para  Jezrahel  para  fe 
curar  das  fuas  feridas.  E  diíTe  Jehu: 
Rogo-vos  que  deis  ordem  que  ninguém 
fuja  para  fora  da  Cidade,  para  que  não 
vá  dar  a  nova  difto  a  Jezrahel. 

16  E  elle  partio  logo  ,  e  marchou 
contra  Jezrahel ,  onde  Jorâo  eftava  doen- 
te: e  Ocozias  Rei  dejuda  tinha  vindo 
alli  vilitar  a  Jorão. 

17  A  fentinella  pois  que  eftava  no 
alto  da  torre  de  Jezrahel  ,  vio  a  tropa 
de  Jehu  que  vinha  ,  e  deo  parte  ,  di- 
zendo :  Eu  vejo  huma  tropa.  E  diíTe  Jo- 
râo a  hum  dos  que  lhe  aíliftião  :  Toma 
hum  coche,  e manda  nelle  quem  vá  re- 
conhecellos ,  e  lhes  pergunte :  Trazei» 
paz  ? 

1 8  Foi  o  do  coche  encontrar-fe  com 
Jehu  ,  e  lhe  diíTe  :  O  Rei  me  envia  a 
íaber  de  ti  fe  temos  paz.  Jehu  lhe  re- 
fpondeo :  Que  tens  tu  com  a  paz :  paf- 
fa,  e  fegue-me.  Deo  a  fentinella  logo  j| 

avi- 


Liv.  IV.    Cap.  IX.  271 

avifo,  e  diíTe  :  O  meflageiro  chegou  a 
elles,  mas  elle  não  volta. 

19  Mandou  Jorâo  fegundo  coche: 
e  o  que  hia  nelle  tendo  chegado  a  Je- 
hu,  lhe  diíTe:  O  Rei  me  envia  a  faber 
de  ti  fe  ha  paz.  Que  tens  tu  com  a 
paz  ?  refpondeo  Jehu :  PaíTa  ,  e  fegue- 
me. 

20  Tornou  a  fcntinella  a  dar  avi- 
fo,  dizendo:  Elie  chegou  a  elles,  mas 
elle  não  volta:  e  ao  que  parece  pelo  an- 
dar,  quem  vem  he  Jehu  filho  de  Nam- 
fi^  porque  vem  precipitadamente. 

21  Então  dilTe  Jorão  :  Mettão-mc 
oscavallos  no  meu  coche.  Mettidos  que 
forão  os  cavallos ,  marcharão  Jorão  Rei 
d^lfrael  ,  e  Ocozias  Rei  de  Juda  ,  e 
forão  a  cncontrar-fe  com  Jehu  ,  e  o 
acharão  no  campo  de  Nabot  de  Jezra- 
hel. 

22  E  Jorão  tanto  que  vio  a  Jehu, 
lhe  difle  :  Temos  paz  ?  Jehu  lhe  refpon- 
deo :  Que  paz  pode  haver ,  quando  as 
fornicações  de  tua  mãi  ,  e  os  feus  en- 
cantamentos reinão  ainda  em  tantas  ma- 
neiras í 

Lq- 


Reis. 

23  (ã)  Logo  voltou  Jorão  as  re-' 
deas  ,  e  deitou  a  fugir  ,  dizendo  para 
Ocozias:  {b)  Eítamos  trahidos  /  Oco- 
zias. 

24  Ao  mefmo  tempo  armou  Jehu  o 
feu  arco,  e  ferio  a  Jorão  comhuma  fré- 
cha  pelas  efpaduas :  e  a  frécha  Ihefahio 
pelo  coração  ,  e  elle  cahio  logo  morto 
no  feu  coche. 

25'  DiíTe  então  Jehu  ao  Capitão  Ba- 
dacer:  Pega  nelle,  e  deita-o  no  campo 
de  Naboth  de  Jezrahel :  porque  eu  me 
lembro  ,  que  quando  nós  feguiamos  a 
Acab  feu  pai,  indo  ambos  n'um  mefmo 
coche ,  pronunciou  o  Senhor  etta  profe- 
cia contra  elle  ,  dizendo  :  Eu  juro  por 
mim  mefmo,  diz  o  Senhor, 

que 

(a)  Logo  voltou  Jorão  as  rédeas ,  (ò*c.  Ou  ellé 
mefmo  as  voltou,  ou  diíTe  ao  cocheiro  que  asvol- 
taíTe.  Calmet. 

Çb)  Efiamos  trahidos ,  Ocozias,  Eftando  o  verba 
Trahir  introduzido  na  Lingua  Portugueza  já  do 
tempo  de  Duarte  Nunes  de  Leáo  ,  como  confta 
das  íuas  Liftas  j  e  depois  de  Vieira ,  e  Quental  te- 
rem ufado  delle  ,  e  cíhr  também  adoptado  do 
mefmo  Francez  o  nome  Trairão  ,  nenhum  reparo 
deve  caufar ,  que  cu  ufaíle  do  participio  Traijído,, 

Fe  RS  IRA. 


Liv.  ív.  Càp.  i3c.  ±7t 

26  que  eu  derramarei  o  feu  fanguè 
heíle  mefmo  campo  pelofangue  deísTa- 
both  ^  que  eU  vi  derramar  honrem.  Ago- 
ra pois  péga  nelle  ^  e  deita-o  no  carrt- 
po,  em  conformidade  da  palavra  do  Se- 
nhor. 

27  Ocozias  Rei  de  Juda  vendo  if- 
tOj  fugio  pelo  caminho  da  cafa  do  jar- 
dim ,  e  Jehii  foi  atrás  delle  ^  e  difle : 
Matte-fe  também  efte  no  feu  coche.  El- 
les  pois  o  ferirão  no  lítio  onde  fe  fóbe 
para  Gaver  :  e  tendo  fugido  para  Ma- 
geddo,  lá  morreo. 

28  E  feus  fervos  tendo-o  pofto  fo- 
bre  o  feu  coche,  olevárão  ajerufalemí, 
e  o  fepultárão  com  feus  pais  na  Cidade 
de  Davidi 

29  No  anno  undécimo  de  Jorão  fi- 
lho d'  Acab  reinou  Ocozias  fobre  Ju- 
da. 

30  Ao  depois  veio  Jehu  a  Jezraelj 
e  como  Jezabel  foube  da  fua  chegada  ^ 
(c)  pintou  os  feus  olhos  com  antimo- 

Tom.  VI.  S  nio, 

(c)  Pintou  os  feus  olhos  com atttmonio.  Aílim  á 
letra  a  Vulgata :  Pinxh  óculos  fuos  fiihio.  Táo  anti- 
go he  nas  mulheres  o  ufo  das  que  cilas  chamãa 


^74  Reis. 
nio,  e  adornou  a  fua  cabeça,  e  olhoir 
pela  janella 

3 1  para  Jehu  ,  que  entrava  na  Ci- 
dade, e  lhe  diffe:  Que  paz  fepóde  cf- 
perar,  de  quem  como  Zambri  matou  a 
feu  amo  ? 

32  Jehu  levantando  o  rofto  para  3 
janella,  diíTe:  Q^iem  he  efta  ?  E  dous, 
ou  tres  eunucos  lhe  fizerão  huma  profun- 
da reverencia. 

33  Mas  Jehu  lhes  diffe  :  Precipi- 
tai-a  dahi  abaixo.  E  elles  a  precipita- 
rão ,  e  a  parede  ficou  falpicada  do  fcu 
fangue ,  e  ella  foi  pizada  das  patas  dos 
cavallos. 

34  Depois  que  Jehu  entrou  para  co- 
mer, e  beber,  diffe  elle  :  Ide  ver  o  que 
he  feito  daquella  defgraçada  ,  e  fepul- 
tai-a ,  porque  he  filha  de  Rei. 

35-  E  tendo  ido  para  a  enterrar  y 
não  achárão  delia  fenão  a  caveira  ,  os 
pés  5  e  as  extremidades  das  mãos. 

E 


Iwas  !  E  fervia  o  amimonío  não  fó  para  tingir 
'àç  negro ,  mas  também  para  dilatar  as  pálpebras  , 
c  com  ifto  fazer  os  olhos  grandes,  Plínio  Livro 
:íCXXIIL  Cap.  VI.  PsRiiRA, 


Liv.  IV.    Cav,  IX.     27 f 

36  Evierão-no  dizer  aJehu,  o  qual 
iiic  dilTe  :  Ifto  he  o  que  o  Senhor  tinha 
pronunciado  por  Elias  Thesbita  feu  fer- 
vo ,  quando  difle  :  No  carnpo  de  Jez- 
rahel  comeráo  os  cáes  a  carne  de  Je- 
zabel: 

37  e  a  carne  de  Jezabel  fera  no  cam- 
po dejezrahel,  como  o  efterco  fobre  a 
face  da  terra ,  de  forte  que  os  que  paf- 
farem,  digão :  Efta  he  aquella Jezabel? 

CAPITULO  X. 

^ehu  faz  morrer  os  filhos  d^Acab  ,  e  oí 
irmãos  cl^OcoziaSi  Extingue  os  falfos 
Profetas  de  Baal  ,  deftroe  o  feu  Tem* 
pio  ,  e  queima  a  Jua  ejlatua.  Hazael 
alcança  grandes  vantagens  fobre  Ifraeh 
Morte  de  fehu.  Sue  cede- lhe  Joaccdz, 

I  TITE  defaber,  que  {a)  Acab  ti- 
JL  JL  nha  fetenta  filhos  em  Sama- 
ria: e  Jehu  efcreveo  varias  cartas,  que 
mandou  aos  principaes  de  Samaria  ,  aos 
S  ii  An- 

(4)  Acah  tinha  fetenta  filhos  m  Samaria.  AU 
guns  expõem ,  fetenta  entre  fiJhos ,  c  netos.  Mas 
téado  tido  Acstb  muius  mulheres ,  ^uc  incredibiii|; 


27^  Reis. 

Anciãos ,  e  aos  que  criavão  os  filhos 
Acab ,  nas  quaes  lhes  mandava : 

2  Tanto  que  vós  tiverdes  recebida 
eftas  cartas  ,  vós  que  tendes  em  voíTo 
poder  os  filhos  do  voíTo  ama,  coches  ^ 
cavallos ,  Cidades  fortes  ,  e  armas ; 

3  efcolhei  o  mais  conlideravel  d'en- 
tre  os  filhos  do  voíTo  amo  ,  e  aquelle 
que  mais  vos  agradar  ;  (^)  e*  ponde-a 
no  throno  de  feu  pai ,  e  pelejai  pela  ca- 
fa  de  voíTo  amo. 

4  Com  ifto  ficarão  elles  muito  ate- 
morizados, e  diíTerão:  Dous  Reis  nãa 
podérão  ter-fe  contra  elle :  como  pode* 
remos  nós  logo  refifilr-lhe  ? 

$  Pelo  que  os  Meftres  do  Palacio 
do  Rei ,  os  principaes  OiEciaes  da  Ci- 
dade 5  os  Anciãos ,  e  os  que  criavão  os 
Príncipes,  mandarão  dizer  ajehu:  Nós 

fo- 

dade  ht  que  tiveíTe  deflas  fetenta  filhos  ?  Aífim  le- 
mos que  Gedeão  tivera  fetenta  e  hum :  Abdon  qua- 
renta: Roboão  trinta  e  oito.  CALME-r. 

(^b)  E  ponde-o  na  throno  de  feu  pau  Os  Magna- 
tes de  Samaria  logo  conhecerão ,  que  o  dito  de  Jehií 
era  com  ironia  de  quem  os  ameaçava  ,  fenâo  fe- 
guiflem  o  feu  partido,  coino  fe convence  do  vcrf(» 
^,  Pekeirí^. 


1 


Liv.  IV.    Cap.  X.  277 

fomos  teus  ferves  :  faremos  tudo  o  que 
íios  ordenares  :  Nem  nós  elegeremos 
Rei  :  mas  tu  faze  tudo  o  que  te  agra- 
dar. 

6  Tornou-lhesjehuaefcrever,  man- 
dando-lhes  dizer :  Se  vós  fois  meus ,  e 
me  quereis  obedecer ,  cortai  as  cabeças 
aos  filhos  do  voíFo  Rei  ,  e  vinde-mas 
trazer  á  manha  a  eíta  mefma  hora  a  Jez- 
rael.  Ora  os  filhos  do  Rei  erão  fctén- 
ta  ,  e  eftes  fe  eítavSo  criando  em  cafa 
dos  primeiros  Fidalgos  da  Corte. 

7  Depois  que  elles  receberão  as  car- 
tas de  Jehu,  pegárão  nos  fetenta  filhos 
do  Rei  j  e  os  matárão :  e  mettêrao  as 
fuas  cabeças  n'uns  ceftos  ^  e  as  mandá- 
rão  a  Jezrahel. 

8  Vierão  pois  os  feus  dar  efta  nova 
a  Jehu  ,  dizendo-lhe  :  Elles  trouxerão 
as  cabeças  dos  filhos  do  Rei.  Ao  que 
elle  refpondeo  :  Ponde-as  cm  dous  mon- 
tes á  entrada  da  porta  até  á  manha  pe- 
la manhã. 

9  E  tanto  que  amanheceo ,  fahio  ;  e 
pofto  em  pé,  dilTe  a  todo  o  Povo :  Vós 
Íbis  joftos  :  fe  eu  confpirei  contra  meu 

amo, 


£78  Reis. 

amo  5  c  fe  eu  o  matei ,  quem  he  o  quQ 
matou  eítes? 

I  o  Confiderai  que  não  cahio  em  ter- 
ra palavra  alguma  das  que  o  Senhor  ti^ 
nha  proferido  contra  a  cafa  d'  Acab ;  e 
que  o  Senhor  cumprio  tudo  o  que  ti-^ 
nha  predito  pelo  feu  fervo  Elias. 

I I  Ao  depois  fez  morrer  Jehu  tudo 
o  que  reftava  da  cafa  d' Acab  em  Jez- 
rahel :  todos  os  Grandes  da  fua  corte , 
os  feus  amigos  ,  e  os  feus  Sacerdotes, 
fem  ficar  nada  de  parente  ,  nem  d'ad- 
herente. 

12  Feito  ifto  )  veio  a  Samaria  ;  c 
quando  elle  eftava  em  caminho  perto  d* 
huma  cabana  de  paftores, 

13  achou  os  irmãos  d'Ocozias  Rei 
de  Juda  ,  e  lhes  diíTe  :  Quem  fois  vós  ? 
Elles  lhes  refpondcrão  :  Somos  os  ir- 
mãos d'Ocozias  y  que  viemos  aqui  a 
cumprimentar  os  filhos  do  Rei,  e  os  fi- 
lhos da  Rainha. 

14  EJehu  diíTe  para  os  feus:  Apa^ 
nhai-os  vivos.  E  como  os  apanhaíTem 
aflim,  levárão-nos  a  huma  ciííerna  per- 
to daquella  cabana  ,  e  alli  os  degollá- 

r|0  3. 


Liv.  IV.    Cap.  X. 

rão  j  fem  efcapar  nenhum  de  quarenta  e 
dous  que  erao. 

15-  Partido  dalli  ,  achou  a  Jonadab 
filho  de  Recab  ,  que  fe  ihe  fez  encon- 
tradiço :  e  Jehu  o  faudou  ,  e  lhe  difle : 
Porventura  tens  tu  o  coração  refto,  co- 
mo o  meu  o  hc  a  refpeito  do  teu  ?  Te- 
nho ,  lhe  rcfpondeo  Jonadab.  Se  aílim 
he ,  continuou  Jehu ,  dá-me  a  tua  mão. 
Tendo-lha  dado  Jonadab  ,  Jehu  o  fez 
fubir  ao  feu  coche ,  e  lhe  difle : 

16  Vem  comigo,  e  tu  verás  o  meu 
zelo  pelo  Senhor.  E  tendo-o  feito  af- 
fentar  no  feu  coche  , 

17  o  levou  a  Samaria.  E  matou  a 
todos  os  que  reftavao  da  cafa  d'Acab, 
fem  perdoar  nem  a  hum  fó  ,  conforme 
a  fentença  que  o  Senhor  tinha  pronun- 
ciado por  Elias. 

it^  AoxTiefmo  tempo  fez  Jehu  ajun- 
tar todo  o  Povo ,  e  lhe  difle :  Acab  tri- 
butou algum  culto  a  Baal  ;  mas  eu  lhe 
quero  tributar  mais  do  que  elle. 

^  19  Fazei-me  pois  vir  agora  todos 
os  Profetas  de  Baal ,  todos  os  feus  Mi- 
niílros ,  e  todos  os  feus  Sacerdotes :  não 

fal^ 


iSo  Reis, 

falte  nenhum,  que  deixe  devir:  porque 
quero  fazer  hum  grande  facrificio  a  Baal : 
todo  o  que  faltar,  fera  punido  de  mor- 
te. Mas  ifto  em  Jehu  era  artificio ,  que 
hia  encaminhado  a  dar  cabo  de  todos 
os  adoradores  de  Baal. 

20  E  dilTe :  Fazei  huma  Fefta  fole-^ 
mne  a  Baal.  E  enviou 

21  a  chamallos  por  todos  os  terrnos 
d'Ifrael ;  e  vierão  todos  os  fervos  de  Baal :; 
não  ficou  nem  hum  fó  que  não  viefle^ 
E  entrarão  no  Templo  de  Baal  :  e  en- 
cheo-fe  a  cafa  de  Baal  des  do  prinçi^ 
pio  até  o  fim. 

22  Depois  diffe  aos  que  guardavaa 
as  veftimentas  :  Tirai  veftimentas  para, 
todos  osMiniftros  de  Baal.  Eelles  lhas 
derão. 

23  E  Jehu  tendo  entrado  no  Tem- 
plo deBaal  com  Jonadab  filho  de  Rec- 
cab,  diíFe  aos  adoradores  deBaal:  Exa- 
minai, e  vede  bem  não  efteja  entre  vós 
algum  dos  Miniílros  do  Senhor  ;  mas 
que  eftejão  fomente  os  adoradores  de 
Baal. 

24  Entrarão  elles  pois  para  offçre-. 


Liv.  IV.    Cap.  X.  28r 

cerem  as  fuas  viftimas,  e  os  feus  holo- 
cauftos.  Jehu  porém  tinha  dado  ordem 
a  oitenta  homens,  que  eftiveíTera  prom- 
ptos  fora  do  Templo,  e  elle  lhes  tmha 
dito  :  Se  efcapar  hum  fó  homem  que 
feja  de  todos  os  que  eu  vos  entregar  ás 
mãos ,  a  volTa  vida  me  ferá  refponfavel 
pela  lua. 

2^  Eaconteceo  que  oiFerecido  oho- 
locaufto ,  deo  Jehu  a  ordem  aos  feus  fol- 
dados ,  e  aos  feus  Officia^s ,  e  lhes  dif- 
fe  :  Entrai ,  e  matai  nelles ,  e  não  efca- 
pe  nenhum.  Entrarão  os  OíEciaes  com 
os  foldados,  e  pafsárão  todos  ao  fio  da 
efpada  ,  e  os  lançarão  fora:  (c)  q  de- 
pois forão  á  Cidade  do  Templo  de 
Baal, 

26  e  tirarão  do  Templo  a  cfta- 
tua  de  Baal  ,  e  quebrada  a  queima- 
rão, 

Def- 

(c  )  E depois  forão  á  Cidade  do  Templo  de  Baal  y 
é  c,  Jíto  hc ,  como  explica  Manoel  de  Sá ,  á  Ci- 
dade onde  eftava  o  Templo  de  Baal.  O  que  pa- 
fece  muito  mais  provável ,  do  que  dizer  com  CaU 
met ,  á  Cidade  chamada  T emplo  de  Baal,  Ou  com 
De  Carrieres  :  á  Cidade  otidç  havia  outro  Tmploi 
de  Baal  Pereira. 


ntz  Reis. 

27  Deftmírão  também  o  Templo  de 
Baal  y  c  em  lugar  delle  fizerao  humas 
latrinas,  que  ainda  hoje  períittem. 

28  Deite  modo  aboliojehu  dlfrael 
a  Baal. 

29  Mas  elle  nao  fe  apartou  dos  pec- 
cados  de  Jeroboao  filho  deNabat,  que 
fez  peccar  a  Ifrael ;  (d)  e  não  tirou  os 
novilhos  d'  ouro  ,  que  eftavão  em  Be- 
thei,  e  em  Dan. 

30  Diífe  pois  o  Senhor  a  Jehu :  Por- 
que tu  cumprifte  cuidadofamente  o  que 
era  jufto  ,  e  o  que  era  agradável  aos 
meus  olhos :  e  executaite  contra  a  cafa 
d'Acab  tudo  o  que  eu  tinha  no  cora- 
ção: teus  filhos  eftarâo  alTentados  fobre 
o  rhrono  d' Ifrael  (e)  até  á  quarta  ge- 
raça  o. 

En- 

(íí)  E  não  tirou  os  novilhos  d' ouro  ,  &c.  Foi 
«fta  huma  má  politica  de  Jehu  confcrvar  os  novi- 
lhos d  ouro  que  Jeroboáo  pozera  em  Bcthel ,  e  em 
Dan ,  por  temer  que  tirado  d'  Ifrael  o  fomento  da 
idolatria ,  começaíTc  o  Povo  a  ir  fazer  os  fcus  facri- 
ficios  a  Jerufalcm  ,  c  por  ultimo  fe  tornaíTe  a  in- 
corporar no  Reino  de  ]uda.  Pereira. 

(e)  Até  a  íjuma  geração.  Com  eíFeito  depois 
dejchu  occapáráo  o  tlirono  d  lfracl  quatra  dcfcen- 


Liv.  IV.    Cap.  X,  2S3 

31  (/)  Entretanto  Jehu  não  teve 
cuidado  d'andar  na  Lei  do  Senhor  Deos 
d'Ifrael,  e  não  fe  apartou  dos  peccados 
de  Jeroboão  ,  que  tinha  feito  peccar  a 
Ifrael. 

32  Nefte  tempo  começou  o  Senhor 
a  enjoar-fe  d'Ifrael :  e  Hazael  fez  gran- 
des eflragos  em  todas  as  fuas  frontei- 
ras , 

33  des  do  Jordão  para  o  Oriente, 
Deftruírão  todo  o  Povo  dc  Galaad  ,  de 
Gad,  de  Ruben,  e  de  ManáíTes  des  de 
Aroer  ,  que  he  fobre  a  torrente  d'Ar^ 
non,  e  Galaad,  e  Bafan. 

34  O  mais  das  acções  de  Jehu  ,  to- 
dos osfeus  feitos,  eofeu  valor  na  guer- 
ra, eftão  efcritos  no  Livro  dos  Annaes 
dos  Reis  d' Ifrael. 

35'    E adormeceo Jehu  com  feus  pais, 

e 

dentes  feus:  Joaccás,  ]oás,  Jeroboáo  II.,  Zaca-. 
rias.  Pereira, 

(/)  Entretanto  Jehu  nao  teve  o  cuidado  ,  é  c^ 
De  que  lhe  aproveitou  pois ,  que  por  alguma  obe- 
diência que  teve  a  Dcos ,  recebeo  Jehu  huma  pa- 
ga traníitoria  do  Reino  temporal?  Quid  ne  profuit^ 
quod  pro  nonmdla  obedientta  aliquantam  mercedem 
tr^nfitoriam  Hgni  temporalis  accepid  S^nt©  Agos- 
tinho. 


284  R  K  I 

€  foi  fepultado  em  Samaria  :  e  cm  feu 
lugar  reinou  feu  filho  Joaccaz. 

36  E  o  tempo  que  Jehu  reinou  fo- 
bre  Ifrael ,  forão  vinte  e  oito  annos. 

CAPITULO  XL 

Athalia  faz  matar  toda  a  defcendencia 
real  ,  e  ufurpa  a  coroa,  Joás  efcapa 
dejla  matança  ,  e  he  depois  acclamado 
Rei.  Athalia  he  entregue  d  morte. 

i  "]\/f  As  Athalia  mai  tf  Ocozias , 
JlVX  vendo  morto  feu  filho,  levan- 
iou-fe  contra  todos  os  Principes  da  cafa 
real,  e  os  fez  matar  a  todos. 

2  Porém  Jofabá  filha  doRei  Jorão, 
i^.a)  e  irmã  d' Ocozias,  pegou  em  Joás 
£lho  d' Ocozias,  e  era  fua  ama^  (^)  ^ 

qual 

( 4 )  E  Irma,  d'  Ocozias,  Por  parte  do  mefmo 
pai ,  mas  náo  da  mefma  mái  ,  como  dc  Jofé  He- 
ííreo  nota  Calmet.  E  cfta  mefma  Jofabá  era  mu- 
lher do  Pontifice  Jojada  ,  corao  fe  lè  no  Segundo 
dos  Paralipomsnos  xxii.  ii.  Onde  ella  fe  nomea 
Jofabeth.  Pereira. 

A  quíl  ella  fez  fahir  da  fud  camari, 
O  Hcbreo  tem  d'  outra  forte  :  Pegou  em  Joás  ,  e 
cm  fuci  ama  ,  e  os  fez  píffar  pira  o  quarto  dos  lei- 
tos ,  iíto  hc ,  para  o  quarto  do  Palacio  em  qup  cl- 


Liv.  IV.    Cap.  XI.  iSs- 

qual  ella  fez  fahir  dafua  camará,  efur- 
tou-o  do  meio  dos  filhos  do  Rei ,  quan- 
do os  eftavão  matando  ,  e  lhe  falvou  a 
vida  tendo-o  efcondido,  fem  queAtha- 
lia  o  foubeífe. 

3  E  elle  eftcve  feis  annos  com  fua 
ama  na  cafa  do  Senhor ,  e  Athalia  en- 
tretanto reinou  fobre  a  terra. 

4  No  anno  fetimo  porém  enviou  Jo-  Anno 
jada  a  bufcar  os  centuriões,  e  osfolda-^o^. 
dos  :  e  mandou-os  entrar  no  Templo,  ^'j^^^ 
e  fez  com  elles  hum  Tratado  ,  e  jura-  j.  c^r^ 
mentou-os  na  cafa  do  Senhor,  moftran- 878. 
do-lhes  o  filho  do  Rei. 

5*  Logo  lhe  deo  a  feguinte  ordem, 
dizendo  :  Eis-aqui  o  que  haveis  de  fa- 
zer. 

6  Dividir-vos-heis  em  tres  turmas. 
A  primeira  entrará  de  femana  ,  (^)  e 
fará  guarda  á  cafa  do  Rei  :  a  fegun- 
da  ficará  á  porta  de  Sur:  e  a  terceira  á 
porta  que  eftá  por  detrás  do  quartel  dos 

Ef- 

la  Jofabá  dormia  ,  ou  para  o  quarto  do  Templo, 
cm  que  dormiáo  os  Sacerdotes.  Pereira. 

(c)  E  fará  guarda  â  cafa  do  M,  Ifto  he,  ao 
quarto  do  Templo,  onde  o  Rei  eftá.  Pereira. 


a86  Rei  s. 

Efcudeirõs:  e  fareis  a  guarda  á  cafa  de 
MeíTa. 

7  E  duas  partes  de  vós  ,  todos  os 
quefahirem  de  femana,  eftarão  de  centi* 
nella  em  a  cafa  do  Senhor  perto  do  Rei* 

8  E  o  guardareis ,  rodeando-o  corri 
as  armas  nas  mãos.  E  fe  alguém  entrar 
no  recinto  do  Templo ,  feja  logo  mor- 
to. E  eftareis  com  o  Rei,  quando  en- 
trar, e  quando  fahir. 

9  E  executarão  os  centurioes  tudo 
o  que  o  Pontífice  Jojada  lhes  havia  or- 
denado :  e  tomando  todos  a  fua  gente 
que  entrava  de  femana ,  com  os  que  fa- 
hião  delia  ,  vierão  ter  com  o  Pontífice 
Jojada ; 

10  e  efte  lhes  deo  as  lanças  ,  e  as 
armas  do  Rei  David  ,  que  cftavão  na 
cafa  do  Senhor. 

11  Pozerão-fe  pois  todos  com  as  ar- 
mas na  mão  á  roda  do  Rei ,  des  da  ban- 
da direita  do  Templo  até  á  banda  ef- 
querda  do  Altar,  e  do  Templo. 

12  E  Jojada  lhes  aprefentou  o  filhcr 
do  Rei  ,  (d)  Q  poz  a  efte  fobre  a  ca-^ 

be- 

(^d)  E  poza  efie  fohç  a,  çabs^a  o  diadim,  ê  ^ 


/ 


Liv.  IV.   Cap.  XI.  287 
beça  o  diadema ,  c  o  Livro  da  Lei :  e 
elles  o  conftituírão  Rei  ,  e  elle  o  un- 

Livro  da  Lei,  lílo  he  o  que  foa  a  letra  do  Tex- 
to: £c  pofuít  fuper  emn  diadema  ^  <b*  tejiinwniumi 
de  forte  que  o  Pontifice  puzeíTe  na  cabeça  a  Joás 
náo  fó  o  diadema,  que  náo  era  outra  coufa  mais 
do  que  huma  fiita  cingida  nas  fomes  ,  mas  tam- 
bém o  Livro  da  Lei ,  itto  he ,  hum  exemplar  dei- 
la  ,  conforme  oqueDeos  tinha  ordenado  porMoy- 
íés  ,  que  fe  fizeíle  na  coroação  de  iodos  os  Reií. 
Deut.  xviT.  18.  Porém  Saci,  c  de  Carriercs  ver- 
tem :  E  lhe  poz  o  diadema  fobre  a  cabeia ,  e  o  Li- 
vro da  Lei  na  mao  :  fundados  que  nelte  mefmo 
paíTo  diz  allim  o  Author  do  fegundo  Livro  dos  Pa- 
fahpomenos,  xxni.  ii.:  Et  impofuerunt  ei  diade^ 
ina  ,  tejiimoniiim ,  dcdenmt^ue  in  manu  ejus  íc- 
netídam  Icgem.  Ao  que  refpondo :  que  concordanda 
o  Livro  dos  Paralipomcnos  com  o  dos  Reis  cm 
pôr  por  accufativo  do  verbo  impono  huma,  e outra 
coufa  ,  o  diadema  ,  e  o  Livro  da  Lei ;  o  accrefccn- 
tar-fe  nos  Paralipomenos  que  ellcs  lhe  pozeráo  na 
máo  a  Lei  ,  he  dar-nos  a  entender  que  lha  poze- 
ráo na  máo,  depois  dc  lha  porem  na  cabeça  ,  do 
modo  que  tanto  ames  cfcrcvêra  o  Santo  Job,  xxxí. 
^5.  Quis  mihi  tribuat^  ut  librum  fcrihat  ipfe  qui  jur 
dicat ,  ut  in  humero  meo  portem  illum ,  circundem 
illum  quafí  coronam  mihi  í  Quem  me  dera  ,  que 
aquelle  mefmo  que  me  julga  ,  efcreva  hum  livro  pa- 
ra eu  o  trazer  ao  meu  hombro ,  e  o  por  á  roda  da 
minha  cabeça  como  coroa  l  AÚ\m  mefpr.o  enten- 
dco  ,  c  expoz  Calmct  o  prefente  lugar  dos  Reis» 

PiRElRA. 


288  R  È  I  s. 

gio;  e  batendo  com  as  mãos  ^  gritarão  ^ 
Viva  o  Rei. 

13  Ouvio  Athalia  o  clamor  do  Po- 
vo que  concorria;  e  entrando  por  entre 
as  turbas  no  Templo  do  Senhor,  ^ 

14  vio  o  Rei  aíTentado  no  feu  thro- 
no  fegundo'o  coftume  ,  e  ao  pé  delle 
os  Cantores ,  e  os  Trombetas ,  e  todo  o 
Povo  muito  alegre,  e  tocando  trombe^ 
tas.  Então  rafgou  elk  os  feus  veftidos  j 
e  gritou:  Traição,  traição. 

15'  Aomefmo  tempo  deojojada  ef- 
ta  ordem  aos  centuriões ,  que  comman- 
davão  as  tropas ,  e  lhes  diíTe :  Levai-a 
para  fora  do  Templo  ;  e  todo  o  que  a: 
leguir  ,  morra  á  efpada.  Porque  tinha 
dito  o  Pontífice :  Não  a  matem  dentra 
do  Templo. 

1 6  Os  Officiaes  pois  lhe  lançarão  as 
mãos ,  e  a  levarão  por  força  ao  caminha 
da  porta  ,  por  onde  paíTavão  os  cavai- 
los,  junto  ao  Palacio,  e  alli  foi  morta. 

17  Jojada  aomefmo  tempo  fez  hu-^ 
ma  alliança  entre  o  Senhor ,  o  Rei ,  e 
o  Povo,  para  que  elle  fofle  o  Povo  dú 
Senhor ,  e  entre  o  Povo  ^  e  o  Rei. 

E 


Liv.  IV^    Gáp.  XI. 

18  E  tendo  entrado  todo  o  Povo 
!io  Templo  de  Baal  ,  deitárão  abaixo 
os  feus  Altares^  fizerao  as  fuas  imagens 
em  mil  pedaços  ,  e  matárão  a  Mathah 
Sacerdote  de  Baal  diante  do  Altar.  E 
o  Pontífice  poz  guardas  na  cafa  do  Se- 
nhor. 

19  E  tomou  Gomfigo  os  centúrioes, 
c  as  legiões  d^Cereth,  e  de  Feleth,  e 
todo  o  Povo,  e  conduzirão  o  Rei  fora 
da  cafa  do  Senhor,  e  pafsárão  pela  por- 
ta do  quartel  dos  Efcudciros  ,  por  on- 
de fe  vai  para  o  Palacio  ;  (^)  e  o  Rei 
íe  alfentou  no  throno  dos  Reis. 

20  E  todo  o  Povo  da  terra  fez  gran- 
de fefta  ,  e  a  Cidade  ficou  em  paz.  Atha- 
lia  porém  tinha  fido  paífada  á  efpada 
jtia  cafa  do  Rei. 

21  E  tinha  Joás  fete  annos,  quaii* 
do  começou  a  reinar. 


Tom.  VI.  T  CA- 

(e)  £  o  i?e//e  ajjentou  no  throno  dos  Reis,  Na^ 
[uelle  magnifico  throno  de  marfim  ,  que  Salamac 
izcra.  PsKiiRA. 


Reis. 


CAPITULO  XIL 

^ods  manda  reparar  o  Templo.  Hazael 
vem  fitiar  'Jeru falem.  Morte  àe  Jods* 
Succede-lhe  Amafias. 

1  O  anno  fetimo  de  Jehu  co- 

meçou  a  reinar  Joás^  e  reinou 
quarenta  annos  em  Jerufalem.  E  fua  mai 
chamava-fe  Sebia ,  e  era  de  Berfabé. 

2  E  reinou  Joás  juftamente  diante 
do  Senhor  todo  o  tempo  que  foi  diri- 
gido pelo  Pontífice  Jojada. 

3  Elie  todavia  não  tirou  os  Altos : 
porque  ainda  o  Povo  lá  facrificava  y  e  lá 
offerecia  incenfo. 

Anno  4  (a)  Então  d iíTe  Joás  aos  Sacer- 
doM.  dotes  :  Todo  o  dinheiro  confapradoy 

^'47.  ^  ciue 

antes  ^i"'^ 
de  J.Co  (a)  Então  diffe  ^oás  aos  Sacerdotes ,  é-c.  Os 
856.  que  querem  que  as  prerogativas  do  Pontífice  Ro- 
mano fe  meçáo  pelas  do  Pontífice  dos  Hebrcos : 
era  muito  para  defejar ,  que  também  pelos  direitos 
dos  Reis  Hcbreos  mediíTem  os  dos  Reis  Catholi- 
cos  Romanos :  convém  a  faber,  para  eílranharem 
neftes  certas  influencias  na  admrniílraçáo ,  e  applí- 
cação  dos  Bens  Ecclefiafticos ,  que  a  Efcritura  não*' 
íeprehende  ,  antes  louva  em  Joás  ,  Ezequias  ,  t. 

JoíiaS.  PfiRSIRAa 


Liv.  IV.   Cap«  XII.  191 

que  trouxerem  ad  Tertiplo  do  Senhor, 
{b)  ou  os  que  pafsãoj  ou  os  que  oof- 
terecem  a  Deos  (r)  por  preço  da  fua 
alma  ,  ou  os  que  de  li  mefmos  fazem; 
ao  Templo  donativos  voluntários : 

5-  os  Sacerdotes  ,  cada  hum  na  fua 
ordem  ,  tomem  elle  dinheiro  ,  e  fação 
com  elle  os  reparos  na  cafa  do  Senhor^ 
quando  virem  alguma  coufa ,  que  necef- 
fita  de  concerto. 

6  Mas  até  oanno  vigefimo  terceiro 
do  Rei  Joás  não  tinhão  os  Sacerdotes 
feito  reparos  alguns  no  Templo. 

7  Fez  pois  o  Rei  vir  á  fua  prefen-  Anno 

T  ii  ça   do  M. 

^148 

(^)  Ou  os  que  pafsao,  <b'C,  Saci  fcguindo  a  Va-  2m,  de 
tablo  ,  e  De  Carrieres  feguindo  a  Saci  ,  parafra-  j,  chr» 
zeáo :  ou  os  que  paísáo  de  vinte  annos ,  e  que  cf-  y^^^ 
íáo  obrigados  a  concorrer  cada  hum  por  fi  para  as 
defpezas  do  Templo ,  fegundo  a  Lei  de  jMoyfcs , 
Exod.  XXX.  12.  Porém  Grocio  por  cftes  que  paf- 
èâo  entende  os  palTageiros  dos  Gentios,  que  mui- 
tas vezes  vinháo  a  ]crufalem  como  de  romaria  vi- 
fitar  o  Templo  ,  e  offereccr  neile  os  feus  dons, 
como  fe  colhe  da  oração  que  fez  Salamáo ,  quan- 
do dedicou  o  mefmo  Templo,  ni.  Re^.  vm.  41» 
Pereira. 

(f )  Por  preço  àa  fua  alma,  Iflo  he  ,  para  fc 
temirem  depois  de  fe  terem  confagrado  poralgunq 
Voto«  D£  Carri sRis, 


Reis. 

ça  o  Pontífice  Jojada  ,  e  os  Sacerdotes,' 
e  lhes  diíTe  :  Porque  nao  fazeis  vós  os 
reparos  do  Templo  ?  Não  recebais  lo- 
go mais  o  dinheiro,  fegundo  a  ordem 
do  voíTo  minifterio ;  mas  reílitui  o  que 
tendes  recebido  ,  para  que  elle  fe  em- 
pregue nos  reparos  do  Templo. 

8  E  ordenou  que  os  Sacerdotes  não 
recebeíTem  mais  o  dinheiro  do  Templo, 
nem  também  foíTem  encarregados  dos 
reparos  da  cafa. 

9  Então  pegou  o  Pontifica  Jojada 
n'um  cofre ,  e  fez-lhe  abrir  hum  buraco 
por  fima,  e  pollo  ao  pé  do  Altar  ámão 
direita  dos  que  entravão  na  cafa  do  Se- 
nhor: e  os  Sacerdotes,  que  guardavão 
as  portas,  deitavão  nelle  todo  o  dinhei- 
ro, que  íe  trazia  ao  Templo  do  Senhor. 

10  E  quando  elles  viao  que  havia 
muito  dinheiro  no  cofre,  vinha  oefcri- 
vão  do  Rei  com  o  Pontífice ,  e  tiravâo 
para  fóra,  e  contavão  o  dinheiro,  que 
íe  tinha  achado  na  cafa  do  Senhor ; 

11  e  o  depofitavão  por  conta  ,  e  por 
pezo  nas  mãos  das  peíToas  ,  que  prefi- 
dião  aos  que  trabalhavâo  na  fábrica  do 

Tem- 


Liv.  IV.    Cap.  XII.  293 

Templo:  e  efte  dinheiro  fe  empregava 
nos  carpinteiros ,  e  pedreiros  ,  que  fa- 
zião  os  reparos  da  cafíi  do  Senhor, 

12  e  nos  que  cortavão  as  pedras  pa- 
ra dahi  fe  comprar  a  madeira ,  e  as  pe- 
dras, que  fe  haviao  de  polir;  e  nadef- 
peza  de  tudo  o  mais  que  era  neceífario 
para  os  reparos ,  e  concertos  da  cafa  do 
Senhor. 

13  Não  fefaziâo  comtudo  defte  di- 
nheiro que  fe  trazia  ao  Templo  do  Se- 
nhor, nem  as  talhas  do  Templo  do  Se- 
nhor, nem  os  garfos,  nem  os  thuribii- 
los,  nem  as  trombetas  ,  nem  coufa  al- 
guma de  vafos  d^ouro,  ou  prata: 

14  {d)  fenao  que  fe  dava  aos  que 
tinhão  a  fcu  cargo  cuidar  dos  reparos 
do  Templo  do  Senhor : 

15"  e  não  fe  tomava  conta  delle  aos 
que  o  recehiao  ,  para  o  diílnbuir  pelos 
trabalhadores :  mas  ellcs  o  empregavão 
com  fidelidade. 

16    Não  mettião  porém  no  Templo 

do 

Sey]ão  que  fe  dava,  &c.  De  Carrieres  para 
maior  diífinçáo,  e  claicza  expóe:  Até  alli  dava- 
[€  ejte  dinheiro.  Pereira. 


'^94  Reis, 

do  Senhor  o  dinheiro  pelo  delito  ,  e 

o  dinheiro  pelos  peccados,  porque  era 

dos  Sacerdotes. 
'Anno      17    Então  veio  Hazael  Rei  de  Sy- 

ria  pôr  cerco  diante  de  Geth  ,  e  a  to- 
anr.  de  j  ^  ^^ft^  ^  marchar  contra  Je- 
J.  Chr.  rufalem. 

í^^^t  18  Deo  ifto  caufa  a  que  Joás  Rei 
de  Juda  tomafle  todo  o  dinheiro  confa- 
grado  5  que  Jofafat  5  Jorão  5  e  Ocozias 
Rei  de  Juda,  feus  pais,  e  elle  mefmo 
tinhão  oíFerecido  no  Templo,  e  tudo  o 
que  fe  pode  achar  de  dmheiro  nos  the- 
louros  do  Templo  do  Senhor,  e  no  Pa- 
lacio do  Rei  ;  (^)  e  o  mandou  a  Ha- 
zael Rei  de  Syria ,  que  com  ifto  defif- 
tio  de  vir  a  Jerufalem. 

19  O  mais  das  acções  de  Joás  ,  e 
tudo  o  que  elle  fez,  eltá  efcrito  no  Li- 
vro dos  Annaes  dos  Reis  de  Juda. 

Po- 

(e)  E  o  mandou  a /4zaeí  ^  <ò^c.  Obrerve-fe,  que 
Jpás  íc  apro  veita  do  dinheiro  do  Templo  para  remir 
íiuma  guerra  de  que  fe  via  ameaçado  ,  fem  para 
iíTo  coaítar  que  pediííe  alguma  licença  ao  Pontífice 
Jojada ,  nem  que  por  iíTo  o  reprehenda  a  Efcriturao 
Mas  que  muito  he  que  aííim  o  fizeíTe  Joás  ,  que 
ainda  que  até  cerro  tempo  he  louvado  pela  Efcritur^ 


Liv.  IV.    Cap.  XII. 

20  Porém  os  fcrvos  de  Joás  (/)  fi- 
zerão  huma  confpiração  entre  íi  ,  e  fe 
levantarão  contra  clle  ,  e  o  matarão  na 
cafa  de  Mello  na  defcida  dc  Sella. 

2 1  Porque  Jofacar  filho  de  Semaath  , 
e  Jozabad  filho  de  Somer,  feus  fervos, 
o  matarão  :  e  fendo  morto  (g)  foi  fe- 
pultado  com  feus  pais  na  Cidade  de  Da- 
vid ;  e  em  feu  lugar  reinou  Amafias  feu 
filho. 


CA- 

de  bom  Rei ,  depois  degenerou  da  fua  reélidáo  pri- 
mitiva :  fe  aílim  mefmo  lemos  que  o  praticou  por 
igual  motivo  Ezequias  Rei  fantiftimo ,  e  como  tal 
elogiado  nas  fagradas  Letras,  iv.  R^g.  xviii.  5.  e 
Bccli.  xLvm.  25.  Pekeira. 

(^)  Fizerao  hmm  cotif pirarão  entre  fi^  ó  c.  A 
cauía  foi  ,  que  Joás  depois  da  morte  do  Pontificc 
Jojada  fe  entregou  ao  culto  dos  idolos ,  e  com  hu- 
ma feia  ingratidão  mandou  matar  o  Pontifice  Za- 
jcarias  filho  do  mefmo  Jojada  (n.Paralip.  xxiv.  17, 
C25. )  Com  eftes  peccados  fufcitou  Joás  contra  fi 
a  divina  vingança ,  e  fe  fez  em  extremo  aborreci- 
do dos  vafíallos.  Pereira. 

)  fepultado  com  feus  pais  na  Cidade  de  Da-- 
vid.  Mas  nào  no  jazido  dos  Reis ,  dizem  os  Para- 
lipomenos  ,  n.  Cap.  XXIV.  2^,  Sepeíierunt  eum  in 
Civitate  David  y  [?d  non  in  fepulçhris  regmn,  Ff.^ 


Reis, 
CAPITULO  XIII. 

yoaccdz  Rei      Ifrael  be  opprimião  peh 
Rei  de  Syria.  Morre,  Succede-lhe  Jods» 
Elifeo  prediz  a  Jods  ,  í^ue  elle  derro- 
tará tres  vezes  o  Rei  de  Syria.  Morte 
Elifeo,  Hum  morto  lançado  na  fua 
fepultura  refufcita  logo. 

Anna     i  IVT O  anno  vinte  e  tres  dejoás 
Iri  filho  de  Ocozias  Rei  de  Ju- 
ant.  de      r  começou  a  reinar  Joaccáz  filho  de 
J.  Chr.  Jehu :  e  reinou  fobre  Ilrael  na  Samaria 
dezefete  annos. 

2  Elle  obrou  o  mal  diante  do  Se- 
nhor, e  feguio  ospeccados  dejeroboao 
filho  de  Nabat,  que  tinha  feito  peccar 
a  Ifrael,  ç  não  fe  apartou  delles. 

3  Então  fe  enfureceo  o  Senhor  con- 
tra Ifrael ,  c  os  entregou  todo  efte  tem- 
po nas  mãos  d' Hazael  Rei  de  Syria, 
c  nas  mãos  de  Benadad  filho  d' Ha- 
zael. 

4  Mas  Joaccáz  fe  proftrou  diante 
da  face  do  Senhor,  e  lhe  fez  afua  ora- 
ção :  e  o  Senhor  o  ouvio  y  porque  vio 

■  a 


Lrv.  IV.    Cap.  XIII.  297 

o  aperto  d'lírael  ,  e  a  extremidade  a 
que  o  Rei  de  Syria  o  tinha  reduzido. 

5  (a)  E  o  Senhor  deo  hum  falva- 
dor  alírael,  e  elle  foi  Hvre  da  mão  do 
Rei  de  Syria  :  e  os  filhos  d']frael  ha- 
bitarão nas  fuas  tendas  como  d'antes. 

6  Elles  todavia  fe  não  apartarão  dos 
peccados  da  cafa  de  Jerobcão ,  que  ti- 
nha feito  peccar  a  Ifrael  :  mas  conti- 
nuarão a  andar  nelles ,  e  o  Bofque  per- 
maneceo  em  Samaria. 

7  Não  tinhão  ficado  a  Joaccáz  de 
todo  o  feu  Povo  ,  fenão  fincoenta  ca- 
valleiros  ,  dez  coches  ,  e  dez  mil  ho- 
mens de  pé:  porque  o  Rei  de  Syria  os 
tinha  morto,  e  os  tinha  reduzido  como 
o  pó  da  eira ,  onde  fe  debulha  o  pão. 

S  O  reílo  das  acções  de  Joaccáz, 
todos  os  feus  feitos,  e  o  feu  valor,  ef- 
tão  efcritos  no  Livro  dos  Annaes  dos 
Reis  d' Ifrael. 

9  Em  fim  Joaccáz  adormeceo  com  Anna 
feus  pais  ,  e  foi  fepultado  em  Sarna- 

^^'^  •    anr.  dç 

(  ^  )  O  Senhor  deo  hum  Salvador  a  Ifrael ,  é>c.  g*  ^ 
Na  peííoa  dc  Joás  filho  de  Joaccáz,  como  le  vcr^ 
pelo  vcrfo  17.  Fekeira. 


R  s  I  s. 

ria  :  e  Joás  feu  filho  reinou  cm  feu  lu- 
gar. 

Atino      IO    No  anno  trinta  e  fete  de  Joás 
ílo  M.  R^ei  de  Juda  reinou  Joás  filho  de  Joac- 
antes*  ^^'^  fobre  Ifrael  em  Samaria  por  efpaço 
deJ.C,  de  dezefeis  annos. 
:^4i.       II    E  elle  obrou  o  mal  diante  do 
Senhor  :  e  não  fe  apartou  de  peccado 
nenhum  de  Jeroboáo  filho  de  Nabat, 
que  tinha  feito  peccar  a  Ifrael ;  mas  nel- 
les  andou. 

iz  O  refto  das  acções  de  Joás,  tu- 
do o  que  elle  fez  ,  o  feu  valor  ,  e  co- 
mo pelejou  contra  Amafias  Rei  de  Ju- 
da,  tudo  ifto  eftá  efcrito  no  Livro  dos 
Annaes  dos  Reis  d' Ifrael. 

1 3    E  Joás  adormeceo  com  feus  pais : 
e  Jeroboáo  fubio  ao  throno  ,  depois  que 
Joás  foi  fepultado  em  Samaria  com  os 
Reis  d' Ifrael. 
'A^no      14    Ora  Elifeo  eftava  doente  da  en- 
'^16^*  fermidade  de  que  morreo ,  e  Joás  Rei 
a nt.  dc  d'  Ifrael  o  vei^  ver  ,  e  chorou  diante 
3.  GKr.  delle ,  dizendo  :  Meu  pai ,  meu  pai ,  tu 
859. 

es  o  Carro  d' Ifrael  ,  e  feu  Gonduftor. 
15    E  Elifeo  lhe  diífe:  Traze-me  cá 

.  .  hum 


Liv.  IV.   Cap.  XIII.  299 
hum  arco ,  e  frechas.  E  como  o  Rei  d' 
Ifrael  lhe  trouxefle  hum  arco  ,  e  fré- 
chas , 

16  Elifeo  lhe  diíTe:  Poe  a  tua  mão 
fobre  o  arco.  E  tendo  elle  pofto  a  mão 
fobre  o  arco ,  Elifeo  poz  as  fuas  mãos 
fobre  as  do  Rei , 

17  e  lhe  diíTe :  Abre  ajanella,  que 
olha  para  o  Oriente.  Tendo-a  aberto  o 
Rei,  Elifeo  lhe  diíTe  :  Atira  com  huma 
frecha.  E  atirou  Joás.  E  Elifeo  dilfe: 
Efta  he  a  frecha  da  falvação  do  Se- 
nhor: efta  he  a  frecha  da  falvação  con- 
'tra  aSyria:  tu  ferirás  a  Syria  emAífec, 
até  acabares  de  todo  com  ella. 

18  DilTe  mais  Elifeo:  Pega  dasfré-^ 
chas.  E  tendo  o  Rei  pegado  delias, 
Elifeo  lhe  diíTe  :  Fere  a  terra  com  ef-^ 
fas  frechas.  Ferio-a  elle  tres  vezes  ,  e 
parou. 

19  O  homem  dc  Deos  fe  enfadou 
com  elle,  e  IhediíTe:  Se  tiveras  ferido 
a  terra  finco  ou  feis  ,  ou  fete  vezes ,  te- 
rias derrotada  a  Syria  até  a  deftruires 
de  todo  :  mas  agora  não  a  derrotarás, 
Jfenão  tres  vezes. 

Mor^ 


30O  Reis. 

20  Morreo  pois  Elifeo  ,  e  foi  en- 
terrado. Nefte  mefmo  anno  porém  vie- 
rão  huns  ladroes  de  Moab  fobre  a  ter- 
ra. 

21  E  aconteceo  que  enterrando  cer- 
tos homens  a  hum  outro ,  vírão-no  eftes 
ladroes,  {b)  e  lançárao o  cadáver  no  fe- 
pulcro  d' Elifeo,  eforão-fe.  E  tanto  que 
o  cadáver  tocou  os  oíTos  d'Elifeo5  (c) 
refufcitou  efte  homem  ,  e  fe  levantou 
fobre  os  pés. 

'Anno      22    Quando  porém  Hazael  Rei  de 

^-  Syria  tinha  affligido  a  Ifrael  por  todo 

ant  de  ^  R^ii^^do  de  Joaccáz , 

J.  Chr!  fe 

^5^*  (i^)  E  lançarão  o  cadáver  no  fepulcro  d'  Elijeo, 
Os  Sepulcros  eráo  como  humas  furnas ,  ou  grutas , 
que  fe  coílumaváo  tapar  com  huma  pedra ,  a  qual 
facilmente  fe  podia  tirar  ,  e  tornar-íe  a  por  íem 
ruina  alguma  do  fepulcro.  Calmet. 

(c)  Refufcitou  efic  homem.  Alludindo  a  efte  mi- 
lagre, dilte  depois  o  Author  do  Ecciefiaftico ,  que 
ainda  morto  protetou  o  corpo  d'  Eiifeo.  Mortuum 
prophetavit  corpus  ejus.  (Eccli.  xlvui.  14.)  Porque 
íefu feirando  a  eíie  morto ,  confirmou  Elifeo  todas 
as  profecias ,  que  fizera  em  vida  ,  e  nos  deo  hum 
penhor  da  futura  Refurreição  de  todos  os  noíTos 
córpos.  Com  efte  mefmo  lugar  prova  S.  Jeronymo 
contra  Vigilancio  ferem  as  Relíquias  dos  Santos  di* 
gnas  d' honra,  e  refpeito.  Pereira. 


Liv.  IV.    Cap.  XIII.  3GI 

23  fecompadeceo  o  Senhor  delles, 
c  tornou  para  elles  por  caufa  do  pafto 
que  tinha  feito  com  Abrahão ,  Ifaac ,  e 
Jacob;  e  não  os  quiz  perder,  nem  re- 
jeitar inteiramente  até  o  prefente  tem- 
po. 

24  Depois  difto  morreo  Hazael  Rei 
de  Syiia  ,  e  reinou  por  elle  feu  filho 
Benadad. 

2^  Mas  Joás  filho  de  Joaccáz  reco- 
brou das  mãos  de  Benadad  filho  d'Ha- 
zael  5  as  Cidades  que  Hazael  havia  to- 
mado a  feu  pai  durante  a  guerra.  Joás 
o  bateo  por  tres  vezes ,  e  elle  reítituio 
a  Ifrael  as  fuas  Cidades. 


302  Reis. 

CAPITULO  XIV. 

Amajias  manda  matar  os  matadores  de 
feu  pau  Bale  os  Idumeos,  He  zmcideí 
por  Jods  Rei  d^  Ijrae/,  Morte  de  Jodsé 
Succede-lhe  Jeroboão,  Amafias  he  mor~ 
td  pelos  Jeus,  Azarias  reina  depois  dei- 
ie.  Morte  de  Jeroboão.  Em  Jeu  lugar 
reina  Zacarias. 

Anno     I  O  fegundo  atino  de  Joás  filho 

doM.  X.\  Je  Joaccáz  Rei  d'lfrael5  co- 
an/^^de  "^^Ç^^^  ^  reinar  Amafias  filho  de  Joás 
j.  c.    Rei  de  Juda. 

2  Elie  tinha  vinte  e  finco  annos, 
quando  começou  a  reinar ,  e  reinou  vin- 
te e  nove  annos  emjerufalem.  Sua  mai 
era  de  Jerufalem  ,  e  fe  chamava  Joa- 
daií. 

3  E  elle  fez  o  que  era  jufto  diante^ 
do  Senhor  ,  mas  não  como  David  feii 
pai.  Elle  procedeo  em  tudo^  como  feií 
pai  Joás  o  tinha  feito  j 

4  (<(?)  excepto  que  não  tirou  os  Al- 

tos, 

(4)  Excepto  que  mo  tirou  os  Altos,  Efte  exceptú 
mo  he  relativameme  âo  que  fez  o  pai  ^  do  qual 


Liv.  IV.    Cap.  XIV.  303 
tos  5  porque  ainda  o  Povo  lá  immolava  ^ 
c  lá  queimava  incenfo. 

5-  E  tanto  que  teve  o  reino  feguro , 
fez  matar  aquelles  de  feus  fervos,  que 
unhão  morto  a  feu  pai : 

6  mas  não  fez  morrer  os  filhos  def- 
tes  matadores  ^  {b)  fegundo  o  que  eftá 
efcrito  no  Livro  da  Lei  de  Moyfés, 
conforme  o  preceito  do  Senhor  ,  que 
diz :  Não  morrerão  os  pais  pelos  filhos , 
nem  os  filhos  morrerão  pelos  pais ;  mas 
cada  hum  pelo  feu  peccado. 

7  Efte  mefmo  foi  o  que  bateo  dez 
mil  Idumeos  no  valle  das  Salinas  ,  e  o 

que  tomou  (r)  aFortaleza  que  chamouant.de 
Jeflehel  ^  como  ella  ainda  hoje  fe  cha-  J.  Chr, 
ma, 

En- 

também  fc  diíTe  no  Cap.  XII.  verfo  7^,  ,  que  não 
tinha  tifado  os  Altos:  mas  he  relativamente  ao  que 
precedco  no  antecedente  verfo  :  Elie  fez  o  que  em 
jufio  diante  do  Senhor,  Pereira. 

,  (  ^ )  ^É'^w^7í/o  o  que  efià  efcrito  na  Lei  de  Mcym 
fes.  Na  Lei  do  Deutcronomio ,  Cap.  XXIV.  verl© 
16.  Pereira. 

(  c  )  A  Fortaleza  que  chamou  Jeãehel.  Moftran- 
do  com  efte  nome  que  íignifica  obediência,  de  Se» 
rthor ,  que  a  fua  viéioria  era  fruto  da  fua  obediên- 
cia a  Deos.  Dk  Carri  eres. 


304  Reis. 
Anno      8    Então  enviou  Amaíias  Embaíxá-* 
9178.*  ^^^^^  a  Joás  filho  de  Joaccáz,  filho  de 
ant.de  Jehu  R^i  d'Ifrael  ,  com  efte  recado: 
3. Chr.  (J)  Vem,  e  vejamo-nos. 

E  Joás  Rei  d'  Ifrael  mandou  a 
Amafias  Rei  de  Juda  efta  refpofta :  (e) 
O  cardo  do  Libano  mandou  dizer  ao 
Cedro,  que  eftá  no  Libano:  Dá  tua  fi- 
lha por  mulher  a  meu  filho.  Mas  as  fé- 
ras  do  Bofque  paflaráõ  ,  e  pizaráo  aos 
pés  o  cardo. 

10  Tu  huma  vez  que  ficafte  fupe- 
rior  em  batalha  aos  Idumeos ,  e  os  ef- 
calavraftes  bem  ,  fe  elevou  de  foberba  o 
teu  coração.  Pois  contenta-te  com  eíTa 
tua  gloria  ,  e  deixa-te  eftar  quieto  errt 
tua  cafa.  Para  que  he  andares  chaman- 
do pelo  teu  infortúnio  para  pereceres 

tu 

(i)  J^em ,  e  vejmo-nos.  Efte  modo  de  fallar  , 
vem,  evejamo-nos ,  era  huma  formal  declaração  de 
guerra.  Pelo  menos  aflim  o  cntendeo  Joás.  Cal- 

MET. 

( e )  O  cardo  do  Libano  ,  é-c.  Era  muito  da^» 
quclles  Orientaes  explicarem  os  feus  fentimcntos 
cm  engenhofos ,  e  picantes  Apologos :  qual  o  com 
que  Joatháo  filho  de  Gedeão  lançou  em  rofto  ao.% 
Siquimitas  ,  terem  preferido  para  fcu  Rei  O  baftar- 
do  ão  legitimo.  Jud.  1^.  B.  Calmet, 


Liv.  IV.   Cai'.  XIV.  30^ 
tu  mefmo,  e  fazeres  perecer  comtigo  a 
Juda  ? 

1 1  Porém  Amaíias  não  quiz  ouvir 
efta  reprefentação ,  e  Joás  Rei  d'Iírael 
marchou  contra  elle.  Elles  pois  fe  vi- 
rão, AmaíiasRei  de  Juda  ^  ejoás*  jun- 
to a  Beithfames,  que  he  huma  Cidade 
de  Juda. 

12  E  Juda  foi  desfeito  por  Ifrael; 
e  fugirão  cada  hum  para  as  fuas  ten- 
das. 

I  3  E  Joás  Rei  d'  Ifrael  tomou  em 
Bethfames  Amafias  Rei  de  Juda  ,  filho 
de  Joás,  filho  d'Ocozias,  e  o  levou  a 
Jeruíalem.  E  fez  no  muro  dejerufalem 
huma  brecha  de  quatrocentos  covados 
de  comprido  ,  des  da  porta  d' Efraim 
até  á  porta  do  angulo. 

14  E  tomou  todo  o  ouro,  e  prata, 
e  todos  os  vafos ,  que  fe  achárão  na  ca- 
fa  do  Senhor,  e  em  todos  os  thefouros 
do  Rei ,  e  os  reféns ,  e  voltou  para  Sa- 
maria. 

15'  O  refto  das  acções  de  Joás  ,  e 
o  grande  valor  com  que  elle  pelejou 
contra  Amafias  Rei  de  Juda  ,  eítá  ef- 

Tom.  VI.  V  cri- 


3oé  Reis. 

crito  no  Livro  dos  Annaes  dos  Reis  d* 
in-ael. 

1 6  E Joás  adormeceo  com  feus  pais , 
efoi  fepultado  em  Samaria  com  os  Reis 
d'Ifrael  :  e  em  feu  lugar  reinou  feu  fi- 
lho Jeroboão. 

1 7  Mas  Amafias  filho  de  Joás  Rei 
de  Juda  ainda  reinou  quinze  annos  de- 
pois da  morte  de  Joás  filho  dejoaccáz 
Rei  d'irrael. 

1 8  O  refto  das  acções  d'Amafias  ef- 
tá  efcrito  no  Livro  dos  Annaes  dos  Reis 
de  Juda. 

Anno  19  E  contra  elle  fe  forjou  em  Je- 
do  M.  rufaiem  huma  conjuração  ,  que  o  obri- 
InVdcg^^^  a  fugir  paraLaquis.  Mas  elles  en- 
].  Chr.  viárão  apôs  elle  aLaquis,  e  alli  o  ma- 
^io.  tárão, 

20  e  o  tranfportárâo  em  fima  d'huns 
cavallos,  e  elle  foi  fepultado  em  Jeru- 
falem  com  feus  pais  na  Cidade  de  Da- 
vid. 

21  E  todo  o  Povo  de  Juda  tomou 
a  Azarias  em  idade  de  dezefeis  annos; 
e  elles  o  conftituírão  Rei  em  lugar  de 
feu  pai  Amafias. 

Ef- 


Liv.  IV.    Cap.  XIV.  307 

22  (f)  Efte  foi  o  que  edificou  Ela- 
th,  tendo-a reconquiftado  parajuda  de- 
pois que  o  Rei  adormeceo  com  feus 
pais. 

23  No  decimo  quinto  anno  de  Ama-  Anno 
fias  filho  de  Joás  Rei  de  Juda  ,  come-  j^^- 
çou  a  reinar  em  Samaria  Jeroboão  filho  l^^^^ç 
de  Joás  Rei  de  Ilrael  ,  (g)  e  reinou  ].  chr. 
quarenta  e  hum  annos.  ^^5« 

24  E  elle  obrou  o  mal  diante  do 
Senhor.  Não  fe  apartou  de  peccado  ne- 
nhum de  Jeroboão  filho  deNabat,  que 
tinha  feito  peccar  a  Ifrael, 

2^    (/;)  Eíle  mefmo  reftabeleceo  os 
limites  d' Ifrael,  des  da  entrada  d'Ema- 
th  até  o  mar  do  defcrto,  em  conformi- 
V  ii  da- 

(/)  Efle  foi  o  que  reedificou  Elatb  ,  (b^c.  Ci- 
dade da  Idumea  íujeita  á  Tribii  de  Juda  ,  que  fc 
linha  rebellado.  Pereira, 

E  reinou  quarenta  e  hum  annos.  Do  que 
leremos  no  Cap.  XV. ,  verfo  2^. ,  e  vcrfo  27.  de- 
duzem alguns  diligentes  Chronólogos ,  que  em  lu- 
gar dc  quarenta  c  hum,  fe  deve  aqui  ler,  fincoen". 
ta  e  hum.  Pereira. 

(/;)  Ejle  mefmo  reftabeleceo  os  limites  Ifrael  ^ 
^'f.  Recuperando  as  Cidades  ,  c  terras  ,  que  os 
Reis  de  Syria  tinháo  ufurpado ,  depois  da  fepara- 
çáo  das  dez  Tíibus.  P^keira» 


3o8  Reis. 

dade  da  palavra  que  o  Senhor  Deos  d' 
Ifrael  havia  pronunciado  (i)  por  feu  fer- 
vo o  Profeta  Jonas  filho  d'Amathi,  que 
era  de  Geth,  em  Opher. 

26  Porque  vio  o  Senhor  a  afflicçâo 
d' Ifrael  5  que  tinha  chegado  ao  ultimo 
extremo;  e  que  havião  fido  confumidos 
até  os  que  fe  achavao  mettidos  na  pri- 
zão  5  e  até  os  derradeiros  do  Povo ,  fem 
haver  ninguém  que  foccorreflfe  a  Ifrael. 

27  Nem  quiz  o  Senhor  apagar  o 
nome  d'  Ifrael  de  debaixo  do  Cco  :  mas 
elle  os  falvou  por  mão  de  Jeroboão  fi- 
lho de  Joás. 

28  O  mais  das  acções  de  Jeroboão, 
tudo  o  que  elle  fez,  e  o  valor  com  que 
elle  pelejou,  (k)  e  comoreílituio  aju- 
da 

(í)  Por  feu  fervo  o  Profeta  Jonas  ^  <^c.  Omef- 
mo  que  foi  a  Ninive  depois  de  ter  fido  engolido , 
e  vomitado  da  Balêa.  Mas  efte  feu  vaticinio  fobre 
as  viéiorias  de  Jeroboão  II.  não  anda  na  Profecia 
que  temos  delle ;  prova  de  que  os  Profetas  não  ef- 
creviáo  fempre  tudo  j  ou  que  nem  tudo  o  que  ef- 
crcvêráo,  nos  chegou  a  nós.  Pereira. 

E  como  rejiituio  a  Juda ,  <b-c,  Rcftiruio-as 
a  ]uda  ,  dizem  alguns,  porque  David,  e  Salamro , 
que  foráo  os  primeiros  que  as  occupáráo  ,  tinháo 
íido  Reis  de  Juda  ,  e  as  adquirirá©  para  fua  própria 


Liv.  IV.   Cap.  XIV.  309 
da  em  Ifrael  Damafco ,  e  Emath :  tudo 
ifto  eftá  efcriro  no  Livro  dos  Annaes 
dos  Reis  d'  Ifrael. 

29  E  adormeceojeroboão  com  feus 
pais  Reis  d' Ifrael  5  e  reinou  em  íeu  lu- 
gar feu  filho  Zacarias. 


CA- 

Triba  5  ainda  que  tlveíTem  o  mando  de  todas  as 
outras.  E  em  Ifrãel  ,  porque  náo  pagarão  tributo 
ao  Rei  de  Juda,  fcnáo  a  jeroboáo  que  reinava  em 
Ifrael  ,  e  que  as  conquiftou  agora  novamente  dos 
inimigos  do  Povo  de  Deos.  Outros  todavia  com 
Saci ,  e  De  Carrieres ,  achando  duro ,  e  impróprio 
o  dizer  que  fe  rejiituio  ajuda  o  que  ficou  em  Ifrael  ^ 
querem  antes  que  fe  verta  :  E  como  conquijiou  de 
novo  para  Ifrael  Damafco ,  e  Emath ,  que  tinhao  fi- 
do denuda.  E  náo  falta  quem  rufpciie,  que  aquel- 
Ic  Judae  eftá  aqui  demais,  e  procedêra  do  defcui- 
do  dos  Copiadores :  porque  tanto  o  Syro ,  como  o 
Árabe  o  omittem  nas  fuas  Versões.  Pereira. 


3  IO  Reis. 

CAPITULO  XV. 

Azarias  Rei  de  Juda  he  ferido  de  lepra. 
Governa  Joathão  em  feu  lugar.  Zaca- 
rias Rei  d^  ífrael  he  morto  por  Sellum , 
que  reina  depois  delle.  Manchem  fucce^ 
de  a  Sellum^  e  tem  por  fuccejjor  a  Fa- 
ceia ,  e  depois  delle  a  Facée.  Theglath^ 
falajar  tranfporta  para  a  Ajjyria  hu- 
ma  grande  parte  dos  Ifraelitas.  Levan- 
ta-je  Ofée  contra  Facée ,  e  occupa  o  que 
lhe  havia  ficado  em  IfraeL  Em  Juda 
morto  Joathão  lhe  fuccede  feu  filho  Accdz. 

Anno  1  l^T  O  anno  vinte  e  fete  de  Jero- 
^^JJ^-  1>I  boão  Rei  d'Ifrael  {a)  come- 
snt.  de  çou  a  reinar  Azdrias  filho  d'AmafiasRei 
J.  Chr.  de  Juda. 

2  Elie  tinha  dezefeis  annos,  quan- 
do começou  a  reinar,  e  reinou  fincoen- 
ta  e  dous  annos  em  Jerufalem.  Sua  mãi 
era  de  Jerufalem ,  e  fe  chamava  Jeque- 
lia. 

E 

(^)  Começou  a  reinar  J^arias ,  é^c,  Efte  mef- 
mo  fe  nomca  adiante  Ozmí,  verío  30.  e  ^í.,  que 
he  o  nome  que  tambcm  ihedáo  osProíetas  Amos, 
c  Ifaias.  PeK£iRA. 


Liv.  IV.    Cap.  XV.  311 

3  E  elle  fez  o  que  era  agradável 
diante  do  Senhor,  e  procedeo  em  tudo 
como  Amafias  feu  pai. 

4  Elle  todavia  não  demolio  os  Al- 
tos:  e  o  Povo  facrificava  nelles,  e  nel- 
les  queimava  incenfo. 

5  {b)  Mas  o  Senhor  ferio  efte  Rei , 
eelle  ficou  leprofo  até  o  dia  da  fua  mor- 
te,  e  vivia  á  parte  n'uma  cafa  retirada. 
Entretanto  Joathão  filho  do  Rei  gover- 
nava o  Palacio  5  e  julgava  o  Povo. 

6  O  refto  das  acções  d' Azarias,  e 
tudo  o  que  elle  fez ,  eftá  efcrito  no  Li- 
vro dos  Annaes  dos  Reis  de  Juda. 

7  E  Azarias  adormeceo  com  feus  Anno 
pais  ,  (r)  e  foi  fepultado  com  os  feus  ^• 
maiores  na  Cidade  de  David  ,  e  Joa- 
thão  feu  filho  reinou  em  Teu  lugar.       ].  chr. 

No  758. 

(^)  Mas  o  Senhor  ferio  eJU  Rei^  ò^c,  A  caufa 
refere-fe  no  fegundo  Livro  dos  Paralipomenos ,  Cap. 
XXVI.  5  verfo  i6,  c  íeg.  E  Foi  que  Azarias  cmpre- 
hcndeo  exercer  as  funções  do  Sacerdócio.  Perei- 
ra. 

(c)  E  foi  fepultado  com  feus  maiores^  <b*c,  Náo 
no  jazigo  dos  Reis ,  mas  no  campo  onde  citava  o 
jazigo  dos  Reis,  porque  era  leprofo.  11,  Parai.  xxvi. 

2^,  P&REIRA, 


3ii  Reis. 
Anno      8    No  anno  trinta  e  oito  d'  Azarias 
do  M.  j^^j       jjjj^  reinou  Zacarias  filho  de 
ant!  de  J^^^t)^3o  fobre  Ifrael  em  Samaria  leis 
J.  Chr.  mezes. 

77^'  9  E  elle  obrou  o  que  era  máo  dian- 
te do  Senhor  ,  como  tinhao  feito  feus 
pais  :  não  fe  apartou  dos  peccados  de 
Jeroboão  filho  deNabat,  que  tinha  fei- 
to peccar  a  Ifrael. 

10  E  contra  elle  fez  Scllum  filho 
dejabés  huma  conjuração,  e  o  atacou, 
e  matou  publicamente ,  ç  reinou  em  feu 
lugar. 

11  O  refto  das  acções  de  Zacarias 
eftá  efcrito  no  Livro  dos  Annaes  dos 
Reis  d' Ifrael. 

12  Aílim  fe  cumprio  o  que  o  Se- 
nhor tinha  dito  ajehu:  Teus  filhos  ef- 
tarão  afl^entados  fobre  o  throno  d' Ifrael 
até  á  quarta  geração.  E  ifto  he  o  que 
fuccedeo, 

Anno      13    No  anno  trinta  enove  d'Azarias' 
do  M.  Rei  de  Juda  começou  a  reinar  Sellum 
filho  de  Tabés  ,  e  reinou  fó  hum  mez 

ant.  úe        ^       ^.  ^ 
].  Chr.  oamaria. 

771.       14    Porque  Manahem  filho  de  Gadi 

veip 


Liv.  IV.   Cap.  XV.  313 
veio  de  Therfa  a  Samaria :  inveflio  com 
Sellum  filho  de  Jabcs  ,  e  o  matou  na 
mefma  Cidade ,  e  reinou  em  feu  lugar. 

15  O  rello  das  acções  de  Sellum, 
e  a  confpiração  que  elle  fez  para  fur- 
prender  o  Rei ,  eftao  efcritas  no  Livro 
dos  Annaes  dos  Reis  d'Ifrael. 

1 6  Nefte  mefmo  tempo  tomou  Ma- 
nahem  aTapfa:  matou  tudo  o  que  havia 
dentro:  e  arruinou  todo  o  feu  território 
até  os  confins  de  Therfa,  porque  oslra- 
bitantes  lhe  nao  tinhao  querido  abrir  a 
porta  :  matou  todas  as  mulheres  pre- 
nhes,  e  as  fendeo  pelo  ventre. 

17  No  anno  trinta  e  nove  d' Aza- 
rias Rei  de  Juda  começou  a  reinar  fo- 
bre  Ifrael  em  Samaria  Manahem  filho 
de  Gadi,  e  reinou  dez  annos. 

18  Eelle  obrou  oqueeramáo  dian- 
te do  Senhor:  não  fe  apartou  dos  pec- 
cados  de  Jeroboao  filho  deNabat,  que 
tinha  feito  peccar  a  Ifrael ,  durante  to- 
do o  feu  reinado. 

19  (d)  Tendo  vindo  a  efta  terra 

Fui 

(d)  Tendo  vindo  a  efta  terra  Fui  Rei  dos  Ajfy-^ 
rioSf  <^f.  EítcFul  querUlTer  cpc  íoíic  pai  dci>ar- 


'314  Reis. 
Fui  Rei  dos  AíTyrios  ,  Manahem  lhe 
deo  mil  talentos  de  prata  ,  para  que 
elle  o  foccorreíTe  ,  e  lhe  firmaíTe  o  feu 
reino. 

20  E  efte  dinheiro  ordenou  Mana- 
hem que  fe  cobraíTe  de  todas  as  peíToas 
poderofas  ,  e  ricas  para  o  dar  ao  Rei 
dos  AíTyrios  ;  e  elle  lhes  taxou  (e)  a 
ííncoentai  ficlos  de  prata  por  cabeça.  E 
voltoú-fe  o  Rei  dos  AíTyrios,  e  não  Te 
demorou  nefte  paiz. 

21  O  refto  das  acções  de  Mana- 
hem, e  tudo  o  que  elle  Tez,  eíiá  efcri- 
to  no  Livro  dos  Annaes  dos  Reis  dlT- 
rael. 

22  E  adormeceo  Manahem  com  Teus 
pais  ,  e  Faceia  Teu  filho  reinou  em  Teu 
lugar.  J 

Anno  23  No anno  fincoenta  d'Azarias  ReiB 
do  M.  de  ^ 

i^f^u  ulíimo  dos  Reis  AíTyrios  da  primeira  Dy- 

J.  Chr.  nj^ftia  q  admitrido  ncceíTariamente  fe  deve 
7"^'  confeílãr ,  que  Fui  he  o  mefmo  que  Eftrabáo,  c 
Arriano  chamáo  Anacyndaxares  ;  Etteváo  de  By- 
zancio,  Cyndaxares  -,  Eukbio^  Ocrazapes.  Porque 
eftes  sáo  os  nomes ,  que  os  Authores  profanos  dáo 
ao  pai  de  Sardanapálo.  Pereira. 
(^e)  A  fincoçnta  fidos  dç  prata  por  cabeia.  Que 


Liv.  IV.    Cap.  XV.  3iy 

de  Juda  começou  a  reinar  Faceia  filho 
de  Manahem  fobre  Ifrael  em  Samaria , 
e  reinou  dous  annos. 

24  Eelle  obrou  oqueeramáo  dian- 
te do  Senhor:  não  le  apartou  dos  pec- 
cados  de  Jeroboão  filho  deNabat,  que 
tinha  feito  peccar  a  Ifrael. 

25-    Mas  Facée  filho  de  Romelia  ,  e  Anno 
General  das  luas  tropas ,  fez  huma  con- 
juração  contra  elle  :  e  o  ferio  em  Sa-  ant!d'c 
maria  na  torre  da  cafa  real ,  (/)  ao  pé  ].  Chr. 

d'  759- 

daváo  pouco  mais  de  oitenta  chuma  libras  da  moe- 
da de  brança  ,  que  sáo  da  noíTa  moeda  treze  mil 
fcis.  Pereira. 

(/)  Jo  pé  d  Argoh ,  e  ao  péA  Arié^  e  a  fmcoenta 
homens,  (ò^c,  AíTim  em  termos  formacs  a  Vulgata: 
eb-  percujfít  eum  in  Samarii  in  turre  domus  1  egiae , 
jujta  Argcb ,  juxta  Arie ,  cum  co  quinquagintA 
viros  de filiis  Galaaditarum ,  ^-c.  Mas  que  sâo  c  ftes 
Argob  ,  e  Arié  :  A  governarmo-nos  pelo  original 
Hebrco,  sáo  nomes  de  dous  homens,  que  acom- 
panhaváo  a  Facée.  E  fegundo  o  mcfmo  Original 
os  fincoenca  homens  Gala^iditas  não  foráo  mortos 
com  Faceia  ,  como  o  encendeo  o  Author  da  Vul- 
gata ;  mas  foráo  os  que  acompanháráo  a  Facée  , 
quando  cite  ferio  a  Faceia.  Eis-aqui  pois  com.o 
Grocio  verte  todo  efte  lugar  do  Hebrco :  Mas  Fa- 
cée filho  de  Romelia ,  e  General  das  fuás  tropas ,  o 
ferio  em  Samaria  na  torre  do  Palacio  real  em  com" 
panbia  d'  Argob  y  e  d'  Arié ^  ç  de  fmçoma  Galaadh 


31 6  Reis. 

d'Argob5  e  ao  pé  d^Arié,  e  a  fincoenta 
homens  dos  Galaaditas  j  que  com  elle  ef- 
tavão,  e  o  matou  5  e  reinou  em  feu  lugar. 

26  O  refto  das  acções  de  Faceia, 
e  tudo  o  que  elle  fez  ,  eftá  efcrito  no 
Livro  dos  Annaes  dos  Reis  d^llrael. 

27  No  anno  fincoenta  edous  d'Aza- 
rias  Rei  de  Juda  reinou  Facée  filho  de 
Romelia  fobre  Krael  em  Samaria  ,  c 
reinou  vinte  annos. 

28  Eelle  obrou  o  que  era  máo  dian- 
te do  Senhor:  não  fe  apartou  dos  pec- 
cados  dejeroboão  filho  deNabat,  que 
tinha  feito  peccar  a  Ifrael. 

29  Em  tempo  de  Facée  Rei  d'  If- 
rael (g)  veio  Theglathfalafar  Rei  dos 

Af- 

tas,  E  afíim  mefmo  antes  de  Grocio  o  tinha  ver- 
tido Cafliodoro  de  la  Reina ,  e  depois  o  vcrteo  Lc 
Gros.  Pereira. 

(^)  P'eio  Theglathfalajar  Rei  dos  J/Jyrios,  é'C, 
Por  eíle  Theglathfalafar  entende  o  citado  UlTcr  a 
Nino  o  moço ,  a  quem  Eliano  chama  Thilgamo ; 
e  que  depois  da  derrota ,  e  morte  de  feu  pai  Sar- 
danapálo  ,  fez  reviver  d'  alguma  forte  o  Império 
dos  Affyrios  neíTas  poucas  reliquias  que  delle  ficá- 
ráo  ,  depois  que  fobre  as  fuas  ruinas  fundáráo  os 
dous  Generaes  Arbaces  ,  e  Belefo  os  dous  novos 
Impérios  de  Médos ,  e  Babylonigs.  Pereira. 


Liv.  IV.    Cap.  XV.  317 

AíTyrios  ^  e  tomou  Aion  ,  e  Abel  cafa 
de  Maáca  ,  Janoé ,  Cedes  ,  Afor,  Ga- 
laad,  Galiléa,  e  todo  o  paiz  de  Nef- 
thali  5  (Z?)  e  tranfportou  todos  os  feus 
habitantes  para  a  AíTyria. 

30  Mas  Ofée  filho  d' Ella  fez  hu- 
ma  conlpiração  contra  Facée  filho  de 
Romelia  para  o  furprender  :  atacou-o, 

e  matou-o ,  e  reinou  em  feu  lugar  no  vi-  Anno 
gefimo  anno  de  Joathão  filho  d'  Ozias.  JVI. 

31  O  refto  das  acções  de  Facée,  e  ^nf^^g 
tudo  o  que  elle  fez,  eftá  efcrito  no  Li-  J.chr. 
vro  dos  Annaes  dos  Reis  d'Ifrael.  7?P- 

32  No  anno  fegundo  de  Facée  fi-  Anno 

lho  de  Romelia  Rei  d'lfrael,  começou  do  M, 

a  reinar  Joathão  filho  d' Ozias  Rei  de 

Tl         ^  anr.  dc 

^      •     DM      •  ,       ■  r  J-Chr. 

33  Lile  tinha  vmte  e  finco  annos  758. 

quando  começou  a  reinar,  e reinou  dez- 
efeis  annos  emjerufalem.  Sua  mai  cha- 
mava-fe  Jerufa  ,  e  era  filha  de  Sadoc. 

34  E  elle  fez  o  que  era  agradável 

ao 

(^h)  E  tranfportou  todos  os  feus  habitantes  para 
a  AJfyria.  Talvez  para  povoar  com  eftes  novos  co- 
lonos as  Cidades,  c  Províncias  da  AíTyria ,  que  Ar- 
báccs ,  e  Belefo  com  as  guerras  contra  Sardanapá- 
lo  tinhÃo  dcixadg  mui  faltas  dc  gente.  Pekeira. 


3x8  Reis. 

ao  Senhor  ,  e  procedeo  em  tudo  como 
tinha  feito  Ozias  feu  pai. 

35  Elie  todavia  não  deftruio  os  Al- 
tos :  porque  ainda  o  Povo  íacrificava 
nos  Altos  5  e  queimava  nelles  incenfo. 
Elie  foi  o  que  edificou  a  mais  alta  por- 
ta da  cafa  do  Senhor. 

36  O  refto  das  acções  de  Joathao, 
e  tudo  o  que  elle  fez  ,  eftá  efcrito  no 
Livro  dos  Annaes  dos  Reis  de  Juda. 

37  Nefte  mefmo  tempo  começou  o 
Senhor  a  enviar  contra  Juda  a  Rafin  Rei 
de  Syria,  e  a  Facée  filho  de  Romelia, 

38  E  Joathao  adormeceo  com  feus 
pais,  e  foi  fepultado  com  elles  na  Ci- 
dade de  David  :  e  em  feu  lugar  reinou 
feu  filho  Accáz. 


L  I  V  K  o   IV.  319 


CAPITULO  XVI. 

Accdz  fe  entrega  ao  culto  dos  idolos,  He 
cercada  em  Jerufalem  por  Raftn ,  e  por 
Facée,  Chama  em  feu  foc corro  aThegla- 
thfalafar.  Manda  lenjantar  em  Jerii^ 
falem  hum  Altar  como  o  de  Damafco* 
Morre,  Succede4he  Ezequias. 

I  IVT  Oanno  decimo  fetimo  de  Fa-  Anno 
1>1  cée  filho  d'Romelia  ,  fubio  ^^^5^- 
ao  throno  Accáz  filho  de  Joathão  Rei  ant.de 
dejuda.  J.Chr. 
2    ( )  EUe  tinha  vinte  annos ,  quan-  742* 

do 

( ^ )  Elie  tinhd  vinte  annos  ,  quando  começou  a 
reinar,  ó'c.  Se  Accáz  tinha  vinte  annos,  quando 
começou  a  reinar  ,  e  não  rciiiou  fenáo  dezcfeis  , 
logo  Accáz  ao  todo  íó  viveo  trinta  e  feis  annos. 
Ora  Ezequias  filho  ,  c  fucceíTor  d'  Accáz  começou 
a  reinar  de  vinte  e  finco  annos.  (  Cap.  XVIII.  verf. 
I.)  De  trinta  c  feis  tirando  vinte  e  finco  ,  ficáo 
onze.  Logo  Accáz  quando  gérou  a  Ezequias ,  ape- 
nas tinha  entrado  nos  onze  annos.  Para  elidirem 
cfta  dificuldade  ,  excogitáráo  huns ,  que  Ezequias 
náo  era  filho  natural  d"  Accáz  ,  mas  adoptivo  :  ou- 
tros, que  entre  a  morte  de  Accáz,  e  o  reinado  dc 
Ezequias  houvera  interregno  d' alguns  annos.  Tu- 
do hypothcfcs  arbitrarias  ,  e  fcm  fundamento  :  c 
iíko  porque  náo  fc  advertio ,  que  o  gerar  hum  hor 


310  Reis. 

do  começou  a  reinar ,  e  reinou  dezefeis 
annos  emjerufalem.  Nao  fez  o  que  era 
agradável  na  prefença  do  Senhor  feu 
Deos  j  como  David  feu  pai : 

3  mas  andou  pelo  caminho  dos  Reis 
d'Ifrael,  e  até  confagrou  feu  filho,  fa^ 
zendo-o  paíTar  pelo  fogo,  {b)  fegundo 
a  idolatria  das  gentes  ,  que  o  Senhor 
tinha  deftruido  na  entrada  dos  filhos  d* 
Ifrael. 

4  Immolava  também  viflimas ,  e  of- 

fe- 

mem  cm  idade  dc  onze  annos  a  outro  homem , 
tanto  não  excede  as  forças  da  natureza ,  que  ante* 
moftra  a  experiência  ter  fuccedido  muitas  vezes. 
Os  teftemonhos ,  ou  exemplos  diíTo  podem-fc  ver 
em  Bochart  na  DiíTertaçáo  que  febre  o  prefente 
lugar  dos  Reis  dirigio  a  Mr.  Carboncllo  ,  e  que  an- 
da  entre  os  fcus  Opufculos  no  fim  da  grande  obra 
Fdleg  :  onde  allega  com  S.  Jeronymo  na  carta  a 
Viial  :  com  o  Canon  ,  Quod  intra  ,  Caufa  XX. , 
Qucftáo  I.  com  Tiraquello ,  Navarro,  Efcaligcro, 
c  outros  muitos.  Pereira. 

Segundo  a  idolatria  das  gentes^  <ò*c.  Segun- 
do a  idolatria  dos  Cananeos  ,  que  immolaváo  feus 
filhos  ao  Ídolo  Moloch ,  fazendo-os  paííar  pelo  fo- 
go até  ferem  confumidos:  barbaridade  que  da  ter- 
ra de  Canaan  introduzirão  os  Fenícios  na  Africa, 
e  que  fe  praticou  em  Carthago  até  o  tempo  de  Ti- 
bério ,  como  aííirma  Tertuliano  no  feu  Apologéti- 
co. PfREIRA. 


Liv.  IV,    Cap.  XVI.  321 

fcrccia  incenfo  nos  Altos  ,  nos  outei- 
ros ,  e  debaixo  de  toda  a  arvore  fron- 
dofa. 

5:  Então  vierão  RafinRei  deSvria, 
e  Facée  filho  de  Romelia  Rei  d'  ífrael 
pôr  cerco  a  Jerufalem  :  e  tendo  cerca- 
do a  Accáz,  não  o  pudéráo  vencer. 

ó    Nefte  melmo  tempo  Raíin  Rei  Anno 
da  Syria  tornou  a  conquiftar  a  Aila  da  ào  M. 
Syria,  e  lançou  fora  de  Aila  os  Judeos :  ^^^^^^ 
e  os  Idumeos  vierão  para  Aila^  e  habi-  j.  chr. 
tárão  alli  até  o  dia  d' hoje.  741, 

7  Mas  Accáz  mandou  Embaixado-  Atino 
res  aTheglathfalafar  Rei  dosAíTyrios,  do  M. 
que  lhe  diílcíTem  da  fua  parte :  Eu  fou  j^^'^^^ 
teu  fervo  ^  e  teu  filho  :  vem  falvar-me  cj^^ 
da  mão  de  Rafin  Rei  de  Syria ,  e  das  740. 
mãos  do  Rei  d' ífrael  ,  que  fe  alliárao 
contra  mim. 

8  E  tendo  ajuntado  a  prata ,  e  ou- 
ro 5  que  fe  pode  achar  na  cafa  do  Se- 
nhor 5  e  nos  thefouros  do  Rei ,  fez  de 
tudo  prefente  ao  Rei  dos  AíTyrios. 

9  E  como  efte  condefcendeífe  com 
o  que  Accáz  lhe  pedia ,  veio  fobre  Da- 
mafco,  arrazou  a  Cidade  ,  tranfporrou 

Tom.  VI.  X  os 


Reis.  / 

os  moradores  para  Cyrene  ,  e  matoa  a 
Rafin. 

10  E  fahio  o  Rei  Accáz  a  encon- 
trar-fe  em  Damafco  com  Theglarhfala- 
far  Rei  dos  AíTyrios  ;  e  como  vilTe  o 
Altar  que  havia  em  Damafco,  mandou 
ao  Pontífice  Urias  hum  modelo  ,  que 
reprefentava  exaftamente  toda  a  obra. 

11  E  o  Pontífice  Urias  fez  hum  Al- 
tar em  tudo  femelhante  ao  de  Damaf- 
co ,  conforme  a  ordem  que  lhe  tinha 
dado  Accáz  ,  efperando  que  efte  Rei 
voltaífe  de  Damafco. 

12  E  depois  que  veio  de  Damafco, 
vio  o  Rei  efte  Altar  ,  e  o  venerou  ,  e 
foi  immolar  nelle  holoeauflos  ,  e  o  feu 
facrificio : 

13  e  fez  oblações  de  licores  5  e  der- 
ramou o  fangue  das  hoftias  pacificas, 
que  tinha  oíFerecido  no  Altar. 

14  E  o  Altar  de  bronze,  que  efta- 
va  na  prefença  do  Senhor  ,  o  tranfpor- 
tou  de  diante  do  Templo  ,  e  do  lugar 
do  Altar  5  e  do  lugar  do  Templo  do  Se- 
nhor :  e  o  poz  ao  lado  do  Altar  para  o 
fetentrião. 

Ou- 


Liv.  IV.    Cap.  XVÍ.  323 

15'  Outrofi  dco  o  Rei  Accáz  efta 
òrdem  ao  Pontífice  Urias  :  Tu  offerece- 
rás  fobre  o  Altar  mor  o  holocaufto  da 
manhã  ,  e  o  facrificio  da  tarde  :  o  ho- 
locaufto do  Rei ,  e  o  feu  facrificio  :  o 
holocaufto  de  todo  o  Povo,  os  feus  fa- 
crificios  5  e  as  fuas  libações :  e  derrama- 
rás fobre  efte  Altar  todo  o  ícingue  dos 
holocauftos ,  e  todo  o  fangue  das  vifti- 
rnas.  E  no  tocante  ao  Altar  de  bron- 
ze j  refervo  para  mim  difpôr  delle  á  mi- 
nha vontade. 

16  Em  tudo  pois  executou  o  Pontí- 
fice Urias  as  ordens,  que  o  Rei  Accáz 
lhe  tinha  dado. 

17  Tirou  também  o  Rei  Accáz  as 
bafes  entalhadas,  c  a  bacia  que  eftava 
em  fima.  E  tirou  o  mar  de  fima  dos  bois 
de  bronze  que  o  foftinhão,  e  poUo  fo- 
bre o  pavimento  do  Templo  ,  que  çra 
de  pedra. 

18  Tirou  outrofi  (c)  a  tribuna  do 

X  ii  Sab- 
(c)  Â  tribuna  do  Sahbado ,  éc.  Ifto  hc  ,  a  jii- 
buna  donde  os  Reis  coftumaváo  aíliftir  ás  funçqcs 
do  Templo  nos  dias  dc  Sabbado.  E  Ke  d'  adver- 
tir ,  que  o  nome  Mufach  ,  que  o  Author  da  Vttl- 
gata  confervou  a^ui  do  Hebreo  j  Saci ,  c  Pc  Çw- 


514  Reis. 
Sabbado  ,  que  fe  tinha  mandado  f^zer 
tio  Templo  ;  e  em  lugar  do  palTadiço 
exterior  por  onde  o  Rei  hia  para  o  Tem- 
plo ,  fez  hum  por  dentro  ,  (^)  e  ifto 
por  caufa  do  Rei  dos  Aííyrios. 

19  O  mais  das  acções  d'Accáz  eftá 
efcrito  no  Livro  dos  Annaes  dos  Reis 
de  Juda. 

20  E  adormeceo  Accáz  com  feus 
pais,  e  foi  fepultado  com  elles  na  Ci- 
dade de  David :  e  em  feu  lugar  reinoií 
feu  filho  Ezequias. 


GA- 

íieres  feguindo  a  Vatablo  ,  o  expõe  do  toldo ,  que 
defendia  do  Sol  o  lugar  do  arrio  do  Templo ,  on- 
de ou  o  povo  fe  ajuntava  ,  ôu  os  Sacerdotes  dcf- 
cançaváo.  Eu  fe^ui  a  Calmet ,  e  a  Le  Gros ,  que 
traduzem  Mufach  por  tribuna  ,  como  antes  o  ti- 
rihão  já  entendido  outros  hábeis  Efcriturarios.  É 
nefta  mefma  accepçáo  parece  que  tomáráo  os  Se- 
tenta o  nome  de  Àíafach ,  quando  lhe  fubftituíráo , 
fundamentam  cathedrae  ^  a  bafe  da  cadeira.  Pereí- 

KA. 

{dy  E  ifto  por  caufa  do  Rei  dos  AJfyrios.  Ao 

2 Uai  elle  temia  defa gradar  ,  adorando  o  Senhor, 
>É  Cakriekes» 


Livro   IV.  325: 


CAPITULO  XVII. 

Cerco  de  Samaria  por  Salmanafar,  He  to- 
mada a  Cidade  ,  e  os  Ifraelitas  tranf 
portados  d  AJJyria.  Colónias  mandadas 
para  Samaria  em  lugar  dos  IJraelitas. 

I  (^a)  "l^T  O  anno  duodécimo  d'Ac-  Anuo 
cáz  Rei  de  Juda  reinou  ^* 
em  Samaria  fobre  Ifrael  Ofée  filho  d'  l^^^ç 
Ela  ,  e  o  feu  reinado  foi  de  nove  annos.  J.  chr. 

2  Eelle  obrou  o  mal  diante  do  Se-  750- 
nhor,  (^b)  mas  nao  como  os  Reis  d'If- 
i-a^Ij  que  o  tinhão  precedido. 

3  {c)  Contra  elle  marchou  Salma-  Anno 

na-  <Jo 

(^)  No  amo  duodécimo  d'  Accãz^  é-c.  Parece 
que  fe  devia  efcrevcr,  no  anno  decimo  quarto:  por-  q 
que  Accáz  reinou  dczefeis  annos  :  (Cap.  XVI.,  7^^' 
verfo  2.)  e  no  Cap.  XVIII. ,  verfo  i.  Te  verá  que 
Ofce  náo  eftava  ainda  fenáo  no  terceiro  anno  do 
feu  reinado  ,  quando  Ezequias  fuccedeo  a  feu  pai 
Accáz.  De  Vancb. 

( /> )  Mas  não  como  os  Heis  Ifrael ,  é^c  Por- 
que (onforme  dizem  os  Rabbinos  na  fua  chroni- 
ca  ,  SederOiâo  ,  efte  Rei  Ofce  confentio  que  o  Po^ 
vo  foíTe  a  Jerufalem  adorar  lá  o  verdadeiro  Deos. 
Pereira. 

Çc)  Contra  elle  marchou  Salmanajar  ^  &ç»  Rei 


^t6  Reis, 

naíar  Rei  dos  AíTyrios  5  e  Ofçe  ficou 
fendo  fervo  delle  ,  e  lhe  pagava  tri^ 
buto. 

Anno      4    Mas  tendo  o  Rei  dos  AíTyrios 
do  M.  defcoberto ,  que  Ofée  andava  com  pen- 
anZde  ^^^^^"^^s  de  fe  rebellar ,  e  que  para  fe 
J.  Chr.  livrar  do  tribqto  que  lhe  pagava  todos 
7^5-    os  annos  ^  tinha  mandado  Embaixado- 
res a  Sua  Rei  do  Egypto ,  cercou-o ;  e 
depois  de  o  colher  ás  mãos ,  o  mandou 
amarrado  metter  n'uma  prizão. 

5*  Tinha  Salmanafar  feito  varias  cor^ 
rerias  por  todo  o  paiz ;  e  chegado  que 
foi  a  Samaria ,  elie  a  teve  cercada  tres 
annos. 

Anno      6    Mas  noanno  nono  d'Ofée  tomou 

do  M.  o  P\ei  dos  AíTyrios  Samaria,  (d)  etranf» 

ant.de  Ifraelitas  para  a  AíTyria,  (e) 

J.Ghr,  e 

7^'?  dos  AíTyrios  ,  immediato  fucccííor  do  Theglathfa^ 
lafar,  a  quem  o  Profeta  Ofeas  chama  fimplesmen- 
te  Salman  ,  e  p  Texto  Grego  de  Tobias  Enemef". 
fãr,  Calmet. 

(^)  E  tratifportcu  os  Ifraelitas  para  a  -AByria. 
Aílim  <e  acabou  o  Reino  d' Ifrael  ,  depois  de  ter 
fubfiíliJo  duzentos  e  íincoenra  c  quatro  annos  def- 
de  Jeraboáo  até  Oíée.  Pereira. 

(e)  E  os  poz  em  Halãy  e  Habor,  Cidades  do& 
Médos,  Lo^Q  ainda  cntáo  eítaváo  os  Médos  íujei- 


Liv.  IV.    Cap.  XVII.  317 

e  €S  poz  em  Hala,  e  Habor,  Cidades 
dos  Medos,  perto  do  rio  Gozan. 

7  E  ifto  foi  porque  os  filhos  d'If- 
rael  tinhao  peccado  contra  o  Senhor  feu 
Deos ,  que  os  tinha  tirado  do  Egypto  , 
e  do  poder  de  Faraó  ,  Rei  do  Egypto, 
e  tinhao  adorado  deofes  eftranhos. 

8  Elles  vivião  fegundo  os  coftumes 
das  gentes ,  que  o  Senhor  tinha  exter- 
minado na  entrada  dos  filhos  d'Ifrael, 
e  fegundo  os  coftumes  dos  Reis  d'  If- 
rael,  que  tinhao  imitado  as  gentes. 

9  Tinhao  os  filhos  d'Ifrael  ofiendi- 
do  o  Senhor  feu  Deos :  c  tinhao  edifi- 
cado Altos  em  todas  as  fuas  Cidades, 

des 

tos  aos  Reis  AfTyrios.  Como  pódc  eílar  ifto  po- 
rém com  o  que  dilTcmos  nas  Notas  ao  Capitulo 
XV.  ,  que  vencido  Sardanapálo  por  Arbáces  ,  fun- 
áou  efte  fobrc  as  ruinas  do  Império  AfTyrio  o  Reino 
dos  Médos?  Refponde-fe:  que  ou  oEfcritor  fagra- 
do  3  quando  reduzio  eftas  Cidades  á  Media ,  confi- 
derou  a  Media  t)zo  como  eftava  em  tempo  deSal- 
manafar,  mas  como  eftava  em  feu  tempo:  ouSal- 
manafar  as  tinha  novamente  recuperado  com  outras 
daquella  Kegiáo.  O  que  também  fc  pôde  prefumir 
daquellas  do  Reino  de  Babylonia,  que  fe  mencio- 
náo  no  verfo  2^  ,  as  quaes  o  mefmo  Salmanafar 
tcrU  tomado  a  Beléfo.  Psrpira. 


328  Reis. 

des  da  torre  dos  guardas  até  ás  Cidades 
fortes. 

10  Tinhâo  também  levantado  efta- 
tuas ,  e  pofto  Bofques  em  todos  os  mais 
altos  outeiros  5  e  debaixo  de  todas  as 
arvores  copadas. 

11  Alli  queimavão  incenfo  fobre  os 
Altares ,  á  maneira  das  gentes  ,  que  o 
Senhor  tinha  exterminado  na  entrada 
delles:  e  commettiao  acções  criminofifr 
Umas  com  que  irritavão  o  Senhor. 

12  Adoravão  aquellas  melmas  abo- 
minações 5  que  o  Senhor  expreflamente 
lhes  tinha  prohibido ,  que  não  fizeíTen-t. 

13  O  Senhor  muitas  vezes  tinha 
feito  os  feus  proteftos  em  Ifrael ,  e  eni 
Juda  por  todos  os  feus  Profetas,  e  Vi- 
dentes y  e  lhes  tinha  dito  :  Deixai  os 
voíFos  caminhos  corrompidos,  e  voltai 
para  mim:  guardai  os  meus  preceitos, 
e  as  minhas  ceremonias  ,  conforme  to- 
das as  Leis  que  eu  prefcrevi  a  voíTos 
pais  ,  e  fegundo  eu  vo-lo  tenho  declar 
rado  pelos  Profetas  meus  fervos  ,  que 
çu  vos  enviei. 

14  Elles  o  não  tinhâo  querido  oiir 


Liv.  IV.    Cap.  XVII.  329 
vir :  mas  a  fua  cabeça  fe  tinha  feito  du- 
ra, e  inflexivel,  como  as  de  feus  pais, 
que  não  haviao  querido  obedecer  ao 
Senhor  feu  Deos. 

15-  Tinhão  rejeitado  as  fuas  Leis, 
e  opâfto  que  elle  fizera  com  feus  pais, 
como  também  todas  as  reprefentaçoes , 
que  elle  lhes  mandara  fazer.  Tinhão 
corrido  apôs  as  fuas  vaidades ,  e  obra- 
do vãmente  ,  fegumdo  as  Nações  de 
que  eftavão  rodeados ,  não  obllante  ter- 
lhes  o  Senhor  defendido  expreflamente , 
que  não  fizelTem  o  que  ellas  faziãu. 

16  Tinhão  abandonado  todas  as  or- 
denações do  Senhor  feu  Deos  :  tinhão 
feito  para  fi  dous  bezerros  fundidos :  ti- 
nhão plantado  grandes  Bofques  :  tinhão 
adorado  todos  os  aftros  do  Ceo  ,  e  ti-^ 
nhão  fervido  a  Baal. 

17  Elles  facrificavão  feus  filhos  ,  e 
fuas  filhas  pelo  fogo:  davão-fe  a  adivi- 
nhações, e  agouros,  e  fe  entregavão  a 
muito  más  acções  ,  que  commettião  dian-  . 
te  do  Senhor  ,  de  forte  que  o  irritáriía 

18  Indignado  pois  grandemente  o 
Senhor  contra  Ifrael  ,  os  rejeitou  de 

diaa- 


ajo  Reis. 

diante  da  fua  face ,  (/)  e  não  ficou  fe- 
não  fomente  a  Tribu  de  Juda. 

19  Mas  nem  elfa  mefma  Tribu  de 
Juda  guardou  os  mandamentos  do  Se- 
nhor feu  Deos  :  antes  pelo  contrario 
andou  nos  erros  ,  e  defcaminhos  d'lf- 
rael : 

20  de  forte  que  o  Senhor  abando- 
nou a  toda  a  linhagem  dlírael :  elle  os 
affligio,  e  os  deo  em  preza  aos  que  os 
tinhâo  vindo  esbulhar ,  até  que  de  todo 
Ds  lançou  da  fua  prefença. 

21  Começou  ifto  des  do  tempo  que 
Ifrael  fez  cifma  ,  e  fe  feparou  da  cafa 
de  David  ,  e  elles  conftituírão  por  feu 
Rei  a  Jeroboão  filho  deNabat;  porque 
Jeroboão  feparou  Ifrael  do  Senhor  ,  e 
os  fez  cahir  n'am  grande  peccado. 

22  Ao  depois  andarão  os  filhos  d' 
Ifrael  em  todos  os  peccados  de  Jero- 
boão, e  não  fe  apartarão  delles, 

A        23    até  que  em  fim  repelio  o  Senhor 

a 

(/)  E  não  ficou  fenão  fomente  a  Tribu  de  Juda, 
Com  a  dc  Levi ,  e  a  cie  Benjamim ,  as  quaes  tcn- 
do-fe  unido  á  de  Juda  ,  faziáo  com  cila  hum  fó 
corpo.  De  Carri Ei^ES. 


Liv.  IV.    Cap.  XVII. 

alfrael  de  diante  dafua  face,  como  el- 
le^inha  predito  por  todos  os  Profetas 
feus  fervos  ,  e  foi  Ifrael  transferido  do 
feii  paiz  para  aAíTyria,  como  ainda  ho- 
je eílá. 

24    Ora  o  Rei  dos  AlTyrios  fez  vir  Annò 
gente  de  Babylonia  ,  de  Cutha ,  d'Avah  , 
d'Emath  ,  e  de  Séffarvaim  ,  e  os  poz  ant.  dc 
nas  Cidades  de  Samaria  em  lugar  dos  ].  Chr. 
filhos  d' Ifrael.  E  elles  pofíiiírão  a  Sa-  ^77^ 
maria ,  e  povoarão  as  fuas  Cidades. 

2^  Qiiando  elles  tmhao  começado 
a  habitar  nellas  ,  como  não  temião  o 
Senhor,  o  Senhor  mandou  contra  elles 
leôes,  que  os  matavão. 

26  E  avisarão  difto  ao  Rei  dosAf- 
fyrios  ,  dizendo  :  Os  Povos  quetutrans- 
ferifte  para  Samaria  ,  e  que  mandafte 
que  habitaíFem  nas  fuas  Cidades,  igno- 
rão  o  modo  como  o  Deos  defte  paiz 
quer  fer  adorado  :  e  efte  Deos  man- 
dou contra  elles  leões  ,  que  os  matão, 
porque  elles  não  fabem  dc  que  mo- 
do o  Deos  defta  terra  quer  fer  adora- 
do. 

^7    Então  lhes  deo  o  Rei  dos  Af- 


33^  Reis. 
fyrios  efta  ordem  ,  e  lhes  diíTe  :  (g) 
Mandai  para  Samaria  hum  dos  Sacer- 
dotes 5  que  vós  de  lá  trouxeftes  cativos  : 
que  vá  ,  e  que  fique  com  eftes  Povos, 
para  lhes  enfinar  o  culto  ,  que  fç  deve 
dar  ao  Deos  do  paiz, 

28  Tendo  logo  vindo  hum  dos  Sa- 
cerdotes, que  tinhão  fido  levados  cati- 
vos de  Samaria  ,  ficou  efte  vivendo  em 
Bethel  ,  {b)  Q  efte  lhes  cnfinava  o  mo- 
do como  devião  honrar  o  Senhor. 

De- 

(^)  Mandai  pira  Samaria  hum  dos  Sacerdotes , 
^'C.  AJíim  a  Vulgata :  Dudte  illuc  unum  de  Sacer- 
dotihus . . . .  eí^  v^dat ,  ò'  habitet  cum  eis ,  eb^c .  Ma$ 
o  Hebreo  ,  e  Caldeo ,  e  os  Setenta  dizem :  Dedu^ 
cite  quendam  de  Sacerdotibus , , <â^  eant  ,  ^  fe^ 
dcant  ibi.  Mandai  para  Samaria  hum  dos  Sacerdo" 
les  :  vá  elle  coni  outros ,  c  fiquem  iá ,  8cc.  Foráo 
logo  mais  do  que  hum  ;  mas  nomea-fe  fó  hum, 
porque  efte  era  o  principal  ,  que  governava  fobrc 
os  outros.  Calmet. 

(/;)  E  efte  lhes  en finou  o  medo  como  ^  é^c.  Def^ 
te  verfo ,  e  dos  feguintcs  fe  pôde  conhecer ,  qual 
foi  o  principio  dos  Samaritanos  ,  em  quanto  con- 
trapoftos  aos  ]udtos  ;  e  donde  entre  eftas  duasNa^ 
çóes  procedeo  a  variedade  em  pomos  de  Religião , 
c  Difciplina.  O  Sacer  jotc  ]udeo  que  os  veio  inCp 
uuir  no  culto  divino  ,  lhes  entregou  também  os 
Livros  de  Moyfés  efcritos  nos  mefmos  caraflcres , 
em  que  cllcs  tinhíio  fido  efcritos  originariamente , 


Liv.  IV.    Cap.  XVII. 

29  Depois  cada  hum  deftes  Povos 
forjou  para  íi  feu  Deos  ^  e  os  pozerão 
nos  Templos  dos  Altos,  que  os  Sama- 
ritanos tinhío  edificado  :  cada  Nação 
poz  o  feu  na  Cidade,  onde  habitava. 

30  (/)  Porque  os  Babylonios  fize- 
tao  o  feu  Socoth-benoth  :  (fe)  os  Cu- 
theos  o  feu  Nergel:  (/)  os  d'Emath  o 
feu  Afima: 

os 

ifto  he ,  nos  antigos  caracteres  ííebreos ,  ou  Fení- 
cios, que  eráo  os  da  língua  da  terra  em  que  viviáo. 
Os  Judeos  pelo  contrario  ,  como  pelo  tempo  do 
cativeiro  de  Babylonia  viviáo  entre  Caldeos ,  infen- 
fivclmente  foráo  mudando  0$  antigos  caracteres  Hc- 
breos  pelos  Caldeos.  Daqui  nafceo  a  diHèrença 
que  ha  entre  o  Pentateuco  Samaritano  ,  e  o  Ju- 
daico. Pereira. 

(H  Porque  os  Babylonios  fzerão  o  feu  Sacoth- 
hetwtf)  ,  eb-f.  Que  em  Hebrco  foa  o  mefmo  que 
Tendas  das  donzellas  :  nome  com  que  na  opinião 
de  Grocio ,  e  d'  outros  hábeis  Interpretes  ,  quiz  a 
Efcritura  íigniíicar  os  lugares  onde  as  donzellas  pu- 
blicamente fe  proítituiáo  á  honra  da  deofa  Mylit- 
ta ,  conforme  dos  Babylonios  attcfta  Heródoto  no 
Livro  I.,  Cap.  CXCIX.  Pereíra. 

(^)  Os  Cutheos  o  feu  Nergel,  Ifto  he,  confor- 
IDC  o  mcfmo  Grocio  com  alguns  Rabbinos ,  o  fí- 
mulacro  d'  huma  deofa  em  fórma  de  gallinha.  Pe- 
reira. 

(  / )  Oí  íi'  Emiti) ,  o  feu  Jfima,  Ifto  hc ,  confor- 


334  Rei  s. 

31  ( ;^ )  os  Hcveos  fizerâo  o  feu  Ne- 
bahaz  ,  e  o  feu  Tarthac.  Os  de  SéiFar- 
vaim  porém  fazião  paffar  feus  filhos  pelo 
fogo,  e  os  qucimavão  (n)  Qtn  honra  d* 
Adramélech  ,  e  d'Anamélech  ,  deofes 
de  SélFarvaim. 

32  Entretanto  não  deixavâo  eftes 
Povos  d'  adorar  o  Senhor.  EUes  efco- 
Ihião  os  ínfimos  do  Povo  para  os  fazer 
Sacerdotes  dos  feus  Altos,  e  eftes  offe- 
recião  os  feus  facrificios  neftes  Tem- 
plos. 

33  E  ainda  que  elles  adoraíTem  o 
Senhor ,  elles  ao  mefmo  tempo  fervião 
aos  feus  deofes  a  moda  das  Nações ,  do 
meio  das  quaes  tinhão  fido  transferidos 
para  Samaria. 

34  {0)  Ainda  hoje  feguem  eftes  Po- 

vos 

me  os  Rabbinos ,  o  fimulacro  d'  hum  bode ,  ou  d" 
hum  fatyro.  Pere  ra. 

(  m  )  Os  Heveos  fizerao  o  feu  Nebahaz ,  e  o  feit 
T arthac.  Aqueile  em  figura  de  cáo ,  cite  em  figu- 
ra de  jumento.  Pereira. 

(^n)  Em  honra  á: Adramélech  ,  e  d' Anaméiech 
éx.  Em  honra  do  Sol ,  e  da  Lua  :  ambos  os  quaes 
aftros  os  Orienraes  adoraváo  em  figura  do  fcxo 
mafculino.  Pereira. 

(0)  ^indahaje  feguçm  ejles  Pow^  &ç,  M«ir 


Liv.  IV.    Cap.  XVII. 

Yos  OS  feus  antigos  coftumes :  elles  náo 
temem  o  Senhor  ,  não  guardao  as  fuas 
ceremonias  ^  nem  as  fuas  ordenações, 
nem  as  fuas  leis,  nem  os  preceitos  que 
elle  deo  aos  filhos  de  Jacob  ,  que  elle 
por  fobrenome  chamou  Ifrael : 

35"  com  os  quaes  elle  tinha  contra- 
tado r.  lua  alliança  ,  dando-lhes  efte  man- 
dametito  expreífo  :  Guardai-vos  de  re- 
verenciar os  deofes  eftrangeiros ,  de  os 
adorar,  de  os  fervir,  e  de  lhes  facrifi- 
car : 

36  mas  rendei  todos  elles  officios 
20  Senhor  voíTo  Deos  ,  que  vos  tirou 
do  Egypro  por  grande  poder,  e  a  bra- 
ço cftendido:  a  elle  temei,  a  elle  ado- 
rai, a  elle  oíFerecei  os  voíTos  facrificios. 

Guar- 

tos ,  e  bons  Commentadorcs  entendem  dos  Ifraeli- 
tas  efte  vcrfo ,  e  os  feguintes.  Elle  parece  que  no 
Hebreo  ha  confusão  ,  ou  Falta.  E  com  cííeito  o 
Syriaco  diz :  Ora  os  filhos  d'  Ifrael  forão  transferi' 
dos  fora  da  fua  terra  até  o  prcfente  dia.  pcrque  fc- 
guião  os  fcus  priív.eiros  cojiumes :  elles  mo  temião  o 
Senhor  ,  e  nâo  ohvavão  fegundo  os  feus  eftatutos , 
nem  fecundo  as  fuas  ordenações,  nem  fegundo  a  lei  ^ 
nem  fegundo  o  preceito  ,  que  o  Senhor  dera  aos  filhos 
de  Jacob ,  a  quem  elle  por  fobrenome  chamou  IfraeL 
Dt  Car?xíeres«- 


33^  Reis. 

37.  Guardai  as  fuás  ceremonias  ,  as 
fuás  ordenações ,  as  íuas  leis ,  e  os  pre- 
ceitos que  elle  vos  deo  por  efcrito :  ob- 
fervai-as  todos  os  dias  da  voíTa  vida,  e 
não  tenhais  medo  algum  dos  deofes  ef- 
trangeiros. 

38  Não  vos  efqueçais  nunca  da  al- 
liança  ,  que  elle  fez  comvofco  ;  e  não 
honreis  deofes  ellrangeiros. 

3  9  Mas  temei  o  Senhor  voflb  Deos ; 
e  elle  ferá  o  que  vos  livre  do  poder  de 
todos  os  voíTos  inimigos. 

40  {p)  Entretanto  elles  não  o  ou- 
virão ,  mas  feguírão  os  feus  antigos  cof- 
tumes* 

Af. 

(  p  )  Entretanto  elles  não  o  ouvirão ,  Se  con- 
forme a  Nota  precedente  fe  applicarem  aos  Ifrae- 
litas  os  verfos  que  precederão  ,  como  he  evideníc 
c|ue  fe  devem  applicar  :  cíle  verío  40.  he  huma 
eontinuaçáo,  e  confeqiiencia  delles:  e  íó  o  verfo 
41.  concerne  os  Póvos  eítrangeiros  ,  que  lhes  fo- 
ráo  fubftituidos.  O  gue  he  como  fe  a  Eícritura  dif- 
feíTc  :  Os  filhos  d'  Ifracl  nSo  ouvirão  a  voz  do  Se* 
iihor ,  mis  feguírão  os  feus  antigos  coflumes,  Poriffo 
tile  os  fez  levar  do  feu  Paiz.  Pelo  contrario  eftes 
Povos ,  que  forão  pofios  em  feu  lugar ,  temerão  o  Se- 
nhor y  mas  ao  mefno  tempo  feryirao  aos  Jeus~idolos  ^ 
ò'C,  De  Cariuer^s. 


Liv.  IV.  Cap.  XVlr.  337 
41  Aflim  eftes  Povos  temerão  o  Se- 
nhor,  mâs  ao  mefmo  tempo  fervírão  os 
feus  Ídolos :  porque  feus  filhos ,  e  feus 
netos  ainda  hoje  fazem  o  que  fizerão 
feus  pais. 

CAPITULO  XVIII. 

Ezequias  reftitue  o  culto  do  Senhor  d  fàa 
pureza,  Sennaquerib  fe  chega  a  Jerú" 
falem.  Difcurjos  ímpios  ,  e  amea-çado- 
res  de  Ráifaces  Official  de  Sennaque- 
rib, 

I  IVT  O  anno  terceiro  d'Ofée  filho  Anno 
1>  d' Ela  Rei  d'Ifrael  começou  J^^* 
a  reinar  Ezequias  filho  d'Accáz  Rei  de  ant.  de 
Juda.  J.  Chr. 

2  Elie  tinha  vinte  e  finco  annos  quan^  7-7« 
do  fubio  ao  throno  ,  e  reinou  vinte  e 
nove  annos  em  Jerufalem.  Sua  mai  cha- 
mava-fe  Abi  ,  e  era  filha  de  Zaeca^ 
rias. 

3  E  elle  fez  o  que  era  bom  ,  e  gra- 
to ao  Senhor  ,  fegundo  tudo  o  que  tih 
nha  feito  David  íeu  pai. 

4  Elie  deftruio  os  Altos  .  quebroa 
Tom.  VL  Y  as 


538  Réis. 
Amo  as  eftatuas  ,  deitou  abaixo  os  Bofques, 
•  e  fez  em  pedaços  a  ferpente  de  metal , 
am.  de  Movíés  tinha  fabricado  :  porque  os 
J.  Chr.  filhos  d'Ifrael  lhe  havião  queimado  in- 
7^^'  cenfo  até  então  ,  e  elle  a  chamou  No- 
héftan. 

5*  Elie  poz  a  fua  efperança  no  Se- 
nhor Deos  d'Ifrael  :  por  tanto  depois 
delle  não  houve  d' entre  todos  os  Reis 
de Juda  quem  lhe  foíTe  femelhante  y  bem 
aílim  como  o  nãa  tinha  havido  antes 
delle. 

'  6  Elle  fe  confervou  pegado  ao  Se- 
nhor 5  e  não  fe  apartou  dos  feus  cami- 
nhos; antes  obfervou  os  mandamentos, 
que  o  Senhor  tinha  dado  a  Moyfés. 

7  Por  iíTo  o  Senhor  era  com  efte 
Principe ,  e  elle  fe  conduzio  com  fabe- 
doria  em  todas  as  fuas  emprezas.  Elle 
facudio  também  o  jugo  do  Rei  dos  Af- 
fyrios  5  e  mo  quiz  mais  eftar-lhe  fu- 
jeito. 

8  Elle  deixou  bem  aflinados  do  feu 
ferro  os  Filiftheos  ,  perfeguindo-os  até 
Gaza  5  e  aflblou  as  fuas  terras  des  da 
torre  dos  guardas  até  ás  Cidades  fortes. 

No 


Liv.  IV.    Cap.  XVIIÍ. 

9  No  anno  quarto  do  Rei  Eze- 
quias ,  que  era  o  fetimo  anno  d'Oiée 
fiiho  d'Ela  Rei  d'Ifrael,  veio  Salmana- 
far  Rei  dos  AíTyrios  a  Samaria  ,  e  li- 


tiou-a  ^ 


10  e  tomou-a*  Porque  foi  tomada  Anno 
Samaria  a  cabo  de  tres  annos ,  no  fexto 
anno  d'Ezequias  ^  que  he  o  anno  nove- 

no  d'Ofée  Rei  d'lfrael.  J.  Chr^ 

11  E  o  Rei  dos  AíTyrios  tranfpor- 7^^* 
tou  os  Ifraelitas  para  a  AíTyria  ,  e  os 
fez  habitar  em  Hala,  e  emHabor,  Ci- 
dades dos  Médos  perto  do  rio  Gozan : 

12  porque  elles  não  tinhao  ouvido 
a  voz  do  Senhor  feu  Deos,  m^s  tinhao 
violado  a  fua  alliança  ;  enao  tinhao  nem 
ouvido,  nem  praticado  as  ordenações, 
que  Moyíes  fervo  do  Senhor  lhes  havia 
preferi  to. 

13  No  anno  decimo  quarto  do  Rei  y\nno 
Ezequias  (a)  veio  Sennaquerib  R.ei  do  M. 

Y  ii  dos 

anr.  dc 

(4)  Feio  Sennaquerib ,  Rcl  dos  j^Jfyrios  ,  <ò'C,  yi^^ 
Debaixo  do  mcfmo  nome  tratão  delle  Heródoto 
no  Livro  XI. ,  Cap;  CXLÍ. ,  e  Berofo  citado  por 
Jofc  no  Livro  X.  das  Antiguidades  Judaicas ,  Cap, 
L  Fereira« 


34^  Reis. 

dos  AíTyrios  atacar  todas  as  Cidades 
fortes  de  Juda ,  e  as  tomou. 

14  Então  mandou  Ezequias  Rei  de 
Juda  Embaixadores  ao  Rei  dos  AíTyrios 
aLaquis,  e  lhe  diíTe:  Eu  tenho  cahido 
em  falta  :  mas  retira-te  tu  de  fima  das 
minhas  terras ,  e  eu  foíFrcrei  tudo  o  que 
tu  me  impozeres.  O  Rei  pois  dos  Af- 
fyrios  ordenou  a  Ezequias  Rei  de  Ju- 
da ,  que  lhe  déíTe  {b)  trezentos  talen- 
tos de  prata  j  {c)  e  trinta  talentos  d' 
ouro. 

15-  E  Ezequias  lhe  deo  toda  a  pra- 
ta que  fe  achou  na  cafa  do  Senhor  ^  e 
nos  thefouros  do  Rei. 

ló  Nefta  occaíião  defpregou  Eze- 
quias das  duas  meias  portas  do  Tem- 
plo do  Senhor  as  chapas  d' ouro  ,  de 
que  elle  mefmo  as  tinha  forrado  ,  {d) 
e  deo-as  ao  Rei  dos  AtTyrios. 

En- 

(^)  Trezentos  talentos  de  prata  ,  &c.  Que  fa- 
zem perto  de  milhão  e  meio  de  libras  de  França. 
De  Carrieres. 

{c)  E  trinta  talemos  d' ouro.  Que  fazem  perto 
de  dous  milhões  e  noventa  mil  libras.  De  Car- 

HlERRS. 

E  deo-as  ao  Rd  dos  JJlyrios.  Sem  dúvida 


Liv.  IV.    Cap.  XVIIL  341 

17  Entretadto  o  Rei  dos  Aflyrios 
enviou  a  Tharthan,  e  a  Rablaris,  e  a 
Rábfaces  ,  de  Laquis  a  Jerufalem  ao 
Rei  Ezequias  com  hum  grande  numero 
de  gente  de  guerra,  que  tendo  chega- 
do a  Jei-ufalem  ,  fizerao  alto  ao  pé  do 
aquedufko  do  tanque  fuperior,  que  eftá 
no  caminho  do  campo  do  lavandeiro; 

18  e  diíTerao  que  queriao  fallar  ao 
Rei.  Forão  ter  com  elles  Ehacim  filho 
d'HeIcias  Mordomo  Mor  da  cafa  dò 
Rei,  Sobua  Secretario  d'Elkdo,  ejoa- 
hé  ííiho  d' Afat  Choronifta  Mor. 

19  E  Rábfaces  lhes  diíTc  :  Ide  di- 
zer a  Ezequias  :  Eis-aqui  o  que  diz  o 
grande  Rei ,  o  Pvei  dos  AlTyrios :  Que 
confiiaiiça  he  efta  que  tu  tens  ? 

20  Acafo  tomafte  tu  a  refoluçâo  de 
te  preparares  para  a  batalha  ?  Mas  em 
que  confias  tu  para  ufiires  refiftir-me  ? 

21  Será  no  bordão  do  Rei  doEgy- 
pto?  EíTe  naohe  mais  do  que  huma  ca- 
na rachada,  que  fe  alguém  íe  firma  fo- 
bre  ella,  ella  fe  quebrará,  e  lhe  entra- 

ra 

para  completar  a  fomma  de  talentos  ,  a  que  náo 
chegava  o  cabedal  tirado  do  Templo.  Perbira. 


34^  Reis. 
rá  pela  mão,  e  a  trarpaflará.  Eis-áqui  o 
que  he  Faraó  Rei  do  Egypto  para  to^ 
dos  os  que  póem  nelle  a  lua  confian- 

22  Se  vós  me  diíTerdes  :  Nós  po- 
mos a  noíTa  confiança  no  Senhor  nolFo 
Deos:  não  he  efte  aquelle  Deos,  cujos 
Altares  ,  e  Altos  deftruio  Ezequias ,  ten- 
do intimado  efta  ordem  ajuda,  e  aje- 
rufalem  :  Vós  não  adorareis  fenão  em 
Jerufalem,  e  fó  diante  defte  Altar? 

23  Marchai  pois  agora  contra  o  Rei 
dos  AíTyrios  meu  amo  :  eu  vos  darei 
dous  mil  cavallos :  vede  fe  podeis  achar 
fequer  tantos  homens  ^  quantos  são  ne- 
çeílarios  para  montar  nelles. 

24  E  como  podereis  vós  ter- vos 
diante  d' hum  fó  capitão  dos  últimos 
fervos  de  meu  amo  ?  Será ,  que  tendes 
a  voíTa  efperança  no  Egypto ,  por  caufa 
das  fuas  carroças,  e  cavallaria  ? 

25  Mas  podeis  vós  negar,  (e)  que 

por 

(  e  )  Que  por  vontade  de  Deos  he  que  eu  vim ,  ò'C, 
A  prorpcridade  das  vidorias  de  Sennaqucrib  fazia 
perfuadir  a  bárbaro,  que  Deos  he  que  o  man- 
dava contra  Jerufalem  ,  c  approvava  tpdas  aç  íuasi 
ejçpcdiçócs.  Pereira, 


Liv.  IV.    Cap.  XVIII.  343 

por  vontade  de  Deos  he  que  eu  vim  a 
efte  paiz  para  o  deftruir?  O  Senhor  me 
diíTe :  Entra  nefta  terra,  e  devafta  tudo. 

26  Sobre  ifto  lhe  differão  Eliacim 
filho  d'Helcias5  eSobna,  ejoahé:  Nós 
te  fupplicamos  (/)  que  falles  a  teus  fer- 
vos  em  Syriaco  ,  porque  entendemos 
bem  efta  língua  (g)  Q  não  nos  falles 
mais  em  língua  Judaica  diante  do  Po- 
vo, que  nos  ouve  de  fima  do  muro. 

27  Rábfaceslhesrcfpondeo:  Acafo 
para  fallar  a  voíTo  amo ,  e  a  vós  he  que 
meu  amo  me  mandou  aqui  ?  E  não  foi 
antes  para  fallar  a  eftes  homens  que  ef- 
tão  fobre  o  muro,  os  quaes  ferão  redu- 
zidos a  comerem  o  fcu  excremento  com- 
vofco,  e  a  beberem  o  fcu  mijo  ? 

28  Rábfaces  pois  pofto  em  pé  gri- 
tou em  alta  voz,  dizendo  em  língua  Ju- 
dai- 

(/)  Qi^^  falles  ateus  fervos  em  Syriaco.  Ifto  hc, 
cm  Caldaico  ,  como  fe  confirma  dc  Daniel  II.  4. , 
porque  efts  era  a  lingua  que  le  f:Jlava  cm  Nini- 
vc  ,  e  no  Paço  de  Sennaquerib.  Pereira. 

(g)  E  não  nos  falles  mais  em  lingim  Judaica 
diante  do  Povo  ,  <à-c.  Teméráo  os  OíKciaes  d'  Rzc- 
quias  ,  que  ouvindo  o  Povo  as  ameaças  de  Ráb- 
faces ,  fe  atcmorizaíTe  de  forte  que  perdelíem  o 
animo.  Pereira. 


344  Reis. 
áaica:  Ouvi  as  palavras  do  grande  Rei, 
do  Rei  dos  AíTyrios. 

29  Eis-aqui  o  que  diz  o  Rei  :  Não 
vos  feduza  Ezequias  :  porque  elle  vos 
não  poderá  livrar  da  minha  mão. 

30  Não  vos  deixeis  ir  atrás  defta 
coõfiança  ,  que  elle  vos  quer  dar  ,  di- 
zendo :  O  Senhor  me  livrará  deite  pe- 
rigo 5  e  efta  Cidade  nao  ferá  entregue 
nas  mãos  dos  AíTyrios. 

31  Vede  lá  não  ouçais  a  Ezequias. 
Porque  eis-aqui  o  que  djz  o  Rei  dosAf- 
fyrios:  Tomai  hum  confelhoutil ,  e  tra- 
tai comigo  :  vinde  render-vos  a  mim : 
e  cada  hum  de  vós  comerá  da  fua  vi- 
nha y  e  da  fua  figueira ,  e  vós  bebereis 
das  aguas  das  voíTas  cifternas , 

32  até  que  eu  venha  transferir-vos 
para  huma  terra  ,  que  he  femelhante  á 
voffii :  para  huma  terra  fértil ,  abundan- 
te de  pão  y  e  vinho  :  para  huma  terra  de 
vinhas  ,  e  d'olivaes  :  para  huma  terra 
d' azeite 5  e  de  mel  :  e  vós  vivereis,  e 
não  morrereis.  Não  ouçais  a  Ezequias  , 
que  vos  engana  ,  dizendo  :  O  Senhor 
nos  liyrará. 

Aca- 


Liv.  IV.    Cap.  XVIIL  345' 
3  3    Acafo  os  Deofes  das  gentes  li- 
vrarão elles  as  fuas  terras  da  mão  do 
Rei  dos  AíTyrios  ? 

34  Qaé  feito  do  Deos  d'Emath,  e 
do  Deos  d'ArfFad  ?  Que  do  Deos  de 
Séffarvaim,  d' Am  ^  e  d' Ava?  Livrarão 
elles  da  minha  mão  a  Samaria  ? 

35"  Que  Deos  fe  achará  entre  todos 
os  das  gentes  ,  que  iivraíTe  da  minha 
mão  ofeu  próprio  paiz,  para  crer  que  o 
Senhor  poderá  livrar  da  minha  mão  a 
Cidade  de  Jerufalem  ? 

36  Entretanto  o  Povo  efteve  em  fi- 
lencio  5  e  não  refpondeo  huma  fá  pala- 
vra :  porque  elies  tinhão  recebido  or- 
dem do  Rei  j  que  lhe  não  refpondef- 
fcm. 

37  Depois  difto  vierão  Eliacim  fi- 
lho d'  Helcias  Mordomo  Mór  ,  Sobna 
Secretario  d*Eftado  5  e  Joahé  Choronifta 
Mor,  ter  com  Ezequias,  {b)  rafgados 
os  veftidos ,  e  lhe  referirão  as  palavras 
de  Rábfaces. 

CA- 

(/;)  Rafgados  os  vejlidos.  Como  era  do  coftu- 
mç ,  quando  fe  ouvia  alguma  coufa  dc  triftç , 
d'injmiofa  a  Deos.  Pereira. 


34^ 


Reis, 


CAPITULO  XIX. 

Ezequias  manda  confultar  a  Ifaias.  Éfle 
Profeta  o  conjola,  Sennaqutrib  marcha 
contra  a  Et ht opta  ,  e  blasfema  novamen- 
te contra  o  Senhor,  Ezequias  faz  ora- 
rão ao  Senhor,  Ifaias  prediz  a  desfeita 
de  Sennaquerih,  O  Anjo  do  Senhor  ex' 
termina  o  eo^ercito  dejle  Princlpe. 

0.bqoi(]      -  ^ 
que  tendo  ouvido  o  Rei  Eze- 
quias ,  rafgou  os  feus  veftidos , 
c  coberto  de  facco  entrou  na  cafa  do 
Senhor. 

;Anno  2  E  mandou  a  Eliacim  Mordomo 
^^oM.  jyj^j.  fua  cafa,  e  a  Sobna  Secretario 
;^mes'  d'  Eftado ,  e  aos  mais  velhos  dos  Sacer- 
JeJ.C,  dotes  cobertos  de  faccos  ,  que  foíTem 
7^0*    ao  Profeta  Ifaias  filho  de  Amós , 

3  e  elles  lhes  diíTerão  :  Eis-aqui  o 
que  diz  Ezequias:  Efte  dia  he  hum  dia 
de  tribulação  ,  d' increpaçao,  e  de  blas- 
fémia. Os  filhos  chegarão  ao  ponto  de 
forcejar  por  fahirem  do  ventre  de  fua 
mãi:  porém  efta  que  eftá  com  as  dores, 
nao  tem  a  força  que  baile  para  parir. 


Liv.  IV.  Cap.  XIX.  347 
4  O  Senhor  teu  Deos  terá  ouvido 
as  palavras  de  Ráblaces  ,  que  foi  en- 
viado pelo  Rei  dos  AíTyrios  feu  amo 
para  blasfemar  o  Deos  vivo  ,  e  para  o 
infultar  com  palavras,  que  o  Senhor  teu 
Deos  ouvio :  faze  pois  oração  ao  Senhor 
por  efte  refto  que  ainda  fe  acha. 

5*  Forão  pois  os  fervos  do  Rei  Eze- 
quias ter  com  Ifaias. 

6  E  Ifaias  lhes  refpondeo  :  Direis 
a  voflb  amo  o  feguinte:  Eis-aqui  o  que 
diz  o  Senhor  :  Não  temais  ellas  pala- 
vras que  ouviftes  ,  nas  quaes  os  fervos 
do  Rei  dos  AíTyrios  me  blasfemarão. 

7  (a)  Eueftou  para  lhe  enviar  hum 
efpirito,  e  elle  ouvirá  huma  nova,  de^ 
pois  da  qual  voltará  elle  para  a  fua  ter- 
ra ,  e  eu  o  farei  perecer  á  efpada. 

8  Voltou  pois  Rábfaces  para  o  Rei 
dos  AíTyrios,  e  achou-o  fitiando  a  Lob^ 
na  :  porque  tinha  fabido  que  o  Rei  fe 
havia  retirado  de  Laquis, 

E 

(^a)  Eu  ejlou  para  lhe  enviar  huví  efpirito,  ^r,, 
Hum  efpiriro  de  temor  ,  c  d'  efpanto  ;  ou  huma 
virtude  ,  e  huma  difpoíiçáo  de  querer  voltar  para 
irás.  A  fegunda  accepçáo  (Jo  nome  ef piri  to  , 


348  Reis. 

9  E  como  aSennaquerib  visrao  no- 
vas {b)  que  Tharaca  Rei  da  Ethiopia 
tinha  fahido  em  campanha  para  vir  ata- 
callo ,  refolveo  marchar  contra  cíle  Rei , 
{c)  e  enviou  outra  vez  feus  Embaixa- 
dores a  Ezequias  com  efta  ordem : 

10  Direis  a  Ezequias  Rei  dejuda: 
Vê  nâo  te  deixes  feduzir  do  teu  Deos^ 
no  qual  tu  poes  a  tua  confiança.  Nem 
tu  digas  :  Jerufalem  não  ferá  entregue 
nas  mãos  do  Rei  dos  Aílyrios: 

1 1  porque  tu  mefmo  tens  ouvido  o 
que  os  Reis  dos  Affyrios  fizerao  a  to- 
das as  Nações  ^  e  como  as  arruinárao: 
Serás  tu  logo  fó  o  que  te  poderás  fal- 
var } 

Aca- 

aqui  mais  bem  recebida  entre  os  Interpretes.  Pe- 
reira. 

( /; )  Que  Tharaca  Rei  da  Ethiopia  ,  é'c.  Efta 
Ethiopia  he  mui  diverfa  do  Reino ,  que  hoje  tem 
efte  nome  :  porque  era  huma  Regtáo  na  Arábia  , 
iguc  fe  eftendia  até  o  Baixo  Eg^ypto.  Calmet. 

(ff)  E  enviou  outra  vez  feui  Embaixadores  aEze- 
qurm ,  <ò*c,  A  Vulgata  nâo  exprime  formalmente 
que  03  enviou  owra  vez  :  mas  aílim  fe  colhe  do 
contexto,  e  do  Hebreo,  que  diz  aqui  aíHm :  Et 
reverfus  ejl ,  m'ffu.  O  que  ao  parecer  dos  dou- 
tos Commentadores  he  hum  Hebraifmo  ,  no  que 
vai  Q  mefmo'       dízcp:  Et  mfus  mifit.  Pereira. 


Liv.  IV.    Cap.  XIX.  349 

12  Acafo  os  Deofes  das  gentes  li- 
vrarão el!es  os  Povos  ^  que  meus  pais 
devaftárão  ?  Livrarão  a  Gozan ,  ou  a  Ha- 
ran ,  ou  a  Reíef  h  ,  ou  aos  filhos  d'Eden , 
que  eftavão  em  Thelaflar? 

13  Qué  feito  do  Rei  d'Emathj  do 
Rei  d'Arffad  ,  do  Rei  da  Cidade  dc 
Séffarvaim,  e  d' Ana,  e  d' Ava? 

14  Ezequias  pois  tendo  recebido  a 
carta  de  Sennaquerib  da  mão  dos  Em- 
baixadores, leo-a  ,  e  foi  para  o  Templo : 
eílendeo  a  carta  diante  do  Senhor, 

ij  e  fez  a  fua  oração  diante  delle 
neftes  termos  :  Senhor  Deos  d'  Ifrael , 
que  eftás  alTentado  fobre  os  Querubins, 
tu  es  fó  o  que  es  o  Deos  de  todos  os 
Reis  do  mundo :  tu  o  que  fizefte  o  Ceo , 
e  a  terra. 

16  Inclina  a  tua  orelha  ,  e  ouve: 
Abre ,  Senhor ,  os  teus  olhos  ,  e  vê :  Ou- 
ve todas  as  palavras  de  Sennaquerib , 
que  enviou  os  feus  Embaixadores  para 
blasfemar  diante  de  nós  o  Deos  vivente. 

17  He  verdade  ,  Senhor  ,  que  os 
Reis  dos  AfTyrios  deftruírão  as  Nações; 
que  aíTolárão  todas  as  fuas  terras ; 

e 


35'o  Reis. 

18  e  lançarão  osfeusDeofes  nofo* 
go,  e  derão  cabo  delles;  porque  elles 
não  erão  Deofes  ,  mas  huns  fimulacros 
depáo,  e  de  pedra  feitos  pormãos  dos 
homens. 

19  Salva-nos  pois  agora  ,  Senhor 
noíTo  Deos ,  das  mãos  delle  Rei ,  para 
que  todos  os  reinos  da  terra  faibão  quei 
fó  tu  es  o  Senhor  Deos. 

20  Então  mandou  dizer  Ifaias  filho 
d'Amós  a  Ezequias :  Eis-aqui  o  que  diz 
o  Senhor  Deos  d'Ifrael:  Eu  ouvi  aora-* 
ção  que  tu  me  fizefte  tocante  a  Senna- 
querib  Rei  dos  AíTyrios. 

21  Eis-aqui  o  que  o  Senhor  dilTe 
delle  :  A  virgem  filha  de  Sião  te  def-^ 
prezou  ,  e  te  efcarneceo :  Jerufalem  fa- 
cudio  a  fua  cabeça  por  detrás  de  ti : 

22  Quem  cuidas  tu  que  infultafte  ? 
De  quem  cuidas  que  blasfemafte?  Con-^ 
tra  quem  levantaíie  tu  a  tua  voz,  e  er-- 
guefte  ao  alto  os  teus  olhos  í  Foi  con- 
tra o  fanto  d'  Ifrael. 

23  Tu  blasfemafte  o  Senhor  por 
meio  dos  teus  fervos ,  e  dilFefte :  Eu  fu- 
bi  ao  alto  dos  montes  do  Libano  con> 

a 


Liv.  IV.  Cap.  XIX.  35-1 
a  multidão  das  minhas  carroças:  eu  dei- 
tei abaixo  os  feus  altos  cedros  ,  e  aS 
fuas  mais  fermofas  ,  e  notáveis  faias: 
eu  penetrei  até  á  extremidade  do  feu 
bafto  arvoredo 5  (d)  e  cortei  o  Bofque 
do  Carmelo : 

24  eu  bebi  as  aguas  eftrangeiras, 
e  eu  fequei  todas  as  que  efcavão  fecha^ 
das,  (e)  fazendo  marchar  por  ellas  as 
minhas  gentes. 

25  Tu  logo  nãoouvifte  dizer  o  que 

eu 

(^d)  E  cortei  o  Bofque  do  Carmelo,  Hc  como  fc 
dilTclIe:  Eu  cortei  o  leu  Bofque  femelhante  ao  do 
Carmelo.  Ou  o  nome  C/irwelo  Te  póc  aqui  na  fi- 
gnificaçáo  de  lugar  fértil  ,  e  ameno  ,  n:i  qual  o 
ufurpáo  Ifaias,  e  Jeremias.  Pereira. 

(  e  )  Fazendo  marchar  por  ellas  as  minhas  gentes: 
Qiier  dizer  :  O  meu  exercito  era  táo  numcrofo  , 
que  fecava  os  rio?.  Ou  também :  Eu  paíTei  os  rios 
em  feco  ,  por  ter  mudado  o  curío  ás  fuas  aguas. 
No  primeiro  fentido  efcrcveo  depois  Juvenal  n?  Sa- 
tyra  X.  fallando  do  exercito  de  Xerxes  :  Defecijfe 
atmes  credimus  altos  epotaque  flumina  Medo  Pran- 
dente. 

O  fegundo  fentido  he  o  que  Grocio  adoptou 
de  Vatablo.  E  ifto  mefm.o  foi  o  que  depois  prati- 
cou Cyro  com  os  rios  Gyndes ,  e  Eufrates ,  como 
kmos  em  Heródoto  I.  Cap.  CLXXXIX. ,  e  Cap* 
CXCI.  Pereira, 


35^^  Reis. 
eu  fiz  defde  o  principio :  (/)  Antes  dos 
primeiros  feculos  formei  eu  efíe  proj^ 
ílo,  e  agora  he  que  eu  o  executei.  As 
fortes  Cidades  defendidas  por  hum  gran- 
de numero  de  combatentes  forão  arrui- 
nadas como  huns  outeiros  defertos. 

26  As  mãos  dos  que  eftavão  den- 
tro y  perderão  a  força :  elles  ficarão  to- 
mados de  medo  y  e  cobertos  de  confu- 
são: tornárâo-fe  como  o  feno  dos  cam- 
pos ,  e  como  a  herva  verde  dos  telha- 
dos 5  que  fe  fecou  antes  que  chegaíTe  a 
amadurecer. 

27  Eu  previ  a  tua  habitação  ,  e  a 
tua  entrada  5  e  a  tua  fahida ,  e  o  cami- 
nho por  onde  tu  viefte  ,  e  o  teu  furor 
contra  mira. 

28  Tu  me  atacafte  com  huma  lou- 
ca infolencia ,  e  a  tua  foberba  fubio  até 
4s  rainhas  orelhas.  Eu  te  porei  pois  hum 

cir- 

(/)  Antes  dos  primeiros  feculos  formei  ea  efte 
projeão.  Nefte ,  e  nos  fcguintes  vcrfos  quer  dizct 
o  Senhor  a  Sennaquerib  ,  qoe  todas  as  fuà*  expe- 
dições eftaváo  decretadas ,  epreviftas  abaeterno  pot 
Deos ,  e  que  com  a  ajuda  do  mefmo  Deos  he  que 
elle  Sennaquerib  tinha  alcançado  tanta» ,  cúo^Mm 
àes  viílorias.  Pereira^ 


Liv.  IV.    Gap.  XIX.  3^ 

circulo  no  nariz  ,  e  huma  mordaça  na 
boca  ;  e  eu  te  farei  voltar  pelo  mefmo 
caminho  por  onde  viefte. 

29  Qumro  a  ti  porém  ,  oEzequias^ 
eis-aqui  o  linal  que  eu  te  darei  :  (g) 
come  nefte  anno  ò  que  achares:  (h)  no 
fegundo  anno,  o  que  naí:er  porli  mef- 
mo: mas  pelo  que  toca  ao  terceiro,  fe* 
meai,  e  recolhei:  plantai  vinhaç,  eco- 
mei  do  que  ellas  derem. 

30  E  tudo  o  que  te  ficar  da  cafa  de 
Juda,  lançará  raizcs  para  baixo  ^  e  pro- 
duzirá o  feu  fruto  para  fima. 

31  Porque  de  Jerufalem  fahiráo  as 
relíquias,  e  do  monte  de  Sião  o  que  fe^ 
rá  falvo  :  o  zelo  do  Senhor  ferá  o  que 
faça  ifto. 

32  Por  tanto  eis-aqui  o  que  do  Rei 
dosAíTyrios  diz  o  Senhor:  Elie  não  en- 
trará nefta  Cidade  :  cllc  não  dcfpedirá 

Tom.  VL  Z  fet- 

(j^)  Come  tiefle  anno  o  que  achares^  ó^c.  O  que 
achares  quercftou  do  que  S.nnaqucrib  deíliuio  no3 
teus  campos  de  Judéa*  Pereira. 

No  fe<^undo  armo  ,  o  que  nafcer  por  fi  mef- 
mo. Porque  he  anno  de  fc  não  cultivar  a  terra, 
por  fer  anno  de  defcanjo ,  ou  de  jubilco,  Psreii 


35'4  Rei  s. 

fettas  contra  osfeus  muros:  cila  naofe- 
rá  forçada  pelos  efcudos  dos  feus ,  nem 
cercada  de  trincheiras. 

3  3  Elie  voltará  pelo  mefmo  cami- 
nho por  onde  veio  ,  e  elle  não  entrará 
nefta  Cidade ,  diz  o  Senhor. 

34  Eu  protegerei  eíla  Cidade  ,  e 
eu  a  falvarei  por  amor  de  mim  ,  e  por 
amor  de  meu  fervo  David. 

35*  Aquella  mefma  noite  pois  (/) 
veio  o  Anjo  do  Senhor  ao  campo  dos 

Af. 

(í)  Feio  o  Anjo  cio  Senhor  ao  campo  dos  Jjfy- 
rios ,  <ò'C.  Efte  Anjo  crê-fe  que  toi  o  meímo  que 
em  tempo  deMoyíes  tinha  feito  remelhante  cftra- 
go  nos  primogénitos  do  Egypto.  Exod.  xi.  4.  Se 
cfte  Anjo  era  da  claíTc  dos  bons  ,  ou  dos  máos, 
não  acho  niílo  acordes  os  Interpretes:  como  tam- 
bém que  género  de  morte  folie  ,  o  que  elle  deo 
aos  Aftyrios.  A  maior  parte  dos  Padres  commcnta- 
dores,  e  todos  os  Rabbinos  são  que  eftes,  c  ou- 
tros grandes  cafti^os  ,  que  fe  lem  nas  ELfcrituras, 
os  executava  Deos  por  algum  Anjo  das  trévas.  E 
S.  Jeronymo  fobre  o  Cap.  XXXVII.  d*  Ifaias  ,  diz 
que  o  Anjo  matara  os  cento  e  oitenta  e  finco  mil 
AíTyrios ,  fem  que  nos  mortos  fe  perccbeííe  ferida , 
ou  lezáo  alguma  exterior.  Que  he  o  que  depois 
adoptáráo  Toílado  ,  c  Saliano ,  dizendo  que  toda 
a  ruina  fora  nas  partes  interiores  mais  nobres ,  co- 
mo fnccedem  aos  que  morrem  de  raios ,  que  mor- 
rem fó  pela  comprefság  das  partes  internas,  c  po- 


Lrv.  IV.  Cap.  XIX.  ^ss 
AíTyrios ,  e  matou  cento  e  oitenta  e  fin- 
co mil  homens:  e  Sennaquerib  tendo-fe 
levantado  ao  amanhecer,  vio  todos  ef- 
tes  corpos  mortos ,  e  fem  mais  fe  deter 
foi-fe. 

36  E  retirou- fe  aofeu  paiz,  e  ficou 
em  Ninive. 

37  E  quando  elle  adorava  a  Nefi-och 
feuDeos  no  feu Templo,  Adramelech  , 
e  Sarafar  {k)  feus  filhos  o  matarão  ás 
cftocadas,  e  fugirão  para  a  Armênia:  e 
em  lugar  dellc  reinou  (/)  feu filho  Afar-* 
hadon. 


Z  ii  CA- 

Ia  dcfordenaçáo  do  tecido  das  fibras  mais  dclica* 
das  5  c  dos  vafos  que  cnccrráo  o  fangue,  Veja^-fe 
a  DilTcfcaçáo  dc  Calmet  Sobre  a  desfeita  do  Exer» 
cito  de  Sennaquerib.  Pereira. 

( Seus  filhos  o  matàrão  ás  ejiocadas.  Dizem 
alguns  Rabbinos  citados  por  Nicoláo  dc  Lyra ,  cflic 
iôo  foi  porque  clles  fufpeitáráo  que  o  pai  os  que- 
ria facrificar  pelo  fogo  ao  mefmo  Deos  Nefroch. 

PEREIR/I. 

(/)  Seu  filho  Àfarhadon,  Ifaias,  xx.  i.  p  cKíh 
roa  Sétrgon,  Psrgiaao 


Reis. 


CAPITULO  XX. 

Doença  Ezequias,  Retrogradação  do  SoL 
Embaixada  do  Rei  de  Babylonia,  Eze^ 
quias  he  reprehendido  por  ter  moftra^ 
do  os  feus  thefouros  a  ejies  ejlrangeiros* 
Morte  d"^  Ezequias,  Succede-lhe  manáf- 
fes. 

Anno     t  Eftc  tempo  adoeceo  Ezequias 

do  M.  \S\  de  morte  :  e  o  Profeta  Ifaias 
atif  dc  d'Amós  veio  ter  com  elle  ,  e  lhe 
J.  Chr.  diíTe  :  Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor  Deos : 
715.  Dá  ordem  ás  couías  da  tua  cafa  :  por- 
que tu  não  vivirás ,  mas  morrerás. 

2  Então  Ezequias  virando  o  rofto 
para  a  parede  ^  fez  efta  oração  ao  Se- 
nhor : 

3  Peço-te,  Senhor,  lembra-te,  te 
fupplico,  de  que  modo  eu  andei  diante 
de  ti  em  verdade ,  e  com  hum  coração 
perfeito  ,  e  que  fiz  o  que  era  do  teu 
agrado,  {a)  Depois  derramou  Ezequias 
grande  cópia  de  lagrimas. 

E 

( /r )  Depois  derramou  Ezequias  grdtide  copia  de 
lagrim/ís.  Todo  efte  choro  cr» ,  porçjuc  perdia  Eze-? 


Liv.  IV.    Cap.  XX.  35-7 

4  E  antes  que  Ifaias  tivelTe  paflado 
ametade  do  atrio,  o  Senhor  lhe  fallou, 
€  lhe  dííTe: 

5'  Volta  ,  e  dize  a  Ezequias  Con- 
ductor  do  meu  Povo:  Eis-aqui  o  que  diz 
o  Senhor  Deos  de  David  teu  pai  :  Eu 
OUVI  a  tua  oração  ,  e  vi  as  tuas  lagri- 
mas:  e  olha  que  eu  te  dei  faude :  daqui 
a  tres  dias  irás  ao  Templo  do  Senhor: 

5  eeu  ajuntarei  ainda  quinze  snnos 
aos  dias  da  tua  vida.  Além  difto  eu  te 
livrarei  a  ti  ^  e  a  efta  Cidade  da  mão 
do  Rei  dos  AíTyrios :  e  eu  a  protegerei 
por  amor  de  mim ,  e  por  amor  de  Da- 
vid meu  fervo. 

7  Então  diífe  Ifaias :  (b)  Trazei-mc 
cá  huma  maíTa  de  figos.  Elles  lha  trou- 

xe- 

quias  a  efperança  de  que  do  fcu  fangue  nafceria 
Chrifto.  JJie  OfWiis  flttus  cfi,  qutã  defperabat  Chri- 
fiam  de  fuo  femine  najciturwn,  S.  Jehonymo  íobre 
o  Cap.  XXXIV.  d' Ifaias. 

( )  Trazei-me  cã  huma  mâ[fa  de  fgos.  Confor- 
me a  Arte  da  Medicina ,  toda  a  podridá©  applican- 
do-fe  humas  papas  de  figos  paííados ,  he  puxada  á 
fupcrfice  da  cútis.  Juxta  artem  medicorum  omnis 
fanies  ficciorihus  fieis  atque  contufis ,  in  cuús  fuperfi' 
cieinprovocatur.  S.  jeronymo  fobre  o  Cap.  XXXVIIL 
à'  Ifaiju.  Com  tudo  Grocio ,  c  outros  muitos  iul- 


5?8  Reis. 

xerão  j  (c)  e  a  pozerao  fobre  a  ulcera 
do  Rei ,  e  efte  ficou  logo  curado. 

8  Mas  Ezequias  tinha  antes  dito  a 
Ifaias :  Que  final  terei  eu  de  que  o  Se-^ 
nhor  me  farará  ,  e  que  dentro  de  tres 
dias  irei  ao  Templo  ? 

9  Ifaias  lhe  refpondeo  :  Eis-aqui  o 
final  que  o  Senhor  te  dará  para  te  aíTe- 
gurar  que  elle  ha  de  cumprir  a  palavra 
que  diíTe  a  teu  favor :  Queres  que  a  fom- 
bra  fe  adiante  dez  linhas  ,  ou  que  ella 
retroceda  dez  gráos  ? 

10  E  Ezequias  lhe  diíTe  :  Elle  he 
fácil  queafombra  fe  adiante  dez  linhas: 
não  he  illo  o  que  eu  quero  que  fe  faça , 
fenão  que  volte  atrás  dez  gráos. 

11  Então  invocou  o  Profeta  Kaias 
O  Senhor,  (d)  ç  fez  que  a  fombra  vol- 

taf- 

gão  ,  que  os  figos  longe  de  poderem  fazer  bem 
ao  Rei ,  lhe  fcriáo  nocivos.  O  que  admittido  ,  ain- 
ja  o  prodígio  crefce  mais.  Pereira. 

(  f  )  E  a  pozerao  febre  a  ulcera  do  Rei.  Daqui 
inferem  os  Expofitores ,  que  o  mal  d'  Ezequias  era 
hum  tumor  ,  ou  huma  inflammação  ,  que  huns 
querem  que  foíTe  pleuriz ,  outros  efquinencia.  Pe- 

KEJRA. 

(d)  E  fez  que  a  fombra^  ò'C.  Em  Ifaias,  Cap, 
vcrfo  8,  fçdiz,  que  o  Sol  he  quç  íCf 


Liv.  IV.    Cap.  XX.  35-9 
taíTe  as  linhas  ,  que  já  tinha  paíTado 

no 

troccdeo.  Et  reverfus  efi  Sol  decem  lineis ,  per  gra- 
dus  quGS  defcenderat.  E  aflim  cntendêrso  efte  pro- 
dígio a  maior  pane  dos  Padres ;  S.  Gregorio  Na- 
2ianzeno,  S.  Jeronymo,  Santo  Afcoftinho,  Theo- 
doreto  ,  e  outros.  Mas  explicando-fe  a  Efcritura 
nefte  Livro  Quarto  dos  Reis  pelo  nome  de  Som- 
bra ^  a  fombra  he  que  fe  deve  crer  retrocedêra.  E 
que  pelo  nome  de  4^0/  quiz  Ifaias  fignificar  a  fua 
íombra  ,  fe  convence  no  que  pouco  antes  diz  o 
Profeta  que  diíTcra  Deos  :  £cce  ego  reverti  fadam 
umbram  linear  um ,  per  quas  defcetiderat  in  horologio 
ylch.íz  in  Sole ,  retrorfum  decem  lineis.  Et  reverfus 
efl  Sol  decem  lineis ,  per  gradus  quos  defcenderat.  Náo 
ne  novo  naEfctiiura  tornar  o  Sol  pelos  eíFeitos  do 
Sol.  Como  quando  fe  diz,  que  o  Sol  ferio  fobrc 
a  cabeça  de  Jonas,  e  lhe  caufou  hum  forte  calor: 
Percufít  Sol  fuper  caput  JonaÇy  <b'  aejiuabat,  (Jon. 
IV.  8". ) 

E  que  náo  foi  o  Sol  em  íí  mefmo  que  rctro- 
cedeo  ,  mas  a  fua  fombra  ,  parece  eftar  decidido 
pelo  que  a  Efcritura  refere  nos  Paralipomenos : 
que  os  Embaixadores  de  Babylonia  vieráo  a  Jeru- 
íalem  pedir  novas  do  milagre  fuccedido  fobre  a 
terra ,  ifto  he  ,  fobrc  a  Judéa  fcgundo  a  accepçáo 
ordinária  delle  termo  y  fobre  a  terra,  Ut  interroga- 
rent  de  portento  quod  acciderat  fuper  terram.  (  n. 
Par.  XXX 11.  ^i.)  Porque  fe  fora  o  Sol  o  que  tivef- 
fe  retrocedido,  cm  todo  o  mundo  fe  teria  feito  fen- 
fivcl  o  milagre  :  c  cniáo  era  cfcufado  vir  da  Ba»- 
bylonia  á  judéa  perguntar  por  iíTo. 

Na  verdade ,  como  obfcrva  Grocio ,  para  Dcos 


5^0  Reis. 

{e)  no  relógio  d'Accúz  ^  dez  gráos 
atrás. 

Anno  12  (/)  Nnqiielle  tempo  Berodach 
^^í.  Baladan,  filho  de  Baladan  ,  Rei  dos  Ba- 
^^^^^j^  bylonios  5  enviou  huma  carta  com  fcus 
J.  Chr"  preíenres  a  Ezequias :  porque  tinha  fa- 
747.    bido  que  elle  h.ívia  eftado  doente. 

11    EEzeauias  fe  aleo^rou  com  a  fua 

vin- 

dar  hum  final  a  Ezequi.is ,  rão  era  necefTario  alte- 
rar toda  a  economia  co  Univerfo:  o  nne  íucceJc- 
ria ,  íe  o  Sol  ^o^^e  o  que  fe  moveífe.  Lo^o  a  íom-? 
bra  he  qae  fe  moveo  ,  e  náo  o  Sol. 

Accrefce  por  uitimo  ,  que  deíic  modo  fe  cor- 
tão  d'  huma  vez  todas  as  difHciiIdades ,  que  contra 
a  retrogradação  do  corpo  do  Sol  íe  podem  <ormar, 
tiradas  do  íyítema  ;;cralmen:e  ho)e  recebido  enire 
Filofofos ,  c  Mathematicos.  Sobre  o  que  he  digna 
de  fe  ler  a  DiíTertaçáo ,  que  Calmet  dedicou  a  eí- 
tc  particular  allumpto.  Pereira. 

(e)  Relógio  à  Accaz.  Efte  relógio  fuppóe  Sáo 
Jeronymo,  e  S.  Cyriilo  d  Alexandria ,  que  era  co- 
mo huma  efcada  ,  que  Accáz  pdi  d' Ezequias  tinha 
mandado  fazer  aonarural  ,  e  em  tal  proporção,  que 
pela  fombra  dos  deg,ráos  Te  conhecia  queho-as  cráo. 
E  niíto  convém  a  maior  parte  dos  interpretes ,  em 
que  cntráo  os  trcs  Dommicanos  Pognino  ,  Vata- 
blo  ,  e  Mílvfnda,  P^RRrRA. 

(/)  Naqu  llc  'en  p  >  Berodach  Baiidart ,  eb^.  Em 
lusar  de  Berodac  por  B,  íe  lè  em  I latas  Merodack 
por  M.  ('r>.i.  xxxix.  I.)  E  julgii-fe  que  eílc  he 
0  Aíardo^anipad  de  Ptoiomeo.  Pereira» 


Liv.  IV.    Cap.  XX.  3Í1 

vinda  ,  e  lhes  moftrou  a  cala  dos  aro- 
mas, e  o  ouro,  e  a  prata,  e  vários  bal- 
íamos, e  os  ungentos,  e  a  eíkncia  de 
feus  vafos,  e  tudo  o  que  podia  ter  em 
feus  thcfouros.  Não  houre  nada  em  to- 
do o  feu  Palacio  ,  nem  coufa  que  foíTe 
fua  5  que  Ezequias  lhes  nao  fizeíTe  ver. 

1 4  Depois  veio  o  Profeta  Ifaias  buf-^ 
car  o  Rei  Ezequias  ,  e  lhe  dilTe:  Que 
te  diíTerão  eftes  homens?  E  donde  vie- 
rão  elles  para  te  fallar  ?  tlzequias  lhe 
refpondeo  :  Vierao  ver-me  d' hum  paiz 
mui  remoto,  vierão  de  Babylonia. 

E  Ifaias  contmuou  :  Que  virão 
clles  em  tua  cafa  ?  Refpondeo  Ezequias  : 
Virão  tudo  quanto  ha  no  meu  Palacio: 
não  ha  nada  em  todos  os  meus  thcfoiH 
ros ,  que  eu  lhes  não  moHraíTc. 

16  Então  diíTe  Ifaias  a  Ezequias; 
(g)  Ouve  a  palavra  do  Senhor. 

17  Virá  tempo  que  tudo  o  cue  ha 

em 

(g  )  Ouve  a  palavra  do  Senhor.  Sc  Fzcquias  quan-^ 
do  moftrou  aos  Embaixíidores  óc  Bjbylonia  rodo 
O  feu  precioro  icvc  alguHia  v^iànd^-  ,  ou  compla- 
cência vá,  ná  )  era  eíta  tamanha  culpa  ,  que  m.ere- 
celTe  o  caftigo  dos  males  ,  que  Dcos  lhe  predilTe, 
Mas  quiz  Deos  por  occafúo  da  imprudência  cm 


^61  Reis. 

em  tua  cafa  ,  e  tudo  o  que  teus  pais 
ajuntárão  até  efte  dia  ,  ferá  tranfporta- 
do  a  Babylonia ,  fem  ficar  nada ,  diz  o 
Senhor. 

18  (h)  Teus  mefmos  filhos  ,  que 
fahiráo  de  ti  ,  e  que  tu  terás  gerado, 
ferão  então  tomados  (i)  para  ferem  eu- 
nucos no  Palacio  do  Rei  de  Babylo- 
nia. 

19  Ezequias  refpondeoa  Ifaias:  Não 
ha  nada  que  não  leja  jufto  em  tudo  o 
que  tu  me  annuncias  da  parte  do  Se- 
nhor :  haja  paz  ,  e  verdade  em  meus 
4ias. 

20  O  refto  das  acções  d'Ezequias  , 

o 

que  tinha  cahido ,  advertillo  que  foíTc  mais  acaute- 
lado com  aquella  gente.  Duhamel. 

(^)  Teus  mefmos  filhos^  à'C.  Não  íc  deve  ifto 
entender  dos  filhos  propriamente  ditos  ,  mas  dos 
netos  ,  ou  terceiros  netos  d'  Ezequias.  Porque  em 
tempo  do  Rei  Joaquim  he  que  Nabucodonofor  eK- 
pugnou  Jerufalem ,  c  levou  comfigo  para  Babylo- 
nia o  Rei,  e  Oi  Príncipes  do  fangue  real,  dosquaes 
os  mais  moços ,  e  os  mais  eípeciofos ,  ioráo  efco- 
Ihidos  para  íervircm  no  Paço  ao  mefrao  Nabuco- 
donofor. Dan.  I.  2,.  4.  Calmet. 

(í  )  Para  ferem  eunucos  no  Palacio  ,  eb-f.  Ifto 
hc,  para  feryirem  no  Palacio  os  empregos  quecof» 
íumáo  fervir  os  eutiucos,  Calhet. 


I  Liv.  IV.   Cap.  XX.  365 

I    ofeu  grande  valor 5  e  de  que  modo  man- 
dou elle  fazer  huma  pifcina  ,  e  hum 
aquedufto  para  dar  aguas  á Cidade:  tu- 
do ifto  eftá  efcrito  no  Livro  dos  Annaes 
dos  Reis  de  Juda. 
I    .21    Adormeceo  pois  Ezequias  comAnno 
feus  pais  5  e  em  feu  lugar  reinou  feu  fi-  M. 
lho  Manáífes.  ^J""^: 

ant.  de 
].  Chr, 

CAPITULO   XXL  6p8. 

Impiedade  de  MandJJes,  Ameaças  do  Se- 
nhor contra  Jerujalem.  Amon  Juccede 
a  MandJJes ,  e  Jofias  a  Amon. 

1  IV/CAnálfes  tinha  doze  annos  , 
JLtJL quando  começou  a  reinar,  c 

elle  reinou  fincoenta  e  finco  annos  emje- 
rufalem.  Sua  mai  chamava-fe  Haphfiba. 

2  E  elle  obrou  o  mal  diante  do  Se- 
nhor ,  e  adorou  os  idolos  das  gentes, 
que  o  Senhor  tinha  expulfado  na  entra- 
da dos  filhos  d'Ifracl : 

3  e  reedificou  os  Altos,  que  feu  pai 
Ezequias  tinha  deftruido  :  c  levantou 
Altares  a  Baal :  e  mandou  plantar  Bof- 
(juçSj  como  tinha  feito  Acab  Rei  d'lf- 

rael; 


3^4  Reis. 
rael :  e  adorou  todos  os  aftros  do  Cco  j 

e  lhes  offereceo  facrificios : 

4  e  conftruio  Altares  na  cafa  do  Se- 
nhor, da  qual  o  Senhor  tinha  dito:  Eu 
eftabelecerei  o  meu  Nome  em  Jerufa- 
iem : 

5'  e  dedicou  Altares  a  todos  os  af- 
tros doCeo  nos  dous  átrios  do  Templo 
do  Senhor : 

6  e  fez  paíTar  feu  filho  pelo  fogo : 
e  amou  adivinhações:  c  obfervou  agou- 
ros: e  inftituio  Pythões  :  e  multiplicou 
osarufpices,  de  forte  que  elle  commct- 
tço  o  mal  aos  olhos  do  Senhor ,  c  o  ir- 
ritou. 

7  Poz  também  o  idolo  do  Bofque, 
que  tinha  plantado  no  Templo  do  Ser- 
nhor  ,  do  qual  o  Senhor  tinha  dito  a 
David  ,  e  a  Salamão  feu  filho  :  Nefte 
Templo,  e  emjerufalem,  que  eu  efco- 
Ihi  d' entre  todas  as  Tribus  dlfrael,  he 
que  eu  hei  de  eftabelecer  o  meu  Nome 
para  fempre  : 

8  e  eu  mais  não  permittirei  que  If- 
rael  ponha  o  pé  fora  da  terra  ,  que  eu 
dei  a  feus  pais  :  cora  tanto  que  elles 

guar- 


Liv.  IV.    Cap.  XXI.  305- 
guardem  tudo  o  que  eu  lhes  mandei ,  e 
toda  a  Lei  y  que  meu  fervo  Moyfés  lhes 
deo. 

9  E  entretanto  elles  nao  ouvirão : 
mas  elles  fe  deixarão  feduzir  deManáf- 
fes  para  fazerem  ainda  peior  ^  do  que 
tinhão  feito  as  gentes  ,  que  o  Senhor 
desfez  na  entrada  dos  filhos  d'Ifrael. 

10  Fallou  pois  o  Senhor  pelos  Pro- jercm^ 
fetas  feus  fervos,  dizendo:  ,Cap. 

11  Porque  ManálTes  Rei  de  Juda 
commetteo  eftas  abominações  ainda  mais 
deteftaveis ,  do  que  tudo  quanto  os  Amor- 
rheos  tinhão  feito  antes  delle:  efezpcc- 
car  ajuda  com  as  fuas  infâmias: 

12  eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor  Deos 
d'lfrael  :  Eis-ahi  eftou  eu  para  lançar 
taes  pragas  fobre  Jcrufalem  ,  e  fobre 
Juda,  que  todo  o  que  as  ouvir,  (^)  fi- 
car-lhc-hão  retinindo  ambas  as  orelhas. 

13  (Z^)  Eu  eftcnderei  fobre  Jerufa- 

Icm 

(4)  Ficar-lhe-bâo  retinindo  ambas  as  orelhas. 
Como  fucccdc  ao  ouvir  algum  eftampido  repenti- 
no ,  depois  do  que  nos  fica  huma  zoada  nos  ou- 
vidos. Pereira. 

ib)  Eu  eftenderei  contra  Jerufaletn  o  cordão  de 
Samaria,  Ifto  he  era  frafc  da  Eícritura  :  Eu  farei 


Reis. 

lem  o  cordão  de  Samaria ,  e  o  pczo  da 
cala  d'Acab  :  (c)  e  eu  apagarei  a  Je- 
ruíalem,  (d)  como  fe  apaga  o  que  eftá 
efcrico  n'uma  taboa:  eu  paííkrei,  e  re- 
paíTarei  muitas  vezes  o  ponteiro  por  li- 
ma 5  para  que  não  fique  nada  delia. 

14  Eu  abandonarei  os  reftos  da  mi- 
nha herança  ,  e  os  entregarei  nas  mãos 
de  feus  inimigos:  e  todos  os  que  a  abor- 
recem 5  os  levarão ,  e  roubarão : 

I  ^  porque  elies  commettêrâo  o  mal 
diante  de  mim  ,  e  continuarão  em  me 
irritar  des  do  dia  que  feus  pais  fahírão 
do  Egypto  até  hoje. 

1 6  Outroli  derramou  ManáíTes  ar- 
roios 

a  Jeru falem ,  e  ao  Reino  de  Juda  o  mefmo  que  fiz 
SL  Samaria ,  e  ao  Reino  d'  Ifrael ,  que  foi  deítruil- 
lo,  e  acabar  com  elle  dc  todo.  Pereira. 

(c)  E  eu  apagarei  ajerufalem,  como  fe  apaga, 
^^c.  Os  Setenta  vertem  :  E  eu  alimparei  Jenifa' 
/em,  como  fe  alimpa  hum  vafo  d'  alahajiro ,  que  de^ 
pois  fe  emborca,  para  efcorrer,  c  para  fe  náo  tor- 
nar a  çujar.  Pereira. 

(íi  )  Como  fe  apaga  o  que  ejld  efcrito  n^uma  ta- 
boa»  Os  antigos  efcreviáo  em  taboas  enceradas  :  e 
efcreviáo  com  hum  ponteiro  dc  ferro  ,  que  d'  hu- 
ma  parte  era  agudo  para  cfcrcvcr ,  c  da  outra  roli- 
ço para  apagar.  Daqui  vem  a  írafe  dos  Latinos; 


Liv.  IV.    Cap.  XXI.  3^7 

roios  de  íangue  innocente  até  encher 
delle  toda  a  Cidade  de  Jerufalem  ,  a 
fora  os  peccados  com  que  elle  tinha  fei- 
to peccar  a  Juda  ,  fazendo  aílim  o  mal 
diante  do  Senhor. 

17  O  reflo  das  acções  deManáíTes, 
e  tudo  o  que  elle  fez  ,  (^)  e  o  pecca- 

do 

In  cera  prima ,  fecunda ,  ima ,  cu  extrema :  Ifto  hc , 
no  principio  ,  na  fegunda  parte  ,  na  ultima.  Pe- 

KKIKA. 

(e)  E  o  peccado  que  elle  commetteo  ^  ó^c.  Pelo 
fegundo  Livro  dos  Paralipomenos  ,  Cap.  XXXÍIÍ. , 
verfo  II.  e  fegg.  fabemos ,  que  cm  caftigo  da  ido- 
latria de  ManálTes  pcrmittio  Deos  que  osGcneraes 
do  Rei  dos  AíTyrios  o  vieíTcm  atacaf  cm  Jerufa- 
lem ,  e  o  levaííem  cativo  a  Babylonia  prezo  com 
cadeias.  Pofto  no  cativeiro ,  e  no  cárcere  reconhc- 
ceo  ManálTes  o  feu  peccado  ,  chorou-o  ,  e  pedio 
perdáo  a  Deos  :  e  o  Senhor  compadecido  da  fua 
penitencia  ,  o  rcftituio  em  breve  a  Jerufalem.  A  ora- 
ção que  Manáííes  fez  a  Deos  no  tempo  do  feu  tra- 
balho ,  dizem  no  mefmo  lugar  os  Paralipomenos, 
que  ella  fe  continha  nos  Livros  da  Hiftoria  dos  Reis 
d'Ifrael,  e  nos  V^aiicinios  do  Profeta  Hozai.  Mas 
a  que  hoje  fe  lê  no  fim  d' algumas  Bíblias  com  o 
titulo  Oraç^ão  de  Mandffes ,  julgáo  os  mais  attcnta- 
dos  Críticos  ,  que  he  diverfa  da  que  os  Paralipo- 
menos mencionáo.  Pelo  menos  a  Igreja  nunca  a 
leve  por  Canónica,  dado  que  os  Gregos  a  tragáo 
no  feu  Eucologio ,  c  ella  náo  contenha  coufa  que 
nío  fefpirc  piedade,  e  compunção.  Pereira, 


Reis. 

do  que  el!e  commetreo  ,  tudo  ifto  efta 
efcrito  no  Livro  dos  Annaes  dos  Reis 
de  Juda. 

Anno       1 8    Adormeceo  ManáíTes  em  fim  com 
do  M.  fçLjg  p^jg  ^  Q       fepultado  no  jardim  de 
anr.de       ^^^^  5  no  jardim  d' Oza :  e  em  feu 
3.  Chr.  lugar  reinou  feu  filho  Amon. 
^4h        19    Tinha  Amon  vinte  e  dous  an- 
nos  5  quando  começou  a  reinar  ,  e  elle 
reinou  dous  annos  em  Jerufalem.  Sua 
mãi  chamava-le  MeíFalemeth ,  e  era  fi* 
lha  d'  Haro ,  de  Jetéba. 

20  E  elle  fez  o  mal  diante  do  Se- 
nhor 5  como  havia  feito  Manáfies  feu 
pai. 

21  E  andou  por  todos  os  caminhos 
por  onde  tinha  andado  feu  pai  :  e  fer- 
vio  as  abominações  a  que  tinhão  fervi* 
do  feus  pais,  e  as  adorou. 

22  E  abandonou  o  Senhor  Deos  de 
feus  pais ,  e  não  andou  no  caminho  do 
Senhor. 

23  E  feus  fervos  lhe  armarão  huma 
traição,  e  o  matarão  em  íua  cafa. 

24  Mas  o  Povo  matou  todos  aquel^ 
les  5  que  tinhão  confpirado  contra  o  Rei 

Amon^ 


Liv.  IV.    Caí>.  XXL 

Àmon  ,  e  conftiruio  a  Joílas  feu  filho 
para  reinar  em  feu  lugar. 

25-  O  refto  das  acções  d' Amon  ef- 
táefcrito  no  Livro  dosAnnaes  dos  Reis 
de  Juda. 

26  E  o  enterrarão  np  feu  jazigo, 
no  jardim  d'Oza  :  e  em  feu  lugar  rei- 
nou feu  filho  Jolias. 

CAPITULO  XXÍL 

Piedade  de  Joftas.  Acha-fe  no  Teynplo  § 
LizTO  da  Lei,  Jofi as  atemorizado  co^ia 
fua  leitura  eonfulta  a  Profetiza  Hulda^ 


Ofias  tinha  oito  annos  ,  quando  Amo 
^  começou  a  reinar,  e  reinou  trin- 
ta  c  hum  annos  em  Jcrulalem.  Sua  mai  ^nf 
chamava-fe  Idida  ,  e  era  filha  d'Hadaia  ,  J.  chr, 
de  Befecath.  641. 

2  E  elle  fez  o  que  era  do  agrado 
do  Senhor ,  e  andou  cm  todos  os  cami- 
nhos de  David  feu  pai  :  não  declinou 
nem  para  a  direita ,  nem  para  a  efquer- 
da. 

3  No  anno  decimo  oitavo  do  Rei 
Jofias  enviou  elle  a  SaíFan  filho  d'AsIa, 
.   Tom.  VL  Aa  fi- 


370  Rei?. 

Anno  filho  de  MeíTulao ,  Secretario  Jo  Tem- 
do  M.  Senhor,  dando-lhe  eíla  ordem: 

ant.  ie     4    Vai  ter  com  o  Pontífice  Helcias^ 
3.  Chr.  e  dize-lhe  que  faça  ajuntar  todo  o  di- 
nheiro  ,  que  fe  tem  mettido  no  Tem- 
plo do  Senhor  ,  e  que  os  Porteiros  do 
Templo  tem  recebido  do  Povo: 

5-  e  que  os  meftres  da  cafa  do  Se- 
nhor o  dem  aos  empreiteiros,  para  que 
eftes  o  dillribuão  pelos  que  trabalhão 
nos  reparos  do  Templo  do  Senhor: 

6  ifto  he  ,  pelos  carpinteiros ,  pelos 
pedreiros ,  e  pelos  que  concertão  os  mu- 
ros abertos:  e  para  que  também  fecom- 

^  prem  madeiras  ,  e  fe  tirem  pedras  dos 
caboucos  com  que  fe  reAabeleça  o  Tem- 
plo do  Senhor. 

7  Não  os  obriguem  todavia  a  dar 
conta  do  dinheiro  que  recebem  ;  mas 
elles  o  tenhão  em  feu  poder,  e  efteja- 
fe  pela  fua  boa  fé. 

8  Então  diíTe  o  Pontifice  Helcias  a 
Saffan  Secretario  do  Templo  :  (a)  Eu 

achei 

Ça^  Eu  achei  hum  Livro  da  Lei  ^  &c.  Todos  os 
Interpretes  aíTcntão  ,  que  cfte  Livro  era  o  Deutc- 
ronomio  ,  ou  ao  menos  os  Gapiculos  XXVIII^ 


/ 


Liv.  IV.    Cap.  XXII.  371 
achei  hum  Livro  da  Lei  na  cafa  do  Se- 
nhor :  e  elle  deo  efte  Livro  a  Saffan, 
que  o  leo. 

9  Depois  veio  o  Secretario  SaíFan 
ao  Rei  para  lhe  dar  conta  do  que  elle 
lhe  tinha  mandado,  ediíTe-lhe:  Os  teus 
fervos  ajuntarão  o  dinheiro  j  que  fe  achou 
na  cafa  do  Senhor  ,  e  o  derão  aos  In- 
tendentes das  obras  do  Templo  do  Se- 
nhor para  os  diftribuirem  pelos  oiEciaes. 

10  DiíTe  mais  o  Secretario  SaíFan 
ao  Rei  :  O  Pontífice  Helcias  me  deo 
hum  Livro.  E  elle  Saffan  o  leo  diante 
do  Rei. 

11  E  o  Rei  depois  que  ouvio  as 
palavras  do  Livro  da  Lei  do  Senhor ^ 
rafgou  os  leus  veftidos  , 

12  e  difle  ao  Pontificc  Helcias  ,  a 
Ahicão  filho  de  SaíFan ,  a  Accobór  filho 
de  Micca  ,  a  SaíFan  Secretario^  e  a  Afa- 
hias  oificial  do  Rei : 

13  Ide  y  confultai  o  Senhor  acerca 

Aa  ii  de 

XXIX.  e  XXX.  e  XXXI.  delle  ,  cfcritos  originai 
mcnic  pela  máo  dc  Moyícs  ,  como  parcceo  cerio 
dos  Paralípomcnos.  Lihmn  Legis  Domini  per  nuh, 
num  MoyfL  ii.Par.  ;íxjíiv.  14.  Peaeira. 


Reis. 

de  mim,  e  do  Povo,  e  de  todo  o  Ju-^ 
da  fobre  as  palavras  defte  Livro  que  fe 
achou:  porque  a  ira  do  Senhor  fe  accen- 
deo  grandemente  contra  nós  ,  porque 
noíTos  pais  não  ouvirão  as  palavras  def- 
te Livro,  e  não  fizerão  o  qu^  nos  fora 
preferi  to. 

14  Então  oPontifice  Helcias  ,  Ahi- 
cão ,  Accobór ,  SaíFan  ,  e  Afahias  forão 
ter  com  a  P.^ofetiza  Holda  ,  mulher  de 
Sellum,  filho  deThecuas,  filho  d'Araáz 
Guarda-Roupa ,  ( )  a  qual  habitava  em 
Jerufalem  na  fegunda ,  e  fallárão-lhe. 

15-  E  Holda  lhes  refpondeo  :  Eis- 
aqui  o  que  diz  o  Senhor  Deos  d'Ifrael: 
I>izei  ao  homem  que  vos  mandou  a 
mim : 

16  Eis-aqui  o  que  diz  o  Senhor: 
Eis-ahi  eftou  eu  para  fazer  cahir  fobre 
efíe  lugar  ,  e  fobre  os  feus  habitantes 
todos  os  males  que  o  Rei  de  Juda  lea 
nefte  Livro  da  Lei : 

por- 

(^  b)  A  qual  habitava  m  jerufalem  m  fegunda\ 
é^f.  Em  <]U2l\  fe^^unda^.  Dizem  huns,  que  na  fc- 
guftda  cerca  da  Cidade :  outros  com  S.  Jcronymo  f 
que  na  fegunda  porta  do  muro.  Perbika* 


Liv.  IV.    C AP.  XXII.  373 

T  7  porque  elles  me  deixarão  ,  e  por- 
que facnficárão  a  huns  deofes  eftrangei- 
ros  y  e  me  irritárão  geralmente  em  to- 
das as  íuas  obras  :  e  a  minha  indigna- 
ção fe  accenderá  de  tal  forte  contra  ef- 
te  lugar  ,  que  não  haja  ninguém  que  a 
pofla  extinguir. 

Io  Pelo  que  toca  porém  ao  Rei  dc 
Juda  5  que  vos  enviou  a  confultar  o  Se- 
nhor, vós  lhe  direis:  Vês-ahi  o  que  diz 
o  Senhor :  Porque  tu  ouviíle  as  palavras 
defte  Livro  5 

19  e  o  teu  coração  ficou  por  iíTo 
atemorizado,  e  tu  te  humilhafte  diante 
do  Senhor  ,  depois  de  teres  ouvido  os 
males  com  que  elle  ameaça  efta  Cida- 
de, e  os  feus  habitantes,  aíTcgurando- 
Ihes  que  elles  viráó  a  fer  o  efpanto,  e 
a  execração  de  toda  a  terra :  e  porque 
tu  rafgafte  os  teus  veftidos  ,  e  choralle 
diante  de  mim  ,  eu  te  ouvi ,  diz  o  Senhor. 

20  Por  iíTo  eu  te  farei  defcançar 
com  teus  pais,  e  tu  feras  fepultado  em 
paz,  para  que  os  teus  olhos  não  vejão 
os  males,  que  eu  tenho  de  fazer  cahir 
fobre  efte  lugar. 

CA. 


374 


R  E  I  s. 


CAPITULO  XXIII. 

^  o  fias  tendo  ajuntado  todo  o  Povo  ,  reno^ 
va  a  allianca  com  o  Senhor,  Dejlroe  as 
relíquias  da  ido  hirta ,  e  ordena  a  cele- 
bração da  Fafcoa,  He  morto  n*uma  ba» 
talha,  Succede-lhe  Jociccdz ,  e  a  ^oac- 
çdz  fuccede  Joaquim. 

I  TT^  Lies  pois  vierâo  contar  ao  Rei 
JCL/  tudo  o  que  efta  Profetiza  lhes 
dilTera.  E  o  Rei  tendo  feito  ajuntar,  e 
vir  a  elle  todos  os  Anciãos  de  Juda ,  ç 
de  Jcru  falem, 

2  foi  ao  Templo  do  Senhor  acom- 
panhado de  todos  os  homens  de  Juda, 
e  de  todos  os  que  habitavao  em  Jeru- 
falem ,  dos  Sacerdotes  ,  dos  Profetas , 
e  de  todo  o  Povo ,  des  do  mais  peque- 
no até  o  maior  :  e  leo  diante  de  todos 
elles  todas  as  palavras  deíle  Livro  do 
concerto  ,  que  fora  achado  na  cafa  do 
Senhor. 

3  E  o  Rei  fe  poz  em  pé  {a)  fobre 
hum  degráo  y  e  fez  concerto  com  o  Se- 
nhor, 

{a)  Sohrç  hum  (iegrdo,  Ifto  he,  fobrc  o  eílr^-? 


Liv.  IV.    Cap.  XXIII.  375' 

nhor,  que  elles  andariao  pelo  caminho 
do  Senhor  ^  e  obfervariao  os  feus  pre- 
ceitos 5  as  fuas  ordenações  ,  e  as  luas 
ceremonias  de  todo  o  leu  coração  ,  c 
com  toda  a  fua  alma  ,  e  cumpririão  to- 
das as  palavras  do  concerto  ,  que  efta- 
vão  efcritas  naquelle  Livro  :  e  o  Povo 
efteve  pelo  pafto. 

4  Então  mandou  o  Rei  ao  Pontífi- 
ce Helcias,  e  aos  Sacerdotes  da  fegun- 
da  ordem ,  e  aos  Porteiros ,  que  lançaf- 
fcm  fora  do  Templo  do  Senhor  todos 
os  vafos  5  que  tinhão  fido  feitos  para 
Baal  5  e  no  Bofque ,  e  para  toda  a  mi- 
lícia do  Ceo  :  e  elle  os  queimou  fora 
de  Jerufalem  no  valle  de  Cedron  ,  e 
fez  levar  as  cinzas  para  Bethel. 

5  Abolio  também  os  agoureiros ,  que 
tinhão  fido  conftituidos  pelos  Reis  d' 
Ifrael  para  facrificarcm  nos  Altos  nas 
Cidades  de  Juda ,  e  em  torno  de  Jeru- 
falem ;  e  os  que  offereciao  incenfo  a 
Baal,  ao  Sol  5  áLua,  aos  doze  Signos, 
e  a  todas  as  eítrellas  do  Ceo. 

Man- 
do 5  OU  taburno  que  Salamão  tinha  mandado  pôr 
no  átrio  do  Povo.  De  Carmeres. 


R  E  I 

6  Mandou  outrofi  que  fc  tiraíTe  da 
cafa  do  Senhor  o  Bofque  ,  e  que  o  le- 
vaíTem  fora  de  Jerufalem  ao  valle  de 
Cedron  ,  onde  tendo-o  queimado  ,  e  re- 
duzido a  cinzas  ,  fez  lançar  eílas  fo- 
bre  os  fepulcros  do  Povo. 

7  AíEin  mefmo  derrubou  ascafinhas 
dos  eíFeminados  ,  que  havia  na  cafa  do 
Senhor  j  para  as  quaes  as  mulheres  te- 
ci ão  huns  como  pavilhões  do  Bofque. 

8  E  ajuntou  o  Rei  todos  os  Sacer- 
dotes das  Cidades  de  Juda  ,  e  profa- 
nou todos  os  Altos  ,  onde  os  Sacerdo- 
tes facriíicavão  ,  defde  Gabaa  até  Ber- 
fabé  ;  e  deftruio  os  Altares  das  portas 
á  entrada  da  cafa  de  Jofué  Principe  da 
Cidade ,  que  ficava  á  mão  efquerda  da 
porta  da  Cidade. 

9  Daquelle  tempo  em  diante  os  Sa- 
cerdotes dos  Altos  não  fubião  ao  Altar 
do  Senhor  na  Cidade  de  Jerufalem; 
mas  comião  fomente  do  pão  afmo  no 
meio  de  feus  irmãos. 

10  Da  mefma  forte  contaminou  o 
Rei  o  lugar  deToffech,  que  he  no  val- 
le do  filho  d'Ennom5  para  que  ninguera 


Liv.  IV.    Cap.  XXIIÍ.  377 

facrificaíTe  feu  filho,  ou  fua  filha  a  Mo- 
loch,  fazendo-os  paíTar  pelo  fogo. 

1 1  Tirou  também  os  cavallos  ,  que 
os  Reis  de  Juda  tinhão  dado  ao  So} , 
e  cujjs  cavalheriças  eftavao  á  entrada 
do  Templo  do  Senhor,  perto  da  pcufa- 
da  do  eunuco  Nathan-melech  ,  que  era 
em  Farurim ;  e  queimou  as  carroças  do 
Sol. 

12  Demais  difto  deftruio  o  Rei  os 
Altares ,  que  eftavao  lobre  a  cúpula  da 
camará  d'  Accáz  ,  os  quaes  os  Reis  de 
Juda  tinhão  feito;  e  os  Altares  que  Ma- 
náíTes  tinha  confíruido  nos  dous  átrios 
do  Templo  do  Senhor  ;  e  correo  defte 
mefmo  lugar  a  deitar  as  cinzas  delles 
no  ribeiro  de  Cedron. 

13  Contaminou  também  o  Rei  os 
Altos  5  {b)  que  eftavao  á  mão  direita 
do  Monte  do  tropeço  ,  os  quaes  Sala- 
mão  Rei  d'  Ifrael  tinha  edificado  a  Af- 
taroth  Ídolo  dos  Sidonios  ,  a  Camos 

tro- 

(^)  Que  ejlavão  d  mao  direita  do  Monte  do  tro^ 
peço.  Era  o  mefmo  que  o  Monte  das  oliveiras,  ou 
Ofivete ,  chamado  o  Monte  do  tropeço  ,  ilto  he, 
o  Monte  do  efcandalo  ,  por  cauía  das  idolatrias  5 
gue  ncllc  infiituíra  Salamáo,  Fereika. 


378  Reis. 

tropeço  de  Moab  ,  e  a  Meiccom  abo^ 
minação  dos  filhos  d' Ammon. 

14  Fez  em  migalhas  as  eftatuas  , 
deitou  abaixo  osBolques,  e  encheo  ef- 
tes  lugares  d^oíFadas  de  mortos. 

15  E  pelo  que  toca  ao  Altar  5  que 
eftava  em  Bethel,  e  do  Alto  que  tinha 
edificado  Jeroboão  filho  de  Nabat ,  que 
tinha  feito  peccar  a  Ifrael  :  elle  Jofias 
deftruio  aflim  o  Altar  ,  como  o  Alto : 
queimou-os,  e  reduzio-os  em  cinzas  ,  e 
poz  também  fogo  ao  Bofque. 

16  Tornando  Jofias  a  efte  lugar  vio 
os  fepulcros  que  havia  pelo  monte  ,  e 
mandou  tirar  osoíFos  que  eftavão  neftes 
fepulcros,  e  os  queimou  fobre  o  Altar; 
e  a  efte  o  profanou  fegundo  a  palavra 
do  Senhor  ,  pronunciada  pelo  homem 
deDeos,  que  tinha  predito  eftascoufas. 

Reis  17  Depois  diffe  Jofias:  Qiie  monu- 
^jY^^  mento  he  efte  que  eu  vejo  ?  Os  Cida- 
Q^^^  dâos  daquella  Cidade  lhe  refpondêrao: 
XIII.  He  ofepulcro  do  homem  deDeos  ,  que 
12.  tinha  vindo  de  Juda  ,  e  que  tinha  pre- 
dito o  que  tu  acabas  de  fazer  fobre  o 
Altar  de  BetheL 


Liv.  IV.    Cai>.  XXIII.  379 

1 8  E  diíle  Jofias :  Deixai-o ,  e  nin* 
guem  toque  nos  feus  olTos.  E  os  íeus 
offos  ficáião  intaftos  com  os  oíTos  do 
Profeta  5  que  tinha  vindo  de  Samaria. 

19  Outrofi  deftruio  Jofias  todos  os 
Templos  dos  Altos ,  que  havia  nas  Ci- 
dades de  Samaria ;  e  que  os  Reis  d'If- 
rael  tinhao  edificado  para  irritarem  oSe^ 
nhor ;  e  elle  os  reduzio  ao  mefmo  efta- 
do  ,  que  todos  os  que  havia  em  Bc- 
thel. 

20  (^)  E  matou  todos  os  Sacerdo- 
tes dos  Altos  5  que  nelles  curavao  dos 
Altares;  e  queimou  íobre  eftes  Altares 
oflbs  de  finados.  E  feiro  ifto,  fe  reco- 
Iheo  a  Jerufalem. 

11    Depois  deo Jofias  efta  ordem  ao  Anno 
Povo,  dizendo:  Celebrai  a  Pafcoa  em 
honra  do  Senhor  voflb  Deos,  do  modo  am.  de 

que   J.  Chr. 

(e^  E  matou  todos  os  Sacerdotes  dos  Altos  y  ^c. 
Dcfte ,  e  do  antecedente  verío  íe  colhe  primeiro  , 
que  ainda  depois  do  iranfporte  das  dez  Tribus  fi- 
cáráo  neftcs  lugares  alguns  Ifraeliras ,  ou  vieráo  de- 
pois para  clles  com  os  Sacerdotes.  Segundo  ,  <]ue 
deltruido  o  império  dosAlTyrios,  revindicára  ]oíias 
cftas  Cidades ,  que  antes  perccnciáo  ao  Reino  dlfr 
racl,  DuuAMEu 


380  Reis. 

que  eílá  efcrito  neíle  Livro  do  concer- 
to. 

22  Porque  des  do  tempo  dos  Jui- 
zes 5  que  julgarão  Ifrael ,  e  deíde  todo 
o  tempo  dos  Reis  d' Ifrael ,  e  dos  Reis 
de  Juda , 

23  nunca  aPafcoa  foi  celebrada  co- 
mo efta  que  fe  fez  em  honra  do  Senhor 
em  Jerufalem  ,  no  anno  decimo  oitavo 
do  Rei  Joíias. 

24  Abolio  também  Jofias  os  py- 
thoes  j  os  adivinhos  ,  e  as  figuras  dos 
Ídolos,  as  torpezas,  e  as  abominações , 
jque  tinha  havido  no  paiz  de  Juda  ,  e 
de  Jerufalem  :  para  cumprir  com  as  pa- 
lavras da  Lei  j  que  eftavao  efcritas  na- 
quelle  Livro  ,  que  o  Pontifice  Helcias 
tinha  achado  no  Templo  do  Senhor. 

2^  Não  houve  Rei  antes  de  Jofias, 
que  lhe  foíTe  femelhante  ,  e  que  fe  con- 
verteíTe  como  elle  ao  Senhor  de  todo  o 
feu  coração ,  de  toda  a  fua  alma ,  e  de 
toda  a  fua  força  ,  fegundo  tudo  o  que 
eftá  efcrito  na  Lei  de  Moyfés  :  nem  o 
tem. havido  também  depois  delle. 

2.6    Entretanto  a  extrema  ira  ,  e  o 


Liv.  IV.   Cap.  XXIII.  3S1 

extremo  furor  do  Senhor,  que  fe  tinha 
accendido  contra  Juda  por  caufa  dos 
crimes  com  que  ManáíTes  o  tinha  irri- 
tado 5  não  fe  applacou  por  então. 

27  Por  ilTo  diíTe  o  Senhor  :  Eu  ar* 
rojarei  também  ajuda  de  diante  da  mi- 
nha face  5  como  arrojei  a  Ifrael  :  e  eu 
abandonarei  a  Jerufalem  j  a  efta  Cidade 
que  eu  efcolhi ,  e  a  efta  cafa  ,  da  qual 
eu  diíTe :  Neila  he  que  o  meu  Nome  cf- 
tará  prefente. 

28  O  refto  das  acções  de  Jofias,  e 
tudo  o  que  el!e  fez  efta  efcrito  no  Li- 
vro dos  Annaes  dos  Reis  de  Juda. 

29  (d)  Naquelle  tempo  Faraó Nec- Annõ 
cao  Rei  do  Egypto  marchou  contra  o 
Rci  dos  AíTyrios  para  a  banda  do  Rio 
Eufrates:  (e)  e  oRei  Joílas  lhe  foi  fa-  J.chr. 

hir  610. 

(J)  Naquelle  tempo  F.ivao  Neccao  Rei  do  Egy- 
pto ^  ò-c,  Delle  fe  lembra  Heródoto  no  Livro  i.. 
Capítulos  XVII.  XVIII.  eXXV. ,  dando-lhe  dcz- 
cfeis  annos  dc  reinado.  Pereira. 

{e)  E  o  Rei  Jofias  lhe  foi  fahir  ao  encontro^ 
^•c.  S.  Jeronymo  feguindo  o  terceiro  Livro  d'  Ef- 
dras,  que  náo  he  canónico,  diz  que  o  Profeta  Je- 
remias procurara  diíTuadir  Jofias  dcfta  jornada  ,  c 
cmprcza,  mas  debalde.  Periíiha, 


382  Reis. 

hir  ao  encontro;  e  tendo-lhe  dado  ba^ 
talha  j  (/)  foi  morto  em  Magéddo. 

30  E  feus  fervos  o  levarão  morto 
de  Magéddo  a  Jerufalem ,  e  o  fepultá- 
rão  no  feu  jazigo.  E  o  Povo  pegou  em 
Joaccáz  filho  de  Jofias ,  e  elles  o  ungi- 
rão ,  e  o  conílituírão  Rei  em  lugar  de 
feu  pai. 

3 1  Tinha  Joaccáz  vinte  e  tres  an- 
nos ,  quando  começou  a  reinar  ,  e  rei- 
nou tres  mezes  em  Jerufalem.  Sua  mãi 
chamava-fe  Amital,  e  era  filha  de  Jere- 
mias 5  de  Lobna. 

32  E  elle  fez  o  mal  diante  do  Se- 
nhor ,  e  commetteo  os  mefmos  crimes 
que  feus  pais. 

33  E  Faraó  Neccao  o  metteo  em 
cadeias  em  Rebla  ,  que  he  no  paiz  de 
Emath  ,  para  que  elle  não  reinaíTe  em. 
Jerufalem ,  e  multou  a  terra  em  cem  ta- 
lentos de  prata ,  e  num  talento  d'  ouro. 

34  E  Faraó  Neccao  conítituio  Rei 

a 

(/)  Ht  morto  em  Magéddo,  Morto  ctitendc-fe 
mortalmenre  ferido  ,  dc  Torce  que  levado  dalli  a 
Jerufalem  logo  morreo,  como  fe  colhe  dpsPíUaii*. 
pomcnos,  11.  xxxv.  25,  24.  Psrbira* 


Liv.  IV.    Cap.  XXIII.  3S3 

aEliacim  filho  dejofias  para  reinar  em 
lugar  dejofias  feu  pai,  (^)  e  lhe  mu- 
dou o  nome  em  Joaquim.  E  levando 
comfigo  a  Joaccáz  ,  deo  com  elle  no 
Egypto,  onde  morreo. 

35  Joaquim  porém  deo  a  Faraó  em 
prata  ,  e  ouro  o  que  tinha  impofto  por 
cabeção  fobre  a  terra  para  fe  pagar  a 
contribuição  que  Faraó  ordenara :  e  ti- 
rou do  Povo  prata  ,  e  ouro  ,  exigindo 
de  cada  hum  á  proporção  dos  feus  te- 
res,  para  dar  efte  dinheiro  aFaraóNec- 
cao. 

36  Tinha  Joaquim  vinte  e  finco  an- yvnno 
nos,  quando  começou  a  reinar  ,  e  rei-  doM. 
nou  onze  annos  em  Jerufalem.  Sua  mãi  ^^^^'^ 
chamava-fe  Zébida  ,  e  era  filha  de  Fa- j"^!^^^ 
daia  de  Ruma.  co(j, 

37  E  elle  fez  o  mal  diante  do  Se- 
nhor ,  e  commetteo  os  mefmos  crimes 
que  feus  pais. 

CA- 

E  lhe  mudou  o  nome  emjoatjum.  Em  pro- 
va ,  e  jfinai  do  domínio  do  Rei  do  Egypto  lebre 
o  Rei  de  Juda.  Aííim  mudou  também  Nabucodo- 
nofor  o  nome  de  Mathanias  no  de  Sedecias,  Adian-; 
tc  Cap.  XXIV.,  vcrfo  17.  Pereira, 


384  Reis. 


CAPITULO  XXIV. 

Joaquim  he  fujtitaão  ao  Rei  de  Babylo-' 
nia.  Morre,  Succede-o  outro  Joaquim. 
Nabucodonofor  fitia  a  Jeru falem,  Of 
t  frincipaes  habitantes  dejla  Cidade  são 
tranfportados  a  Babylonia,  Sedecias  hè 
pojlo  em  lugar  de  Joaquim, 

Anno  I  \i  ^  M  tempo  de  Joaquim  ,  (íz) 
do  M.  marchou  Nabucodonofor  Rei 

ant^dc^^  Babylonia,  e  Joaquim  ficou  fendo 
J.  Chr.  feu  fervo  tres  annos  :  e  ao  depois  não 
^06,    q^i'^  fjiais  obedecer-lhe. 

2  Então  mandou  o  Senhor  humas 
quadrilhas  de  falteadores  da  Caldéa, 
da  Syria  5  deMoab,  e  dos  filhos  d'Am- 
mon  j  e  os  fez  vir  contra  Juda  para  o 
extinguirem  ,  fegundo  a  palavra  que  o 
Senhor  tinha  dito  pelos  Profetas  feua 
fervos.  g 

(  ^  )  Âlarthou  Nabucodonofor  Rei  de  Bahyloma  , 
é^c,  Eftc  he  o  Nabucodonofor  filho  de  Nabopol- 
bfar  ,  a  quem  a  celeridade  das  acções  deo  entre 
os  Chronologos  o  nome  de  Grande  para  diíFerença 
d'  outros  do  meímo  nome  ,  que  lhe  fuçcedêráo^ 
Seu  pai  Nibopollafar  he  conhecido  pelo  nome  d© 
Nabucodonofor  o  Felbo,  Pereira* 


Liv.  ÍV.   Cap.  XXIV.  38^ 

3  E  aconteceo  ifto  errt  virtude  da 
palavra  do  Senhor  contra  Juda  para  d 
tirar  de  diante  da  íua  face  porcaufa  de 
todos  os  crimes  que  ManáíTcs  tinha  com-^ 
mettido : 

4  e  por  Caufa  do  fangiie  innocente 
que  elle  tinha  derramado:  pois  que  el- 
le  encheo  a  Jerufalem  de  fangue  de  pef- 
foas  innocentes :  por  iflb  o  Senhor  não 
quiz  moftrar-le  propicio  ao  feu  Povo. 

5  O  refto  das  acções  de  Joaquim  ^ 
etudo  o  que  elle  fez  eftá  efcrito  no  Li- 
vro dos  Annaes  dos  Reis  de  Juda.  E 
Joaquim  adormeceo  com  fcus  pais, 

6  e  em  feu  lugar  reinou  (b)  feu  fi- 
lho Joaquim. 

7  E  o  Rei  do  Ègypto  daquelle  tem- 
po em  diante  não  fahio  mais  do  feu  rei- 
no :  porque  o  Rei  de  Babylonia  tinha 
levado  tudo  o  que  era  do  Rei  do  Ègy- 
pto, (c)  des  do  regato  do  Egypto  até 
ô  rio  Eufrates. 

Tom.  VI.  Bb  Ti- 

(b)  Seu  filho  Joaquim,  Que  no  Eváíigelho  dc 
S.  Mattheus  íe  chama  Jeconias,  Calmet. 

(f  )  Des  do  regato  do  -Egypto  ,  &c,  Ifto  he, 
des  do  braço  do  Nilo  o  mais  oriental  ,  que  junto 
a  Pclufig  fc  mctcç  no  Eufrates,  Saci ,  e  de  Carric- 


386  R  E  I  5. 

Anno  S  {d)  Tinha  Joaquim  dezoito  an- 
do M.  nos,  quando  começou  a  reinar  ,  e  rei- 
^^^^^^nou  tres  mezes  em  Jerufalem.  Sua  mal 
j^Jji}^^  chamava-fe  Nohefta  ,  e  era  filha  d' El- 
^c;(j.   nathan,  de  Jerufalem. 

9  E  elle  fez  o  mal  diante  do  Se- 
nhor ,  e  commetteo  os  mefmos  crimes 
que  feu  pai. 

10  Naquelle  tempo  vierao  os  OfE- 
ciaes  de  Nabucodonofor  Rei  de  Baby- 
lonia  fitiar  Jerufalem  ,  e  fizerão  huma 
circumvallação  em  torno  da  Cidade. 

11  E  veio  também  Nabucodonofor 
Rei  de  Babylonia  com  as  fuas  gentes, 
para  tomar  a  Cidade. 

12  E  Joaquim  Rei  de  Juda  fahio, 
è  veio  render- fe  ao  Rei  de  Babylonia 
eòm  fua  mãi ,  feus  fervos ,  feus  Prínci- 
pes, 

res  vertem  ,  des  àas  fronteiras  do  Egypto,  Eu  fc- 
gui  a  letra  da  Vulgata.  Pereira. 

( <i )  Tinha  Joaquim  dezoito  annos ,  quando ,  é'C, 
Os Paralipomenos  dizem,  que  ellc  tinha  então  òito 
annos,  n.  Paralip.  xxxvi.  9,  O  que  fe  he  verdadei- 
ra liçáo  ,  e  não  erro  dos  copiftas  ,  fe  pôde  conci- 
liar, dizendo  com  Duhamel  :  que  Joaquim  tinha 
oito  annos  ,  quando  começou  a  reinar  juntamente 
com  feu  pai  c  que  tinha  dezoito ,  quando  come- 
çou a  reinar  fó.  Pereira. 


Liv.  IV.   Cap.  XXíV. 

f)es,.e  feus  eunucos:  e  o  Rei  de  Baby- 
jortia  o  recebeo  no  oitavo  anno  do  feu 
Reinado. 

13  Mas  depois  levou  de  Jerufalem 
todos  os  thefouros  da  caía  do  Senhor, 
e  os  thefouros  da  cafa  do  Rei :  fez  pe- 
daços todos  os  vafos  d' ouro,  que  Sala- 
mão  Rei  d'Ifrael  tinha  feito  no  Tem- 
plo do  Senhor  5  conforme  o  Senhor  ti- 
nha predito. 

14  E  transferio  toda  a  Jerufalem, 
todos  os  Principes ,  e  todos  os  mais  va- 
lentes do  exercito,  e  dez  mil  cativos, 
e  todos  os  artifices ,  e  lapidarios ;  e  não 
deixou  fenão  os  mais  pobres  d'  entre  o 
Povo. 

15'  Transferio  outrofi  para  Babylo- 
nia  a  Joaquim,  a  mai  do  Rei,  as  mu- 
lheres do  Rei ,  e  os  feus  eunucos  ;  e  le- 
vou cativos  de  Jerufalem  a  Babylonia 
todos  os  Juizes  da  terra : 

ló  e  a  todos  os  homens  robuftos  em 
numero  defete  mil,  e  os  artifices,  e  la- 
pidarios em  numero  de  mil :  todos  os  ho- 
mens de  fevera ,  e  de  guerra  :  e  o  Rei  de 
Babylonia  os  levou  cativos  a  Babylonia. 

Bb  ii  E 


388  Reis. 

17  E  conftituio  Rei  em  lugar  de 
Joaquim  aMathanlas  feu  tio,  eliiepo'/; 
o  nome  de  Sedecias. 

18  Tinha  Sedecias  vinte  c  hum  an- 
nos,  quando  começou  a  reinar  ,  e  rei- 
nou onze  annos  em  Jerufalem.  Sua  mâi 
chamava-fe  Amital  ,  e  era  filha  de  Je- 
remias, de  Lobna. 

19  E  elle  fez  o  mal  diante  do  Se- 
nhor ,  e  commetteo  os  mefmos  crimes 
que  Joaquim. 

10  Porque  a  ira  do  Senhor  fe  au* 
gmentava  cada  dia  contra  Jerufalem ,  e 
contra  Juda  até  chegar  a  lançallos  dc 
diante  da  fua  face  :  (e)  e  Sedecias  fe 
rebellou  contra  o  Rei  de  Babylonia. 


CA- 

(e)  E  Sedecias  fe  rehelloo^  ^e.  Dcfta  rebclliáa 
ò  argue  a  Efcricura  nos  Paralipomcnos ,  como  d'ul- 
tima  caufa  com  que  Sedecias  incitou  a  ira  de  Na* 
bucodonQfgr  pau  vir  dcítruic  JerufalciD,  Pereira* 


Livro    IV.  389 


CAPITULO  XXV. 

VUimo  fitio  de  Jerufalem  por  Nabucodo'- 
no  for.  Sede  cias  he  tornado ,  e  levado  a 
Babylonia,  Nabucodonosor  poe  fogo  d  Ci- 
dade ^  e  tranjporta  delia  os  habitantes, 
Godolias  he  conflituido  Governador  da 
paiz.  O  Povo  foge  para  o  Egypto,  Joa* 
quim  he  favorecido  d*  Evilmerodach. 

I  Nono  anno  do  Reinado  de  Se- Anno 

\<Jf  decias  ,  o  decimo  dia  do  de-  ^®  ^* 
cimo  mez  marchou  Nabucodonofor  Rei  In^^dc 
de  Babylonia  com  todo  o  feu  exercito  ].  Chr. 
contra  Jerufalem ,  e  lhe  poz  cerco,  e  a  59^. 
cercarão ,  e  levantarão  baterias  ao  redor 
delia. 

2  E  a  Cidade  ficou  fechada  pela  cir- 
cumvallação  que  ellc  tinha  feito  até  o 
undécimo  anno  do  Rei  Scdecias , 

3  e  até  o  dia  nove  do  mez  :  (^) 
c  vio-fe  a  Cidade  extremamente  aper- 

ta- 

( /í )  £  vxo-fz  A  Cidade  extrmamente  apertada  da 
fome.  Então  fe  crè ,  que  fuccedeo  o  que  Jeremiai 
lamenta  nosThrenos ,  ir.  ic.  Mams  mulierein  mU 
fcricordium  coxerunt  filios  fuos :  faCli  fuut  cibus  ca- 
rum  in  çomútione  fliae  popuíimçi.  As  mulheres  que 


Reis. 

tada  da  fome ,  e  não  le  achava  pão  pa- 
ra o  Povo  da  terra. 

4  E  aberta  que  foi  brecha  ,  todos 
os  homens  de  guerra  fugirão  de  noite 
pelo  caminho  da  porta ,  que  eftá  entre 
os  dous  muros  perto  do  jardim  do  Rei, 
cm  quanto  os  Caldeos  eftavão  oçcupa- 
dos  no  cerco  á  roda  dos  muros.  Fugio 
pois  Sedecias  pela  eílrada  ,  que  guia 
para  as  campinas  do  deferto. 

5'  E  o  exercito  dos  Caldeos  foi  atrás 
do  Rei  5  e  o  pilhou  na  planice  de  Je- 
ricó :  e  todas  as  gentes  de  guerra  que 
eftavão  com  eile,  forão  defmanteladas, 
e  o  defamparárão. 

6  Tendo  pois  apanhado  ás  mãos  o 
Rei  5  elles  o  levarão  ao  Rei  de  Baby- 
lonia  (Z^)  a  Reblatha.  E  o  Rei  deBa- 
bylonia  (c)  lhe  pronunciou  a  fua  fen^ 
tença. 

7  Matou  os  filhos  de  Sedecias  á  vif- 

ta 

de  feu  são  compaííivas  ^  cozerão  os  feus  mefmos 
filhos  ,  c  os  comerão.  O  que  fe  confirma  também 
de  Baruc,  ii.  ^.  ,  e  d  Ezequiel ,  v.  lo.  Pereira, 
A  Rehlaiha.  Alguns  juígâo  que  Reblatha 
era  AparrtcA  da  Syria.  Calmet. 
(f )  LÍH  proumiçu  a  fua  fmen^a»  Declararv» 


Liv.  IV.    Cap.  XXV.  39X 

ta  de  feu  pai  ;  (d)  é  a  elle  vafou-lhe 
os  olhos  ;  e  carregado  de  cadeas  o  le- 
vou para  Babylonia. 

8  Oanno  decimo  nono  de  Nabuco- 
donofor  Rei  de  Babylonia ,  o  dia  feti- 
mo  do  quinto  mez  veio  a  Jerufalem  Na- 
buzardan  fervo  do  Rei  de  Babylonia  , 
ç  General  do  feu  exercito. 

9  E  queimou  a  cafa  do  Senhor,  e  Atino 
o  Palacio  do  Rei ,  e  entregou  ás  cham- 
mas  tudo  o  que  havia  de  cafas  em  Je- 
rufakm.  J.  Chn 

10  E  todo  o  exercito  dosCaldeos,  5^8* 
que  era  com  eíle  General ,  deitou  abai- 
xo os  muros  de  Jerufalem. 

11  E  o  mefmo  Nabuzardan  Gene- 
ral do  exercito  tranfportou  para  Baby- 
lonia todo  o  refto  do  Povo  ,  que  tinha 
ficado  na  Cidade  ,  e  todos  os  deferto- 
res  ,  que  fe  tinhao  paíTado  ao  Rei  de 
Babvlonia ,  e  o  que  ficou  da  plebe. 

E 

âo-o  Réo  de  Lcfa  Mageftade  ,  como  rebelde  ao 
Império.  Pereira. 

Çd)  E  a  elle  vafou  lhe  os  olhos.  Caftigo  que  de-, 
pois  ficoa  fendo  ordinário  entre  os  Reis  Godos  dc 
Heípanha ,  e  os  primeiros  de  Leáo  feus  fuccelTorc« 
noa  crimes  d'  alta  traição.  Pereira, 


392,  Reis. 

12  E  deixou  fomente  os  mais  po- 
bres da  terra  para  tratarem  das  vinhas, 
ç  cultivarem  os  campos. 

13  E  os  Caldeos  fizerao  pedaços 
as  columnas  de  bronze ,  que  eftavao  no 
Templo  do  Senhor  ,  e  os  feus  pedcf- 
taes  5  e  o  Mar  de  bronze  ,  que  eftava 
na  cafa  do  Senhor,  e  tranfportárao  pa- 
ra Babyloíiia  todo  o  bronze. 

14  Levarão  outroli  as  panellas  de 
bronze,  as  trolhas  ,  os  garfos  ,  as  ta* 
ças,  osgraes,  e  todos  osvafos  de  bron- 
ze que  fervião  no  Templo. 

15:  E  aíEm  mefmo  levou  o  General 
do  exercito  os  thuribulos ,  e  os  cópos: 
tudo  o  que  era  d' ouro  á  parte,  e  tuda 
o  que  era  de  prata  á  parte, 

16  com  as  duas  columnas,  o  Mar, 
e  os  pedeftaes,  que  Salamao  tinha  fei- 
to para  o  Templo  do  Senhor  :  e  nefte 
pezo  de  todos  os  vafos  de  bronze  hum 
pezo  infinito. 

17  Cadacolumna  tinha  dezoito  cor- 
vados  d*  altura  ;  e  o  capitel  que  era  de 
bronze,  tinha  tres  covados  d'alto,  fem 
çontar  os  ornatos.  O  capitel  da  colu- 


Liv.  IV.    Cap.  XXV.  393 

mna  eftava  cercado  d'huma  rede  ,  e 
dentro  defta  entretecidas  varias  romans , 
e  o  todo  era  de  bronze.  Os  mefcnos  or- 
natos tinha  a  fegunda  columna. 

18  Outrofi  levou  o  General  do  exer- 
cito â  Saraias  primeiro  Sacerdote  ,  e  a 
Soffonias,  {e)  que  era  o  fegundo,  e  a 
tres  Porteiros; 

19  a  hum  eunuco  da  Cidade  ^  que 
commandava  a  gente  de  guerra ,  e  a  fin- 
co dos  que  eftavão  fempre  juntos  á  pef- 
foa  do  Rei  5  os  quaes  elle  achou  na  Ci- 
dade: e  aSoíFcr  hum  dos  primeiros  Of- 
ficiaes  do  exercito,  a  cujo  cargo  eftava 
fazer  exercicio  aos  foldados  bifonhos  do 
Povo  da  terra :  e  a  feíTenta  homens  dos 
principaes  do  Povo ,  que  fe  achavão  na 
Cidade. 

20  Todas  eftas  peíToas  ,  pegando 
nellas  o  General  do  exercito  Nabuzar* 
dan  5  as  levou  elle  ao  Rei  de  Babylo^ 
nia  a  Réblatha. 

21  E  o  Rei  de  Babylonia  os  man^ 
dou  matar  a  todos  em  Réblatha  terra 

d* 

(e)  Que  era  o  fcgundo.  Para  fazer  as  vezes  do 
primeiro  Sacerdote  que  era  o  Pontífice,  quando  cf-^ 


3  94  R  E  I  5. 

d^Emath:  ejuda  foi  trasladado  fora  do 
feu  paiz. 

22  Depois  diíto  o  commando  do  Po- 
vo ,  que  tinha  ficado  em  Juda ,  o  entre- 
gou Nabucodonofor  Rei  de  Babylo- 
nia  a  Godolias  filho  d'Ahicão,  filho  de 
SaíFan. 

23  E  todos  os  Officiaes  de  guerra, 
e  as  gentes  que  eftavão  com  elles ,  ten- 
do fabido  que  o  Rei  de  Babylonia  har 
via  nomeado  Governador  do  paiz  a  Go- 
dolias; a  faber:  Ifmael  filho  deNatha- 
nias,  Johanan  filho  de  Garée,  e  Saraia 
filho  de  Thanehumeth  Netophathites , 
e  Jezonlas  filho  de  Maaccathi  ,  vierão 
buícallo  a  Masfa  com  todas  as  fuas  gen- 
tes. 

24  E  Godolias  os  aíTegurou  com  ju^ 
ramento  a  elles,  e  aos  que  os  acompa- 
nha vão  ,  dizendo-lhes  :  Não  fe  vos  de 
de  fervir  os  Caldeos :  ficai  no  paiz  ,  e 
fervi  ao  Rei  de  Babylonia  ,  e  vivireis 
em  paz. 

A 

te  fc achava  impedido,  coftumava  eleger-fe  outro, 
que  foíTe  como  feu  Vigário  ,  ou  Subftituto  :  c  a 
efte  he  que  chamaváo  Segundo  Sacerdote.  Perei-» 

RA* 


Liv.  IV.    Cap.  XXV.  39? 
2$    A  cabo  de  fete  mezes  aconte-  Anno 
ceo  que  veio  a  Masfa  Ifmahel  filho  de  ^®  ^* 
'■■  Narhani ,  filho  d'Elifama  de  fangue  real ,  antes* 
e  dez  homens  em  fua  companhia  :  e  deJ.G; 
ferirão  a  Godolias ,  que  morreo ,  e  tam-  587. 
bem  aos  Judeos ,  e  Caldeos ,  que  efta- 
vão  com  elle  em  Masfa. 

26  E  todo  o  Povo  defde  o  maior 
até  o  mais  pequeno  com  osOfficiaes  de 
guerra  ,  temendo  os  Caldeos  ,  fahírão 
de  Juda ,  e  forão  para  o  Egypto. 

27  O  anno  trinta  e  fete  do  cativei-  Anno 
ro  de  Joaquim  Rei  de  Juda,  o  dia  vin-^°  ^« 
te  e  fete  do  mez  duodécimo  ,  (f)  foi  ^nt^^dc 
quando  Evilmerodach  Rei  de  Babylo-  j.  Çhr^ 
nia,  que  ejftava  no  primeiro  anno  dofeu  5^^<* 
reinado  ,  (g)  aliviou  a  peífoa  de  Joa- 
quim ,  tirando-o  do  cárcere. 

El. 

(/)  Foi  quando  Evilmerodach  Rei  de  Bahylonia , 
fí?c  Com  eltc  mermo  nome  íizerâo  roençáo  deftc 
Príncipe  entre  os  Profanos  Beroío  citado  por  Jofé  , 
e  Me^áíthenes  eirado  por  Eufebio.  Era  filho  dç 
Nabucodonofor  o  Grande  ,  c  foi  o  cjuc  lhe  lucce- 
deo  no  throno.  Pekeira. 

(^)  Aliviou  a  pejfoa  de  Joaquim ,  ^  c.  Nicoláo 
de  Lyra ,  e  Toftado ,  allegando  com  a  tradição  dos 
Rabbinos,  crcm  que  efta  benignidade  d' Evilmero- 
dach para  com  Joaquim  vinha  de  que  Erilmcro^ 


39^  Reis. 

28  Elie  lhe  fallou  benignamente, 
(/;)  e  poz  o  feu  throno  aílima  do  thro- 
no  dos  Reis  ,  que  vivião  junto  a  ellc 
em  Babylonia. 

29  E  felio  largar  osveftidos  de  que 
tinha  ufado  no  cárcere :  e  elle  comia  o 
pão  fempre  á  fua  meza  ,  (i)  todos  os 
dias  da  fua  vida. 

30  (fe)  Alíígnou-lhe  também  ali- 

men- 

áach  tinha  fido  companheiro  dc  Joaquim  no  carcc- 
le,  onde  feu  pai  Nabucodonofor  o  tinha  mettido, 
não  fei  porque  crimes.  Psrejra. 

{h)  £poz  o  feu  throno  affima,  do  throno  dQsReis^ 
Poz  o  throno  do  Rei  Joaquim  aflima  do  thro- 
no dos  outros  Reis ,  que  como  vaíTallos  afliftiáo  no 
Paço  a  ellc  Evilmerodach  :  como  depois  aífiftio 
CriíTo  a  Cyfo,  e  como  aííiílíráo  Póro  ,  e  Taxillo 
9  Alexandre  Magno.  Pereira. 

.{i)  Todos  os  aias  da  fua  vida.  Da  fua  vida  del- 
le  Joaquim  ,  ou  da  fua  vida  delle  Evilmerodach? 
Os  termos  da  Vulgata  ,  omnibus  diebus  vitae  fuae  , 
tanto  aqui  ,  como  no  verfo  ^o.  parecem  referillo 
para  Joaquim.  Mas  como  a  fortuna  ^  Joaquim  to- 
da dependeo  da  vida  d*  Evilmerodach  ,  e  Evilme- 
rodach náo  reinou  fenão  dou? ,  ou  tres  annos :  dif- 
corre  Calmet  que  fe  deve  ler  do  Hcbreo,  omnibus 
diebus  vitae  ejus  ,  refcrindo-o  para  Evilmerodach 
num ,  c  noutro  lugar.  Pereira. 

ÍK)  Ajfí^nou-lhe  também  alimentos  perpétuos,  Sc 
}oa(jaini  comiâ  fempre  da  meza  d'  Evilmerodach , 


Liv.  IV.    Cap.  XXV.  397 
mentos  perpétuos ,  que  diariamente  lhe 
dava  o  Rei  em  quanto  viveo. 


Fim  do  Livko  III.  e  IV.  dos  Reis, 


que  mais  lhe  era  neceíTario  para  fubfiftir  ?  Grocio 
o  cxpòe  aflim  ;  Evilmcrodach  dava  a  Joaquim  to- 
dos os  dias  o  que  lhe  era  neccíTario  para  comer, 
veftir,  e  calçar,  não  fó  aelle,  mas  a  todos  os  fcus 
criados ,  e  familia.  Porque  talvez  tíem  fempre  co- 
meria Joaquim  com  Evilmerodach  ,  e  a  hum  ho- 
mem náo  baíh  fó  a  meza  para  íubíiflir.  Pereira.